Clipping 12 de julho de 2021

Manchetes

70% dos brasileiros veem corrupção no governo Bolsonaro (Folha)

Com inflação, arrecadação dos estados cresce R$ 45 bi (Estadão)

Distribuidoras perdem R$ 5 bi com a pandemia (O Globo)

Taxação de dividendos de ‘holdings’ deve cair (Valor)


Valor

Brasil será centro de excelência de motor flex para híbridos da Volks

Decisão da montadora alemã pode ser um caminho para salvar a indústria automotiva brasileira

Com a expansão do uso de carros elétricos na Europa, América do Norte e China, fábricas de países emergentes, que atendem essencialmente os mercados locais, como acontece no Brasil, correm o risco de ficar obsoletas em poucos anos. Caberá a cada empresa definir sua estratégia.

A Volkswagen decidiu transformar o Brasil num centro de pesquisa, desenvolvimento e produção de motores “flex” – que funcionam com etanol ou gasolina – para veículos híbridos. A ideia é exportar a tecnologia e também os futuros motores para países da América Latina e também regiões mais distantes, como África do Sul e Índia.

Transformar o Brasil num polo de desenvolvimento de tecnologias baseadas em biocombustíveis pode ser a chance de dar uma sobrevida ao parque industrial de veículos e de autopeças brasileiro até o país e a região entrarem na era do carro elétrico. Isso tende a acontecer quando a produção em massa desse tipo de veículo tornar seu custo mais acessível.

O carro híbrido, que tem dois motores – um a combustão ajuda a carregar o elétrico – é uma solução compatível com as metas de redução de emissões de dióxido de carbono quando abastecido com combustível líquido limpo. Nesse caso, o etanol, tecnologia que o Brasil desenvolveu há 48 anos, leva vantagem.

A Toyota foi a primeira montadora a apresentar e a vender a tecnologia flex em veículos híbridos no Brasil. A linha híbrida do modelo Corolla pode ser abastecida com gasolina ou etanol. A Volks almeja saltos mais altos. Pretende fazer investimentos no país para criar uma base de desenvolvimento mundial da tecnologia; de olho, sobretudo, nos países emergentes.

Um dos mais cotados para o intercâmbio de conhecimento é a Índia, que recentemente autorizou empresas de distribuição de combustíveis a vender etanol puro nos postos. “É a forma de fazermos uma nova indústria”, diz o presidente da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si. O executivo estima que se nada for feito para salvá-lo o parque automotivo brasileiro – hoje o nono maior do mundo – corre o risco de acabar em menos de 20 anos. Ou até dez, diz ele, dependendo da velocidade das mudanças dos veículos em outros países.

Di Si afirma que durante os quase quatro anos em que está no comando da Volks na América Latina o risco de a indústria brasileira de veículos desaparecer foi o único problema que “lhe tirou o sono”. O executivo teve receio de ser testemunha de mais uma “jabuticaba”. O significado simbólico do nome da fruta – e a fruta em si – ele conheceu em 2001, a primeira vez que veio trabalhar no Brasil. “Jabuticabas”, forma pejorativa de referir-se a coisas que existem somente no Brasil, não cabem num setor tão global como o automotivo. “A chave já virou na Europa e outras regiões. É o Brasil que tem que se adaptar ao mundo e não o mundo ao Brasil”, destaca.

Di Si passou um ano e meio “estudando” nosso etanol. Conversou com especialistas, membros do governo, da área acadêmica e visitou usinas. Estava afiado quando há duas semanas foi até a Alemanha fazer uma apresentação sobre o potencial brasileiro na área de biocombustíveis. Voltou com a aprovação da direção mundial do grupo de transformar a filial brasileira nesse novo centro de desenvolvimento.

Faltam providências importantes, como definir o investimento no projeto, que incluirá trazer os motores híbridos desenvolvidos na Europa para que a equipe de engenharia brasileira crie versões adaptadas ao etanol, principalmente.

No fim do ano passado, o Grupo Volks anunciou o plano de investir € 73 bilhões nos projetos de eletrificação de suas marcas. Para convencer os alemães sobre o potencial brasileiro Di Si exibiu dados de toda a cadeia de produção do etanol no país. E mostrou diversos comparativos, como as vantagens em relação à eletricidade gerada em usinas de carvão.

Ele sabia que durante a apresentação surgiriam dúvidas sobre o receio de a produção de cana para o etanol ocupar áreas que poderiam servir à produção de alimentos. Quando a pergunta apareceu, ele mostrou dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA): a área destinada ao etanol corresponde a 0,8% das terras brasileiras.

Di Si preparou-se, ainda, para outra questão que ele imaginava que surgiria: “não, não precisamos desmatar a Amazônia para obter essa fonte de energia”. Para ele, em breve o Brasil unificará normas para uso de combustíveis. “A discussão não pode envolver só o quanto o carro emite, mas toda a cadeira; é como dizemos: do poço à roda”.

Enquanto isso, o executivo faz o papel de “embaixador do etanol”. Na semana passada, ele recebeu um embaixador de verdade: Suresh Reddy, da Índia, que foi até a fábrica da Volks em São Bernardo do Campo (SP) conhecer como se desenvolvem motores bicombustíveis. Segundo Di Si, Reddy lhe contou que a Índia avança no uso do etanol como combustível e em alguns meses, deve lançar uma política para o uso de motores flex.

AutoIndústria

Falta de carros nacionais amplia fatia dos importados em junho

Vendas cresceram 25% sobre maio, enquanto as de modelos nacionais caíram 6,6%

Ainda não dá para falar em tendência, mas a participação dos veículos importados no total emplacado no mercado brasileiro chegou na casa dos 13% em junho, o que não acontecia desde maio de 2018. As vendas dos modelos vindos do exterior chegaram a 24,4 mil unidades, com alta de 25% sobre as 19,4 mil de maio. Em contrapartida, os emplacamentos de unidades nacionais caíram 6,6%, de 169,2 mil para 158 mil unidades.

A participação de exatos 13,3% conquistada pelos importados no mês passado foi destacada pelo presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, ao apresentar o balanço do setor na quarta-feira, 7. Um fator que poderia justificar essa alta é a falta de vários modelos nacionais no mercado brasileiro, fruto da queda na produção provocada pela falta de semicondutores.

“Como a oferta de carros brasileiros caiu, é natural a participação dos importados crescer. O número de junho chama a atenção, mas ainda não dá para falar em tendência. É preciso aguardar os próximos meses para avaliar com mais exatidão o comportamento real do mercado”, comenta Moraes.

No primeiro semestre, o total de emplacamentos de veículos nacionais foi de 965.936 unidades, volume 35,5% superior aos 713.030 licenciamentos de igual período de 2020. No caso dos importados, a alta foi  menor nesse comparativo interanual. As vendas cresceram 13%, de 95,8 mil para 108.237. No acumulado até junho a participação dos importados está em 10,1%, um pouco abaixo da registrada na média de 2020, que foi de 10,3%.

As montadoras brasileiras, em sua maioria, vêm enfrentando problemas com falta de componentes, principalmente semicondutores. O segmento de automóveis é o mais afetado pelo desabastecimento, que atinge o setor mundialmente.

No Brasil, a General Motors, que até o ano passado era líder entre as marcas, é a mais prejudicada no momento. Sua produção em Gravarataí, RS, onde produz o Onix, também líder até o ano passado, está paralisada desde 5 de abril e só deverá ser retomada em 16 de agosto. A Volkswagen paralisa sua produção em Taubaté, SP, na próxima segunda-feira, 12, e a partir do dia 19 suspende um turno de sua fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Com menos problemas de gargalo na produção, a Fiat vem sendo a grande favorecida no mercado brasileiro este ano. A marca consolidou a liderança no balanço do semestre e a Strada vem mantendo a primeira colocação no ranking dos automóveis e comerciais leves mais vendidos no País.

Folha de SP

Regras fiscais precisam ser revistas, diz coordenador econômico de plano do PT

Guilherme Mello, da Unicamp, diz que gastar não é pecado e defende taxação de dividendos

Gasto público não é pecado, diz o professor da Unicamp Guilherme Mello, 38, um dos principais formuladores do PT na área econômica. Desde que seja, explica, uma despesa eficiente e que contribua para distribuir renda.

Para isso, defende Mello, é preciso fazer uma completa reavaliação de toda a estrutura fiscal brasileira, que não se limita ao fim do teto de gastos. “O Brasil terá que discutir seu conjunto de regras fiscais a partir de 2023 [novo mandato]. Isso inclui fazer um balanço crítico de teto, Lei de Responsabilidade Fiscal, regra de ouro e PEC Emergencial. Porque a gente está sobrepondo uma regra a outra, e elas não fazem mais sentido”, afirma.

Um dos coordenadores econômicos do programa de governo de Fernando Haddad em 2018 e do Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil lançado pelo PT em 2020, Mello deverá ter papel semelhante na concepção das propostas da provável candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva no ano que vem.

Em entrevista à Folha, ele diz que o partido segue comprometido com o chamado tripé macroeconômico (metas de inflação e fiscal e câmbio flutuante), que foi uma marca dos governos de Lula, mas se enfraqueceu sob Dilma Rousseff. Também defende a proposta do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) de taxar dividendos, embora critique a fixação de uma alíquota única.

Filiado ao PT há 16 anos, o economista diz ainda não ver necessidade de novos acenos de Lula ao mercado como fez em 2002, quando divulgou a Carta ao Povo Brasileiro. “O compromisso maior que o Lula pode oferecer é sua história, o que ele fez durante oito anos”, afirma.

Um novo governo do PT seria como o de Lula, que teve como marca a responsabilidade fiscal, ou o de Dilma, que fez o contrário e terminou em recessão? Quando a gente coloca dessa forma, fica parecendo que há uma grande continuidade nos governos Lula e uma ruptura no Dilma. Os indicadores fiscais vinham bem até 2013. A dívida continuou caindo, inclusive a líquida, que é o indicador principal de solvência. Houve superávit primário até 2013. A gente tinha o maior estoque de reservas, então do ponto de vista externo, a situação era de tranquilidade.

Se queremos priorizar equilíbrio fiscal, temos que pensar como reativar a economia. Esse foi o grande erro dos governos [Michel] Temer [MDB] e Bolsonaro, a ideia de que primeiro coloca o fiscal no lugar e isso vai causar o crescimento econômico, gerar confiança.

Não houve erro de Dilma ao adotar medidas de interferência na economia, como forçar a redução na energia elétrica e aumentar as desonerações? Muita gente fala que a “nova matriz econômica” é a culpada de todos os males. Tudo que um economista liberal não gosta coloca lá. A tal da nova matriz dizia respeito a uma nova combinação de política macroeconômica. Não era abandonar o tripé [macroeconômico], continuou tendo metas de inflação e primária. Era uma espécie de flexibilização. Em termos de meta de inflação se falava em prolongar um pouco mais o período de tolerância. Olhando retrospectivamente, eu não faria exatamente essa política. Até a própria Dilma já falou que talvez tenha exagerado nas desonerações.

Qual o comprometimento atual do PT com o tripé macroeconômico? Está na nossa própria história, não com o tripé em si, mas com os objetivos de política econômica. O PT sempre teve clareza da importância de manter a inflação controlada. Até o final do governo Dilma 1 [2014], a inflação ficou dentro da meta. E na questão fiscal, o Lula pegou o Brasil com uma relação dívida líquida/PIB de 60% e em 2015 estava em 36%.

A defesa do fim do teto não coloca em dúvida o compromisso com a questão fiscal? O teto é uma regra que não existe paralelo no mundo. Vai contra as boas práticas recomendadas inclusive pelas instituições internacionais. Foi mal desenhado, tanto que o governo teve que aprovar a PEC Emergencial para corrigir erros. O Brasil terá que discutir seu conjunto de regras fiscais a partir de 2023 [novo mandato]. Isso inclui fazer um balanço crítico de teto, Lei de Responsabilidade Fiscal, regra de ouro e PEC Emergencial. Porque a gente está sobrepondo uma regra a outra, e elas não fazem mais sentido.

O grande objetivo do teto, do jeito que foi criado, é reduzir violentamente o tamanho do Estado em 20 anos. Pegar uma regra ruim que todo ano é estourada, olhar o conjunto e fazer uma nova, isso atenta contra a responsabilidade fiscal? Eu diria o contrário: não fazer é que atenta. Você mantém um arcabouço caótico de regras fiscais em que nenhuma é seguida na prática, e no qual governos vão fazendo arbitrariamente remendos aqui e ali.

O teto não é importante para evitar o descontrole de gastos? Muita gente alega que no governo Dilma teve descontrole dos gastos. Mas o ritmo de crescimento de gastos foi igual ou inferior ao do governo FHC. Muito se fala de gasto público como se fosse pecado, que tem que cortar. É o que a gente tem feito na ciência e tecnologia, educação, todas. E sucateando todas. Gasto não é pecado. Ele pode ser gasto eficiente, que distribui renda, ou que concentra renda.

Qual sua opinião sobre a proposta do governo de taxar dividendos em 20%? O princípio é correto. A maior fonte de renda dos ricos é distribuição de lucros e dividendos. Tem uma questão distributiva fundamental, de justiça social. Eu não gosto da ideia de taxar uniformemente, com uma alíquota única. Por que você taxa de maneira progressiva os ganhos sobre o trabalho e não os da renda do capital?

Com relação à reforma administrativa, a estabilidade no serviço público é intocável para o PT? Fim da estabilidade prejudica a atuação do servidor público, porque fica sujeito às pressões do governo de plantão. Pega o caso das vacinas; o servidor que denunciou tem a segurança de que não vai perder o emprego. Imagine como estariam as universidades públicas se não houvesse a estabilidade. Iam demitir todos os professores e contratar um monte de militar para dar aula.

Mas o PT defende alguma reforma no serviço público? É totalmente razoável pensar numa normatização mais adequada do teto remuneratório, para que todos os servidores de todos os Poderes se enquadrem naqueles limites, evitando penduricalhos, exceções. Muitas atividades do setor público vão acabar sendo afetadas pelas mudanças tecnológicas, precisa repensar o conjunto das carreiras, provavelmente reduzir o número. Em algumas, repensar o plano de carreira, o salário de entrada, que às vezes é muito próximo do teto, o que desincentiva o avanço.

Desde a saída do PT do governo, houve grande flexibilização da legislação trabalhista. É desejo do partido reverter essas mudanças? A reforma trabalhista tem que ser pensada no contexto das mudanças no mundo do trabalho. A uberização é um fenômeno, a precarização é evidente. Como a gente vai garantir alguma proteção para o pessoal que trabalha em aplicativos? Isso não quer dizer enquadrar na velha CLT, mas também não é deixar como está hoje.

Aqui não houve apenas uma reforma trabalhista, mas também desmonte dos sindicatos. Você não pode aceitar que daqui para a frente o vínculo determinante vá ser o precário formalizado. Não dá para falar em revogar o que foi feito de um dia para o outro, mas também não se pode aceitar que agora a realidade é essa e não tem nada a fazer.

O PT sempre teve como uma de suas bases o trabalhador assalariado dos setores privado e público. Como lidar com essa nova classe de uberizados e informais? Se tem alguém que em condições de conversar com esse pessoal é o PT. No fundo, essas pessoas são trabalhadores, não empreendedores individuais. Elas não têm capital, às vezes não têm nem a bicicleta para o delivery. Qual foi a grande questão dos governos Lula? Trazer para a economia uma série de pessoas que estavam excluídas ou precarizadas. E ele conseguiu formalizar, aumentar a renda, salário, emprego.

Em 2002, Lula fez diversos acenos ao mercado. É necessário renová-los no ano que vem? O compromisso maior que o Lula pode oferecer é sua história, o que ele fez durante oito anos. Manteve a inflação sob controle, gerou crescimento com emprego e distribuição de renda, reduziu a dívida pública. O que ele vai comunicar agora é como o Brasil vai sair dessa depressão em que entrou, qual a forma de tirar o país do buraco, do atoleiro em que se meteu nos últimos anos.

O PT tem parte da responsabilidade sobre esse atoleiro, não? É óbvio que em 13 anos de governo houve erros. Mas tem de colocar tudo num contexto internacional e político. Se você pegar o conjunto da obra, até 2014 houve inclusão social, crescimento econômico, geração de emprego. Já 2015 foi um ano muito duro, mas era possível reverter. O problema não é tropeçar e cair. O problema é não conseguir levantar de novo. O Brasil tropeçou, caiu e não consegue mais se levantar.

Há chance de o cenário econômico melhorar um pouco daqui até a eleição? Mesmo que se concretize crescimento previsto de 5%, tem que pensar o que isso significa. Parece bonito, mas tem que lembrar que caiu 4%. E com um mercado de trabalho completamente deteriorado, 15 milhões de pessoas desempregadas, 30% da população subutilizada, o endividamento das famílias explodindo, a inflação que vai bater 8,5%. É possível que o governo faça uma festinha, mas a vida do povo continua muito mal.

RAIO-X

Guilherme Mello, 38 anos – Graduado em economia pela PUC-SP e ciências sociais pela USP; tem mestrado em economia política na PUC e doutorado em ciências econômicas na Unicamp. Coordenou a parte econômica do programa de Fernando Haddad a presidente em 2018 e o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil do PT em 2020. É professor do Instituto de Economia da Unicamp, onde coordena o programa de pós-graduação em desenvolvimento econômico

Folha de SP

Datafolha: Para 70% dos brasileiros, há corrupção no governo de Jair Bolsonaro

Pesquisa mostra que 63% acham que há malfeitos na Saúde, e 64%, que presidente sabia deles

Presidente eleito sobre uma plataforma de tolerância zero com malfeitos administrativos, Jair Bolsonaro não convence os brasileiros neste quesito: para 70% dos adultos entrevistados pelo Datafolha, há corrupção em seu governo. A percepção é amplificada pelas suspeitas de irregularidades em contratos do Ministério da Saúde, colocadas à luz pela CPI da Covid. Acham que há corrupção na pasta 63%, e que o presidente sabia dela, 64%.

Os dados foram colhidos pelo instituto ao entrevistar 2.074 pessoas com mais de 16 anos, nos dias 7 e 8 de julho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

Segundo o Datafolha, os grupos que mais veem corrupção na gestão são mulheres (74%), jovens (78%), moradores do Nordeste (78%) e, claro, aqueles que reprovam o governo (92%). São estratos semelhantes em sua avaliação negativa de Bolsonaro em diversos itens coletados pelo Datafolha. O presidente está com seu maior índice geral de reprovação, 51%, e 52% dos ouvidos o consideram desonesto —invertendo a impressão colhida em junho de 2020.

O único grupo pesquisado em que a opinião negativa sobre corrupção não é majoritária é o dos empresários (2% dos ouvidos), no qual 50% creem haver malfeitos, empatados com os 48% que discordam.

Já aqueles que acham que não há corrupção no governo federal perfazem 23% da amostra. Aqui, a crença na probidade do governo é maior entre homens (28%), pessoas com mais de 60 anos (29%), e os nichos evangélicos (30%) e moradores do Norte/Centro-Oeste (31%). Por óbvio, a taxa dispara entre os que aprovam o governo (60%) e os que confiam na palavra do presidente (74%). No cômputo geral, contudo, o primeiro grupo soma 24% e o segundo, 15%.

A apuração de irregularidades na venda de vacinas ao governo federal tem dominado o noticiário nas últimas semanas e chegou ao presidente, que viu ser aberto um inquérito pelo Supremo Tribunal Federal para investigar se ele prevaricou no caso.

A suspeita sobre a compra de vacinas veio à tona em torno da compra da vacina indiana Covaxin, quando a Folha revelou em 18 de junho o teor do depoimento sigiloso do servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão “atípica” para liberar a importação da Covaxin.

Desde então, o caso virou prioridade da CPI. A comissão suspeita do contrato para a aquisição do imunizante por ter sido fechado em tempo recorde, em um momento em que a vacina ainda não tinha tido todos os dados divulgados, e por prever o maior valor por dose, em torno de R$ 80 (ou US$ 15 a dose). Meses antes, o ministério já tinha negado propostas de vacinas mais baratas do que a Covaxin e já aprovadas em outros países, como a Pfizer (que custava US$ 10).

A crise chegou ao Palácio do Planalto após o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), irmão do servidor da Saúde, relatar que o presidente havia sido alertado por eles em março sobre as irregularidades. Bolsonaro teria respondido, segundo o parlamentar, que iria acionar a Polícia Federal para que abrisse uma investigação. A CPI, no entanto, averiguou e constatou que não houve solicitações nesse sentido para a PF. O Ministério da Saúde suspendeu o contrato.

Ainda segundo o relato do deputado, Bolsonaro teria dito a ele e ao irmão que o problema no ministério era um “rolo” do seu líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O acusado nega, mas o presidente nunca negou o episódio —questionado por carta pela CPI da Covid sobre isso, usou termos chulos para dizer que não responderia.

A partir do caso Covaxin, a Folha chegou a outro caso de suspeitas de irregularidades envolvendo a empresa Davati Medical Supply. A reportagem localizou Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresentou como vendedor da empresa.

Em entrevista à Folha ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina para fechar contrato. As acusações foram repetidas em depoimento à CPI da Covid. Dias foi exonerado em seguida.​

Tal comportamento encontra eco na opinião pública. Para 63%, há corrupção na Saúde, ante 25% que a descartam e 12% que não sabem. A visão negativa é mais sustentada por quem tem curso superior (68%). Mais importante, 64% dos entrevistados acreditam que Bolsonaro sabia dos problemas, justamente o que o inquérito busca esclarecer. Outros 25% não creem nisso e 11%, não opinaram.

São mais crentes no conhecimento presidencial os jovens de 16 a 24 anos (72%) e os nordestinos (71%), repetindo o padrão crítico de outros itens desse levantamento. Já acreditam mais em que Bolsonaro nada sabia aqueles que ganham entre 5 e 10 salários mínimos (36%) e os empresários (44%).

O Datafolha também questionou acerca do conhecimento específico dos casos em apuração. Aí, 70% dos ouvidos disseram estar informados sobre eles, 22% bem, 34% mais ou menos e 9%, mal. Nesse grupo, a taxa de quem acha que havia corrupção sobe para 77%, e chega a 85% entre aqueles que acham que Bolsonaro sabia. No geral, dentro daqueles que conhecem os casos, 74% avaliam que o presidente tinha conhecimento de tudo.

Já aquelas pessoas que confiam mais em Bolsonaro são majoritariamente aderentes da tese de que ele nada sabia (71%). Na mão inversa, aqueles que defendem o impeachment do presidente (54% na amostra total), são quase unânimes (89%) em achar o contrário.

Apesar da percepção negativa e a chegada do tema aos protestos de rua, a expectativa de que haverá aumento nos casos de corrupção no governo caiu ante a pesquisa anterior na qual a pergunta foi feita, em 15 e 16 de março. Acham que o problema vai crescer 56%, ante 67% há quase quatro meses.

A opinião é espraiada pelos vários grupos socioeconômicos da amostra. Os que avaliam que a corrupção vai se manter nos níveis atuais oscilaram de 23% para 26%, com uma crença maior entre os mais ricos: 44% acham isso. Para 13%, haverá menos irregularidades, ante 8% em março. Aqui, os que ganham de 5 a 10 salários mínimos são os mais otimistas (22%). Não souberam opinar 5% (3% no levantamento passado).

Valor

Eleição de 2022 não está no radar do eleitor,diz Cavallari

Para diretora do Ipec, brasileiros estão mais preocupados hoje com vacina, emprego e inflação

Na contramão de boa parte dos políticos, analistas, jornalistas e operadores do mercado financeiro, a diretora-geral do Ipec, Márcia Cavallari, uma das maiores especialistas do Brasil em pesquisa eleitoral, sustenta que é cedo para fazer qualquer afirmação mais assertiva sobre as eleições de 2022 e garante que a disputa presidencial ainda é um tema distante na lista de preocupação dos brasileiros.

Diz ainda não se impressionar com o quadro de polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro, afirmação com potencial de manter acesa a esperança de quem torce por uma terceira via na disputa do ano que vem.

Márcia é cofundadora do Ipec, sigla de Inteligência em Pesquisa e Consultoria, empresa formada por ex-executivos e ex-funcionários do Ibope Inteligência. Ela atuou por vários anos como responsável e porta-voz do extinto ramo de sondagens eleitorais e outras modalidades de pesquisas de opinião pública do Ibope.

“Eu acho que é muito cedo para tirar qualquer conclusão da próxima eleição. Já vimos isso: campanhas começam de um jeito e terminam de outro. E a eleição ainda não está no radar do eleitor. O eleitor, neste momento, está muito mais preocupado com o avanço da vacinação, pandemia, a retomada do emprego, aumento de preços. O eleitor está na coisa da sobrevivência. Não está ainda pensando em eleição”, disse, em entrevista ao Valor.

A afirmação destoa do comportamento do próprio setor. Embora ainda falte mais de um ano para o pleito, o ritmo de divulgação de pesquisas eleitorais pode ser considerado forte, comparável com o que costuma ocorrer no último mês de campanha. Só na semana passada foram veiculados resultados de seis levantamentos nacionais: CNT/MDA e Genial/Quaest na segunda, XP/Ipespe na terça, PoderData na quarta, Exame/Ideia na quinta e Datafolha na sexta. Uma pesquisa do Ipsos, encomendada pelo DEM, teve alguns dados vazados para a imprensa.

A mais recente pesquisa Ipec para presidente, do fim de junho, mostrou Lula com 49% contra 23% de Bolsonaro em primeiro turno. Ciro Gomes (PDT) marcou 7%; João Doria (PSDB), 5%; Luiz Henrique Mandetta (DEM), 3%.

Para Márcia, pesquisas que estão sendo feitas hoje mostram o que poderá ser o início da campanha, mas não são capazes de predizer o que tende a ser o desenrolar da eleição. “Mostram o capital político que cada um tem para começar o jogo. Servem também para ver a avaliação do governo e como isso impacta na intenção de voto no presidente. Mas acho muito prematuro fazer análise sobre resultados. Não dá para falar que esses resultados irão se repetir no ano que vem.”

Na avaliação da diretora do Ipec, as taxas notadamente mais expressivas obtidas por Lula no levantamento que ela conduziu podem ser explicadas por uma combinação de fatores de desgaste a Bolsonaro que coincidiram com a fase de entrevistas. O primeiro foi a superação da marca de 500 mil mortes no país por covid-19. O segundo foi o início do noticiário sobre suspeitas de corrupção na compra de vacinas.

Para ela, a concentração maior de intenções de voto em Lula e Bolsonaro neste momento também pode ser explicada pela taxa de conhecimento dos dois personagens. “Hoje você tem possíveis candidatos que são mais desconhecidos pela população do que o atual presidente e o ex”, afirma. “Então [Lula e Bolsonaro] aparecem com mais força”, completa.

Márcia diz que, diferentemente do que ocorre com o tema economia, muito relevante em toda disputa, não é possível saber se a pandemia continuará tendo peso considerável até outubro de 2022. “Na medida que a vacinação avança e a pandemia regride, não dá para saber se isso terá um peso [decisivo], se vai ser mais forte que qualquer outra coisa. Já economia sempre foi importante em toda eleição presidencial e continuará sendo”. Outra convicção da pesquisadora é que as eleições de 2022 não serão parecidas com qualquer outra que já tenha ocorrido. “Aqui no Brasil a gente vê que cada eleição é uma eleição, né? Não tem repetição”, resume.

O Ipec apurou que 34% dos eleitores que afirmam ter votado em Bolsonaro em 2018 não pretendem repetir o voto. Os entrevistadores não perguntaram a razão dessa mudança. Márcia, porém, não se exime de explicar. O motivo seria frustração com os resultados apresentados até aqui. “O presidente foi eleito com uma grande esperança de mudança. Havia uma expectativa das pessoas em vários aspectos. Se não estão querendo repetir o voto, é porque essas expectativas não foram atendidas.”

Para Bolsonaro, diz ela, mais fácil que recuperar o voto perdido seria conquistar um novo eleitor. Mas a possibilidade de recuperação não deve ser descartada. “Há muitos exemplos em campanhas passadas de governantes que começam a campanha com a avaliação não muito boa e conseguem recuperar. É comum isso.”

Folha de SP

Planalto e Congresso mantêm clima tenso após falas golpistas de Bolsonaro sobre eleições

Presidentes da República e do Senado não pretendem recuar, segundo relataram a interlocutores neste fim de semana

O clima tenso entre os Poderes depois da reação do Legislativo e do Judiciário às declarações golpistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na semana passada não arrefeceu durante o fim de semana e tende a permanecer pelos próximos dias já que, ao menos até o início da noite deste domingo (11), não havia intenção dos envolvidos em baixar o tom.

No fim de semana, emissários do Palácio do Planalto fizeram chegar ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a irritação de Bolsonaro com as declarações do senador. Pacheco disse na sexta-feira (9) que não aceitará retrocessos à democracia do país e que quem agir nessa direção será considerado inimigo da nação. Ele sinalizou a interlocutores que não pretende recuar da posição que tomou.

Também na sexta, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, disse que qualquer tentativa de impedir a realização de eleições em 2022 “configura crime de responsabilidade”.

Somente no sábado (10), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rompeu o silêncio sobre as declarações de Bolsonaro. Em um primeiro momento, divulgou nota nas redes sociais em que evitou criticar o aliado e afirmou que “nossas instituições são fortalezas que não se abalarão com declarações públicas e oportunismo”.

Em seguida, em entrevista à CNN Brasil, afirmou não ter compromisso com intentos antidemocráticos e criticou manifestações políticas de comandantes militares.

A sequência de posicionamentos de autoridades veio na esteira de declarações de Bolsonaro, que afirma que as eleições podem simplesmente não ocorrer caso não exista um sistema confiável —segundo ele, o voto impresso.​

A escalada golpista acontece em um contexto de pesquisas de opinião que apontam picos de rejeição e amplo favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. Bolsonaro subiu o tom de suas ameaças golpistas e, sem apresentar provas, insiste que haverá fraude no ano que vem e que o resultado já estaria definido. Ele também afirmou que há risco de não haver eleições no ano que vem no país.

Além de Bolsonaro, o ministro da Defesa, Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas ajudaram a elevar a temperatura ao divulgarem uma nota na qual repudiavam declarações feitas pelo presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), sobre os militares sob investigação e na mira da comissão.

Para completar o cenário de escalada de tensão, na sexta, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, reafirmou os termos da nota em entrevista ao jornal O Globo e disse que as Forças Armadas têm “base legal” para agir, sem deixar claro qual seria a ação e contra quem.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, neste domingo, a fala de Baptista Junior provocou reação unânime de reprovação absoluta entre os grupos políticos. Integrantes da CPI, tanto os de oposição como os bolsonaristas, viram como inoportunas e desnecessárias as falas do tenente-brigadeiro do ar.

Já o procurador-geral da República, Augusto Aras, não quis se manifestar sobre as declarações golpistas de Bolsonaro sobre as eleições. Questionado pela Folha, Aras também não quis se pronunciar sobre as afirmações do chefe do Executivo de que o TSE fraudou as duas últimas disputas presidenciais.

No sábado, Bolsonaro participou de um passeio de moto com apoiadores em Porto Alegre. Já no domingo, reuniu alguns de seus ministros e secretários para um churrasco no Palácio da Alvorada.

A auxiliares o presidente admitiu sua irritação com as manifestações dos demais Poderes e, assim como Pacheco, também afirmou que não pretende baixar o tom, mas pontuou que vai se esforçar para não atacar instituições, direcionando seus rompantes a pessoas específicas.

No fim da tarde de domingo, o mandatário foi a uma rede social e mencionou “três ministros do Supremo”, sem mencionar nomes. “A pergunta que fica: por que três ministros do Supremo rejeitam, com veemência, a possibilidade de termos eleições com auditoria nos votos?”, escreveu o presidente.

Pelo lado do Judiciário, Barroso relatou a pessoas próximas sua indignação com o que tem acontecido. Para o ministro, como ele tem sido atacado, não é dele que deve partir a bandeira branca. Já o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, indicou que pretende buscar diálogo institucional com os demais Poderes. ​

A tensão política entre os Poderes vai dividir as atenções com a expectativa de indicação do ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), André Mendonça, para a vaga de ministro do STF que surge nesta segunda-feira (12) com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello e com o avanço da CPI da Covid.

Apesar das manobras para estancar o desgaste e depor o quanto antes na comissão, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), deve ser ouvido apenas em 20 de julho. Senadores independentes e da oposição querem aprofundar as investigações sobre as negociações para a compra da vacina Covaxin e reunir dados suficientes antes de interrogar o deputado.

Neste domingo, Barros chamou de covardia o fato de não marcarem o depoimento dele para esta semana. “Reafirmo que não participei das negociações da Covaxin. Por que a CPI só me ataca e não me dá direito à defesa?! Isso tem nome: covardia”, escreveu em uma rede social.

Inicialmente, ele seria ouvido na última quinta-feira (8), mas a data foi alterada, o que levou o deputado a ingressar com um mandado de segurança no STF para que o depoimento fosse mantido.

O depoimento do líder do governo pode ficar para agosto, caso o Congresso vote a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e entre em recesso. Pacheco já afirmou que as oitivas na comissão não poderão ocorrer se os trabalhos no Senado estiverem suspensos.

Outro revés para o governo nesta semana pode ser a aprovação de um requerimento de convocação para ouvir o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Na semana passada, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que iria apresentar o pedido para que Onyx comparecesse à comissão.

Para Calheiros, Onyx mentiu em uma coletiva de imprensa ao dizer que as invoices (nota fiscal internacional) da Covaxin apresentadas nas acusações feitas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) seriam falsas. Em depoimento na sexta-feira (9), o consultor do Ministério da Saúde William Amorim Santana afirmou que os documentos são verdadeiros.

CPI OUVE ENVOLVIDOS EM SUSPEITAS DE IRREGULARIDADES

Terça (13) Emanuela Medrades, representante da Precisa Medicamentos, envolvida na negociação da Covaxin

Quarta (14) – Amilton Gomes, reverendo e presidente da Senah, supostamente, envolvido no caso Davati;

Quinta (15) – Coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde, que participou de jantar onde teria ocorrido o pedido de propina;

Sexta (16) – Cristiano Carvalho, representante da Davati Medical Supply

Estadão

CPI avança em compras suspeitas de vacinas e foca em casos Covaxin e Davati

A CPI da Covid no Senado tentará nesta semana avançar nas investigações das suspeitas de corrupção que envolvem a compra das vacinas da Covaxin e da AstraZeneca. Nesta segunda-feira, o depoimento é de uma testemunha ligada ao caso da vacina indiana, enquanto na quarta e na quinta-feira estão marcadas oitivas de pessoas que participaram da suposta tentativa de venda de 400 milhões de unidades da AstraZeneca ao Ministério da Saúde pela empresa norte-americana Davati Medical Supply. Relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) disse ao Estadão esperar novas revelações.

Nesta segunda-feira, a oitiva é de Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos. A empresa atuou como intermediária entre o laboratório indiano Bharat Biotech e o Ministério da Saúde na venda de doses da Covaxin — e teria pedido inclusive um adiantamento dos pagamentos, o que não é usual. O nome de Medrades aparece em vários momentos nas trocas de e-mails entre a empresa e o Ministério da Saúde. Os sigilos telefônico e telemático (mensagens) dela já foram quebrados pela CPI.

Os depoimentos seguintes são sobre a suposta tentativa de venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca pela Davati. Na quarta-feira, fala o reverendo Amilton Gomes de Paula, um religioso do Distrito Federal que teria facilitado o acesso do representante da Davati ao Ministério.

Na quinta, está marcado o depoimento do coronel da reserva do Exército Marcelo Blanco. Ele participou do jantar no qual um servidor do Ministério da Saúde teria pedido propina ao suposto vendedor de vacinas da Davati, o cabo da PM de Minas Luiz Paulo Dominghetti Pereira.

Segundo disse Renan Calheiros ao Estadão, o colegiado aguarda os depoimentos para “confirmar aspectos da investigação (sobre a compra de vacinas) que ainda precisam de provas”, e que “outros fatos escabrosos deverão vir à tona”.

“A sensação é que estamos diante de um mar de lama. Havia grupos que roubavam enquanto o governo se recusava a comprar vacinas cujas indústrias não consentissem propinas. Preferia comprá-las a atravessadores e lobistas”, disse o senador alagoano.

Outro desdobramento esperado para esta semana é a possível leitura do requerimento de prorrogação dos trabalhos da CPI, a ser feita pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Instalada no dia 27 de abril, a CPI da Covid tem um prazo inicial de funcionamento de 90 dias — por causa do recesso parlamentar no Senado, este período inicial se estenderia até o dia 7 de agosto.

Na última quarta-feira, Pacheco disse que só faria a leitura do requerimento para adiar a CPI próximo ao fim do prazo, ou seja, em agosto.

Mas, no fim da semana passada, o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a leitura deve ser feita já no começo da semana, nesta terça-feira, dia 13. O requerimento de prorrogação dos trabalhos da CPI da Covid já reuniu as assinaturas necessárias.

Folha de SP (artigo)

Não se iluda, se houver golpe, vai ser para roubar

Comandantes militares ameaçaram dar um golpe de Estado caso a CPI continue a investigar oficiais bolsonaristas

Celso Rocha de Barros

Jair Bolsonaro disse que ou a eleição de 2022 vai ter voto impresso ou ela não vai acontecer. As Forças Armadas e todas as outras instituições da República deveriam ter publicado uma nota conjunta dizendo: “Jair, se der golpe, vai morrer. Abs.” Não publicaram.

Ao invés disso, na semana passada comandantes militares ameaçaram dar um golpe de Estado caso a CPI continue a investigar oficiais bolsonaristas que roubaram dinheiro de vacina.

Pelo menos a turma de 64 tinha a decência de mentir que o golpe deles era para combater a corrupção. Era uma época em que o vício ainda prestava homenagem à virtude.

A CPI da pandemia já achou indícios fortes de que existem militares e ex-militares bolsonaristas enrolados o escândalo do roubo de dinheiro de vacina.

Roberto Dias, ex-sargento da Aeronáutica indicado por Bolsonaro para o Ministério da Saúde, é acusado de pedir suborno de um dólar por dose de vacina comprada.

O coronel da reserva Élcio Franco, homem de confiança de Pazuello no Ministério da Saúde, conduziu a negociação em que a mutreta teria acontecido. Há outros militares acusados de terem pressionado pela liberação da vacina e de terem feito a intermediação entre os picaretas e o ministério.

Até aí, era inteiramente previsível. Os militares são seres humanos como todos os outros. Há entre eles honestos e corruptos, como em toda parte.

A maciça entrada de militares na máquina administrativa brasileira, onde sempre houve os mais variados esquemas, inevitavelmente levaria alguns deles para o lado da mutreta. Aconteceu com todos os grandes partidos políticos.

Por isso, quando Omar Aziz, presidente da CPI, lamentou que as investigações tenham encontrado militares corruptos, a reação das Forças Armadas deveria ter sido dizer que corrupção existe em qualquer lugar e que o importante é prender aqueles contra os quais surgirem provas consistentes.

Ao atacar o presidente da CPI do Senado, as Forças Armadas estão sinalizando, voluntária ou involuntariamente, que protegerão seus corruptos.

Isso é ruim em si, mas é pior ainda para o futuro da instituição: se a manobra der certo e os investigadores forem intimidados, de agora em diante todos os ladrões que atualmente entram na política para roubar preferirão entrar para as Forças Armadas, onde a impunidade será garantida.

Quando Bolsonaro saiu candidato sem partido político, mas com forte apoio nos quartéis, os militares que o apoiavam disseram que estavam participando como cidadãos, não como militares.

Bom, quando pegaram corrupção nos partidos dos civis, nenhum deles teve o poder de ameaçar os investigadores com as armas e tropas da República.

A nota do Ministério da Defesa sobre a CPI e seu silêncio sobre o golpismo do presidente da República, a entrevista golpista do chefe da Aeronáutica, tudo isso é sintoma da degeneração moral que Jair Bolsonaro causou na República brasileira.

O militar que acha que as armas da República são dele é exatamente igual ao político que acha que o dinheiro público é dele. Não deve ser difícil, para o sujeito que acha uma coisa, achar a outra.

Por isso, lembre-se: nos próximos meses vai ter golpista falando de “esticar a corda”, de “comunismo”, e, é claro, de “voto auditável”. Não se iluda. Se houver golpe, vai ser para roubar.

Folha de SP (Painel)

Líderes de oposição rejeitam sugestão de Lira de discutir semipresidencialismo no Brasil para 2026

Eles afirmam que não é o momento de fazer a discussão e criticam presidente da Câmara

Líderes de oposição rejeitam a sugestão de Arthur Lira (PP-AL) de discutir a implementação do semipresidencialismo ou parlamentarismo a partir de 2026. O presidente da Câmara disse em entrevista à CNN que a mudança seria necessária para acabar com a instabilidade no país.

“O povo já decidiu pelo presidencialismo no plebiscito de 1993. Não faz sentido tirar dos brasileiros uma decisão que a Constituição de 1988 colocou nas mãos do povo. Fazer isso no Congresso, sem um novo plebisicto, e um ano antes da eleição, é, no mínimo, casuísmo”, diz Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara.

“Sei que, a princípio, a ideia é discutir algo para 2026. Mas conheço processo legislativo: a gente sabe como começa, mas não como termina. Quem disse que amanhã ou depois alguma emenda antecipando pra 2023 não é aprovada? Não me parece que seja o momento para se discutir isso”, completa. “Antes a gente precisa sair da Idade Média em que estamos. Vamos superar as trevas atuais, garantir a democracia. Depois podemos debater o tema”, diz Marcelo Freixo (PSB-RJ), líder da minoria.

Bohn Gass (RS), líder do PT, diz que a instabilidade é gerada quando uma presidente, Dilma Rousseff, é tirada do poder sem ter cometido crime, enquanto Lira barra o impeachment de Bolsonaro, que já incorreu em vários.

“A anormalidade e a insegurança política foram provocadas justamente por aqueles que, quando não havia crime, criaram instabilidade. Agora que há crime, não querem levar adiante. O problema não é mudar de regime. O problema é, no regime que existe, cumprir o que está na lei. Não fazer isso que é gerar instabilidade”, afirma Bohn Gass.

Talíria Petrone (RJ), líder do PSOL, afirma que Lira, “bastião do bolsonarismo”, não tem condições, “por sua cumplicidade com o Planalto”, de conduzir mudanças estruturais no regime político brasileiro. “Mudanças desse tipo necessitam de um amplo e cuidadoso debate, o que até aqui, por seu método truculento e apressado, não parecem ser valores respeitados por Lira”, diz Talíria.

Valor

SP prevê vacinar adolescentes a partir de agosto

Governo de São Paulo prevê primeira dose em toda população adulta até 20 de agosto

O governo de São Paulo anunciou ontem que pretende aplicar a primeira dose da vacina contra covid-19 em todos os adultos do estado até 20 de agosto. Três dias depois, o plano é começar a imunização de adolescentes de 12 a 17 anos, num cronograma que se estenderia até 30 de setembro. São Paulo é o primeiro Estado a apresentar um plano amplo de vacinação para os menores de 18 anos – a cidade do Rio já os incluiu no calendário e a faixa etária será atendida de 1º a 15 de setembro.

A antecipação em quase um mês no cronograma de vacinação dos adultos foi anunciada na tarde de ontem pelo governador João Doria (PSDB). Até então, a expectativa era que a primeira dose seria aplicada aos maiores de 18 anos até 20 de setembro. Já o Ministério da Saúde trabalha com a previsão de que esse público será atendido até o fim de setembro em todo o país.

O cronograma paulista já havia sido adiantado uma vez, em 13 de junho. Segundo o governo, o cálculo é baseado na estimativa de chegada de vacinas ao Estado por meio do Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde. Soma-se a isso a compra, pelo governo estadual, de 4 milhões de vacinas prontas diretamente do laboratório chinês Sinovac, anunciada na última quarta-feira, quando chegou o primeiro lote.