Clipping 1º de julho de 2021

Manchetes

Planalto tenta proteger Bolsonaro de escândalos (Folha)

Superpedido de impeachment e denúncias pressionam Planalto (Estadão)

Planalto barrou demissão de funcionário da Saúde (O Globo)

Gestores ainda veem ganho na B3 antes da fase eleitoral (Valor)


Automotive Business

Falta de semicondutores faz Hyundai estender paralisação em Piracicaba

Montadora prorrogou a suspensão dos dois turnos na fábrica paulista devido à escassez de componentes eletrônicos

Por conta da falta de componentes eletrônicos para a montagem de veículos, a Hyundai Motor Brasil anunciou nesta quarta-feira, 30, que vai estender a paralisação do segundo e terceiro turnos da fábrica de Piracicaba, no interior paulista. A montadora havia decidido no último dia 16 suspender parte da produção e manter apenas um turno. A paralisação deveria durar 10 dias, entre 21 e 30 de junho.

Com o novo anúncio, a previsão agora é que a linha de montagem deva voltar às atividades normais no dia 12 de julho. A empresa disse que vai monitorar o fornecimento de material semanalmente. Até agora a Hyundai não precisou parar totalmente a produção por falta de peças neste ano.

Nesta semana, porém, a Volkswagen decidiu suspender totalmente a produção na fábrica de Taubaté (SP) pela segunda vez, depois de ter anunciado semanas antes a paralisação das atividades em três de suas quatro fábricas no Brasil, também por falta de componentes eletrônicos.

A crise de semicondutores fez diversas vítimas neste ano. Entre as maiores paralisações, estão a Honda, que precisou interromper a produção do Civic em Sumaré (SP) por duas vezes, e a GM, que já fechou duas plantas diferentes por falta de peças. A unidade de São Caetano do Sul vai ficar parada por seis semanas, em parte também para adequar a linha de montagem à chegada da nova picape baseada na plataforma do Onix.

Já a fábrica da GM em Gravataí (RS) está numa situação mais grave, pois está paralisada desde março, o que tem provocado apreensão entre 5 mil funcionários parados, cerca de 2 mil da GM e os demais de 14 empresas fornecedoras do complexo industrial onde é fabricada a linha Onix. A previsão é que Gravataí fique parada por cinco meses e meio.

Veja abaixo o comunicado oficial divulgado pela Hyundai.

“A Hyundai Motor Brasil estenderá a suspensão da produção do 2º e do 3º turno de sua fábrica em Piracicaba (SP) até 11 de julho devido às condições instáveis de fornecimento de componentes eletrônicos. A empresa segue monitorando a situação e tomará as medidas necessárias para adaptar os volumes de sua produção conforme as condições de fornecimento de peças a cada semana.”

Valor

Bridgestone vai investir R$ 700 milhões em Camaçari

Fábrica de Camaçari foi inaugurada em 2006 e emprega hoje cerca de 900 pessoas contratadas e mais 400 de forma indireta

A fabricante de pneus Bridgestone vai investir R$ 700 milhões para modernizar e ampliar a capacidade de produção na unidade de Camaçari, na Bahia. Um dos objetivos da empresa é preparar a fábrica para atender ao segmento de carros elétricos. O anúncio foi feito nesta quarta-feira em cerimônia na fábrica com a participação do governador Rui Costa (PT).

As obras estão programadas para começar no quarto trimestre de 2021 e vão elevar o limite de produção na unidade de 3,5 milhões para 4,3 milhões de pneus por ano, 23% de aumento. A expectativa é que a expansão crie 420 empregos entre fixos e temporários.

A fábrica de Camaçari foi inaugurada em 2006 e emprega hoje cerca de 900 pessoas contratadas e mais 400 de forma indireta. Na unidade, são produzidos pneus para carros de passeio, caminhonetes e picapes, tanto para o mercado interno como para exportação. Em 2016, a fábrica já tinha recebido outro grande investimento. Segundo a companhia, com o novo aporte, o total investido em ampliações e modernizações desde o início das operações chega a R$ 1 bilhão.

Em material divulgado à imprensa, o presidente da companhia para Brasil e América Latina, Fabio Fossen, destaca que o “investimento faz parte de um plano de médio prazo de crescimento sustentável no Brasil, focado no mercado premium de pneus e na produção para veículos mais sustentáveis e elétricos”.

A Bridgestone fixou a meta de se tornar uma empresa líder em soluções sustentáveis até 2050 e o novo investimento faz parte dessa estratégia. Em Camaçari, já realizou diversas ações nesse sentido, como a instalação de um biodigestor que trata, em média, 15 toneladas de resíduos orgânicos por mês. Com isso, a fábrica reciclou 99,6% de todos os resíduos orgânicos e inorgânicos em 2019.

A empresa tem no Brasil duas fábricas de pneus, em Camaçari e Santo André (SP), e outras duas de bandas de rodagem, em Campinas (SP) e Mafra (SC), que empregam pouco mais de 5 mil pessoas. Neste ano, foram contratadas 300 pessoas. A capacidade atual de produção chega a 10,5 milhões de pneus por ano e as exportações responderam por 22% da produção em 2019. Ela também atende os segmentos de máquinas agrícolas e veículos fora-de-estrada.

Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), o Brasil tem hoje dez fabricantes com 20 fábricas, instaladas em seis Estados, e emprega 28,8 mil pessoas. Em 2020, foram vendidos 68 milhões de pneus produzidos no país, sendo 60% para o mercado de reposição, 24% para montadoras e 16% exportados.

As vendas caíram 8,6% em 2020, em relação a um ano antes, quando foram comercializadas 74,3 milhões de unidades, e retomou aos níveis de 2012, após sete anos com vendas anuais acima de 70 milhões de pneus. Desde 2010, a balança comercial do setor é negativa, com as importações superando as exportações em volume. No ano passado o déficit ficou em 9,68 milhões de unidades, com a exportação de 11,19 milhões de pneus e importação de 20,87 milhões de unidades.

Valor

Ford paralisa produção em fábrica nos EUA por 2 semanas devido à falta de peças

A companhia também está reduzindo a produção em oito fábricas, entre julho e agosto, devido à escassez global de semicondutores, que prejudicou a produção de automóveis em todo o mundo

A Ford vai interromper a produção por duas semanas em sua fábrica do Michigan, nos Estados Unidos – suspendendo a produção do utilitário esportivo Bronco –, por falta de peças não especificadas – a montadora se recusou a identificar as peças que estão faltando. A companhia também está reduzindo a produção em outras oito fábricas, entre julho e agosto, devido à escassez global de semicondutores, que prejudicou a produção de automóveis em todo o mundo.

A empresa disse que está desviando seu escasso estoque de semicondutores para terminar os veículos que estão em fase final de produção e, assim, abastecer as concessionárias, que, por sua vez, estão com seus estoques de veículos quase no fim. “Estamos priorizando a conclusão dos veículos que serão enviados aos nossos clientes e que aguardam os chips para serem finalizados”, disse a Ford, em um comunicado por e-mail. “Isso está de acordo com nosso compromisso de entregar, aos nossos clientes, os veículos o mais rápido possível.”

A interrupção da produção do Bronco, que não foi feita pela escassez de chips, é um golpe para a montadora, já que é um dos modelos mais aguardados pelo mercado. A Ford disse que a fábrica em Wayne, Mifchigan, que produz as picapes Bronco e Ranger, será fechada de 5 a 26 de julho. O CEO, Jim Farley, disse que a montadora já tinha recebido 125.000 pedidos de seu novo SUV.

Estadão

Indústria de ponta retrocede no Brasil em 2021

Bens intermediários, como madeira, celulose e papel, perderam participação nos investimentos, de 49,3% para 44,4%

A indústria de transformação brasileira passa por uma desidratação cada vez mais acentuada que atinge, principalmente, o grupo de bens de consumo duráveis e bens de capital. Em uma década, a participação das empresas de produtos de alta e média tecnologia, como itens de informática e veículos, recuou de 23,8% para 18,7% no setor industrial. O segmento é o mais dinâmico da economia por investir em pesquisa e desenvolvimento e gerar empregos mais qualificados.

Menos complexos e menos intensivos em inovações, fabricantes de bens tradicionais, como alimentos e bebidas, ampliaram sua fatia de 25,6% para 35%. Bens intermediários, como madeira, celulose e papel, também perderam participação, de 49,3% para 44,4%. “É como se a indústria estivesse andando para trás em termos de composição”, afirma Renato da Fonseca, economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Novo estudo da entidade mostra que, apesar de elevado em relação a vários outros países, o grau de diversificação da indústria brasileira vem diminuindo e se concentrando no setor de bens não duráveis e semiduráveis. A CNI avaliou o período 2008 a 2018, com base na mais recente Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE.

Para Fonseca, o Brasil está perdendo a indústria que tem maior capacidade de puxar outros setores, por ter longa cadeia produtiva. “Não podemos abrir mão da indústria que contribui com maior crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Precisamos dela para acelerar o crescimento e reduzir os níveis de pobreza e de desigualdade nas regiões brasileiras.”

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), diz que, quando forem contabilizados os dados de 2019 e 2020, a situação deverá ser ainda pior, pois o Brasil passa por uma desindustrialização ou “primarização da indústria”, acentuada na crise de 2014.

Além de perder indústrias, setores do início da cadeia produtiva, geralmente associados à extração mineral ou à produção agrícola, sem muito valor agregado, ganham espaço, em parte por causa do aumento de preços das commodities.

São ramos com maior dificuldade de difundir crescimento, pois têm menos serviços conexos e menos elos entre cadeias produtivas. “Todas as atividades podem ter ganhos de produtividade, mas a vantagem para um dinamismo maior está nos ramos de maior intensidade tecnológica, ligados aos bens de capital e de consumo duráveis”, diz Cagnin.

Cadeia produtiva

Um exemplo citado por Fonseca é a indústria automobilística, com ampla cadeia produtiva que reúne um conjunto de insumos diversificados. “Quando esses ramos crescem, tendem a puxar número maior de atividades.” A fatia que mais encolheu foi a de veículos automotores – em dez anos, de 10,8% para 7,4%. A que mais cresceu foi a de alimentos, de 10,3% para 18%.

Fonseca afirma que o País precisa de todos os setores, mas aponta diferenças entre eles no PIB. Na última década, o setor agropecuário cresceu, em média, 3,5% ao ano. A economia como um todo cresceu de 0,1% a 0,3%, em média, porque a indústria de transformação caiu 1,6% ao ano no período. Os dados confirmam que o agronegócio, sozinho, não consegue estimular a economia.

Em sua avaliação, a perda nos setores mais dinâmicos ocorre em razão do chamado custo Brasil. “Eles sofrem mais o impacto da tributação ao longo da cadeia, assim como a ineficiência de transporte, de serviços, custo de energia e a burocracia que atinge todas as etapas produtivas”, diz. “Com isso, esses setores não conseguem ganhar competitividade mesmo tendo uma fábrica top, porque seu produto é mais caro do que o dos concorrentes internacionais.”

A forma de reverter esse quadro e retomar a agenda da inovação, na visão da CNI, é com políticas horizontais que atinjam todos os setores, ou seja, o antigo discurso de redução de custos, menos burocracia, sistema tributário com alíquotas iguais sem favorecer um setor ou outro e um comércio exterior integrado com o mundo. A ideia é seguir o que fizeram EUA, Alemanha, Japão, Coreia, Reino Unido, que apoiam a produção que gera ganho à sociedade como um todo, com políticas de financiamento e inovação.

Valor

Taxa de desemprego fica em14,7%, a maior para abril desde 2012, mostra IBGE

Desemprego afeta 14,8 milhões de pessoas no país

A taxa de desemprego no país ficou em 14,7% no trimestre encerrado em abril de 2021, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa repete o resultado de março, que foi o maior da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012, e ficou acima do verificado no trimestre móvel anterior (encerrado em janeiro, de 14,2%).

É também a maior taxa para abril de toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. A maior até então tinha sido a de abril de 2017 (13,6%). Em abril de 2020, a taxa foi de 12,6%. O resultado ficou em linha com a mediana das expectativas de 28 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, que apontava para uma taxa de 14,7% no trimestre encerrado em abril.

O intervalo das projeções ia de 14,5% a 15,1%. No trimestre até abril, o país tinha 14,8 milhões de desempregados – pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego, sem encontrá-lo. O número aponta crescimento de 3,4% frente ao trimestre anterior (489 mil pessoas a mais) e alta de 15,2% frente a igual período de 2020 (1,9 milhão de pessoas a mais).

No período, a população ocupada (empregados, empregadores, funcionários públicos) era de 85,9 milhões de pessoas. Isso representa estabilidade estatística em relação ao trimestre móvel anterior, encerrado em janeiro, e queda de 3,7% frente a igual trimestre de 2020 (3,3 milhões de pessoas a menos). Já a força de trabalho – que soma pessoas ocupadas ou em busca de empregos com 14 anos ou mais de idade – estava em 100,7 milhões no trimestre até abril de 2021, estável frente ao trimestre anterior e 1,3% abaixo de igual período de 2020 (1,4 milhão de pessoas a menos).

O mercado de trabalho apresenta, neste momento, um descompasso, com aumento da procura por trabalho, mas ainda sem capacidade de absorver esses trabalhadores. A avaliação foi feita por Adriana Beringuy, responsável pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), cujo resultado para o trimestre móvel encerrado em abril foi divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa de desemprego no período ficou em 14,7%, mantendo-se no recorde da série histórica, iniciada em 2012, atingido no trimestre encerrado em março. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, em janeiro, no entanto, houve avanço, já que a taxa era de 14,2%. “A gente está num momento em que há crescimento da desocupação e a ocupação não responde da mesma maneira, então acaba tendo esse descompasso. Maior procura por trabalho com uma resposta ainda não tão forte da ocupação para absorver esses trabalhadores”, diz ela, apontando que é preciso aguardar os próximos meses para avaliar a evolução do mercado.

Segundo Adriana, é natural o aumento da busca por trabalho após as fortes perdas ocorridas ao longo de 2020 e não se pode esperar que a questão seja resolvida em poucos meses. “Tudo o que ocorreu em 2020 dificilmente vai se resolver nos primeiros quatro meses do ano. Vamos acompanhar mês a mês esse processo de recuperação”, afirma ela, reforçando que não se pode esperar que haja geração de ocupação equivalente neste início do ano para absorver tantas pessoas que voltam agora a pressionar o mercado. “Vamos ver ao longo do ano como vai ser a resposta da demanda por trabalho”.

O aumento do desemprego na comparação com o trimestre anterior (encerrado em janeiro), está ligado tanto ao momento da pandemia quanto à própria sazonalidade do período, já que tradicionalmente há avanço no trimestre encerrado em abril. “Nos trimestres encerrados em abril, geralmente há aumento da desocupação. Então não seria de se espantar. Além disso, vive em abril o carregamento dos meses de fevereiro e março, em que houve restrição para atividades em diferentes regiões. Então pode haver influência do comportamento normal desse período como das medidas de restrição por causa da pandemia”, diz.

A massa de rendimentos real habitualmente recebida por pessoas ocupadas (em todos os trabalhos) foi de R$ 212,3 bilhões no trimestre de fevereiro a abril de 2021. O número aponta estabilidade estatística frente ao trimestre móvel anterior (encerrado em janeiro), apesar do recuo de 1,8%, e uma queda de 5,4% frente a igual período do ano anterior (menos R$ 12,056 bilhões). A renda média dos trabalhadores ficou estatisticamente estável também, segundo o IBGE.

De acordo com dados da Pnad Contínua, divulgada nesta quarta-feira pelo instituto, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores (considerando a soma de todos os trabalhos) foi de R$ 2.532 no trimestre móvel até abril de 2021, recuo de 1,7% frente ao trimestre móvel anterior e 1,5% abaixo de igual período de 2020. As duas variações, no entanto, estão dentro do intervalo de erro do IBGE.

Os resultados do mercado do trabalho no trimestre móvel encerrado em abril de 2021 mostram que a população ocupada ficou estável, enquanto avançou o contingente de trabalhadores por conta própria. Adriana Beringuy aponta que este é o tipo de inserção no mercado de trabalho que mais vem crescendo nos últimos meses.

“O trabalho por conta própria é o que mais vem se recuperando nos últimos meses. Ele cresce há três trimestres seguidos, na comparação com o trimestre anterior. E, no confronto anual, percebe uma inversão. Após quatro trimestres de queda, começou a subir”, destaca ela. “Apesar da população ocupada como um todo ter ficado estável, o trabalhador por conta própria mostra uma expansão significativa”.

A população ocupada no país ficou em 85,940 milhões no trimestre encerrado em abril, estatisticamente estável frente ao trimestre anterior, embora registre recuo de 0,1% (85 mil pessoas a menos). Já o contingente de trabalhadores por conta própria aumentou 2,3% na mesma base de comparação, uma diferença de mais de meio milhão de pessoas (537 mil), para 24,040 milhões.

Na comparação com igual trimestre de 2020, a alta foi de 2,8%, após quatro recuos seguidos. “Boa parte da recuperação da ocupação se deve justamente ao trabalho por conta própria, que é um dos principais segmentos da informalidade”, diz Adriana.

O trabalho por conta própria é geralmente associado às dificuldades de inserção no mercado de trabalho, quando cada um, de forma autônoma, busca sua alternativa para geração de renda. Na avaliação de Adriana Beringuy, esse crescimento dos trabalhadores por conta própria pode vir tanto de quem perdeu vagas formais como pela necessidade de aumento da renda familiar, quando houve alguma perda de rendimento em função da crise provocada pela pandemia.

“O avanço do conta própria pode estar relacionado tanto a pessoas que perdem trabalho formal e não conseguem se inserir nas atividades que tinham anteriormente como a outras pessoas que estão tentando se inserir agora. [Um exemplo] é que o principal responsável pela família perdeu o trabalho ou teve sua renda comprometida. Aí outros membros da família têm que buscar alternativa para aumentar o rendimento familiar”, explica.

Estadão

Ipea eleva projeção para alta do PIB de 2021 de 3,0% para 4,8%

Impacto menor do que o inicialmente esperado do isolamento social sobre a atividade e conjuntura internacional estão entre os motivos para a revisão

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para 4,8% sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 ante 2020, conforme o relatório “Visão Geral”, publicado na “Carta de Conjuntura” n. 51, do segundo trimestre. Na edição anterior do relatório, a projeção apontava para um crescimento econômico de 3,0% este ano.

Os pesquisadores do Ipea citam alguns fatores por trás da elevação da projeção. Em primeiro lugar, está a constatação de que, na prática, o impacto do isolamento social sobre a atividade econômica, na segunda onda da pandemia de covid-19 verificada no início do ano, foi menor do que o inicialmente esperado – seja porque houve menos regras de restrição, porque as pessoas respeitaram menos essas regras e/ou porque as atividades se adaptaram melhor às restrições ao contato social.

Um segundo fator é a conjuntura internacional. No primeiro trimestre, as atividades exportadoras já puxaram o crescimento econômico. “O crescimento do PIB mundial e a aceleração dos preços de commodities têm provocado um aumento na demanda externa e melhora nos termos de troca. Na esteira desses movimentos, os setores do agronegócio e das indústrias extrativas, particularmente, têm sido os mais beneficiados”, diz o relatório do Ipea.

Esses dois fatores já apareceram no crescimento de 1,2% no PIB, ante o quarto trimestre de 2020. Parte da revisão para cima na projeção do Ipea se deve ao fato de que, na edição do primeiro trimestre do relatório “Visão Geral”, a estimativa era de uma retração de 0,5% ante o quarto trimestre do ano passado. De lá para cá, os indicadores conjunturais de abril e maio vieram positivos, reforçando “esse cenário positivo, em que a economia se mostrou mais resiliente aos efeitos do agravamento da pandemia e das políticas de afastamento social”.

Para o segundo trimestre, os pesquisadores do Ipea esperam um crescimento de 0,1% no PIB ante os três primeiros meses do ano. Frente ao segundo trimestre de 2020, fundo do poço da crise causada pela covid-19, o crescimento deverá ser de 12,6%.

Um terceiro fator a sustentar a projeção mais otimista é a perspectiva de avanço da vacinação contra covid-19. “Embora ainda não tenhamos atingido o grau de cobertura suficiente para permitir a flexibilização mais generalizada das políticas de distanciamento social, a aceleração recente da vacinação já pode estar contribuindo para reduzir a ocupação de leitos de UTI e de mortes pela doença”, diz o relatório do Ipea.

O avanço da vacinação permitirá alguma evolução no sentido da normalização da mobilidade e do contato social no segundo semestre, o que contribui para “aquecer” a demanda doméstica. Além disso, os pesquisadores do Ipea destacam que a expectativa é que “o desempenho da economia mundial continue sendo um importante driver de crescimento, particularmente para os setores ligados ao agronegócio e para as indústrias extrativas”.

No lado dos riscos, o relatório do Ipea cita a própria dinâmica da pandemia – “embora os indicadores de atividade tenham vindo melhores que os esperados em abril, ainda assim foram afetados pelo agravamento da pandemia”, diz o documento – e a possibilidade de escassez de energia elétrica, por causa da crise hídrica.

A expectativa de um crescimento mais forte em 2021 tenderá a arrefecer o ritmo da economia em 2022, por causa da base de comparação mais fraca. Assim, a projeção de crescimento do PIB em 2022 foi reduzida para 2,0% ante 2,8%.

“Diferentemente do que acontece neste ano, o esforço de crescimento em 2022 é maior, refletindo um efeito carry-over inferior a 1%. Vale destacar que, apesar da redução do crescimento esperado para 2022, a previsão para o crescimento acumulado no biênio passou de 5,9% para 6,9%”, diz o relatório do Ipea, ressaltando que esse cenário depende do controle da pandemia e da manutenção de um cenário relativamente estável para a política fiscal no curto prazo, com destaque para o cumprimento do teto dos gastos.

Valor

A pandemia, a economia e o mercado de trabalho

2021 já pode ser considerado um ano perdido para o mercado de trabalho

Por João Saboia e François Roubaud

A divulgação dos resultados das Contas Nacionais do IBGE do primeiro trimestre do ano trouxe a informação de que o nível da atividade econômica voltou ao patamar do último trimestre de 2019, ou seja, do último antes do início da pandemia. O retorno ao nível anterior não foi uniforme. A agropecuária, que foi poupada ao longo de todo ano de 2020, no início de 2021 estava 5,8% acima do final de 2019. Com relação à indústria e aos serviços, houve crescimento de 1,9% e queda de 1,9%, respectivamente.

Olhando o PIB pelo lado da demanda, o consumo das famílias caiu 3,1%, o consumo do governo, 4,9%, enquanto a formação bruta do capital cresceu impressionantes 19,3%, representando o maior nível da série desde o início de 2015.

Conforme é amplamente sabido, em tempos normais o mercado de trabalho segue a evolução da atividade econômica, embora com um pequeno atraso. Isso vale tanto em períodos de melhora quanto de piora. Em 2014, por exemplo, a economia já vinha mostrando sinais recessivos desde o início do ano. Isso não impediu que a população ocupada crescesse a ponto de se obter no final de 2014 a menor taxa de desemprego de toda a série da Pnad Contínua.

A comparação dos dados da economia e do mercado de trabalho entre o último trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2021 confirma as dificuldades enfrentadas atualmente pelo mercado de trabalho, apesar do retorno da economia à situação anterior à pandemia. Mostra também que, dependendo da evolução da economia nos próximos meses, tais dificuldades poderão durar muito tempo e sua recuperação será bem mais lenta do que a recuperação econômica [1].

Segundo os dados da Pnad Contínua, entre o último trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2021, a população ocupada caiu 9,5%, o número de desocupados cresceu 27,6%, a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas aumentou 3,5%, a população desalentada subiu 29,2%, a força de trabalho potencial (desalentados + não desalentados) cresceu 47,0%, e o total da população subutilizada (desocupados + subocupados por insuficiência de horas trabalhadas + força de trabalho potencial) aumentou 26,9%.

No início de 2021 havia 33,2 milhões de pessoas subutilizadas no mercado de trabalho no Brasil! Esses números deixam claro que, embora a economia tenha voltado aos níveis pré-pandemia, o mercado de trabalho encontra-se atualmente muito pior do que estava antes da crise de 2020.

Alguns dados adicionais ajudam a entender as atuais dificuldades do mercado de trabalho. Se separarmos as pessoas ocupadas em formais e informais, verifica-se que os dois segmentos sofreram muito durante a pandemia. Os formais caíram de 55,1 para 51,5 milhões (queda de 6,7%). Os informais, de 39,4 para 34,2 milhões (queda de 13,1%).

Ou seja, a crise atingiu proporcionalmente muito mais os informais (empregados sem carteira, empregadores e trabalhadores por conta própria não contribuintes para a previdência e trabalhadores familiares) do que os formais (empregados com carteira, funcionários públicos, empregadores e trabalhadores por conta própria contribuintes). Com isso, houve queda da taxa de informalidade, o que parece paradoxal em tempos de crise.

Essa é, inclusive, uma das razões para a performance relativamente favorável do rendimento médio do conjunto de ocupados ao longo da crise, uma vez que o rendimento dos mais atingidos (informais) é bem inferior ao dos menos atingidos (formais).

A segunda razão é a própria evolução mais favorável do rendimento dos formais comparativamente aos informais. Portanto, a recuperação do mercado de trabalho não depende apenas de melhoria das expectativas de empresários sobre a economia para decidirem pela contratação de novos empregados com carteira assinada. É preciso também que as condições sanitárias permitam o retorno dos mais de 5 milhões de informais que se retiraram da força de trabalho durante a pandemia.

É aqui que entra a questão da imunização da população contra a covid 19. Apesar do aumento do ritmo da vacinação no país, ele ainda se encontra muito lento. A falta de contratação de vacinas em 2020 acabou resultando em atraso da imunização da população e em seu início muito lento. Grande parte dos mais jovens, que constituem importante parcela da força de trabalho, ainda não tomou a primeira dose da vacina.

 Se tudo correr bem, só no último trimestre do ano teremos o grosso da população vacinada. Mesmo que a economia continue a melhorar ao longo de 2021, o país deverá continuar apresentando sérias dificuldades no mercado de trabalho nos próximos meses.

Por um lado, o crescimento da agricultura e da formação bruta do capital até aqui observado gera relativamente poucos empregos. Enquanto o setor de serviços não se recuperar não haverá recuperação do nível de emprego. Por outro lado, houve forte crescimento da produtividade do trabalho durante a pandemia que dificilmente será revertido, dificultando anda mais a recuperação do mercado de trabalho.

De certa forma, pode-se afirmar que, em termos de mercado de trabalho, 2021 já pode ser considerado um ano perdido e que o retorno a algo semelhante ao que ocorria no final de 2019 ainda levará muito tempo. E o mais irônico nisso tudo é que 2019 não foi nada brilhante em termos de mercado de trabalho, que ainda sofria os efeitos da crise de 2015/2016 e do pouco crescimento da economia em 2017/2019. [1].

[1] A comparação entre o quarto trimestre de um ano e o primeiro trimestre de outro ano pode apresentar alguma dificuldade por conta da sazonalidade existente ao longo do ano. No caso do PIB estamos utilizando dados dessazonalizados. No caso da Pnad Contínua são utilizados os dados originais divulgados pelo IBGE sem correção sazonal. Como os dados do mercado de trabalho costumam ser mais favoráveis no último trimestre de cada ano, a comparação aqui realizada pode estar sendo um pouco desfavorável ao mercado de trabalho.

João Saboia é professor emérito do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ).

François Roubaud é pesquisador sênior do Institut de Recherche pour le Développement (IRD) de Paris e pesquisador visitante do IE/UFRJ.

Estadão

Folha de Denúncias de corrupção e superpedido de impeachment pressionam Planalto

Diante do avanço das investigações na CPI da Covid e de denúncias de corrupção na compra de vacinas, o Palácio do Planalto age para manter de pé a aliança com o Centrão e evitar a ampliação da crise política, que tem no líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), o personagem central.

A pressão se agravou nesta quarta-feira, 30, com a apresentação do superpedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, assinado por partidos de esquerda, centro-direita e parlamentares que romperam com o governo, além de integrantes de movimentos sociais, reunindo mais de 100 representações já protocoladas na Câmara.

Acuado, o presidente voltou a recorrer ao tom de ameaça para atacar a CPI, citando as Forças Armadas. “Não conseguem nos atingir, não vai ser com mentiras ou com CPI integrada por sete bandidos que vão nos tirar daqui”, discursou Bolsonaro em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, em referência ao grupo de senadores que é maioria na comissão. “Só tenho paz e tranquilidade porque sei que, além do povo, temos Forças Armadas comprometidas com a democracia e com a liberdade”, afirmou.

A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar a compra da vacina indiana Covaxin, produzida pelo laboratório Bharat Biotech e intermediada pela empresa Precisa Medicamentos. O dono da Precisa, Francisco Maximiano, foi convocado para depor na CPI mas ainda não há data confirmada para o depoimento. Ricardo Barros, por sua vez, será ouvido pelos senadores na próxima quinta-feira.

A Procuradoria da República no Distrito Federal também abriu investigação criminal sobre as negociações para aquisição da vacina (mais informações nesta página). O contrato foi suspenso temporariamente pelo governo.

Ao Estadão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), que depôs à CPI da Covid na semana passada e denunciou irregularidades nas tratativas para importação da Covaxin, disse que vai provar a existência de corrupção no governo. Ex-aliado de Bolsonaro, o deputado atua para proteger seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda, que disse à CPI e ao Ministério Público ter sido pressionado por superiores para acelerar o negócio com a Covaxin.

As tratativas incluíam pagamento antecipado de US$ 45 milhões a uma offshore que não constava no contrato. Os dois irmãos afirmaram ter denunciado o esquema a Bolsonaro, que teria dito que isso seria “rolo” de Ricardo Barros.

Ao ser questionado nesta quarta sobre o superpedido de impeachment, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), minimizou a estratégia. “O que houve nesse superpedido? Uma compilação de tudo o que já existia nos outros. E, sobre esses depoimentos, quem tem de apurar é a CPI. É para isso que ela existe. Então, ao final dela a gente se posiciona aqui, porque, na realidade, impeachment como ação política a gente não faz com discurso, a gente faz com materialidade”, disse Lira, líder do Centrão e adversário de Barros dentro do partido.

Com foco nas suspeitas de irregularidades envolvendo a compra de vacinas contra o coronavírus, que já matou mais de 500 mil brasileiros, a CPI quebrou nesta quarta os sigilos telefônicos e telemáticos de integrantes do chamado “gabinete do ódio”. O grupo, coordenado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), é composto por auxiliares do presidente, acusados de espalhar fake news nas redes sociais contra adversários do governo. Tiveram os sigilos quebrados os assessores da Presidência Mateus Matos Diniz, José Matheus Salles Gomes e Tercio Arnaud Tomaz. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello também teve os sigilos quebrados.

Além das suspeitas de malfeitos nas negociações para a compra da Covaxin, o governo passou a lidar com acusações de propina que teria sido cobrada pelo então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. O policial militar Luiz Paulo Dominguetti disse ao jornal Folha de S. Paulo ter aberto negociação com o governo, em nome da empresa Davati Medical Supply, para vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

O acordo não foi adiante, segundo ele, porque o diretor cobrou propina de US$ 1 por dose para o negócio prosseguir. A AstraZeneca disse não ter intermediário para venda de sua vacina, que no Brasil é distribuída pela Fiocruz.

Ligado ao deputado Ricardo Barros, que foi ministro da Saúde no governo de Michel Temer, Ferreira Dias acabou demitido na terça, 29. O diretor já havia sido acusado por Luis Ricardo Miranda de ser um dos que faziam pressão para acelerar a compra da Covaxin.

A indicação do diretor de Logística do Ministério da Saúde havia sido patrocinada pelo ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR) com o apoio de Barros. Tanto Ferreira Dias como Lupion trabalharam no governo de Cida Borghetti, mulher do líder do governo na Câmara.

A demissão sumária e sem explicações de um diretor com cargo estratégico na Saúde deixou clara a pressão sofrida pelo governo. Ao mesmo tempo, o Planalto tenta identificar se há mais bombas-relógio para explodir no ministério. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se reuniu nesta quarta com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para saber detalhes do pente fino que está sendo feito nos contratos para aquisição de imunizantes.

O ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner do Rosário, disse que em aproximadamente dez dias apresentará suas conclusões. Foi dele quem partiu o parecer aconselhando que fosse suspenso o contrato com a Precisa.

Existe a avaliação de setores do governo de que Arthur Lira estimulou o deputado Luiz Miranda a denunciar a suspeita de prevaricação de Bolsonaro à CPI para enfraquecer Barros, seu rival dentro do Progressistas. Apesar do desgaste, o governo ainda não decidiu se afastará Barros do posto. O prazo para essa decisão, a princípio, é dia 8, quando ele prestará depoimento na CPI. Se for bem e sobreviver, pode continuar no cargo. Se for mal, será rifado.

Valor

CPI terá que atravessar o pântano do Congresso

Guerra acontece dentro da própria base aliada

Por Maria Cristina Fernandes

A velocidade com a qual as denúncias em torno do Ministério da Saúde se sucedem demonstram que a guerra que está em curso não é de governo versus oposição, nem de Congresso versus Executivo. É uma guerra fagocitária da própria base aliada. Tome-se, por exemplo, o diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. Já se sabia, por Constança Resende, da “Folha de S.Paulo”, que Dias foi acusado pelo executivo de uma empresa de atravessadores de ter cobrado a propina de US$ 1 per capita pela compra de 400 milhões de doses de vacina da AstraZeneca.

A denúncia já desmontara a tese, sustentada até por integrantes da CPI, de que a Covaxin foi o único imunizante do mercado com atravessadores. Com o escalonamento de preços, o montante de propina poderia chegar a R$ 1 bilhão. A compra não foi concretizada.

A tese da única vacina com atravessadores foi reiteradamente repetida no depoimento dos irmãos que depuseram na CPI da Pandemia na sexta-feira, o servidor Luis Ricardo e o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF). O executivo da empresa de atravessadores, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, disse ter ouvido do diretor do Ministério da Saúde que “nada avançava no ministério sem compor com o grupo”.

A indicação de Dias, que ficou desde o início do governo Jair Bolsonaro e foi demitido ontem, vem do PP do líder do governo, Ricardo Barros (PR). Ontem, porém, Cézar Feitosa, da CBN, trouxe a informação de que o governo havia decidido demitir Dias em outubro, mas o manteve no cargo a pedido do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Esta é uma das razões por que, apesar de toda a Esplanada saber das funções desempenhadas por Dias no ministério, ele só agora tenha entrado no radar da CPI. E confirma não apenas a tese de que a pasta é comandado por um condomínio de partidos políticos, mas também que a base do governo está em intensa luta interna.

No mesmo dia em que veio à tona a informação de que Alcolumbre manobrou pela manutenção do diretor de logística do Ministério da Saúde, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que não apenas é correligionário do seu antecessor no cargo como foi eleito graças a seu apoio, sinalizou com a prorrogação da CPI. Ou seja, se Ricardo Barros será chamado a depor na CPI, não há motivo para não incluir Alcolumbre na lista de depoentes.

É uma boa notícia para o governo. O Palácio do Planalto atribui sua desvantagem na CPI à maneira como Alcolumbre geriu as benesses das emendas parlamentares na Casa. A insatisfação de parlamentares governistas com valores aproximados daqueles recebidos pela oposição teria tido como reflexo a minoria do presidente na comissão. A entrada de Alcolumbre no caldeirão constrange a CPI. Por outro lado, as investidas do governo com o afastamento de Dias do cargo, o cancelamento da compra da Covaxin e a recusa do procurador-geral da República, Augusto Aras, em abrir inquérito a partir da denúncia por prevaricação do presidente Jair Bolsonaro ainda estão longe de conter a crise.

A despeito do megapedido de impeachment, com signatários de 13 partidos, e 23 acusações de crime de responsabilidade, o afastamento do presidente da República, porém, tampouco está perto. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda não conseguiu que o Palácio do Planalto rifasse Barros, seu rival interno no PP, mas mantém controle sobre a pauta da Câmara e sobre o resultado das votações. Por meio delas, governa mais do que Bolsonaro.

As duas últimas denúncias que vieram à tona o fizeram por meio de duas fontes controversas. O primeiro, o deputado que se elegeu como um youtuber que fazia papel de um milionário que abandonara Miami para salvar o Brasil do comunismo. O segundo, o representante de uma empresa sem registro formal no Brasil. A CPI busca um atalho, mas para pegar o presidente da República, terá que atravessar o pântano que contamina o Congresso.

Valor

A verdadeira terceira via

Purgatório de Bolsonaro na CPI e seu derretimento nas pesquisas de opinião alimentam a cajadada do semipresidencialismo

A ameaça de explosão da propinolândia do Ministério da Saúde e o purgatório do presidente Jair Bolsonaro com seu derretimento nas pesquisas de opinião alimentam a cajadada do semipresidencialismo. Seus maiores defensores são o ex-presidente da República Michel Temer e o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que chegaram a escrever uma proposta de emenda constitucional juntos. Uma congênere desta proposta, com mais poderes para o presidente do que a da dupla, já tramita no Senado com a assinatura de representantes de todos os partidos da Casa.

Proposta aparece como saída única para crise e sucessão

Duas mitigações do presidencialismo já foram derrubadas em consultas populares em 1963 e em 1993. Se vingar, desta vez, terá sido por obra e graça do vice-presidente Hamilton Mourão e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro por ser tão indesejável, pelo Congresso, quanto Bolsonaro o é no país e o segundo por aparecer, a cada pesquisa, mais bem posicionado para derrotar o presidente.

Além de ponto de fuga para um Congresso que rejeita o impeachment, o semipresidencialismo resolveria o problema de uma terceira via sem voto. Vigente em mais de 50 países, o modelo que inspira Temer e Gilmar aproxima-se daquele vigente em Portugal e na França, onde o presidente é eleito pelo voto direto, escolhe, a partir da maioria congressual, o primeiro-ministro, e, por indicação deste, os integrantes do governo.

Ainda chefia as Forças Armadas, conduz a diplomacia, escolhe ministros de tribunais superiores e embaixadores, tem direito de veto e sanção e dissolve o gabinete em situação de crise. Temer rifou a figura do ministro-coordenador que, na proposta original, não precisaria ser originário do Congresso.

Com um governo claudicante e uma geração de generais educada na base dos tuítes ameaçadores contra aquele que lidera as pesquisas, o paralelo com o parlamentarismo imposto a João Goulart depois da renúncia de Jânio Quadros, é evidente. Sua implementação, a partir de 2026, com referendo, derrubaria a comparação e ainda responderia ao reclamo de um presidente que, apesar de encurralado, tem direito à reeleição conquistado pelo voto.

A precipitação da crise, porém, Temer o reconhece, abre uma oportunidade mais imediata para o semipresidencialismo. Gilmar Mendes já viu emenda constitucional gorar uma eternidade ou ser aprovada de um dia para o outro.

Além de escândalos que se atropelam, o empurrão viria da governabilidade deteriorada por um modelo de emendas parlamentares que se esgotou. A balbúrdia das emendas extraorçamentárias chegou ao ponto de os dois partidos que requisitaram ações no Supremo para suspender a execução do chamado “orçamento secreto”, o PSB e o Cidadania, terem voltado atrás por pressão de seus pares no Congresso. Além de não ter sido aceita pela relatora, ministra Rosa Weber, a desistência quase levou à desfiliação do senador Alessandro Vieira (SE) do Cidadania.

Há, no Congresso, quem aposte que a suspensão das emendas a serem executadas em 2021 teria um potencial muito mais destrutivo sobre a sustentação da base do governo do que todo o circo da CPI.

A obrigatoriedade e os valores das emendas cresceram à medida que os presidentes, Temer inclusive, foram encurralados pelo Congresso. A ponto de os parlamentares hoje superarem, com os recursos à sua disposição, a capacidade de investimento do Executivo. Usufruem do bônus de governar sem ter que arcar com o ônus de se responsabilizar por atos e gastos.

Para não falar do impacto fiscal, não apenas das emendas, mas dos projetos que o Congresso remenda e aprova como quer. Derruba veto presidencial à desoneração da folha de salários das empresas sem a devida previsão orçamentária e privatiza a Eletrobras com aumento de despesa da União, exemplifica o deputado Rodrigo Maia (sem partido-RJ), outro convertido ao semipresidencialismo.

Desde que publicou um artigo sobre o tema, em 12 de junho, em “O Estado de S. Paulo”, Temer tem sido consultado por empresários sobre a viabilidade política do semipresidencialismo. Maia não descarta que a reunião dos 11 partidos de centro-direita contra o voto impresso, possa vir a ser um embrião da defesa da proposta. É nos dois polos que hoje lideram a política nacional, porém, que a fagulha custa a acender.

Bolsonaro entrega tudo o que resta no governo, mas não acata uma mudança do gênero, diz uma liderança governista. Lula também custaria a aceitar uma mitigação dos poderes que o partido tem chances crescentes de conquistar em 2022.

Defensores da proposta dizem que a mudança evitaria que o PT revisitasse o inferno vivido nas crises de seus mandatos, mas, no partido, a ideia é vista como se a devolução dos direitos políticos de Lula tivesse servido de bode na sala para a aprovação da mudança no sistema de governo. Em 1993, Lula chegou a discutir com o PSDB apoio ao parlamentarismo, mas o PT o dobrou com a defesa do presidencialismo. Há, por isso, no partido, quem ache que o ex-presidente toparia o acordo em nome do apaziguamento.

A hostilidade no mercado pode ser medida pela divulgação de notícia falsa dos filhos do presidente sobre a idoneidade das melhores pesquisas eleitorais da praça que atestam a franca vantagem petista. No círculo mais próximo de Lula, porém, a aposta é que, além de o ex-presidente não querer abrir mão de governar com plenos poderes, seus apoiadores se sentiriam traídos.

Flávio Dino, governador do Maranhão, recém-filiado ao PSB e aliado de Lula, votou pelo parlamentarismo em 1993 e aprova o modelo proposto por Temer e Gilmar, mas não vê viabilidade política para sua aprovação. De engenhoso, diz, acabaria sendo visto como arranjo, arremedo, tampão.

 De todas as dúvidas em torno da saída proposta a mais irrefutável é a percepção de que o semipresidencialismo acabaria por eternizar no poder uma maioria parlamentar que, desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, tem aprovado uma agenda contrária ao programa do pré-candidato a presidente que lidera as pesquisas.

O ministro Gilmar Mendes tem argumentado que caberia ao presidente arregimentar puxadores de votos para os partidos aliados de maneira a fazer a maioria parlamentar. O problema é que as regras para a eleição dessas bancadas serão feitas num Congresso dominado pelo Centrão. O bloco, portanto, teria todas as condições para impor as regras por meio das quais se eternizaria no poder.

Maria Cristina Fernandes é jornalista do Valor. Escreve às quintas-feiras

Folha de SP (Painel)

Ciro Gomes diz que crise de Bolsonaro está virando tragédia shakesperiana para Lula

Para o presidenciável, petista não comenta denúncias de corrupção para evitar que relembrem escândalos

O pedetista Ciro Gomes (CE) criticou o ex-presidente Lula (PT) por não comentar as denúncias de corrupção relacionadas ao governo Jair Bolsonaro.”A tragédia de Bolsonaro está virando uma tragédia shakespeariana para Lula”, diz o presidenciável ao Painel.”Denunciar ou não? Pedir impeachment ou não? Este ser ou não ser é um oportunismo estratégico muito perigoso. Ou Lula resolve suas contradições ou elas vão lhe devorar”, completa Ciro.

Para ele, o petista tem evitado tratar do tema para que os escândalos de corrupção das administrações petistas não sejam relembrados.”Não fala nada porque na hora que ele falar em corrupção a turma manda ver [Antonio] Palocci, Sérgio Machado, Eunício Oliveira… Manda ver Ricardo Barros, que era vice-líder do governo Lula”, escreveu o pedetista em suas redes sociais.

Folha de SP

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, acredita que o agravamento da crise política reforça o movimento em favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a quem vê longe da reeleição em 2022.”Não se pode banalizar o impeachment, é preciso ter cuidado. A base governista é grande e não pode ser menosprezada também. Mas quando é inevitável, é inevitável”, afirmou Kassab, 60, ressalvando que não vê a situação neste ponto ainda.

A sequência de acusações de corrupção nos negócios com vacinas contra Covid-19 no Ministério da Saúde pioraram a situação de Bolsonaro, que vive seu pior momento em pesquisas de popularidade e de intenção de voto.”Há mais circunstâncias para a defesa [do impeachment]. Seja como for, vejo uma dificuldade muito grande de ele se reeleger”, disse.

“A marca de Bolsonaro é a postura na pandemia. Na hora em que não usa máscara, em que tira a máscara da menina [episódio em palanque na semana passada], dá a impressão de que não tem sentimento. Imagina a pessoa que perdeu um parente vendo aquilo. Gera um descontentamento.”

Considerado uma bússola da política nacional, Kassab também lembra que surgem dificuldades econômicas e há a volta de protestos de rua contra Bolsonaro, fatores usualmente essenciais na equação dos impedimentos presidenciais.

Os golpes mais duros contra o Planalto saíram a partir da CPI da Covid, que ouviu citação ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Isso abriu a porta para novas revelações, como a acusação de um empresário de que houve pedido de propina numa tratativa sobre imunizantes, revelada pela Folha. A reação de Bolsonaro tem sido defensiva, alternando contradições de versões a acusações contra senadores da CPI e a imprensa.

Kassab defende que a alternativa a Bolsonaro, caso esteja no cargo, e ao líder de pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 se chama Rodrigo Pacheco, o mineiro presidente do Senado que está de malas prontas do DEM para o PSD. “Pessoalmente, quero ele candidato, mas o partido ainda vai se definir. Ele encarna renovação com experiência, tem muito talento. Se elegeu deputado e já foi presidir a Comissão de Constituição e Justiça. Logo depois, se elegeu senador e, na sequência virou presidente da Casa.”

Resta saber qual figurino Pacheco envergaria, dada sua pouca projeção nacional e a atitude ambígua ante o presidente, a quem evita criticar. Kassab diz que até maio não deverá haver nenhum nome despontando em pesquisas que não Bolsonaro e Lula.

Aliados do presidente do PSD dão de barato que, num segundo turno sem Pacheco ou outra alternativa, Kassab irá de Lula —afinal, antes de ser ministro de Michel Temer (MDB), ele ocupara uma pasta sob Dilma Rousseff (PT). Ele desconversa. Kassab crê que o líder petista “vive um processo de vitimização”, com as sucessivas vitórias judiciais depois que saiu da cadeia. “Mas ele vai ter de apresentar seus projetos ainda”, afirma.

Sobre outros nomes da dita terceira via, vê o governador João Doria (PSDB-SP), de quem foi aliado, como alguém que pena com alta rejeição, apesar de ter a defesa da vacina como ativo. Ciro Gomes (PDT) “tem seus méritos, mas dificuldades de entrar à esquerda devido ao Lula, e com o centro ocupado”. Já outros citados, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), ele considera “cedo” para avaliar.

Para apoiar Pacheco, obviamente se o plano der certo, Kassab conta com um arcabouço robusto de palanques do PSD nos cinco mais populosos estados brasileiros. Terá o prefeito de Belo Horizonte, o popular Alexandre Kalil, disputando Minas. No Rio, o nome apoiado pelo prefeito da capital, Eduardo Paes, pescado recente do PSD.

Já na Bahia, a estrela da CPI Otto Alencar, hoje senador, deverá concorrer. No Paraná, o incumbente é Ratinho Jr. Cereja do bolo, deverá contar com o ex-governador Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, em São Paulo.

Prefeito de São Paulo de 2006 a 2011, Kassab acompanha de perto os movimentos no estado. Percebeu a estrada fechada a Alckmin no PSDB desde que Doria, desafeto do ex-governador, trouxe o seu vice, Rodrigo Garcia, do DEM para o partido.

No PSDB, ainda há quem tente convencer Alckmin a ficar e disputar prévias, mas a hipótese é remota. Entre os outros candidatos no maior estado do país, Kassab vê Garcia carregando consigo a rejeição a Doria, Paulo Skaf (MDB) e Márcio França (PSB) como “bons quadros, com recall”, e o PT, que deve ir de Fernando Haddad, “numa recuperação boa, mas São Paulo sempre é difícil para eles”.

Kassab se mostra preocupado com dois desenvolvimentos no Congresso: o voto impresso e o chamado distritão, sistema no qual são eleitos candidatos mais votados em cada cidade ou estado e não há votação em legendas. Para ele, há defensores de boa-fé da auditagem impressa, mas também os de má-fé, que buscam usar isso para criar instabilidade em caso de derrota nas urnas.

Já sobre o distritão, ele afirma que se o Congresso o aprovar, “tem de acabar o financiamento público de campanhas”. “Uma coisa é dinheiro para partido, outra é para pessoas. Será a primeira coisa que pediremos ao Supremo Tribunal Federal”, afirmou. Fiel ao estilo que o acompanha desde que fundou o PSD em 2011, Kassab tem buscado um voo solo para o seu partido, acusado de ser uma amálgama amorfa do ponto de vista ideológico.

Para seus críticos, além de não ser “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”, tal flexibilidade o acomoda facilmente a quase todos os arranjos políticos. Isso é fato, mas a classificação dele como mais um integrante do centrão é incorreta. Um exemplo é a aproximação proposta por Bolsonaro, quando trouxe o deputado Fábio Faria (PSD-RN) para o seu ministério, no escopo de sua aliança com o centrão costurada em 2020.

Kassab sempre insistiu que seu partido seguiria independente. Ao fim, com o Planalto acuado, hoje o PSD está na linha de frente contra o governo com Omar Aziz (AM) na presi dência da CPI. Faria, aliás, está indo para o PP do líder do centrão Arthur Lira (AL), o presidente da Câmara cuja fidelidade ao Planalto é considerada canina —ao menos até quando analisar um pedido de impeachment for, usando a expressão de Kassab, inevitável.​