Clipping 15 de julho de 2021

Manchetes

Com obstrução intestinal, Bolsonaro é internado em SP (Folha)

Bolsonaro é internado em São Paulo com obstrução intestinal (Estadão)

Bolsonaro é transferido para SP com obstrução intestinal (O Globo)

Guedes cita acordo para o preço do aço e indústria nega (Valor)


CNN Brasil

Crise de chips deve se estender até 2023, diz líder da Intel no Brasil

Gisselle Ruiz disse ao CNN Brasil Business que fabricação de semicondutores no Brasil não faz parte dos planos da Intel

As empresas de tecnologia que produzem semicondutores estão fazendo malabarismos para conseguir aumentar a produção de chips e atender ao aumento da demanda. O desequilíbrio entre a oferta e a procura do componente tem causado uma crise em todos os setores que usam chips em seus produtos, como veículos e equipamentos eletrônicos. Mesmo com os esforços das produtoras, o problema deve continuar preocupando por algum tempo.

Em entrevista ao CNN Brasil Business, a diretora geral da Intel Brasil, Gisselle Ruiz disse esperar que a cadeia de suprimentos “se estabilize em alguns anos”, mas que a demanda tende a continuar aumentando. Para ela, oferta e demanda só devem ficar próximas do ponto de equilíbrio em 2023.  “Tudo que é digital funciona com semicondutores, então a demanda vai continuar muito forte. Com a crise da Covid-19, a cadeia de suprimentos foi interrompida enquanto a demanda aumentou”, analisa Ruiz.

A escassez de chips tem consequências devastadoras principalmente para a indústria automotiva, já que cada carro precisa de milhares de semicondutores para ter toda a parte eletrônica funcionando. No setor de eletrônicos, a consultoria KPMG estima que o preço dos celulares pode subir 15% por causa desse problema.

Até 2023, todo o mundo ainda deve sofrer as consequências do desequilíbrio nesse mercado. “No segundo semestre continuam os desafios”, segundo a líder da Intel no Brasil. Ou seja, episódios de paralisação de montadoras ainda devem ocorrer até o fim do ano.

Caminho para a normalidade

Enquanto a demanda continua superando a oferta, as fabricantes de chips correm para aumentar a capacidade de produção. A própria Intel anunciou investimentos robustos na construção de novas fábricas. Parte da estratégia batizada de IDM 2.0 prevê o investimento inicial de US$ 20 bilhões para a construção de duas plantas no estado do Arizona, nos Estados Unidos. A empresa também criou uma unidade de negócio para ganhar eficiência no processo de fabricação. Mesmo assim, os resultados não devem aparecer imediatamente.

Um dos problemas da indústria é a concentração da capacidade de produção na Ásia, mais especificamente em Taiwan. Lá, somente a TSMC é responsável por 84% da produção dos chips mais modernos do mundo.  Essa concentração mostra como a cadeia produtiva é frágil. No ano passado, Taiwan registrou a maior seca em 46 anos, o que fez as fábricas reduzirem a produção de chips, que utiliza muita água.

Segundo Gisselle Ruiz, um dos objetivos da Intel com o investimento na produção nos EUA e na Europa é justamente descentralizar a cadeia de abastecimento, o que é uma forma de fortalecer a indústria.

Fabricação no Brasil?

Muita gente pode se perguntar se fabricar os chips no Brasil poderia ajudar nossa economia. Provavelmente. Mas uma planta aqui não está nos planos da Intel. “Avaliamos condições de mercado, custo, talento e incentivos. São investimentos muito grandes e de longo prazo”, justifica Gisselle. Ainda que o mercado brasileiro esteja no top 3 da Intel, um investimento bilionário na produção de chips parece arriscado demais em um país cuja instabilidade é persistente.

Por enquanto, a produção de semicondutores no Brasil é uma incógnita. Com a única fabricante do Hemisfério Sul, a Ceitec, sendo liquidada pelo governo brasileiro, a inglesa EnSilica desembarcou em Porto Alegre (RS) para “aproveitar” os funcionários que estão sendo dispensados da estatal brasileira.

5G

O Brasil está atrasado na implantação da tecnologia 5G, é verdade. Mas as empresas de tecnologia estão contando os dias para que a novidade chegue por aqui. Uma delas é a Intel, que já atua em vários mercados europeus e nos Estados Unidos fornecendo tecnologia compatível com a nova rede.

Embora Gisselle admita que gostaria que o leilão de frequências do 5G – passo mais importante para a implementação da tecnologia aqui – já tivesse sido feito, a executiva disse que sua empresa vem ajudando o governo nos preparos para o leilão e se mostra otimista com o evento acontecendo neste segundo semestre.

Sobre a colaboração com o governo, Ruiz afirma que a Intel “faz recomendações do ponto de vista tecnológico, mostra insights de implementação e impacto na economia e traz boas práticas de outros países” para servir de exemplo para a operação brasileira.

 Agência Estado

Preço alto e falta de oferta dificultam venda de automóveis no País, diz presidente da Anfavea

A indústria de veículos vive uma dificuldade de restrição de oferta e não de demanda, avaliou nesta quarta-feira, 14, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, a associação que representa as montadoras instaladas no País. “Existe bastante interesse ainda na compra do carro novo”, disse Moraes. “A oferta ajustando, vamos ter esse cliente atendido. A demanda está aí”, acrescentou o executivo.

O comentário foi feito durante apresentação de pesquisa feita com usuários da Webmotors que aponta o preço dos automóveis, considerado muito alto por 58% dos participantes, como o maior impeditivo à troca de carro. Os juros altos do financiamento, a incerteza financeira (risco de desemprego) e a falta de modelos no mercado são outras barreiras citadas, em menor frequência, entre os interessados em trocar de veículo.

Para Moraes, o levantamento indica que o medo associado aos impactos da pandemia no emprego e na renda – destaque da pesquisa anterior, feita há um ano, entre os motivos que levavam as pessoas a adiar a compra – não está mais no radar dos consumidores.

As restrições de oferta, no entanto, seguirão comprometendo as vendas, já que, conforme reafirmou hoje Moraes, a crise no abastecimento de componentes eletrônicos, responsável por parar montadoras, dificilmente terá uma normalização antes de um ano. “Para o segundo semestre, podemos ter alguma interrupção de produção por dias ou semanas a depender da situação de cada montadora”, disse o presidente da Anfavea.

AutoIndústria

Após 10 dias de paralisação, Honda retoma produção nesta quinta-feira

Empresa admite problemas com falta de peças, mas diz que férias coletivas em julho já estavam previstas na programação anual

Assim como outras montadoras instaladas no País, também a Honda admite problemas com falta de peças, o que gerou paradas temporárias em suas linhas de produção das fábricas de Sumaré e Itirapina, no interior paulista, entre os dias 9 e 11 de junho. Agora em julho, a empresa concedeu dez dias de férias coletivas nas duas unidades, com suspensão das operações na segunda-feira, 5, e retorno previsto para esta quinta-feira, 15.

A montadora informa serem férias coletivas regulares dentro da programação prevista para 2021, não atribuindo a parada deste mês ao impacto da pandemia da Covid-19 na cadeia de suprimentos, que vem afetando o setor mundialmente devido à escassez, principalmente, de semicondutores.

Dentre as montadoras com linhas atualmente afetadas por esse problema destacam-se a General Motors, que desde 5 de abril está com as operações de Gravataí, RS, suspensas, e a Volkswagen, que decidiu paralisar a produção em Taubaté, SP, por 20 dias a partir da última segunda-feira, 12. No caso da sua fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, serão concedidas férias coletivas para um turno também por 20 dias a partir da próxima segunda-feira, 19.

Apesar dos transtornos que a falta de peças têm causado para as montadoras e também as redes de concessionárias, que convivem com baixos estoques e falta de produtos para pronta entrega, o desabastecimento mundial de peças não tem solução prevista para curto prazo.

Durante apresentação nesta quarta-feira, 14, de pesquisa realizada pela Webmotors sobre o comportamento do consumidor em tempos de pandemia, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, voltou a admitir que a indústria automotiva deve continuar convivendo com a falta de componentes eletrônicos por pelo menos mais um ano.

Isso significa, segundo ele, que o risco de paralisações das linhas de montagem, sejam pontuais ou por períodos mais prolongados, devem continuar neste segundo semestre, com a continuidade de um trabalho diário por parte das montadoras em termos logísticos e junto aos fornecedores para evitar ao máximo maior redução da oferta nos próximos meses.

Automotive Business

Até 41% dos consumidores assinariam em vez de comprar carro, diz pesquisa Anfavea

De acordo com estudo encomendado à Webmotors, até 63% dos entrevistados dizem que o preço muito alto dos automóveis impedem a compra hoje

Passado mais de um ano do início da pandemia, o consumidor brasileiro considera que é o alto preço que impede a compra de um veículo nos dias de hoje e que está aberto a contratar um serviço de assinatura de carro, além de mostrar um interesse crescente nas picapes. É o que revela a segunda edição da pesquisa encomendada pela Anfavea à Webmotors sobre o comportamento do consumidor de carros pós-pandemia, apresentada nesta quarta-feira, 14.

Os números mostram que o cenário atual é de otimismo, já que 75% indicaram intenção de adquirir um veículo ainda este ano. “Este é um retrato do que o consumidor on-line está sentido agora, no momento da compra”, explica Rafael Constantinou, diretor de marketing da Webmotors, durante a apresentação da pesquisa.

É bom lembrar que, apesar do índice alto, não chega a surpreender se considerarmos que os 4.240 entrevistados fazem parte da base de usuários do site Webmotors, formada principalmente por interessados em adquirir um automóvel. O que chama atenção, porém, é que a maioria desse público alega que o principal motivo que impede a compra de um carro atualmente são os preços muito altos. Foi o que disseram 63% dos entrevistados que ainda não possuem carro e 58% de quem já é dono de um.

ASSINATURA EM ALTA POR QUEM NÃO TEM CARRO

A pesquisa mediu ainda o interesse desse público sobre o sistema de carro por assinatura, ainda pouco conhecido no mercado brasileiro, já quase todos os programas oferecidos atualmente foram lançados apenas neste ano. Até 41% deles se mostravam abertos a experimentar o serviço no caso de quem ainda não tem carro, um índice que pode ser considerado alto se lembrarmos que os entrevistados são na maioria pessoas pesquisam preços de veículos na plataforma da Webmotors.

Essa amostra favorável pode ser dividida em duas faixas de interesse: 32% disseram que provavelmente assinariam e 9% têm certeza que optariam pelo serviço. Quando é feito o recorte por faixa etária com os jovens entre 18 e 25 anos, sobe para 15% os que certamente assinariam.

Já entre os entrevistados que possuem um automóvel, o índice é um pouco menor: 36% se mostram abertos à opção, sendo 29% que provavelmente contratariam um plano e 7% que tinham certeza.

CRESCIMENTO DAS PICAPES

A Webmotors também quis saber quais são os tipos de veículos que estavam no radar de compra dos entrevistados e, como é de se esperar, os SUVs foram os preferidos. No grupo de quem já é dono de um carro, 39% dizem que estão buscando essa configuração como sua futura, contra 29% dos sedãs.

Também fica claro que houve um grande aumento na busca por picapes dentro desse grupo. Comparando com os números da primeira edição da pesquisa, realizada no final do ano passado, percebe-se que a procura quase dobrou: saltou dos 7% na época para os atuais 13% que estão atrás de uma picape, chegando muito perto dos hatches, com 16%.

Quando a análise é feita apenas com o grupo que hoje não tem um veículo próprio, os SUVs e picapes ficam longe do pódio. Os favoritos passam a ser os hatches (36%) e sedãs (34%), muito à frente dos SUVs (20%) e picapes (6%).

Valor (Editorial)

A retomada do setor de serviços e o mercado de trabalho

O conjunto dos dados denota os enormes desafios para recuperar o mercado de trabalho no país

A retomada gradual do setor de serviços, confirmada esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstra que ainda há um longo caminho para a recuperação do mercado de trabalho. O setor de serviços é quem mais emprega no Brasil, representando 70% da População Ocupada. A queda da taxa de desemprego, que atingiu o recorde de 14,7% no trimestre móvel encerrado em abril, depende, portanto, em boa medida, da retomada mais vigorosa dos serviços.

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do IBGE, mostrou que o setor cresceu 1,2% em maio ante abril, feito o ajuste sazonal, quase em linha com a mediana de 16 analistas ouvidos pelo Valor Data, que previam aumento de 1,3%. A expectativa é que os serviços ajudem a puxar o crescimento da economia no segundo semestre, à medida que avançar a vacinação contra a covid-19.

Enquanto o setor de serviços não se recuperar de forma mais vigorosa, não haverá retomada substancial do emprego. Essa é uma das principais razões que explicam o fato de que, apesar das previsões de retomada da economia, a desocupação continua elevada. As estimativas sugerem crescimento de mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. E mesmo assim a taxa de desocupação tende a ficar em dois dígitos por mais tempo mesmo que o indicador ceda um pouco até o fim do ano em relação aos níveis atuais, ajudado pela recuperação dos serviços.

Mas há outras razões que também justificam a dicotomia entre retomada econômica e taxa de desemprego. Uma delas é que o mercado de trabalho costuma ser um dos últimos a reagir no processo de recuperação da economia. A criação e o fechamento de vagas seguem os passos da atividade, mas com algum atraso. Essa é uma realidade verificada em situações normais. Na pandemia, a retomada do mercado de trabalho, que atingiu mais os trabalhadores informais do que os formais, também será mais lenta.

É importante, nesse contexto, avançar em soluções para reduzir o custo de se produzir e investir no Brasil, medidas necessárias para acelerar a retomada e, por consequência, a geração de emprego e renda. Como mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego ficou em 14,7% no trimestre encerrado em abril de 2021, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (Pnad Contínua).

Projeções de bancos e de especialistas apontam que esse percentual deve cair, situando-se, em dezembro deste ano, em 13,7%, como prevê, por exemplo, a consultoria IDados. Há bancos que estimam recuo ainda maior do desemprego no fim do ano. Mesmo assim o mercado – entre contratações e desligamentos – vai continuar pressionado pelo grande número de pessoas que deve retornar à força de trabalho.

Importante lembrar que o conceito de desocupação considera as pessoas sem trabalho que, no período da pesquisa do IBGE, tomaram alguma providência para consegui-lo. Não entram na conta do desemprego, portanto, as pessoas que não estão procurando ocupação. Dados do IBGE mostram que o Brasil tem 177,1 milhões de pessoas em idade de trabalhar. São indivíduos com 14 anos ou mais.

Entre aqueles que estão dentro da força de trabalho, 85,9 milhões correspondiam, em abril, a pessoas ocupadas (empregados, empregadores e funcionários públicos), número estável em relação ao trimestre móvel anterior. E havia ainda 14,8 milhões de desocupados, alta de 3,4% em relação ao trimestre anterior (489 mil pessoas a mais).

Existe a expectativa de que o avanço da vacinação contra a covid-19 faça com que pessoas que deixaram de buscar emprego por medo da pandemia voltem a fazê-lo. Mas há outros problemas. Um deles é o grande número de pessoas que têm ocupação, mas enfrentam jornada de trabalho reduzida, que o IBGE considera como subocupados. É o desperdício da mão de obra. A taxa de subutilização da força de trabalho, no trimestre encerrado em abril, era de 29,7%.

De fevereiro a abril, havia 33,3 milhões de pessoas subutilizadas, segundo o IBGE. Esse contingente inclui desempregados, pessoas que trabalham menos horas do que precisariam e os trabalhadores que não buscam emprego, mas gostariam de trabalhar. O indicador é um bom termômetro do mercado de trabalho, por englobar a subocupação e a desistência da procura por trabalho. O conjunto dos dados denota os enormes desafios para recuperar o mercado de trabalho no país.

Estadão (análise)

Segundo relatório da reforma do IR dá uma virada de quase 180 graus

ADRIANA FERNANDES

O relatório do deputado Celso Sabino, da reforma do Imposto de Renda, provocou um estado de felicidade e alívio para grandes empresas, bancos e setores mais afetados pela proposta inicial. O mercado financeiro reagiu bem, os críticos mais ferozes, entre eles advogados tributaristas, moderaram o tom ácido de antes e passaram a elogiar. O sempre discreto presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, elogiou as mudanças, após o choque provocado pelo texto original.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entrou em campo para ajudar, e o seu nome constou no material entregue pelo relator aos líderes dos partidos e ao presidente da Câmara, Arthur Lira.

O relatório dá uma virada de quase 180 graus em relação ao que o presidente Jair Bolsonaro protocolou no Congresso. Se o original caminhava mais na direção de uma distribuição de renda mais progressiva, ao taxar os super-ricos, o parecer pode resultar em maior regressividade.

O que mais chama atenção é que os dois projetos, mesmo tão díspares, tiveram o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes. Tudo isso em menos de três semanas, o que reforça as suspeitas de que o texto enviado originalmente foi duro de propósito, para mais tarde o governo negociar apoio do empresariado. Ou, na pior das hipóteses, o projeto não estava suficientemente azeitado e foi encaminhado sem uma calibragem correta, como agora diz Guedes.

Só essas duas hipóteses podem explicar tamanha diferença entre os dois projetos. Um com uma redução tímida do Imposto de Renda das empresas de cinco pontos porcentuais e outro com uma queda agressiva de 12,5 pontos porcentuais.

Entusiasmado com a ousadia do seu parecer, o relator Celso Sabino, em entrevista ao Estadão, pouco antes de apresentar o relatório aos líderes, contou que Guedes bateu na mesa, comprou a ideia e disse que irá “pagar” a diferença de R$ 30 bilhões de queda da carga tributária com o aumento da arrecadação futura que ele espera.

É nesse ponto que aparecem as fragilidades do plano. Ao reduzir mais fortemente a arrecadação do IRPJ, que é uma receita certa e mais fácil de o Fisco cobrar, o governo vai botar a maior parte das fichas na taxação de lucros e dividendos, que depende muito mais do comportamento dos contribuintes.

As outras fichas – o corte de renúncias tributárias – traz dúvidas também e pode também não acontecer. Se não se confirmarem, o governo ficará com pepino na mão para resolver.

Até aqui tem sido uma tarefa inglória a tentativa de cortar renúncias. Governo e políticos dizem a toda hora que vão cortar os incentivos, mas na hora “H” nada acontece porque aqueles que podem perder o benefício se mobilizam no Congresso com todo tipo de argumento. Não vai ser diferente agora. Esse é o ponto sempre mais delicado para os parlamentares, é o que eles tratam pisando em ovos.

A prova disso é o que aconteceu com os Fundos de Investimento Imobiliários, que tinham isenção do IR, o governo propôs acabar no projeto, e o parecer de Sabino volta atrás depois da mais organizada movimentação nos bastidores para reverter o prejuízo.

Guedes disse que está tranquilo com a perda de R$ 30 bilhões porque vai compensar com arrecadação futura que virá do crescimento. Mas esqueceu de contar que quase metade da arrecadação do IR é dividida por determinação da Constituição com Estados e municípios, que não foram ouvidos e estão agora reclamando. Essa não será uma briga fácil. Eles se perguntam por que o ministro não fez a “bondade” para as empresas desonerando a CSLL, que não é dividida com os governos regionais.

Há também dúvidas se é recomendável usar o excesso de arrecadação para compensar medidas de desoneração. Técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) alertam que, mesmo que não seja necessária medida de compensação, é preciso atentar para os resultados fiscais e para o equilíbrio orçamentário.

Se for ter queda na arrecadação, o governo pode ter de escolher entre afrouxar metas ou reduzir despesas. A opção de redução de despesas parece bem difícil no atual cenário de vésperas de eleições.

O que assusta é a reforma se tornar um trem descarrilado, sem controle, com todo mundo querendo pular da janela com a sua bondade na mão para pagar menos imposto. Esse cenário pode já estar acontecendo. E o fim dessa história tem chances de ser desastroso.

*É repórter especial de economia em Brasília

Valor

Guedes cita acordo para o preço do aço e indústria nega

Declarações do ministro da Economia durante live do Valor provocaram reação no mercado e foram contestadas por representantes do setor

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem, durante “Live do Valor”, que fez um “acordo informal” com a indústria siderúrgica nacional para que os preços do aço no mercado doméstico não subam até o fim do ano. As declarações provocaram reação no mercado e foram contestadas por representantes do setor. A articulação responderia a uma preocupação das empresas de construção civil, segmento que, nas palavras do ministro, vive um “boom” e atravessou a pandemia criando empregos.

Guedes diz ter acordo com setor de aço para segurar preços este ano Setor nega compromisso de represar reajustes Fala de Guedes derruba ações de siderúrgicas “Do lado da construção, estou pedindo para reduzir os impostos de importação para eles poderem trazer o aço de fora”, disse Guedes. O ministro afirmou ainda que haveria a concordância com a redução de 10% na tarifa de importação. “Estamos em disputa [no Mercosul] sobre a Tarifa Externa Comum.”

O impacto das afirmações foi grande na bolsa. Diante da confusão no mercado sobre se as tarifas cairiam 10% ou 10 pontos percentuais, as ações de CSN e Usiminas tiveram os piores desempenhos do dia, com quedas superiores a 3%.

Marco Polo Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, negou o acordo. “O ministro Guedes, alegando receio de pressão inflacionária, propôs que não se fizessem novos aumentos, mas respondemos que, por questões de ‘compliance’ e de concorrência e políticas comerciais próprias não poderíamos firmar esse compromisso.”

Segundo Lopes, foi assegurado que o cenário de alta das commodities, razão dos reajustes no Brasil e no mundo, mostrava sinais de estabilização. Ele ainda ressaltou que a discussão sobre a redução de alíquotas de importação envolve todos os setores, não só o do aço, e que a iniciativa depende do aval dos sócios do Mercosul.

Durante a “live”, Guedes admitiu falhas. “Eu errei, por exemplo, na dosimetria da reforma tributária.” O ministro também destacou que o governo não vê necessidade de racionamento de energia. Ele sinalizou, ainda, que o aumento da arrecadação viabilizará a elevação de gastos com o Bolsa Família em 2022, de R$ 20 bilhões para cerca de R$ 50 bilhões.

Folha de SP

Diretora ligada à Covaxin alinha discurso ao Planalto, mas admite à CPI descaso do governo com calote milionário

Emanuela Medrades contradisse declaração sua sobre fatura de pagamento da vacina indiana

A diretora-técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, negou irregularidades no contrato para a venda da vacina indiana Covaxin, mas admitiu que não houve nenhuma preocupação do Ministério da Saúde durante a negociação com o calote milionário que outra empresa do grupo havia dado no governo federal.

A representante da empresa também disse à CPI da Covid que era “mentirosa” a ata de uma reunião da Saúde, que conteria uma proposta de US$ 10 por dose da vacina, inferior ao valor que acabou constando no contrato.Em um dos momentos mais tensos, ela contradisse sua própria fala a respeito da polêmica envolvendo as faturas para o pagamento da Covaxin, apresentando uma versão alinhada ao Palácio do Planalto.

O depoimento de Emanuela foi retomado na manhã desta quarta-feira (14), após uma sessão tumultuada e marcada por um imbróglio jurídico no dia anterior. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu na ocasião suspender a sessão, após a depoente, amparada por habeas corpus, se recusar a responder mesmo questões simples, como seu vínculo empregatício com a Precisa. Aziz ingressou com embargo junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para esclarecer os limites do direito ao silêncio.

O ministro Luiz Fux, presidente do Supremo, atendeu parcialmente a dois embargos (recursos), um apresentado pela CPI e outro pela defesa de Emanuela. Pela decisão de Fux, cabe ao depoente decidir se a resposta a uma pergunta poderá incriminá-lo, mantendo, assim, o silêncio. O magistrado, no entanto, diz que nenhum direito é absoluto e que cabe à CPI avaliar se o depoente abusa dessa prerrogativa, afirmando que a comissão tem os instrumentos para adotar providências.  Aziz chegou a retomar a sessão na noite de terça, mas a suspendeu depois de a depoente afirmar “estar exausta”.

Na retomada da sessão nesta quarta, Emanuela mudou radicalmente seu comportamento e respondeu todas as perguntas feitas pelos senadores do colegiado. Ela afirmou que a Saúde não questionou a Precisa sobre o fato de a empresa Global, que faz parte do mesmo grupo societário da companhia, ser acusada de ter dado calote na pasta.

A Global recebeu em 2017 antecipadamente R$ 20 milhões por medicamentos de doenças raras que nunca foram entregues quando o ministro era o atual deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara. O presidente da empresa, Francisco Emerson Maximiano, conhecido como Max, também é sócio da Precisa.Após investigação, o Ministério Público Federal denunciou a Global e Barros por improbidade administrativa.

Em resposta a questionamento do senador Humberto Costa (PT-PE), Emanuela afirmou que a Saúde não questionou a Precisa a respeito da acusação feita à empresa sócia durante negociação para a compra da Covaxin. “O Ministério da Saúde em nenhum momento invocou a discussão da possibilidade de uma empresa envolvida numa fraude contra o ministério ser intermediária da aquisição de um contrato de R$ 1,6 bilhão”, ressaltou o senador.

O petista também perguntou se a Bharat Biotech, laboratório indiano que produz a Covaxin, tinha conhecimento a respeito de investigação sobre a Precisa ter superfaturado o valor de testes em venda ao Distrito Federal.

Emanuela respondeu que a farmacêutica indiana conhecia o histórico da empresa. “Sempre fomos transparentes.” Além disso, ela alegou que os funcionários da Precisa tinham experiência na compra de vacinas e isso credenciava a companhia a fazer o negócio, embora a empresa em si nunca antes tivesse adquirido imunizantes.

Em outro momento da sessão, a depoente afirmou que o valor de US$ 15 estabelecido para a compra da Covaxin é determinado pela Bharat Biotech e não pela empresa que ela representa. Disse ainda ter buscado negociar junto à Bharat para que o valor ofertado ficasse abaixo de US$ 10, mas isso não foi possível.

A representante da Precisa negou que tivesse apresentado uma oferta para a Saúde com o preço de US$ 10. O contrato final previa preço de US$ 15 por dose.

Os senadores questionaram a depoente porque receberam uma ata de reunião da Saúde com representantes da Precisa. Nessa reunião, com a presença do então secretário-executivo Elcio Franco e outras autoridades da pasta, teria sido feita a proposta de US$ 10, valor que poderia ser reduzido se a quantidade adquirida fosse considerável. “Eu não sei por que colocaram que o produto custaria US$ 10, porque o produto não foi ofertado. Existe sim uma expectativa que esse valor fosse de menos de US$ 10”, afirmou.

Emanuela também foi questionada sobre a polêmica envolvendo as faturas internacionais para a importação. Nesse ponto, ela chegou a contradizer uma fala anterior sua e alinhou sua fala com a do governo Bolsonaro.

As suspeitas a respeito das faturas surgiram após depoimento à CPI do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda. Eles apresentaram duas faturas que previam pagamento antecipado, e em que havia problemas no quantitativo de doses que seriam entregues inicialmente e também que o pagamento seria feito por meio de uma terceira empresa, a Madison, localizada em um paraíso fiscal.

O secretário-geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, afirmou em entrevista coletiva que os documentos apresentados eram falsos. Disse que a primeira fatura foi apresentada apenas no dia 22 de março deste ano pela Precisa.

A própria Emanuela havia afirmado em sessão no Senado que a primeira fatura havia sido encaminhada no dia 18, reconhecendo, portanto, que a versão apresentada pelos irmãos Miranda seria verdadeira. “Quinta-feira [dia 18 de março] passada fizemos o pedido, encaminhamos as invoices, alguns documentos. Temos alguns documentos que precisam ser retransmitidos ao pessoal do Dimp [Divisão de Importação]”, afirmou na sessão do Senado, em vídeo que foi reproduzido nesta quarta-feira pela CPI.

Ao ser questionada sobre o fato, a representante da Precisa afirmou que “não estava sendo detalhista” na fala e afirmou que encaminhou o primeiro invoice apenas no dia 22 de março. Em depoimento à CPI, o consultor do Ministério da Saúde William Santana confirmou que havia tido contato com o primeiro invoice no dia 18 de março.

Emanuela afirmou que consegue provar sua nova versão e que concorda com a realização de uma acareação com Santana e com o servidor Luis Ricardo. A depoente chegou a afirmar que os dois estavam mentindo. Sobre divergências com Onyx e com o ex-secretário-executivo da Saúde Elcio Franco, evitou usar a palavra mentira e afirmou que ambos estavam “equivocados”.

Senadores, no entanto, levantaram dúvidas sobre a versão apresentada pela depoente. “O seu depoimento, para mim, que analisei o contrato da Covaxin, ele não acrescenta nada quanto à materialidade. Para mim está comprovado que é um contrato fraudulento, superfaturado, de um esquema de propina dentro do Ministério da Saúde”, disse Simone Tebet (MDB-MS).

A representante da Precisa também foi questionada a respeito de um repasse de R$ 1 milhão feito pela empresa para a Câmara de Comércio Índia-Brasil, às vésperas da assinatura do contrato para a venda da Covaxin. A transferência foi divulgada pelo jornal O Globo. Emanuela, no entanto, afirmou não saber o motivo desse repasse.

Presente na sessão, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) interrompeu senadores para fazer a defesa do governo. Flávio não é titular da comissão e costuma comparecer ao colegiado em depoimentos considerados mais “delicados” ao governo do pai.

Mais cedo o senador já havia reclamado da postura de Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI. “[Quer] induzir o depoente a falar o que ele quer. Que coisa chata”, afirmou Flávio. Senadores ​que compõem o colegiado reclamam que Flávio comparece em dias de testemunhas-chave para os trabalhos e costuma encarar o depoente. Parlamentares veem na atitude uma forma de o filho de Bolsonaro intimidar quem depõe na CPI.

Também nesta quarta-feira estava previsto o depoimento do sócio-diretor da Precisa, Francisco Maximiano. Aziz, no entanto, afirmou que a oitiva de Emanuela estava se alongando. O novo depoimento de Maximiano deve ser realizado apenas em agosto. Também nesta quarta, Fux concedeu habeas corpus ao reverendo Amilton Gomes de Paula e ao coronel Marcelo Blanco, garantindo a eles o silêncio em depoimento na CPI.

Eles estão envolvidos na suspeita de cobrança de propina revelada pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti à Folha. Segundo ele, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias pediu US$ 1 por dose em negociação de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. Dias nega ter pedido propina e foi exonerado do cargo. Amilton comanda a Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), ONG responável por apresentar Dominghetti a representantes do governo federal no início deste ano.

Estadão (análise)

Ninguém errou tanto

WILLIAM WAACK

A CPI da Pandemia deve estar enchendo os olhos dos modernos historiadores, segundo os quais depende sobretudo da ação humana a gravidade das consequências de qualquer desastre de causas naturais (terremoto, erupção vulcânica, pandemia). Catástrofes como a da covid-19 apenas acentuam o que já existia. No caso do governo brasileiro, tal como a CPI vem expondo, a pandemia agravou uma extraordinária inépcia governamental.

“Extraordinária”, pois outros governos em outros países também erraram, mas só o brasileiro conseguiu falhar nas cinco categorias de más práticas políticas enumeradas por Niall Ferguson em Doom (Ruína), que acaba de publicar sobre a maneira equivocada como sociedades e países enfrentaram catástrofes, especialmente a atual pandemia. As cinco categorias são: a) incapacidade de aprender da História; b) falta de imaginação; c) tendência de se orientar pela crise mais recente; d) subestimação da ameaça; e) procrastinação à espera de uma “certeza” que nunca se materializa.

Nesse contexto, prevaricação nem é o maior dos crimes, se a palavra “crime” for entendida no significado mais amplo, do mal causado a um país, seus habitantes e seu futuro. Não é consolo algum para quem perdeu entes queridos na tragédia da pandemia no Brasil, mas essa psicologia da incompetência ao lidar com um desastre cobra um preço fatal também do político que dela padece. Outro errático no enfrentamento da doença, Donald Trump tinha economia forte, emprego alto e adversários confusos, e perdeu a eleição.

O vírus derrotou Jair Bolsonaro politicamente. É impossível entender seu assombroso (dado o tamanho da onda disruptiva que o elegeu em 2018) derretimento sem levar em conta o profundo impacto psicológico do fracasso no combate à pandemia. O presidente não tem capacidade intelectual nem o instinto político para entender exatamente o que está acontecendo, o que o impede também de enxergar como suas reações desequilibradas (política e psicologicamente) pioram em vez de atenuar um quadro político-eleitoral que lhe é hoje francamente desfavorável e, com alta probabilidade, também irreversível.

Forma-se em elites dirigentes empresariais envolvidas no jogo político uma curiosa noção segundo a qual Bolsonaro é o único fator que explica o sucesso de Lula nas pesquisas de intenção de voto. Portanto, para evitar uma vitória de Lula, o caminho evidente seria tirar Bolsonaro do páreo eleitoral, eventualmente através de impeachment. Por enquanto esse caminho parece distante por uma série de motivos, entre os quais predomina a ausência de uma “massa crítica política” no Legislativo.

Mas esses dois fatos – o derretimento político-eleitoral de Bolsonaro e a imprevisibilidade associada a seu desequilíbrio – estão forçando os vários atores políticos a calcular talvez antes do que julgassem necessário o pós-Bolsonaro, seja por um impeachment, seja por uma derrota eleitoral que se antevê acachapante. No atual contexto (admita-se, bastante volátil) parece que só Bolsonaro leva ele mesmo à guilhotina, especialmente se partir para um tudo ou nada golpista.

A antecipação da candidatura de Rodrigo Pacheco é um sintoma dessa mudança de calendário de tomada de decisões. Os operadores políticos cheiraram uma atmosfera que parecia pouco provável dois meses atrás, quando muitos trabalhavam com uma espécie de inevitabilidade do confronto Lula-Bolsonaro – inclusive os próceres do Centrão, para os quais a diminuição de chances eleitorais de Bolsonaro amplia sua força de chantagem, mas é perigosa nas eleições que também terão de enfrentar.

Provavelmente também Lula terá de alterar seus cálculos políticos, até aqui bastante simples: como formar uma aliança de “centro” para derrotar o presidente, algo que surgia tão “natural” quanto “inevitável”. Não existe nem um nem outro em História, ensina Niall Ferguson.

Jornalista e apresentador do jornal da CNN

Folha de SP (análise)

Bolsonaro usa internação para ressuscitar figura de mártir contra Lula

Presidente sai de cena em momento de pressão extrema, quando temia inclusive prisão do filho

IGOR GIELOW

A internação repentina de Jair Bolsonaro, apesar dos sinais externos de deterioração física dos últimos dias, fez ressurgir uma das personas prediletas do entorno do presidente: a do mártir político. O roteiro é conhecido. No dia 6 de setembro de 2018, liderando sem favoritismo evidente a corrida presidencial, Bolsonaro foi esfaqueado no abdômen por um ex-militante do PSOL diagnosticado depois como desequilibrado.

Embora seja um erro creditar à facada a vitória do então candidato, como fez posteriormente Geraldo Alckmin (PSDB, menos de 5% no primeiro turno), ela obviamente foi um fator importante para temperar o caldo no qual Bolsonaro foi servido pelas urnas que ele insiste em dizer que foram fraudadas.

A mistura trazia a antipolítica em alta desde os protestos de 2013 e a implosão dos partidos tradicionais sob a Operação Lava Jato, mas a mitologia do bolsonarismo, se tal coisa existe, logo sacralizou aquele momento.

A camiseta que o deputado usava (amarela com “Meu partido é o Brasil” escrito em verde) com manchas de sangue virou moda virtual entre a turma, e as aparições calculadas do convalescente em lives hospitalares o deixaram ao mesmo tempo online e à margem do debate político.

Poucas horas depois que a sirene tocou no Planalto acerca da gravidade do caso do presidente, nesta quarta (14), coube novamente às redes sociais de Bolsonaro, gerenciadas pelo filho Carlos, lembrar o país do sacrifício do líder.

O texto com uma foto descamisada do presidente diz que as agruras que sofre são consequências da “da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSOL, braço esquerdo do PT, para impedir a vitória de milhões de brasileiros que queriam mudanças para o Brasil”.

“Um atentado cruel não só contra mim, mas contra a nossa democracia”, escreveu, evocando um Luís 14 fora de época. Com Luiz Inácio Lula da Silva com quase o dobro das intenções de voto se um primeiro turno fosse hoje, segundo o Datafolha, a inclusão do PT na frase é de uma sutileza paquidérmica.

Se é óbvio, exceto para teóricos da conspiração, que Bolsonaro não inventou sua condição de saúde, sua saída de cena —aliás anunciada em rede social pelo assessor faz-tudo Max Guilherme— tem também sua utilidade mais imediata.

O presidente está em um dos momentos de maior pressão de seu mandato, simbolizados pelos entrechoques institucionais da semana passada, as revelações sobre irregularidades no Ministério da Saúde, a exposição na CPI da Covid, a debacle de imagem registrada pelo Datafolha e até pela atrapalhada mudança no Imposto de Renda.

Se não tivesse sido internado, Bolsonaro teria de encarar os chefes de outros Poderes numa reunião nesta manhã de quarta. Num encontro na segunda-feira, ele ouviu de forma suavizada do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que o centrão iria até a derrota em 2022 com ele, mas não participaria de aventuras autoritárias.

A cúpula das Forças Armadas, atordoada desde que Bolsonaro interveio no setor e, depois, obrigou o Exército a passar pano para a transgressão do general Eduardo Pazuello, tem emitido sinais constantes no mesmo sentido.

Isso reforça uma marca central do governo desde que era um amontoado de apoiadores na campanha: a mentalidade de bunker. Bolsonaro se sente, segundo interlocutores, sob cerco constante.

Para piorar, o velho temor que o presidente tem da Justiça se fez presente. Nas duas últimas semanas, ele pediu a conhecidos para tentar descobrir se o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, estaria prestes a decretar a prisão de Carlos Bolsonaro no âmbito do inquérito das fake news.

Um desses conhecidos afirmou que o presidente estava obcecado e sofrendo de insônia devido ao medo de Moraes, o mais odiado dos muito odiados ministros do Supremo no Palácio da Alvorada, que de resto ainda deu outras más notícias a Bolsonaro ao compartilhar dados com o Tribunal Superior Eleitoral.

Não é um problema novo.

Em 2017, já correndo aeroportos do país com verba parlamentar para promover sua candidatura, Bolsonaro pediu para que seu então braço direito Gustavo Bebianno procurasse ajuda para defendê-lo no caso de injúria por ter dito que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT).

O processo corria no Supremo Tribunal Federal e Bolsonaro temia ser impedido de disputar o pleito no ano seguinte. Bebianno, que viria a ser ministro da Secretaria-Geral da Presidência, demitido do cargo e desafeto do ex-chefe antes de morrer do coração em 2020, intermediou contatos com o empresário Paulo Marinho.

Hoje aliado do rival de Bolsonaro João Doria (PSDB-SP), Marinho ajudou. Bolsonaro então passou a visitá-lo, sempre acompanhado por um guarda-costas que deixou más lembranças aos presentes nos encontros. Numa ocasião, segundo o relato de Bebianno, o então candidato disse que temia ver algum de seus filhos presos e que precisava de aconselhamento.

O resto é história em tempo real, com as revelações que ainda hoje emergem do caso das rachadinhas e das relações do clã com milicianos do Rio mostram.

Valor

STF pede análise sobre adolescentes

Gilmar Mendes determina que o Ministério da Saúde analise inclusão de jovens de 12 e 18 anos no plano de vacinação contra a covid-19

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o Ministério da Saúde analise a possibilidade de incluir adolescentes entre 12 e 18 anos no plano de vacinação contra a covid-19, especialmente aqueles que pertencem ao grupo de risco. Na decisão, o ministro ressaltou que, em junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do imunizante da Pfizer para adolescentes a partir de 12 anos.

A manifestação aconteceu em um pedido apresentado pelo município de Belo Horizonte contra decisão monocrática de um desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJ-MG), que determinou a vacinação imediata de uma adolescente de 15 anos, portadora de Síndrome de Kartagener, um distúrbio hereditário raro que causa problemas respiratórios. O município argumentou que a adolescente não estava incluída na faixa etária estabelecida pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação (PNO), que não abarca menores de 18 anos, e que isso violaria determinações do Supremo sobre o assunto.

Gilmar, no entanto, manteve a decisão do TJ-MG e apontou que o STF não tratou da inclusão de adolescentes nas listas de prioridades para a vacinação. Ele afirmou que a questão em análise é “especialmente sensível” por envolver direito à saúde de adolescente portadora de comorbidade no contexto da pandemia.

Valor

Com alta de casos, Europa começa a rever reabertura

A resposta de alguns governos ao risco de uma nova onda da doença tem sido a reimposição de restrições, desde a volta de limitações dentro de estabelecimentos até toques de recolher noturnos

Apesar do avanço nas campanhas nacionais de vacinação, muitos países da Europa estão vendo um significativo aumento nos novos casos de covid-19 provocados pela variante delta, mais infecciosa. Para tentar evitar uma nova onda da doença, vários governos estão avaliando ou até reimpondo medidas de restrição, desde limitações ao comércio até toque de recolher noturno.

No Reino Unido, o número de novos casos subiu acima de 40 mil pela primeira vez em seis meses ontem. Foram 42.302 infecções, o maior desde 15 de janeiro, quando o país estava em lockdown para conter a segunda onda da pandemia. Estima-se que o número de casos diários possa subir ainda mais, para até 100 mil, algo inédito, possivelmente ainda neste verão europeu.

Apesar disso, o premiê Boris Johnson manteve sua decisão de suspender quase todas as restrições contra a covid a partir da próxima segunda-feira. Preocupados com a piora no quadro sanitário, seis prefeitos da Inglaterra pediram ao governo que mantenha o uso obrigatório de máscaras nos transportes públicos. Ontem, o prefeito de Londres, Sadiq Khan, disse manterá essa obrigatoriedade na cidade. Autoridades na Escócia e no País de Gales também disseram que vão manter a medida, isolando ainda mais Johnson.

A Holanda é outro país que viu disparar o número de novos casos de covid-19, alta de 500% na semana passada, após a reabertura de bares e restaurantes pelo país. Esse aumento levou, na segunda-feira, o premiê Mark Rutte a pedir desculpas ao povo holandês por ter retirado as restrições sanitárias rápido demais. Segundo ele, foi um “erro de julgamento”.

Para conter as infecções, o governo Rutte retomou várias restrições, incluindo o fechamento de bares e restaurantes à meia-noite. Além disso, o premiê disse ontem ao Parlamento que seu governo vai retomar a recomendação para trabalho remoto, poucas semanas depois de ter suspendido a medida.

A Espanha também enfrenta um aumento nos novos casos, com a variante delta se propagando entre os jovens, a maioria não vacinados. Ontem, nacionalmente foram registrados quase 470 novos casos por 100 mil habitantes, de 437 no dia anterior. A Catalunha é a região mais atingida, com mais de 1.000 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias – a maior da Europa. Essa taxa sobe para 3.300 por 100 mil na população de faixa etária entre 20 e 29 anos. “Os números são mais do que ruins. Francamente, eles são muito, muito ruins”, disse o secretário de Saúde da Catalunha, Josep Maria Argimon.

As prefeituras das cidades costeiras têm solicitado ajuda para restringir os acessos às praias e parques, os locais de maior aglomeração desde que a Espanha suspendeu um toque de recolher noturno em todo o país no início de maio. Ontem, os governos regionais da Cataluna e da Cantábrica anunciaram planos – que ainda precisam ser aprovados pela Justiça – um toque de recolher da 1h às 6h para conter as infecções.

No vizinho Portugal, o número de casos subiu acima de 4.000 ontem pela primeira vez desde fevereiro. O retorno das infecções para níveis de quando o país estava em um rígido lockdown está levando o governo a reintroduzir restrições cada vez mais duras, como toques de recolher noturnos. Essas medidas têm sido criticadas pelos donos de hotéis e restaurantes, que dependem do turismo.

 O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, admitiu que as regras levam a um “sufoco adicional” a esse setor. Um dos países mais atingidos pela pandemia de covid-19, a Itália registrou ontem 2.153 novos casos, mais que o dobro dos 1.010 casos uma semana antes, segundo dados do Ministério da Saúde. Essa alta também é atribuída ao avanço da variante delta no país.

A Grécia reportou ontem quase 3.000 novos casos, um dia depois de ter registrado o número mais alto em dois meses, de 3.109 novos casos na terça-feira. Para combater esse aumento nas infecções e, ao mesmo tempo tentar preservar o vital setor de turismo, o governo determinou que para entrar em áreas internas de restaurantes e estabelecimentos de entretenimento os clientes terão de mostrar que foram vacinados ou teste negativo para a covid nas últimas 72 horas.

Para tentar evitar uma quarta onda de covid-19, o presidente da França, Emmanuel Macron, decidiu estender o uso do “certificado de saúde”, que permite que ao portador frequentar locais como bares, restaurantes e shoppings. O anúncio da medida fez com que a população corresse para agendar a aplicação da vacina. Ontem, a França aplicou 792.339 doses, recorde desde o início da campanha.

Valor

Queiroga diz qu epaís tem vacina para todos os adultos

Ministério deve apoiar aquisição de Sputnik e Covaxin se governadores insistirem

Com 600 milhões de doses contratadas, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse ontem que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) já dispõe da quantidade de vacinas contra a covid-19 suficiente para vacinar a população adulta do país até o fim do ano sem a necessidade de recorrer aos imunizantes Covaxin e Sputnik V – eles enfrentam entraves relacionados à obtenção da licença de importação ou à liberação do registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Durante audiência na Câmara, Queiroga admitiu que suspeita de irregularidades no processo de aquisição da Covaxin, do laboratório Bharat Biotech, levou o ministério a suspender o contrato com a Precisa Medicamentos por recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU). O processo de compra dessa vacina é investigado pela CPI da Covid, que apura a cobrança de propina de US$ 1 por dose.

No caso da Sputnik V, Queiroga avalia que o ministério deve apoiar a sua aquisição se os governadores insistirem, mesmo considerando que a negociação envolve um quantitativo pouco expressivo: “O que precisamos é buscar antecipação das doses já contratadas.”

Aos deputados, o ministro disse que assumiu o comando do órgão no “pior momento da pandemia”, quando o país chegou a registrar mais de 4 mil mortes em um dia. Queiroga destacou que desde então houve uma redução da média móvel de novos casos e de óbitos. “Diante daquele contexto anterior, ter esse número de 1.278 [de média móvel de óbitos] já é um presságio de que o colapso que se instaurou no nosso sistema de saúde começa a reduzir de forma gradual”, disse.

Valor

Haddad e Boulos põem campanha na rua em SP

PT insiste em candidatura própria e inicia agenda na rua em reduto eleitoral de Lula; Psol começou a rodar o Estado em junho

Candidatos de esquerda ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (Psol) já colocaram a pré-campanha na rua para ganhar espaço em 2022. Haddad e Boulos estão em ritmo eleitoral e, mesmo com a pandemia, têm feito encontros presenciais com empresários, comerciantes, sindicalistas, movimentos populares, professores e apoiadores.

Os dois pré-candidatos tentam crescer nas pesquisas de intenção de voto e ganhar força para manterem suas candidaturas quando PT e Psol negociarem uma possível união. Pesquisas de intenção de voto mostram que os dois partidos juntos aparecem na liderança, ao lado do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), também pré-candidato. Separados, perdem força e aumenta a possibilidade de serem derrotados. A esquerda nunca ganhou em São Paulo. Nos dois partidos há o temor de que não haja acordo: PT e Psol não querem abrir mão da candidatura própria e desconfiam de promessas futuras.

Haddad começou a pré-campanha na rua com uma rodada de encontros presenciais no ABC paulista, reduto eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na terça e quarta-feira. O ex-prefeito esteve em São Bernardo do Campo, Diadema e Santo André para encontros com prefeitos, sindicalistas, religiosos e empresários.

O petista não se lançou oficialmente como pré-candidato, mas desde abril tem participado das caravanas virtuais “Haddad por São Paulo”, em cidades como Ribeirão Preto, Bauru, Catanduva, Campinas, São Carlos e Araraquara.

Boulos lançou-se pré-candidato em abril e em junho começou a rodar o interior do Estado na “Virada Paulista”. Esteve em Campinas, Sumaré, Mogi das Cruzes e Suzano. Apesar de a esquerda nunca ter vencido em São Paulo, PT e Psol avaliam que agora têm mais chances e citam ao menos dois motivos. O primeiro é o desgaste do PSDB, que está desde 1995 no poder. São sete gestões consecutivas. O segundo é que o eleitorado conservador, que costuma votar nos tucanos, vai se dividir ao menos entre a candidatura do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), e a de Alckmin, que está de saída do PSDB rumo ao PSD.

Mas PT e Psol sabem das dificuldades que enfrentarão para ganhar o interior, conservador. Em 2018, Jair Bolsonaro venceu em 97,8% dos municípios paulistas no segundo turno contra Haddad. Em 2020, o PT perdeu espaço nas prefeituras e venceu em só quatro cidades: Araraquara, Matão, Diadema e Mauá. O Psol tem estrutura pequena no interior e só elegeu uma prefeitura, Marabá Paulista, com 5,5 mil habitantes.

O levantamento deste mês do Ipespe mostra que, com acordo em torno de Haddad, Alckmin teria 22% e o petista, 21%. Em outro cenário, com os dois candidatos da esquerda, Alckmin ficaria na liderança com 21%, Haddad, teria 14% e Boulos, 12%. As conversas entre PT e Psol devem se intensificar neste segundo semestre, mas o acordo ainda não está no horizonte.

Nos bastidores, o PT tenta convencer Boulos a apoiar Haddad e a se lançar ao Senado ou à Câmara. Em troca, teria apoio do PT em 2024, para ser candidato à Prefeitura de São Paulo. A vice de Haddad chegou a ser cogitada para Boulos, mas a proposta não avançou.

O Psol não aceita as ofertas. Diz que até 2024 o cenário deve mudar e nada garante o apoio do PT. O partido argumenta que estará na aliança de Lula na disputa presidencial e cobra apoio em São Paulo. O Psol quer que Boulos seja candidato para dar a ele visibilidade e aproveitar o bom resultado eleitoral que teve em 2020, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, quando ficou em segundo lugar. Mesmo que perca em 2022, poderá se fortalecer para 2024.