Clipping 16 de setembro de 2021


Manchetes

Queiroga vê ‘excesso de vacinas’, e estados, falta (Folha de SP)

Produção nacional de remédio contra câncer corre risco de apagão (Estadão)

Adesão à vacina reduz contágio, internação e mortes (O Globo)

Combustível já pressiona o frete de mercadorias (Valor)


Valor

Avessas a estoques, montadoras mudam de estratégia com escassez de chips

As montadoras globais estão cada vez mais se afastando das práticas tradicionais, segundo as quais deve-se manter apenas um estoque limitado de componentes-chave. Com a pandemia de covid-19 e as quebras nas cadeias internacionais de abastecimento, veio a escassez de componentes como os chips, o que obriga as empresa a rever suas estratégias. Empresas como a Toyota estão procurando aumentar os estoques de chips, enquanto outras estão garantindo seus próprios suprimentos de metais raros.

Os Estados Unidos cortaram suas exportações de semicondutores para a chinesa Huawei Technologies, tornando os chips mais suscetíveis à geopolítica internacional. À medida que as montadoras expandem suas redes de aquisição de peças em todo o mundo, a escassez de alguns componentes pode prejudicar a produção de veículos acabados.

A Toyota começou a pedir a alguns de seus fornecedores que aumentem seus níveis de estoque de semicondutores dos três meses convencionais para cinco meses. Isso acontece depois que a montadora, há muito conhecida por abraçar uma cadeia de suprimentos “just-in-time” em que as peças são entregues apenas quando necessário, já revisou seu sistema em resposta ao terremoto e tsunami de 11 de março de 2011 no Japão, levantando estoques em toda a rede de compras.

A Nissan Motor está considerando aumentar seu estoque de semicondutores de um mês para mais de três meses, enquanto a Suzuki Motor pediu aos fabricantes de peças para manter os estoques por vários meses. As empresas também estão se preparando para assinar contratos de longo prazo com fabricantes de semicondutores que duram vários anos ou para tentar encomendar um produto de mais de uma empresa. A quantidade de semicondutores usados em um único carro está aumentando à medida que mais controles são digitalizados.

De acordo com a IHS Markit, os gastos com chips das montadoras triplicaram em comparação a 20 anos atrás. Em 2030, quando muito mais veículos elétricos estiverem circulando, a empresa de pesquisa britânica espera que a indústria automobilística gaste 30% a mais em chips. Enquanto isso, outras indústrias tornarão ainda mais difícil para as montadoras adquirir chips.

O desenvolvimento de produtos eletrônicos e equipamentos médicos é sustentado por chips, e esses produtores já demandam cada vez mais semicondutores. A maioria das montadoras foi forçada a cortar a produção atual, em parte porque as fabricantes de chips fecharam suas fábricas devido à pandemia.

A realidade está forçando a Toyota e outras montadoras a mudar seu foco da eficiência para a produção estável. Essa busca por compras estáveis pode ir além dos semicondutores, à medida que as montadoras começam a competir mais ferozmente pelos materiais e peças necessários para produzir veículos elétricos e outros veículos ecologicamente corretos.

A demanda por metais raros usados em baterias automotivas deve ser particularmente forte. Alguns minerais estão concentrados em países politicamente instáveis e as minas que exploram o trabalho infantil estão sob escrutínio social.

A Volkswagen e a Tesla estão tentando garantir interesses em lítio e outros metais devido ao tempo que leva para desenvolver uma mina. Buscar essas terras raras depois que a escassez estiver consumada será quase impossível.

Aumentar os estoques e garantir recursos “upstream” ajudará a estabilizar a produção, mas reduzirá a eficiência do gerenciamento. O tempo que a Toyota – conhecida por seu sistema de manufatura enxuto e “just in time” – leva para girar seu estoque aumentou em cerca de 40% nos últimos 10 anos, para 36,36 dias em março. Seiji Sugiura, analista sênior do Instituto de Pesquisas Tokai Tokyo, disse que a Toyota ficou menos eficiente à medida que começou a estocar “chips e materiais cujos preços estão subindo”.

Esta não é a primeira crise a atingir a eficiência “just in time”. O grande terremoto que afetou o nordeste do Japão em 2011 ocorreu meses antes de grandes inundações afundarem propriedades industriais na Tailândia. Ambos os desastres causaram estragos nas cadeias de abastecimento. Em 2016, o sudoeste do Japão sofreu uma série de terremotos que cortaram as redes de abastecimento e atrapalharam a produção de veículos acabados.

Ao contrário de desastres anteriores, o impacto da pandemia de covid-19 em curso foi global. E está chegando ao mesmo tempo que o mercado automotivo muda para os carros elétricos. Ambos os fatores estão forçando as empresas a alterar estratégias comprovadas pelo tempo.

Automotive Business

GM e sócia chinesa produzirão semicondutores

Meta das companhias é aumentar produção local dos chips nos próximos cinco anos

Uma das joint-ventures da General Motors com a SAIC na China, a SGMW, informou na quarta-feira, 15, que está desenvolvendo chips para aplicação em automóveis. De acordo com a Reuters, o desenvolvimento do componente é realizado em conjunto pelas companhias desde 2018.

A meta das empresas é aumentar o uso de chips produzidos localmente nos próximos cinco anos e elevar o nível de cooperação com outros fabricantes chineses do componente, tanto para melhorar a qualidade quanto para reduzir o custo de produção.

Caso isso ocorra, ambas as montadoras estariam mitigando os riscos de um cenário que, hoje, paralisa parte das linhas de produção de veículos no mundo. A falta dos semicondutores ao longo da pandemia já está levando a um retrocesso nos volumes da produção global de veículos.

Estima-se que o abastecimento do componente volte ao normal a partir do segundo semestre do ano que vem, mas há fontes do setor que indicam para um cenário equilibrado apenas em 2025. Até lá, empresas do setor têm buscado fontes de suprimentos alternativas, considerando a expansão da produção dos fabricantes de chips.

Aqui no Brasil, a falta de semicondutores levou montadoras a entregarem veículos para a rede de distribuição sem a central multimídia como uma forma de manter a produção apesar da escassez do componente no mercado. A medida também já é comum na Europa e nos Estados Unidos.

Automotive Business

Ola terá 1ª fábrica de veículos do mundo com força de trabalho 100% feminina

Startup indiana quer capacitar mulheres e melhorar qualidade de vida da população

Nós já falamos aqui no Mobility Now sobre a Ola, startup indiana que está abrindo uma fábrica gigantesca na cidade de Tamil Nadu com o objetivo de produzir 10 milhões de suas scooters elétricas, a S1 e a S1 Pro. Em julho, a empresa abriu a pré-venda dos veículos e atingiu a marca de 100 mil pedidos.

Agora, o CEO Bhavish Aggarwal postou em seu blog uma novidade inusitada: toda a produção da nova fábrica será composta por mulheres. Serão 10 mil funcionárias construindo as motos da Ola na única linha de montagem automotiva completamente feminina do mundo.

“Dar acesso para que as mulheres tenham oportunidades econômicas significa melhorar não só suas vidas, mas as de suas famílias e de toda a comunidade”, diz a postagem no blog. “Estudos mostram que apenas prover paridade às mulheres na força de trabalho pode fazer o PIB da Índia subir 27%. Mas isso requer esforços ativos e conscientes de todos nós, especialmente as pessoas da área de manufatura, onde a participação delas está em apenas 12%. Para a Índia ser o centro mundial da manufatura, nós devemos priorizar a capacitação e gerar emprego para a força de trabalho feminina”, afirma.

A fábrica em Tamil Nadu tem 200 hectares, três mil robôs e dez linhas de produção. Além dela, a Ola também está investindo em uma rede de recarga na Índia, que vai começar com 5 mil pontos em 100 cidades e tem objetivo de chegar a 100 mil pontos em 400 cidades.

Automotive Business

90% dos consumidores querem carros elétricos como opção para compra

Levantamento da KPMG aponta que brasileiros também têm interesse em veículos por assinatura e em conectividade 

No Brasil, ainda são poucos os modelos de carros elétricos, mas se dependesse dos consumidores a oferta seria muito maior. Segundo a pesquisa SAE Mobilidade 2021, realizada pela consultoria KPMG em parceria com a SAE Brasil, com o apoio da Anfavea, 89,7% dos respondentes gostariam de ter carros elétricos e híbridos à disposição para compra no país. O levantamento foi realizado com consumidores e com executivos do setor automotivo.

Nos próximos cinco anos, 73% dos consumidores têm interesse em adquirir veículos elétricos híbridos (HEV), enquanto 54% se interessam por híbridos plug-in (PHEV), 50% carros com motor de combustão interna (ICE) e 43% por veículos a bateria (BEV).

As respostas reforçam a tendência da mobilidade elétrica, observada pela pesquisa desde 2019. É evidente o desejo do consumidor por veículos elétricos e híbridos, mas o que dificulta é o custo. Já temos vários modelos no nicho premium, mas qualquer tentativa de trazer um modelo mais popular vai esbarrar no custo”, afirma o sócio líder para indústria automotiva da KPMG, Ricardo Bacellar.

Para o executivo, uma solução que pode ser estudada pelo mercado é ofertar veículos elétricos e híbridos em serviços de assinatura. “Pode ser uma entrada porque diminuiu a percepção de custo de aquisição e ajuda a atingir um volume significativo de vendas, o que poderia viabilizar e facilitar a produção local.”

Novos modelos de negócios e tecnologias

Os consumidores também estão abertos a experimentar novos conceitos de mobilidade. O interesse pelo serviço de carro por assinatura, ao invés de compra, financiamento ou locação, desperta o interesse de 53% dos respondentes. Quase 30% afirmam não conhecer o serviço e 16% não têm interesse.

Nos últimos meses, diversas montadoras como Audi, Caoa, Fiat, Jeep, Nissan, Renault, Volkswagen e Toyota se lançaram nesse mercado (leia aqui). O serviço é como a Netflix dos veículos: o cliente assina um plano mensal pelo período de um a três anos, a depender da marca, e pode usufruir do carro e todas as suas facilidades sem se preocupar com IPVA, seguro e manutenção.

O potencial a ser explorado é bastante significativo se considerar que esse modelo reduz o custo de aquisição e posse, que se mostram importantes para o consumidor”, aponta Bacellar. “A estratégia para veículos por assinatura não precisa ficar confinada só a modelos zero quilômetro, incluir usados pode abrir uma oportunidade para novos programas de fidelidade, criando um novo ciclo de vendas de veículos no Brasil.

Os brasileiros também estão interessados na experiência do carro para além de dirigir. Segundo a pesquisa, 42% concordam plenamente uma eventual parceria entre montadoras de veículos e empresas de operadores de celular para oferta de um pacote de serviços de conectividade, 14,4% se dizem indiferentes e apenas 5,5% discordam totalmente.

Valor

Maia retira proposta de redução de salário e jornada

A intenção do governo é que o projeto seja votado hoje na comissão especial e, na próxima semana, pelo plenário

O relator da reforma administrativa, deputado Arthur Maia (DEM-BA), retirou da proposta de emenda constitucional (PEC) a possibilidade de redução dos salários dos servidores em 25%, com diminuição proporcional da jornada de trabalho, e limitou a ampliação dos contratos temporários dos servidores públicos. As mudanças, antecipadas pelo Valor PRO, constariam do novo parecer, que ainda não tinha sido divulgado até o fechamento desta edição. A intenção do governo é que o projeto seja votado hoje na comissão especial e, na próxima semana, pelo plenário.

No parecer divulgado há duas semanas, Maia estabeleceu que os contratos temporários não seriam mais exceção e que as únicas carreiras em que o vínculo com a administração pública seria obrigatoriamente permanente, com ingresso mediante concurso público, seriam as exclusivas de Estado, como policiais, diplomacia, fiscalização e administração tributária. No novo parecer, Maia definirá que os contratos temporários serão permitidos, mas em situações excepcionais e transitórias, segundo apurou o Valor.

Dessa forma, um prefeito não poderia montar escolas inteiras com professores temporários, mas fazer contratações pontuais. “Fizemos claras restrições. Não pode ser contratação em caráter permanente”, disse o relator. O prazo de vínculo dos temporários com a administração pública seria mantido, no parecer, em dez anos, mas o relator afirmou que “não se opõe” à redução para seis anos.

Nos bastidores, a manutenção foi vista por governistas como uma “gordura” para a hora das negociações. O prazo de dez anos foi considerado muito grande por parlamentares para um servidor contratado por “processo seletivo simplificado”, que será regulamentado por leis municipais, estaduais e federal.

Outra mudança é em relação ao corte de salários e jornada. O parecer permitia que os servidores que ingressarem na administração pública após a entrada em vigor da PEC tivessem o salário cortado para redução de gastos e, para os atuais, seria opcional. A medida acabou excluída por resistência entre os partidos.

O parecer também terá uma série de mudanças por pressão da “bancada da bala” e para atender a demanda do governo Bolsonaro para conceder tratamento diferenciado aos policiais. A principal será dar integralidade e paridade para as aposentadorias dos policiais civis e federais que entraram na carreira até a data da reforma da Previdência. Na época, a manutenção desses benefícios ficou condicionada a uma decisão judicial que ainda não ocorreu. Com a mudança, esses policiais terão, na aposentadoria, os mesmos reajustes e salários daqueles em atividade.

Além disso, a Polícia Federal passará de órgão de segurança pública para órgão jurisdicional, de apoio ao Judiciário, o que ocorrerá com um remanejamento no artigo que trata da corporação na Constituição. Já a pressão dos guardas municipais para serem tratados como força de segurança pública, e não meramente de proteção patrimonial, não foi acatada pelo relator – há emendas disso do PL e PSC.

Maia também detalhará, no parecer, quais carreiras policiais são exclusivas de Estado e, portanto, não poderão ter contratos temporários – ou seja, serão sempre servidores com vínculo efetivo com a administração pública.

As emendas para contemplar a bancada da bala foram negociadas ao longo do dia de ontem e levaram ao atraso na divulgação do novo parecer, que ainda era ajustado na noite de ontem. Hoje, Maia fará a leitura do parecer e será concedido prazo de 30 minutos para os partidos decidirem as emendas que serão feitas ao texto. A comissão, então, votará a reforma administrativa. No colegiado basta maioria simples para aprovar o texto, mas, no plenário, é preciso o voto favorável de 308 dos 513 deputados. Servidores tentaram entrar na comissão para acompanhar as discussões, mas foram proibidos e protestaram contra a PEC no corredor.

Valor

PIB brasileiro tem 3º pior desempenho entre países do G-20 no2º tri

Queda de 0,1% só não ficou abaixo dos resultados de Índia e Canadá  

A economia brasileira teve o terceiro menor desempenho entre os países que formam o G-20 no segundo trimestre de 2021, conforme a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE). O Produto Interno Bruto (PIB) nas economias do G-20 cresceu 0,4% no segundo trimestre, recuperando-se da redução de 0,9% nos três meses anteriores.

No entanto, há fortes diferenças no desempenho entre os países. Entre abril e junho, o PIB sofreu contração em três países do grupo que reúne as maiores economias do mundo: na Índia, com queda de 10,2% após expansão de 2,3% no primeiro trimestre; no Canadá, com recuo de 0,3% após aumento de 1,4%; e, no Brasil, com baixa de 0,1%, ante alta de 1,2% entre janeiro e março. O crescimento desacelerou na Turquia, para 0,9%, ante 2,2% no primeiro trimestre; na Coreia so Sul, para 0,8%, comparado a 1,7%; e na Austrália, para 0,7%, ante 1,9% no trimestre anterior.

O melhor desempenho entre abril e junho foi do Reino Unido, com 4,8%, depois de contração de 1,6% entre janeiro e março. Na sequência, aparece a União Europeia (UE), com 2,1%, depois de baixa de 0,1%. Alemanha e Japão também voltaram a crescer.

Por sua vez, a expansão foi acelerada no segundo trimestre na Itália, com 2,7%, ante 0,2% no trimestre anterior; nos Estados Unidos, com 1,6% ante 1,5%. Enquanto no Brasil o desempenho ficou praticamente estável, com decréscimo de 0,1%, no México, a expansão foi de 1,5% no segundo trimestre, e a China continuou a crescer, com 1,3%. No segundo trimestre, o PIB nos países do G-20 como um todo superou o nível pré-pandemia (quarto trimestre de 2019).

Valor

Na contramão do mercado, Sachsida prevê PIB acima de 2%

Dados concretos não refletem as recentes estimativas de alta inferior a 1% em 2022, diz secretário

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, disse ao Valor que o cenário da pasta para 2022 é de um crescimento acima de 2%, a despeito da série de revisões para baixo nas projeções de analistas do mercado.

“Respeito opiniões contrárias, desafios existem (em especial a pandemia e o risco hidrológico), mas os dados atuais indicam crescimento acima de 2% para 2022. Os dados fiscais continuam mostrando melhora, as reformas continuam avançando em parceria ao Congresso Nacional, novas concessões avançam, em especial o 5G, novos investimentos continuam sendo anunciados em decorrência dos novos marcos legais (principalmente do saneamento básico)”, disse. “Em resumo, os dados concretos não refletem as recentes estimativas do PÌB para 2022 abaixo de 1%”, completou.

Sachsida não quis entrar em detalhes de análise porque sua secretaria vai divulgar hoje o boletim macrofiscal, que traz uma atualização das projeções macroeconômicas do governo e servem de referência para a elaboração dos relatórios bimestrais de execução orçamentária e financeira. Atualmente, a projeção é de expansão de 5,3% do PIB para 2021 e de 2,5% para o próximo ano.

O secretário não quis antecipar os novos números, mas ao mencionar o cenário acima de 2% para o ano eleitoral, acaba indicando que o dado, utilizado para a elaboração do projeto de lei orçamentária de 2022, deve ter algum ajuste para baixo, embora mantendo uma visão mais positiva do quadro econômico.

No mercado, conforme mostrou ontem o Valor, importantes departamentos econômicos, como os da MB Associados, do Itaú Unibanco e do JPMorgan, já trabalham com um cenário de PIB em 2022 abaixo de 1%. Na pesquisa semanal Focus, feita pelo Banco Central junto a mais de uma centena de instituições, as estimativas para 2021 caem há cinco semanas e estão em 5,04% na mediana, enquanto para o próximo ano os analistas têm reduzido suas estimativas há duas semanas seguidas, com mediana em 1,72%. A tendência é que esse número caia, depois das mudanças anunciadas nas estimativas de algumas das principais casas econômicas.

Os movimentos refletem o PIB abaixo do esperado no segundo trimestre (queda de 0,1%), divulgado no início deste mês, a contínua alta da inflação e, consequentemente, a necessidade de o Banco Central subir mais intensamente as taxas de juros, e outros fatores, como a crise política, que não deixa o dólar baixar, e os riscos de racionamento e falta de água e energia.

“O que justifica a mudança de percepção de crescimento para o ano que vem? Basicamente, a crise desencadeada nos eventos de 7 de setembro trará consequências mais permanentes que a carta de desagravo [do presidente Jair Bolsonaro] de quinta-feira, dia 9, não conseguirá apagar. A crise política que o governo Bolsonaro tem incitado desde o início do seu governo com idas e vindas nas decisões de política econômica tem causado o preço de afugentar cada vez mais investimentos”, explicou em relatório a consultoria MB Associados.

Para o diretor do departamento econômico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, há um movimento exagerado de pessimismo no mercado e os dados não apontariam para previsões tão negativas.

Em sua visão, apesar da alta da taxa básica de juros (Selic), o crédito vai continuar sustentando a economia, pois a inadimplência está bem comportada, permitindo aos bancos continuarem ofertando recursos para empresas e famílias. Ele lembra que, mesmo com a Selic subindo, o juro real no Brasil estará mais baixo do que em muitos outros momentos das últimas décadas.

Freitas estima o crescimento do PIB do próximo ano ao redor de 1,8 %. Já para 2021, trabalha com uma expansão em torno de 5%, índice que devolve praticamente a perda ocorrida no ano passado, em meio à pandemia. O economista ressalta o relatório produzido pela CNC apontando que nos próximos meses a tendência é de que os serviços (especialmente, o turismo) ganhem dinamismo. Isso, porque, explica o texto, o efeito positivo da vacinação da população sobre a atividade econômica se somará “à baixíssima base comparativa de 2020”

Valor (análise)

O país que envelheceu antes de ficar rico

Programas sociais já não reduzem pobreza nem desigualdades

Cristiano Romero

A população do país a que chamamos de Brasil envelheceu antes de enriquecer. Isto significa que, daqui em diante, nossa economia terá enorme dificuldade de crescer a taxas elevadas e, consequentemente, diminuir o enorme índice de pobreza que nos assola desde sempre será uma tarefa muito mais difícil de se cumprir do que foi até agora.

Num cenário de baixo crescimento, combater a desigualdade de renda que nos distancia, uma das maiores do planeta, exigirá desta sociedade algo que ela nunca vislumbrou, que é o conceito de nação, isto é, o sentimento de que, originado a partir de inúmeras etnias, somos um povo só, em que seus cidadãos se reconhecem uns nos outros. Dar sentido à palavra “Brasil”, vocábulo que isoladamente a nada identifica, será um esforço tão utópico quanto achar vida em Marte.

Maldita a escravização de indígenas, os donos originais deste imenso território, e de africanos, como processo de acumulação de capital que amaldiçoou o destino desta enorme “ilha” paradisíaca, batizada pelos invasores portugueses de Ilha de Vera Cruz para fazer crer ao reino da Espanha que, na divisão das terras no continente, seu naco era modesto.

Nos últimos cinco anos (incluída na estatística a projeção do Fundo Monetário Internacional para 2021), a taxa média de crescimento da economia brasileira deve ficar em torno de 0,5% ao ano. Trata-se de ritmo inferior ao da média mundial (2,1%), idêntico ao das economias avançadas – que por razões como envelhecimento da população costumam crescer a uma velocidade inferior à dos países menos desenvolvidos – e bem abaixo ao das economias em desenvolvimento (3,1%). Como nossa população cresce a uma taxa de 0,8% ao ano, o que estamos vendo com o passar dos anos é uma tragédia anunciada – a queda da renda per capita.

Por causa justamente das diferenças sociais que separam os brasileiros, especialmente no que diz respeito ao fato de que a minoria branca discrimina a maioria negra da população (56% dos brasileiros, segundo o IBGE), este país não dotou a maioria de seus habitantes da capacidade de trabalhar de maneira mais produtiva. Desperdiçamos durante décadas, séculos, a possibilidade de formar o que seria, num país de 210 milhões de pessoas, o sétimo maior contingente populacional do mundo, um formidável e invejável capital humano.

Por causa de equívocos cometidos ao longo de nossa história por uma elite usurpadora das fabulosas riquezas deste país, não nos desenvolvemos para produzir mais com menos. Perdemos todos os bondes da história no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologias, diminuindo, portanto, a chance de elevar nossa produtividade e, assim, permitir que a economia crescesse a taxas mais altas.

Na área social, gastamos muito, mas, em geral, mal (ver tabela abaixo). Porque, hoje, como mostra em seu mais recente livro o economista Fabio Giambiagi – “Tudo sobre o Déficit Público” (Alta Books, 2021)) nossos gastos sociais não diminuem mais a pobreza nem os índices de desigualdade. Ele propõe mudanças nesses gastos:

1. A adoção de uma idade de elegibilidade aos 68 anos de idade, no caso de Loas, com elevação de seis meses a mais por ano em uma transição de seis anos. A medida visaria distinguir o benefício assistencial do previdenciário e incentivar uma maior contribuição à aposentadoria de quem ganha nas proximidades do salário mínimo. O sistema atual, em que o trabalhador de baixa renda pode receber aposentadoria aos 65 anos ou mesmo valor por meio do Loas também aos 65, obviamente desestimula a contribuição dos trabalhadores informais a mudança das regras de concessão do salário do seguro-desemprego;

2. Eliminação do abono salarial. Este é um benefício que, na prática, corresponde a uma espécie de 14º salário, pago a quem tem salários baixos no mercado formal. Embora o fim da rubrica esteja longe de ser trivial. Pelo fato de que os beneficiários são os assalariados formais de menor renda, por outra parte, o fato é que não há justificativa social ou econômica alguma para o benefício. Este não se destina aos excluídos nem beneficia quem está desempregado, nem colabora para a melhora da produtividade do país. A medida poderia render 0,2% do PIB.

3. Indexação do salário mínimo apenas ao INPC por dez anos. Evitaria novas pressões da despesa do INSS sobre a despesa, que se somam as já resultantes do aumento físico do número de benefícios.

Folha de SP

Luiza Trajano entra na lista da Time de pessoas mais influentes em texto assinado por Lula

Empresária é a única brasileira entre os 100 nomes de 2021 eleitos por revista americana

A empresária Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, foi eleita pela revista americana Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Ela é a única brasileira na lista de 2021, divulgada nesta quarta-feira (15).

Alguns nomes incluídos neste ano foram o príncipe britânico Harry e sua esposa, Meghan Markle, a tenista japonesa Naomi Osaka, a ginasta americana Simone Biles, o presidente dos EUA, Joe Biden, e sua vice, Kamala Harris, o líder chinês, Xi Jinping, o opositor russo Alexei Navalni, as cantoras Britney Spears e Billie Eilish, o lider do Talibã Abdul Ghani Baradar e o advogado Ben Crump, que defendeu a família de George Floyd. ​

Em 2020, a seleção da revista trazia dois brasileiros: o presidente Jair Bolsonaro e o influenciador digital Felipe Neto.

Na edição de 2021, o texto sobre a trajetória da fundadora do Magazine Luiza na revista é assinado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva —ele próprio figurou na lista da Time duas vezes, em 2004 e 2010. O nome de Trajano tem sido cogitado para compor uma possível chapa com Lula para as eleições presidenciais de 2022.

“Em um mundo corporativo ainda dominado por homens, uma mulher brasileira, Luiza Trajano, conseguiu transformar o Magazine Luiza, que começou como uma única loja em 1957, em um gigante do varejo avaliada em dezenas de bilhões. É uma enorme conquista —uma entre muitas”, diz o relato.

O texto afirma que Luiza tenta “construir um Brasil melhor” com iniciativas contra a violência doméstica, o programa de trainee exclusivo para pessoas negras organizado pela varejista e uma plataforma digital para microempreendores criada durante a pandemia.

Lula também critica o governo federal ao mencionar a atuação de Trajano na crise sanitária: “Em um momento em que o governo brasileiro estava menosprezando o risco oferecido pela pandemia, Luiza corajosamente falou sobre a urgência da vacinação”. Trajano criou o movimento Unidos Pela Vacina, para organizar ações do setor privado no processo de imunização.

Trajano foi notícia em 2020 especialmente quando o Magazine Luiza anunciou que iria fazer um programa de treinamento voltado apenas para pessoas negras. À Folha, no começo deste ano, ela disse que agora quer fazer um processo seletivo voltado apenas para pessoas com mais de 50 anos. “Dá uma coisa legal a experiência com a juventude, mas isso é uma coisa minha ainda.” ​

“Quebrar paradigmas era um costume nosso e a gente ia pagar o preço. Só a primeira porta que baixou o nível e foi o nível de inglês. Os outros critérios e dificuldades foram os mesmos”, disse, sobre o treinamento para negros.

Luiza Trajano formou-se na Faculdade de Direto de Franca, em 1972. Começou a trabalhar na empresa então administrada por sua tia, também chamada Luiza, aos 12 anos e, em 1991, assumiu o Magazine Luiza. Hoje ela é presidente do conselho de administração.

Folha de SP (Painel)

Haddad e França lideram pesquisa para governo de SP, à frente de Boulos e Alckmin

Levantamento foi feito por instituto dirigido por ex-assessor de socialista

Pesquisa do Instituto Badra realizada na semana passada coloca o ex-governador Márcio França (PSB) com 17,6% das intenções de voto para o governo de São Paulo, tecnicamente empatado com Fernando Haddad (PT), com 20,7%.

Guilherme Boulos (PSOL) vem a seguir com 10%, enquanto Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, aparece com 9,8%. Rodrigo Garcia (PSDB), que deve assumir o cargo no ano que vem e disputar a reeleição, tem 1,3%.

O instituto é dirigido por Maurício Juvenal, ex-assessor de França, e chegou a ter pesquisas barradas pela Justiça Eleitoral no ano passado por suposto viés em favor do socialista, que disputava a prefeitura. Elas posteriormente foram liberadas.

“A Badra mantém boas relações com boa parte da classe política brasileira e trabalha com absoluta seriedade. Recebeu aliás, do Instituto Pindograma, que avaliou o nível de acerto de centenas de institutos de pesquisa na última eleição, a mesma nota B+ que o Datafolha”, diz Juvenal.

Folha de SP

Oposição avança em diálogo por atos conjuntos pelo impeachment de Bolsonaro e acena ao MBL

Nove partidos fecham acordo por manifestação ampla no dia 2, mas falta apoio de siglas que podem destravar processo na Câmara

Partidos de oposição ao presidente Jair Bolsonaro avançaram nesta quarta-feira (15) em esforços por manifestações conjuntas pelo impeachment, acenaram ao MBL (Movimento Brasil Livre) e a outras forças que queiram aderir e agora esperam siglas que poderiam destravar um processo no Congresso.

Dirigentes de PT, PSOL, PC do B, PSB, PDT, Rede, PV, Cidadania e Solidariedade se reuniram em Brasília e fecharam acordo pela convocação unificada de atos nos dias 2 de outubro e 15 de novembro. Movimentos e políticos que foram às ruas no domingo passado (12) também serão convidados.

As duas datas já estão previstas no calendário da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, fórum majoritariamente de esquerda que reúne partidos, movimentos e centrais sindicais e promoveu cinco mobilizações nacionais desde maio pedindo a saída do mandatário, respeito à democracia e vacinas.

Apesar do entendimento, dirigentes admitem nos bastidores dificuldades para construir para o dia 2 uma coalizão ideológica extensa. As razões seriam o prazo curto e as controvérsias decorrentes do protesto puxado por MBL e VPR (Vem Pra Rua) no fim de semana, que teve críticas ao PT e ao ex-presidente Lula.

Uma espécie de reedição das Diretas Já, vontade expressa por boa parte dos agentes políticos que têm trabalhado por um consenso entre diferentes em nome da derrubada de Bolsonaro, é vista como mais provável somente no 15 de novembro, quando as tensões estariam mais controladas.

O espírito da campanha que marcou a luta por eleições diretas para presidente da República, no fim da ditadura militar (1964-1985), também é evocado pelo movimento Direitos Já, que promoveu nesta quarta um ato com a intenção de estimular a soma de forças pelo fim do governo.

O evento, realizado em São Paulo sem plateia e com transmissão pela internet, foi marcado por discursos contra Bolsonaro e em prol das instituições democráticas. A defesa da garantia da realização de eleições também apareceu nas falas de políticos e porta-vozes de partidos.

O Direitos Já, que conta com nomes de 18 siglas —do PT ao PSDB, passando por MDB, DEM e Cidadania—, decidiu na semana passada endossar o impeachment, embora institucionalmente nem todas as legendas com representação no grupo tenham se declarado a favor da deposição.

Partidos de centro-direita que possuem bancadas significativas na Câmara dos Deputados permanecem indefinidos sobre a saída do presidente ou já se declararam contra a ideia.

Siglas como PSDB, DEM, MDB e PSD não participaram do encontro do bloco de oposição em Brasília, mas têm sido procuradas para conversas e deverão ser convidadas para a manifestação do dia 2.

Um processo contra Bolsonaro, se fosse levado a plenário pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), não teria votos suficientes para ser aprovado só com as legendas à esquerda.

Mesmo com o apoio da centro-direita, ainda seria necessária a adesão de pelo menos um dos grandes partidos do centrão para reunir, formalmente, os 342 votos necessários para que a Câmara autorize a abertura da ação. Com isso, o cenário hoje é favorável à continuidade do presidente no cargo.

Partidos que chegaram a ensaiar um descolamento do Planalto após as manifestações de raiz golpista no 7 de Setembro acabaram tirando o pé do acelerador após a carta retórica de Bolsonaro escrita em parceria com o ex-presidente Michel Temer (MDB) e que garantiu sobrevida ao governo.

A avaliação dos dirigentes presentes ao encontro desta quarta, contudo, foi a de que é preciso abrir espaço nas manifestações a todas as organizações que concordarem com a bandeira do “fora, Bolsonaro”. A prioridade agora é turbinar a pressão das ruas sobre os parlamentares.

Por outro lado, os líderes terão o desafio de evitar que a contaminação pelas disputas eleitorais de 2022 e desavenças motivadas por pautas laterais e rixas do passado prejudiquem a unificação dos protestos.

Os atos do último domingo, que pretendiam ser uma resposta de amplos setores políticos e sociais às marchas bolsonaristas do 7 de Setembro, fracassaram durante a fase de convocação por causa do tom de apoio a uma terceira via na disputa presidencial.

O mote “nem Bolsonaro nem Lula”, que foi neutralizado por MBL e VPR nas convocações às vésperas da passeata, enterrou a possibilidade de adesão de simpatizantes do petista. O PT não vetou a presença de filiados e disse apoiar todos os atos contra Bolsonaro, mas não se somou à organização.

Com público tímido, as manifestações capitaneadas pelos segmentos de direita acabaram dando combustível ao discurso bolsonarista de que a oposição está em frangalhos. Pré-candidatos de 2022 associados à terceira via compareceram, entre eles João Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).

Procurados pela Folha, MBL e VPR disseram que ainda não se definiram sobre suas próximas mobilizações e demonstraram resistência a aderirem a atos organizados pela esquerda. A base dos dois movimentos é majoritariamente antipetista e tem divergências figadais com o campo oposto.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, exaltou em uma rede social a reunião dos nove partidos de oposição, afirmando que “só a união de forças políticas pode derrotar o golpismo”.

Ela reforçou o convite para as marchas em 2 de outubro e disse que as legendas se somarão aos movimentos sociais e centrais sindicais “por emprego, renda e contra a carestia”.

O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, disse à Folha que “a ideia é reunir todas as organizações que queiram se somar a mobilizações conjuntas”. “É um convite amplíssimo, sem vetos. Não se trata de um ato só da esquerda ou só da direita, mas de uma convocação pelo ‘fora, Bolsonaro'”, afirmou.

Em uma rede social, Medeiros disse que a ideia é convidar também governadores, artistas e personalidades. “Sem sectarismos, sem antecipar debates eleitorais, sem hostilidades. Vamos avançar e vamos derrubar Bolsonaro! Há esperança!”, conclamou.

O único critério de participação, de acordo com o dirigente do PSOL, será o compromisso de respeito aos demais grupos e líderes envolvidos na articulação. Ele descreveu como “um bom começo” para a unidade o consenso em torno do dia 2, data indicada na semana passada pela Campanha Fora Bolsonaro.

O grupo que organiza manifestações desde maio já conta com a participação da maioria dos partidos presentes na reunião desta quarta. Alguns, como PT, PSOL e PC do B, integram a cúpula do fórum. Outros, como PDT, PV e PSB, aderiram em datas específicas ou só em capitais como São Paulo.

Alertando para o risco à realização das eleições após as ameaças feitas por Bolsonaro, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, reforçou o chamado às ruas. “Estamos reunindo todas as oposições e todos os democratas para fazer um novo ato de mobilização popular”, disse em um vídeo.

Ele, que articula a campanha de Ciro Gomes à Presidência, afirmou que “não importa a quantidade de gente que esteja na rua”, lembrou as restrições por causa da pandemia de Covid-19 e reconheceu que a mobilização é um processo demorado. “Mas temos que ir para a rua antes que o pior aconteça.”

Lupi intensificou desde a semana passada o contato com líderes de partidos como PSDB, DEM, MDB, PSD e Novo. O pedetista prega uma união do que ele chama de segmentos democráticos em defesa do impeachment. Siglas à direita, no entanto, enfrentam rachas internos em torno da questão.

No evento promovido pelo Direitos Já, líderes políticos reiteraram a necessidade de união nas ruas e no Parlamento. O tom geral foi o que é urgente um calendário amplo de mobilizações.

Estiveram no local dirigentes, parlamentares e representantes de PT, PSOL, PDT, PC do B, PSB, Rede, Cidadania, PSL, PSD, Solidariedade e MDB. A porta-voz nacional da Rede, Heloisa Helena, e o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, compareceram às duas reuniões do dia.

A ex-senadora Heloisa disse não acreditar na possibilidade de golpe, mas afirmou que, se acontecer, aqueles que precisarem ir para o exílio lutarão com palavras. “E eu lutarei com todas as armas disponíveis para enfrentar um covarde sem honra que deixa feridos para trás”, completou.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e o bispo emérito de Duque de Caxias, dom Mauro Morelli, fizeram participações em vídeo. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), enviaram mensagens.

Mandetta, que é pré-candidato à Presidência em 2022, afirmou no texto repudiar atos contrários à Constituição e ameaças à ordem institucional.

Um manifesto lido durante o evento pelo coordenador do Direitos Já, o sociólogo Fernando Guimarães, afirmou que “a democracia no Brasil está sob ataque e risco”, qualificou o momento como grave e associou Bolsonaro a autoritarismo e retrocessos, comparando-o ao ex-presidente dos EUA Donald Trump.

“Passou da hora. Basta!”, concluiu o texto. Em sua fala, Guimarães também apontou crimes de responsabilidade do presidente e disse que ele rasgou a Constituição ao incitar os atos de 7 de Setembro e fazer ameaças com tom golpista e antidemocrático.

“Nós nos somaremos a qualquer iniciativa que seja para marchar nas ruas em defesa da democracia brasileira e tirar esse genocida do poder, na forma constitucional, que é o impeachment”, discursou. Segundo Guimarães, o foco do grupo será trabalhar especialmente pelo ato de 15 novembro.

O presidente municipal do PDT, Antonio Neto, disse que “o que aconteceu no dia 7 foi muito grave” e que uma reação deve estar desconectada de sonhos eleitorais. “Não podemos agora, com olhar eleitoreiro, deixar de nos unir. Temos que ter maturidade agora. Eleição é no ano que vem”, afirmou.

“Os partidos políticos têm que assumir o controle das manifestações nas ruas, convocar seus militantes, para juntos darmos um basta. Nós não aguentamos mais 15 meses deste governo. Precisamos tirá-lo. Agora chegou a hora do impeachment já”, acrescentou Neto.

Também nesta quarta, o ex-presidente Michel Temer (MDB) defendeu uma pacificação interna do país “porque assim a Constituição o determina”.

“Sem embargo termos crises e mais crises, basta que nós hajamos no sentido de pacificar o país, de fazer o relacionamento adequado entre os poderes, de dar ao povo esta visão pela paz interna do nosso país, sem embargo de divergências programáticas, administrativas e até ideológicas”, afirmou, sem fazer referência à sua participação para esfriar a crise entre Bolsonaro e o STF.

O ex-presidente participou de uma palestra virtual promovida pelos partidos MDB, PSDB, DEM e Cidadania pela defesa da democracia. O evento faz parte do ciclo de debates “Um novo rumo para o Brasil”, que vai até o próximo dia 27.

Igualmente palestrante, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que “não dá para negar o fato que o presidente [Bolsonaro] tem arroubos que não são condizentes com o futuro democrático”. “Ele não vai conseguir. Mas cabe a nós, que temos experiência histórica, reavivar na memória dos brasileiros a necessidade de estarmos juntos em defesa da liberdade e da democracia.”

José Sarney (MDB), ex-presidente, pregou a resolução de divergências pelo diálogo “de acordo com a tradição a brasileira”.

Também fizeram parte do encontro, como expositor e coordenador, respectivamente, os ex-ministros Nelson Jobim e Moreira Franco (MDB). Jobim afirmou que “o sistema presidencial do país esgotou-se” e que 2018 introduziu a nova variável do “ódio na relação política”.

Estavam presentes ainda os presidentes dos partidos Baleia Rossi (MDB), Bruno Araújo (PSDB), ACM Neto (DEM) e Roberto Freire (Cidadania), que pregaram democracia e diálogo.

Rossi foi o único a fazer referência à nota que Bolsonaro divulgou com ajuda de Temer. “Tivemos manifestações pacíficas com uma minoria barulhenta pregando a quebra das instituições, […] algo que não podemos admitir. […] Temer fez um gesto de pacificação muito comentado e comemorado por todos, porque temos neste momento problemas reais que podemos enfrentar”, disse.

Neto afirmou “refutar qualquer posição de radicalismo e de antagonismo” e afirmou que “Todos os Três Poderes têm acertos e erros”.

Valor

Em torno de Naji Nahas

Com jantar, Bolsonaro recupera possibilidade de se fazer vítima das elites e manter base de direita que manifestação do dia 12 não foi capaz de atrair. O fôlego que a política lhe devolve, a inépcia de seu governo lhe tira

MARIA CRISTINA FERNANDES

A chapa Michel Temer/Mamãe Falei devolveu Jair Bolsonaro ao jogo. O ex-presidente valeu-se da mediação entre o presidente da República e o ministro Alexandre de Moraes para assentar a plataforma de seu retorno à cena pública como “Temer, o pacificador”. A carta assinada por Bolsonaro que Temer não se fez de rogado em assumir a autoria, foi recebida com desolação pelo bolsonarismo raiz.

Desolados também ficaram os partidários de uma terceira via. Três dias depois do jantar, a manifestação oposicionista foi esvaziada pelo acordão. Não haverá frente ampla mas uma miríade de opções anti-Lula entre as quais Bolsonaro ainda é a mais competitiva.

O fiasco da manifestação do dia 12 mostrou também que os organizadores do evento, egressos da direita que se descolou de Bolsonaro, liderada pelo MBL do deputado Arthur do Val, o Mamãe Falei, se revelaram incapazes de rivalizar com a capacidade de mobilização do presidente. A bola voltaria para os pés de Bolsonaro na madrugada da terça-feira quando começou a circular, a partir do celular do marqueteiro de Temer, as cenas do jantar na casa de Naji Nahas. A começar pelo anfitrião, cuja liberdade atesta o valor de bons advogados e amigos no poder, tudo naquele jantar contribuiu para devolver a Bolsonaro a aura de quem se insurge contra as elites – um presidente da República sendo ridicularizado pelos mesmos homens ricos e brancos que o mantêm no poder.

Poderosos sempre inspiraram piadas de salão, mas não há registro de um mediador de acordos, num momento dramático como o de hoje, tomar a iniciativa de divulgá-las. A exposição dos demais alvos imitados no repasto está longe de conter os danos. Bolsonaro já se elegeu como vítima uma vez. Pode não ser capaz de fazê-lo novamente, mas recebeu, de mão beijada, uma oportunidade de manter sua militância num momento em que as condições reais de sua sobrevivência estão cada vez mais estreitas – nos tribunais, no Congresso e na economia.

Depois de Alexandre de Moraes ter sido exposto duas vezes, em 15 dias, em encontros protagonizados por Temer, a mediação com o ministro que hoje mais ameaça o presidente da República parece ter ficado prejudicada. O adiamento do julgamento do foro do senador Flávio Bolsonaro na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal é sinal de que ainda há canais com aquela Corte.

O impasse em torno do preenchimento da vaga para a qual André Mendonça foi designado é outro. A vaga mexe no equilíbrio interno das togas. Todos os casos mais sensíveis que poderiam ser impactados pela decisão do foro do senador, como aqueles que envolvem o senador licenciado José Serra (PSDB-SP), o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), ou mesmo aquele do ministro do TCU, Vital do Rêgo, já foram equacionados ou trancados, liberando as margens de manobra para o relator do caso, o ministro Gilmar Mendes.

O desgaste de Temer coloca o ministro quase como a única alternativa de Bolsonaro na busca por uma mediação. Se o Supremo mantém uma fresta aberta, a margem está cada vez mais restrita no Tribunal Superior Eleitoral, onde Moraes se valeu do julgamento de um caso de rachadinha no gabinete de uma vereadora, que ficou inelegível por oito anos, para dizer o que pensa sobre a prática: “É uma clara e ostensiva modalidade de corrupção”.

Se Moraes foi convencido de que o calor do pós-Sete de Setembro não era o momento de deflagrar nenhuma operação sobre a família do presidente não há quem aposte que o ministro tenha sido demovido. As pressões sobre os delegados da Polícia Federal que o auxiliam nos inquéritos que conduz no tribunal não apenas são inúteis, como reforçam, na equipe, o compromisso com os resultados dos inquéritos em curso. Se o tempo do Judiciário está sujeito a modulações, o do Congresso e, principalmente, o da economia, não estão.

 A sessão desta terça-feira na Câmara dos Deputados que ouviu o presidente da Petrobras, Joaquim Luna e Silva, foi uma demonstração de que os aliados de Bolsonaro têm tido dificuldades em executar todas as notas promissórias que alicerçam esta aliança.

A sessão, convocada pelos mesmos parlamentares que lideraram a aprovação da MP da Eletrobras e presidida por Arthur Lira (PP-AL) serviu para emparedar Luna e Silva frente às dificuldades no fornecimento de gás a termelétricas largamente favorecidas naquela votação. O debate sobre o tema é o clímax da esquizofrenia bolsonarista.

Sócios dos negócios favorecidos por este governo cobram de um general da reserva mudanças numa política liberal de preços dos combustíveis. O general se defende usando o mesmo argumento falacioso do presidente, que atribui a flutuação nos preços a alíquotas estaduais de ICMS que não têm variado. E é criticado pelo presidente do Banco Central, que não tem mandato para se meter na Petrobras, dirá para atestar uma velocidade atípica no reajuste de preços da estatal.

Se o preço dos combustíveis corrói a base do presidente e quaisquer chances de manter as rédeas sobre a inflação, a dificuldade de fazer caber o descontrole geral no Orçamento ruma para abrir mais um rombo no teto de gastos sobre a nação. Um sinal do quanto a crise se aprofundou é a impossibilidade de se aceitar hoje um puxadinho para os precatórios no âmbito do Conselho Nacional de Justiça sem aval parlamentar.

Pendurado na conta da pandemia, quando é de inépcia que se trata, o Auxílio Brasil deve sair por crédito extraordinário. Com os precatórios não dá para fazer o mesmo. Os ministros do STF não aceitam solução que contorne a Constituição. Se o governo estiver disposto a encarar um calote ou qualquer nome que se dê a um pagamento mais alongado de dívidas já reconhecidas pela justiça, que encarregue suas lideranças a convencer as Casas desta rolagem.

É este custo, cada vez mais caro, que aparece em audiências como a da Petrobras ou na pressão pela liberalização dos jogos de azar. Se o estado terminal em que se encontra este governo não permitir que seus aliados aprovem tudo aquilo que já foi acordado, que lhes seja facultada a lavagem dos ganhos auferidos na temporada. Para que todos, enfim, possam se aglomerar em torno daquela mesa de Naji Nahas para brindar à saude de Ana Cristina Valle, ex-senhora Bolsonaro e sua parceira de tristezas e, principalmente, de alegrias, que deporá na CPI.

Valor

CPI convoca ex-mulher de Bolsonaro

Requerimento foi apresentado após o empresário Marconny Faria dar informações imprecisas sobre a relação e negócios mantidos com Ana Cristina

Na reta final dos trabalhos, a CPI da Covid avança com as investigações em direção ao núcleo familiar do presidente Jair Bolsonaro. Ontem, os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito aprovaram o requerimento de convocação de Ana Cristina Valle, ex-mulher do chefe do Executivo. O requerimento foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), após o empresário Marconny Faria, durante a sessão de depoimento, dar informações imprecisas sobre a relação e negócios mantidos com Ana Cristina. Apenas o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) se opôs à convocação.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sinalizou que o colegiado tem provas que demonstram que Ana Cristina tentou emplacar nomes apadrinhados por Faria no Ministério da Saúde. Por diversas vezes, o empresário recorreu ao direito constitucional de permanecer em silêncio para não produzir provas contra si.

Faria é apontado como lobista da Precisa Medicamentos e teria atuado na negociação de venda de insumos para o Ministério da Saúde. Ele já havia sido convocado pela CPI para prestar depoimento no início do mês, mas apresentou atestado médico. O próprio profissional que assinou o atestado procurou a CPI para solicitar o cancelamento do documento por ter notado possível simulação por parte do paciente.

Ontem, o empresário admitiu que conhece não apenas Ana Cristina, mas também tem proximidade com Jair Renan, filho do presidente da República. Ele contou que se aproximou para ajudá-lo a criar uma empresa para fazer negócios em Brasília. “Como ele é um jovem rapaz, de 20 e pouco anos, eu apresentei a ele um amigo tributarista, o William [de Araújo Falcomer], para poder formalizar a empresa e fazer as coisas corretas, conforme a lei”, argumentou. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) chegou a ler na sessão parte de uma conversa entre o empresário e o filho de Bolsonaro que demonstra a proximidade entre os dois.

 O depoimento de ontem revelou também que o empresário tem trânsito livre no núcleo bolsonarista, apesar de afirmar que não conhece o presidente, e conexões com outros nomes investigados pela CPI. Ele admitiu, por exemplo, ter conhecido o empresário José Ricardo Santana em churrasco na casa de Karina Kufa, advogada de Bolsonaro. Santana é investigado por envolvimento em supostas irregularidades na oferta de insumos de saúde para o governo.

Outra informação que chamou a atenção foi o empresário admitir que comemorou aniversário no camarote de Jair Renan, no estádio Mané Garrincha em Brasília, e que jantou com ele e Ana Cristina. No caso da relação com a advogada do presidente, Faria disse que se trata apenas de “amizade, social” e que a conheceu em 2017.

Em alguns momentos ele irritou os senadores ao dizer que não se recordava dos fatos perguntados durante o depoimento, como quando respondeu não lembrar ter visto o filho do presidente naquele churrasco. O empresário, que entrou como testemunha, saiu da CPI incluído na lista de investigados.