O Brasil cada vez mais se firma no cenário mundial como líder em energias renováveis.
Além de há décadas ter mais de 90% da sua energia elétrica gerada em usinas hidrelétricas e um abrangente processo de produção e distribuição de etanol desde a década de 1980, o País avançou no último período, especialmente no desenvolvimento e produção de uma diversidade de biocombustíveis, como o biodiesel, o H-Bio e combinações destes com combustíveis tradicionais.
No início desta década subsidiárias brasileiras de fabricantes multinacionais de autopeças desenvolveram sistemas de injeção flex-fuel. Em 2010 os veículos nacionais flex representam 87% do mix de vendas acumuladas.
O crescente aquecimento global provocado pelos gases de efeito estufa, sobretudo o dióxido de carbono (CO2), assombra o mundo e os países estabelecem normas de redução de emissões com metas obrigatórias médias de 130 g/km de CO2 para o ano 2012. Hoje esta média é de 149g/km.
No Brasil, por sua vez, graças ao uso do etanol como combustível preponderante, a emissão de dióxido de carbono da atual frota nacional de veículos de passeio é de apenas 75 g/km CO2, em média.
Apenas Brasil e Estados Unidos têm produção de biocombustíveis em escala industrial, sendo que nos EUA ainda há o polêmico uso preponderante do milho como matéria prima para o etanol.
No restante do mundo, pela ausência destas tecnologias e de matérias-primas, a opção dos fabricantes e os incentivos governamentais têm sido direcionados aos veículos elétricos e/ou a célula de combustível a partir do hidrogênio.
Os protótipos de veículos elétricos apresentados pelos fabricantes até o momento têm várias limitações: ausência de padronização, ausência de rede de abastecimento, tempo excessivo de abastecimento, baixa autonomia de quilometragem das baterias, custo dos componentes etc.
Mesmo assim, o veículo elétrico parece ser a principal estratégia da maior parte do mundo até pela limitação física dos motores a combustão em atingir patamares futuros das metas de emissões da União Europeia, EUA e Japão.
O veículo elétrico traz consigo mudanças construtivas para além do combustível e das baterias. Todo o trem de força (motor, transmissão e eixos) é remodelado e drasticamente simplificado uma vez que teremos a propulsão por um singelo motor elétrico cuja variação de velocidade se dá pela simples variação da aplicação de potência.
O que isto tem a ver conosco?
É justamente na cadeia produtiva do chamado trem de força onde se concentra a maior parte do valor agregado dos veículos, ou seja, é onde se emprega a maior parte da mão-de-obra.
É bem verdade que no Brasil, pela sua situação confortável em relação às emissões de poluentes, esta preocupação parece distante. Porém, pelo grau de internacionalização da cadeia produtiva automotiva, seja pelo fato da maioria das empresas ser multinacional, seja pela necessidade imperativa de se exportar. Por maior que seja o mercado brasileiro, a indústria não tem como se isolar do mundo.
A região do ABC concentra mais de 40% da produção automotiva e precisa se posicionar perante esta realidade que se avizinha, seja para se inserir no desenvolvimento destas tecnologias construtivas e de mobilidade, e assim poder atrair inteligência, empresas e empregos, seja para assegurar as dezenas de milhares de postos de trabalho atuais da cadeia automotiva.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC está atento a isto e pretende iniciar contatos com as empresas, os governos, universidades etc. no sentido de discutir o sistema de transporte e logística, alternativas de mobilidade urbana que priorizem o transporte coletivo de qualidade e onde os veículos de passeio sejam meios complementares de transporte com emissões de poluentes baixas ou nulas.
A região tem todo potencial para se manter enquanto pólo de desenvolvimento tecnológico e de produção automotiva, numa perspectiva sustentável. Mas isto exigirá um esforço de articulação dos atores sociais regionais para orientar a reconversão do parque produtivo no interesse da cidadania, o que nem sempre coincide com os interesses imediatos das empresas.
Valter Sanches é diretor de Comunicação do Sindicato