Em visita à CNM/CUT, Bagaço relembra histórias da Comissão de Fábrica na Ford

Um dos fundadores da primeira comissão de fábrica do Brasil, instalada na planta da montadora em 1981, João Ferreira Passos, o "Bagaço", visitou a CNM/CUT e relembrou histórias da militância sindical na fábrica e nos tempos em que foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC


Foto: João Alfredo

Na terça-feira (15), o metalúrgico aposentado da Ford São Bernardo, João Ferreira Passos, o “Bagaço”, de 59 anos, esteve na sede da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT em visita ao secretário-geral da CNM/CUT, João Cayres.

Ele, que ao lado de companheiros como José Lopez Feijóo, atual vice-presidente da CUT e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, foi um dos metalúrgicos pioneiros que participou da criação da primeira Comissão de Fábrica instituída no Brasil, em 1981, na Ford.

Ele também fez parte da primeira direção pós-Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ao assumir cargo na gestão de Jair Meneguelli, entre 1981 e 1984. Bagaço foi coordenador da comissão de fábrica na Ford entre 1982 e 1986 e voltou para a direção do sindicato entre 1990 e 1999, quando se aposentou.

Em 2011, ano em que se completa 30 anos da criação da comissão de fábrica na montadora de São Bernardo, Bagaço lembrou momentos marcantes desta trajetória.

“A comissão de fábrica surgiu após Ford demitir 450 trabalhadores em uma sexta-feira a noite. Na semana seguinte, os trabalhadores decidiram entrar em greve, que só terminou quando a empresa aceitou, entre outras propostas dos companheiros, a implantação da comissão na fábrica”, disse. A primeira gestão foi formada a partir da eleição de um representante de cada setor da fábrica.

Mas em 1986, ocorreu um dos fatos mais marcantes destes 30 anos, quando a montadora demitiu membros da Comissão, da Cipa e até mesmo militantes. “Começamos a mobilizar o pessoal, distribuindo a Tribuna Metalúrgica (jornal publicado pelo sindicato) no pátio da empresa. Houve também uma greve chamada “operação cambalacho”, que foi feita para trazer o pessoal de volta. Depois de algumas semanas, a empresa recontratou muitos companheiros”, lembra.

Para Bagaço, a criação da comissão de fábrica na Ford representou um marco na história de toda a classe trabalhadora e serviu de espelho para a criação de comissões em outras empresas, como a Volkswagen, Mercedes-Benz e Scania.

Uma das lutas do movimento sindical na época, também foi a de eleger representantes do chão de fábrica para as Cipas. “Antes, as Cipas eram escolhidas pelas empresas, e a chefia ocupava os cargos. Lutamos para que isso pudesse ser um local de representação dos trabalhadores, eleitos pelo pessoal da fábrica”. Atualmente na Ford há a união da Comissão de Fábrica e da Cipa em uma única estrutura chamada SUR (Sistema Único de Representação).

Outro momento lembrado com emoção por Bagaço foi a cassação da direção e a intervenção do sindicato, em 1983. “Havíamos feito uma greve de solidariedade aos Petroleiros. Com isso, o ministro do Trabalho da época, Murilo Macedo, decretou a terceira e última intervenção que aconteceu no Sindicato e nos cassou por meio da Lei de Segurança Nacional”. As outras duas intervenções aconteceram nos anos em que Lula era o presidente.

Golas Vermelhas
Uma das ações mais marcantes desde a criação da Comissão de Fábrica, foi a greve dos golas vermelhas (mecânicos, eletricistas e ferramenteiros), iniciada em 11 de junho de 1990. “Esta foi uma das greves mais inteligentes que já fizemos, já que conseguimos mobilizar três tipos de profissionais fundamentais para o funcionamento da fábrica. Em três dias, toda a Ford estava parada. De fato, foi um marco na organização dos trabalhadores”. A partir desta greve, houve um grande avanço para a consolidação das relações de diálogo entre trabalhadores e empresas.

Os trabalhadores haviam cruzado os braços em protesto ao reajuste de 11,42% definido pela Fiesp. Após 51 dias de greve, os metalúrgicos conquistaram um aumento de 59%, com antecipação de 15% e voltaram ao trabalho.

“Foi na greve dos golas vermelhas, que eu iniciei de fato minha militância sindical na Ford, ao lado dos companheiros Bagaço, Isawa e Zé Preto. Ele foram companheiros fundamentais em minha trajetória”, disse o secretário-geral da CNM/CUT, João Cayres.

Entre outras ações, os trabalhadores na Ford também foram às ruas durante o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. “Saímos em passeata, desde a fábrica, no bairro Taboão, até o Paço Municipal de São Bernardo do Campo. Quando chegamos lá, o impeachment foi confirmado e foi um momento muito bonito e de emoção dos companheiros”, finalizou Bagaço.

Da CNM/CUT (Valter Bittencourt)