Clipping 2 de junho de 2021

Manchetes

PIB sobe e volta ao pré-Covid, mas ganho não chega a pobres (Folha)

PIB trimestral surpreende e previsão para ano chega a 5,5% (Estadão)

PIB cresce mais que esperado, mas desemprego ainda resiste (O Globo)

PIB forte leva a projeções de crescimento acima de 5% (Valor)

Automotive Business

Mercedes-Benz anuncia que será pioneira no uso de aços livres de CO2

Medida faz parte do compromisso da empresa de alcançar neutralidade na emissão de carbono até 2039

Antecipando-se ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, a Mercedes-Benz anunciou que vai ser a primeira montadora do planeta a introduzir aço livre de CO2 na produção em série de automóveis. Para tanto, o primeiro passo foi a aquisição de uma parte das ações da startup sueca H2 Green Steel (H2GS), que está reformulando a sua cadeia de suprimentos – em conjunto com seus fornecedores do metal – para prevenir e reduzir as emissões de CO2 na atmosfera.

A parceria com os suecos representa um avanço da Mercedes-Benz rumo à neutralidade de CO2, que faz parte do plano Ambition 2039 (cujo objetivo é ter uma frota totalmente conectada e neutra de CO2 em 2039, onze anos antes do estipulado pela União Europeia). Para se ter ideia, metade do material usado na fabricação de um sedã da marca é aço, e esse metal responde por cerca de 30% do CO2 emitido na construção do carro.

Pelo método convencional, com alto-forno alimentado por carvão, são emitidas, em média, duas toneladas de CO2 para cada tonelada de aço produzida. Já o novo processo utiliza hidrogênio e eletricidade obtidos de fontes de energia 100% renováveis. O primeiro atua como gás redutor, que libera e liga o oxigênio do minério de ferro, e, em vez de CO2, ele produz apenas água, sem causar impactos ao meio ambiente.

Como integrante do movimento Responsible Steel Initiative, a Mercedes-Benz está envolvida no desenvolvimento de um padrão de sustentabilidade para a indústria do aço que possa ser certificado. O objetivo é garantir uma produção do metal amiga do ambiente e socialmente aceitável ao longo de toda a cadeia de valor.

O objetivo da empresa é ter uma frota de automóveis novos neutros em CO2 ao longo de toda a cadeia de valor. Fornecedores que representam mais de 85% do volume de compras anuais da Mercedes-Benz já se comprometeram com a Ambition Letter, concordando em fornecer à empresa apenas produtos neutros em CO2 no futuro.

O Tempo (MG)

Falta de peças força paradas técnicas em montadoras do país

Entre janeiro e abril, 50 mil veículos deixaram de ser produzidos em meio a sucessivas paralisações por causa de falta de insumos, como semicondutores

Mesmo com a recuperação da venda de veículos desde o baque do início da pandemia, montadoras seguem paralisando atividades de linhas de produção no Brasil por falta de peças. Neste mês, pelo menos três linhas, uma da General Motors (GM) e duas da Volkswagen, terão atividades suspensas. Ao mesmo tempo, analistas preveem que a escassez de insumos pode se arrastar ao longo de 2021 e se agravar caso haja um repique da pandemia.

Só entre janeiro e abril deste ano, 50 mil veículos deixaram de ser produzidos no país em meio a sucessivas paralisações de montadoras, segundo avaliação do consultor da empresa de análise de mercado Bright, Cassio Pagliarini, especialista na indústria automobilística. Com a incerteza sobre a regularização do fornecimento de matéria-prima, especialmente de chips utilizados nos carros, e o temor de uma terceira onda da pandemia no Brasil, ele não descarta que o número possa crescer. “Se a fábrica está com problemas com componentes, a cidade está fechada e o risco de contaminação na planta aumenta, ela para de novo”, pontua.

Desde segunda-feira, uma das linhas de produção da GM está paralisada, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, e só deve voltar no dia 2 de agosto, envolvendo 800 trabalhadores, que serão beneficiados pelo programa de manutenção de empregos do governo federal, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos da cidade. Outra paralisação será iniciada no dia 21 de maio e também seguirá até 2 de agosto.

A empresa afirma que a parada integra uma readequação para receber a montagem da nova picape Chevrolet, parte de um plano de investimento de R$ 10 bilhões. O Sindicato de Metalúrgicos reforça que a falta de peças impactou a paralisação.

Em São José dos Pinhais, no Paraná, e em Taubaté, em São Paulo, duas linhas da Volkswagen também serão paralisadas por dez dias a partir da próxima segunda-feira, devido à falta de peças, que, segundo a empresa, se arrasta desde a virada do ano.

Na perspectiva de Cassio Pagliarini, a produção e as vendas de veículos no Brasil dependerão, nos próximos meses, dos rumos da pandemia. “Ainda acredito que o mercado vai se acomodar no segundo semestre, mas vejo empresas dizendo que as soluções demorarão um ano e só chegarão em 2022”, disse.

Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul, reconhece o problema. “Existem algumas carências de componentes globais que afetam a planta de Betim e as plantas dos nossos fornecedores. Essa crise de componentes, sobretudo de semicondutores e microchips, não será resolvida plenamente este ano, somente na segunda metade do ano que vem”, diz. Filosa afirma que quase 100% dos semicondutores são produzidos na Ásia e o setor automotivo representa 5% da demanda deles. A maior parte da produção vai para o setor de tecnologia.

Pagliarini explica que há a previsão de que, em junho deste ano, se não tiver lockdown, se o número diário de mortes por Covid não aumentar e hospitais continuarem com capacidade, o setor de automóveis venderá no país 198 mil veículos. Mas essa projeção cai para 183 mil, no caso de piora da pandemia.

Semicondutores caros e ‘raros’

Em meio à alta do valor de insumos como o aço, montadoras e analistas apontam que a crise global de escassez de semicondutores está no centro da falta de peças na indústria. Os semicondutores são componentes de chips presentes até nos carros mais populares, responsáveis por partes do painel eletrônico e dos freios ABS, por exemplo.

Com o recuo da indústria automotiva no começo da pandemia e a explosão de demanda por eletrônicos, a produção mundial dos chips, concentrada na Ásia, voltou-se para os celulares e videogames, por exemplo, explica o presidente da organização de estudos de mobilidade SAE Brasil, Camilo Adas.

“Quando a indústria automotiva reaqueceu e começou a demandar semicondutores, a produção estava vendida ou direcionada. Outro fenômeno são os processos logísticos globais: quando você fecha um porto por causa da pandemia, existe toda uma quebra da cadeia logística. Neste ano, com certeza vai ser difícil ter uma regularização da produção, porque ainda estamos em um período de se acomodar”, avalia.  A Volkswagen, por exemplo, diz não ter previsão de recebimento de semicondutores para as linhas de produção paradas pelo menos nas “próximas semanas”.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que o desabastecimento dure o ano inteiro. “No início do ano, microparadas (de linhas de produção) começaram a acontecer, e de lá para cá esse problema continua, comprometendo o funcionamento de linhas de produção inteiras e obrigando algumas fábricas a parar temporariamente. O que mais preocupa no momento são os semicondutores, um problema de nível global, que não será solucionando ainda neste ano”, conclui, por meio de nota.

Automotive Business

Argentina tem queda de 32% nas vendas; Toyota e Cronos lideram

Mercado de veículos local foi afetado pelo confinamento decretado pelo governo. Veja o ranking das marcas e modelos mais vendidos no país

Enquanto o mercado brasileiro registrou um crescimento de 7% nas vendas de veículos em maio, a Argentina foi na direção oposta: ela sofreu uma queda de 31,7% em relação a abril, como mostra o boletim da divulgado nesta terça-feira, 1º, pela Acara (Associação dos Concessionários Automotivos da República Argentina). As vendas totais foram de 22.193 veículos, contra 32.476 do mês anterior.

É importante lembrar que maio foi um mês atípico para o mercado argentino porque ele foi afetado pelo novo confinamento decretado pelo governo local, que determinou a paralisação de todas as atividades não essenciais no país por nove dias, entre 22 e 30 de maio. Embora as fábricas de veículos estivessem de fora da paralisação desde que fossem exportadoras, as concessionárias e os departamentos de licenciamento de veículos estavam impedidos de funcionar.

Quando se analisa apenas a venda dos veículos comerciais pesados, os números também revelaram uma queda, porém é um pouco menor do que a do mercado total. Foram 917 unidades emplacadas em maio contra 1.210 de abril, o que significa uma redução de 24,2%.

No ranking das marcas mais vendidas, o domínio foi da Toyota com 4.558 unidades, o que representa 22,1% do mercado. Com esse volume, a marca japonesa tomou a posição da Volkswagen, que havia sido líder em abril. Ela caiu para o segundo lugar, com 3.949 vendas (19,2% do mercado). Fechando o pódio vem a Fiat, com 2.475 unidades (12%).

Entre os modelos, o Fiat Cronos continua sendo o mais popular da Argentina, com 1.758 carros comercializados. Já no segundo lugar houve uma mudança: a Toyota Hilux que era terceiro lugar em abril passou à vice-liderança, com 1.642 picapes. Por isso, a VW Amarok caiu para a terceira posição em maio, com 1.437 unidades.

Marcas mais vendidas em maio (número de unidades)

1. Toyota (4.558) / 2. Volkswagen (3.949) / 3. Fiat (2.475) / 4. Chevrolet (1.871) / 5. Renault (1.803) / 6.  Peugeot (1.284) / 7. Ford (1.180) / 8. Nissan (1.036) / 9. Jeep (742) / 10. Citroen (699) / 11. Mercedes-Benz (323) / 12. Honda (93) / 13. BMW (73) / 14. Ram (59) / 15. Iveco (56)

Avalanche notícias

Produção de baterias de tração para veículos elétricos mais que dobrou este ano

O ano passado e o início deste serão lembrados por conhecedores do mercado automotivo com uma série de declarações de montadoras e autoridades de países individualmente sobre o momento de abandonar carros com motores de combustão interna. A confiança dos participantes do mercado na inevitabilidade da transição para a tração elétrica aumentou a demanda por baterias de tração para veículos elétricos. Nos primeiros quatro meses do ano, o mercado mais que dobrou.

As estatísticas relevantes da SNE Research são citadas pela Bloomberg. Se de janeiro a abril do ano passado toda a indústria mundial produziu baterias de tração com capacidade agregada de 26,8 GWh, então no mesmo período deste ano foram produzidas baterias de 65,9 GWh em capacidade equivalente. Isso é quase duas vezes e meia mais do que há apenas um ano.

Se no início do ano passado a empresa chinesa CATL era inferior em volume de produção de baterias à LG Energy Solution e Panasonic, então um aumento no volume de produção quatro vezes permitiu que ela ocupasse o primeiro lugar até abril deste ano, de forma significativa à frente de seus concorrentes. CATL lançou de janeiro a abril baterias de tração com uma capacidade total de 21,4 GWh, sua participação de mercado agora atinge sólidos 32,5%. A LG Energy Solution se contenta com o segundo lugar com 21,5% do mercado, enquanto a Panasonic permanece em terceiro com 14,7%.

Segundo a BloombergNEF, já em 2019, a CATL recebia apenas 4% da receita com vendas de produtos para exportação, mas já em 2020 essa participação aumentou para 16%. Outra fabricante chinesa de baterias, a BYD, ocupa a quarta posição no ranking de abril, com 6,9% do mercado. O quinto e o sexto lugares são ocupados pela Samsung SDI (5,4%) e pela SK Innovation (5,1%), mas as posições do sétimo ao nono inclusive são ocupadas por fabricantes chineses.

Para eles, o progresso está sendo impulsionado pelo desenvolvimento do mercado doméstico de veículos elétricos da RPC, embora eles estejam cada vez mais se voltando para consumidores estrangeiros. A Canalys estima que as vendas de veículos elétricos na China crescerão 50% somente neste ano.

Os fornecedores de baterias de tração sul-coreanos também estão indo bem. A LG Energy Solution e a SK Innovation dobraram seus volumes de produção, enquanto a Samsung SDI foi limitada a um aumento de 88%. Isso foi facilitado pela crescente demanda por veículos elétricos na Europa, uma vez que muitos veículos elétricos vendidos lá são equipados com marcas coreanas.

Valor

Com PIB negativo no1º tri, indústria de transformação ainda enfrenta gargalos

Setor enfrenta falta de insumos e queda do consumo das famílias

O PIB da indústria de transformação registrou queda de 0,5% no primeiro trimestre, na comparação com o quarto trimestre do ano, reflexo de problemas como falta de insumos, comuns ao setor desde o início da pandemia, no ano passado. O desaquecimento do consumo das famílias também pesou. O resultado vem depois de uma alta expressiva de 4,7% no quarto trimestre sobre o terceiro. “A indústria continuou com problemas de fornecimento de insumos e de aumento de custos, que se refletem na atividade do setor”, afirma a economista Claudia Perdigão, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).

Em março, por exemplo, pelo menos sete montadoras de veículos suspenderam temporariamente a produção por falta de peças: Toyota, Nissan, Volkswagen, Mercedes-Benz, Volvo e Scania. Em abril e maio a situação se repetiu em algumas delas, apontando que o problema persiste no segundo trimestre.

Perdigão lembra que quesito especial da sondagem de confiança da indústria do FGV Ibre aponta que há problemas no fornecimento de aço, produtos plásticos, papel e papelão, estes últimos usados em embalagens, segmento que viu as vendas multiplicarem na pandemia. “É preciso acompanhar a evolução do fornecimento de insumos. Neste momento de retomada da economia mundial há um aumento na disputa por matérias-primas para a indústria”, comenta Perdigão.

Rebeca Palis, chefe de Contas Nacionais do IBGE, observou que houve uma dinâmica menos favorável na indústria de alimentos, com o aumento da inflação, que encarece os produtos e reduz a renda disponível da população. A despeito disso, a sondagem mensal do FGV Ibre apontou uma redução do pessimismo em maio, puxado pela melhora das expectativas do setor para os próximos meses. A crise hídrica ainda não entrou na avaliação dos empresários.

Seja como for, a virada na confiança deve vir com a eliminação do gargalo nos insumos, afirma a economista. E com o avanço da vacinação contra a covid-19 há esperança de um segundo semestre mais positivo para a economia. No agregado industrial, que além da transformação inclui construção (alta de 2,1% no trimestre, na série com ajuste), indústrias extrativas (3,2%), e produção e distribuição de eletricidade, gás e água (0,9%), houve aumento de 0,7%.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia que o desempenho do setor tem mais a ver com o restante do mundo do que propriamente com a evolução da economia brasileira. O crescimento da Ásia, que mais rapidamente controlou a pandemia, e o avançar da vacinação nos EUA e Europa favoreceram o comércio mundial, que cresceu 4% no primeiro trimestre deste ano, segundo a Unctad. E os preços de commodities minerais a impulsionar as exportações brasileiras destes produtos. A construção civil, nota, compensou a paralisia do fim do ano passado, quando caiu 0,2% no quarto trimestre, na série dessazonalizada.

Valor

Indústria mostra altas espalhadas no 1º trimestre de 2021, aponta IBGE

A atividade industrial, como um todo, mostrou altas espalhadas no primeiro trimestre de 2021, notou a chefe do Departamento de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. O instituto divulgou nesta terça-feira o resultado das Contas Nacionais referentes ao primeiro trimestre deste ano. Nos primeiros três meses do ano, o PIB da indústria subiu 0,7%, ante o quarto trimestre de 2020. Houve ainda expansão de 3% ante o primeiro trimestre de 2020.

No caso da indústria da transformação, que representa mais da metade do total da indústria no país, houve alta de 5,6% ante igual trimestre em 2020 – um período que engloba dois meses sem pandemia, visto que o avanço da doença no país começou em março de 2020. “Foi uma coisa interessante o que aconteceu na indústria [no primeiro trimestre]” notou Rebeca.

Na comparação com o quarto trimestre de 2020, houve recuo de 0,5% na atividade de indústria da transformação. Mas nessa série de comparação ante trimestre imediatamente anterior esse segmento já vinha apresentando variações expressivas, de 24,6% no terceiro trimestre; e de 4,7% no quarto trimestre.

A especialista explicou que a indústria de alimentos impulsionou esses resultados positivos nos dois últimos trimestres de 2020. Entretanto, no começo do ano, a demanda para a indústria de alimentos diminuiu um pouco, afetada por inflação em alta, de alimentos e bebidas – o que não estimula maior consumo, notou a pesquisadora.

Outro aspecto mencionado por ela foi o aumento no acesso ao crédito em meio à pandemia. A técnica informou ainda que, dentro da indústria, as atividades financeiras, de seguros e serviços adicionados foi favorecida por esse movimento, com alta de 5,1% no primeiro trimestre, ante igual trimestre em 2020.

Também contribuíram positivamente para o setor industrial a indústria agropecuária, com alta de 5,2% na atividade ante primeiro trimestre de 2020, puxada por safra recorde de soja; e a indústria de transporte, armazenamento e correio, com avanço de 1,3% na mesma comparação. Essa última foi beneficiada por aumento em transportes de delivery – de e-commerce -, e por transporte de cargas originados do setor agropecuário, informou a especialista.

O Globo

PIB volta ao patamar pré-pandemia, mas recuperação desigual deixa para trás setores que mais empregam

Consumo das famílias recua, enquanto agropecuária e investimentos avançam. Taxa de desemprego está no maior patamar da série histórica

Passado um ano desde o  início da pandemia da Covid-19, a agropecuária, a indústria e os investimentos puxaram o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que avançou 1,2% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao fim de 2020,  informou nesta terça-feira o IBGE.

O resultado veio acima das estimativas do mercado. E o PIB retomou, assim, ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia. Mas os resultados do IBGE mostram uma recuperação muito desigual, com os setores que mais empregam ficando para trás. Asim, a alta do PIB não é percebida pela maior parte da população.

A agropecuária e os investimentos avançaram, mas voltou a cair o consumo das famílias, corroído pela alta da inflação, o desemprego recorde e o fim do auxílio emergencial, que só foi retomado em abril.

— É uma recuperação cíclica depois da queda que aconteceu no auge da pandemia. Está só voltando para o nível pré-crise. O crescimento nos próximos meses está condicionado ao avanço da vacinação e ao retorno da política fiscal do teto de gastos — afirma Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco.

O setor de serviços, grande empregador de mão de obra, até esboçou reação, com ligeira alta de 0,4% entre janeiro e março. Mas, nos últimos quatro trimestres acumula queda de 4,5%. E as atividades voltadas para prestação de serviços às famílias, como restaurantes, academias, salões de cabeleireiro, são as que mais sofrem com as restrições impostas pela pandemia.

Por isso, explica Silvia Matos, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), o emprego ainda está tão cambaleante. Em março, a taxa de desmprego chegou ao maior patamar da série histórica iniciada em 2012, de 14,7%, com 14,8 milhões de trabalhadores procurando emprego.

— Esses setores voltados para as famílias empregam muito, mas não estão contratando. Só os mais qualificados têm conseguido se empregar. É um choque muito heterogêneo. Muitos segmentos vão ficar para trás. Só a superação da pandemia permite uma normalização — diz Silvia.

Com a alta acima do previsto no PIB do primeiro trimestre, muitos analistas já estão revisando, para cima, suas projeções para a expansão da economia. A estimativa é que o PIB possa avançar 5,5%. Mas o cenário de uma vacinação ainda lenta, o desemprego elevado e o risco de uma crise hídrica que pressione os custos da energia podem ser obstáculos no segundo semestre.

— Enquanto não tivermos pelo menos 70% da população vacinada, vai ser assim: os governos relaxam as medidas restritivas, a economia melhora, mais pessoas morrem, aí aumentam as restrições, a economia piora. Esse ainda é um crescimento sobre uma base muito fraca, não vejo muita vantagem — diz Cláudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais da FGV.

Agro e investimentos lideram altas

A agropecuária foi o setor cuja produção mais cresceu no primeiro trimestre de 2021, com alta de 5,7%, graças ao que já está sendo chamado de um novo “superciclo de commodities”, com preços recordes em vários produtos exportados pelo Brasil. Pela ótica da demanda, os investimentos tiveram a maior expansão, com alta de 4,6% frente ao último trimestre do ano passado

Valor

PIB surpreende e projeção para o ano já supera 5%

A economia brasileira se descolou da piora da crise sanitária, foi pouco afetada pela retirada de estímulos e, contando também com ajuda maior do ambiente externo e de um movimento de recomposição de estoques, cresceu 1,2% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Mesmo após uma onda de revisões otimistas nas estimativas, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado ontem pelo IBGE, foi mais uma surpresa positiva, e superou com folga a projeção mediana de alta de 0,7% de 55 instituições ouvidas pelo Valor Data.

Apesar dos riscos no cenário, que não são poucos, o avanço maior já registrado de janeiro a março e sinais favoráveis a respeito do segundo trimestre levaram a uma nova rodada de revisões para o ano. Agora, muitas casas já preveem crescimento acima de 5% em 2021, como o Goldman Sachs, com 5,5% e o Bank of America, com 5,2%.

Do lado negativo, fatores como a ameaça de uma terceira onda da pandemia, atrasos recorrentes na vacinação, a crise hídrica e a escassez de insumos para produção fizeram algumas instituições projetar números um pouco mais “conservadores”, como o Bradesco e o Barclays, ambos com 4,8%, e o J.P. Morgan, com alta de 4,9%. Mais cautelosa, a MB Associados e a LCA Consultores prevem 4,1% e 4%.

Em relação a igual período do ano passado, o PIB brasileiro subiu 1%, a primeira alta nessa comparação em meio à pandemia. Com o desempenho observado no primeiro trimestre, a economia voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, anterior ao surto de covid-19 no país. Pelo lado da oferta, a maior influência positiva no PIB foi a agropecuária, que cresceu 5,7% sobre o fim de 2020 na comparação trimestral com ajuste – o melhor resultado para o setor desde a expansão de 12,2% nos três primeiros meses de 2017.

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a soja, principal produto do segmento no país e que terá safra recorde este ano, foi determinante para o bom comportamento. Ainda pelo lado da oferta, o PIB industrial e o de serviços aumentaram 0,7% e 0,4% nos três meses terminados em março, respectivamente. Este último setor, que engloba mais atividades que dependem de interação social, é o único pelo lado da oferta que ainda encolheu ante o primeiro trimestre de 2020, com queda de 0,8%, observa Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays.

Pela ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das Contas Nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e pesquisa) foi o destaque positivo, ao avançar 4,6% no primeiro trimestre, enquanto o consumo das famílias ficou praticamente estável, ao recuar 0,1%.

No fim do ano passado, porém, economistas esperavam um cenário bem mais negativo para o consumo neste início do ano devido à retirada dos estímulos fiscais, perspectiva que não foi confirmada. “Mesmo que vejamos leve contração na atividade no segundo trimestre devido a novas ondas da pandemia, as preocupações sobre o efeito de um ‘abismo fiscal’ no consumo durante o primeiro trimestre se provaram exageradas”, afirmou Secemski.

Devido ao desempenho melhor que o esperado no começo do ano, o economista elevou a projeção para a alta do PIB em 2021, de 4,3% a 4,8%. Não fosse a perspectiva de queda de 0,3% no segundo trimestre, a estimativa para o ano estaria acima de 5%, ponderou.

Segundo Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, a poupança das famílias acumulada ao longo do ano passado mitigou parte do efeito da queda da renda após a diminuição dos estímulos. “O que importa para o consumo não é só a renda disponível, mas também o quanto as pessoas estão poupando, e a taxa de poupança das famílias estava muito elevada até o fim do ano passado”, aponta Barbosa. “A poupança circunstancial fez diferença e deve continuar fazendo”, afirma Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, que chama atenção para os “efeitos defasados dos estímulos” dados no ano passado.

Enquanto parte da população mais pobre recebeu um auxílio emergencial que elevou seus ganhos acima da renda habitual e que ajudou a passar um trimestre sem o benefício, a mais rica poupou por ter deixado de consumir serviços.

Outros impulsos no primeiro trimestre vieram da retomada da economia global, acompanhada por elevação nas cotações de commodities, e de um ciclo de recomposição de estoques, acrescenta o economista do Itaú. Mesmo já estando na ponta mais otimista das projeções, o banco também se surpreendeu com o crescimento no período, que colocou viés de alta na previsão de 5% para 2021.

Igor Velecico, economista-chefe da Genoa Capital, passou a prever crescimento de 5,6% no ano, vindo de 4,5%, também em razão do primeiro trimestre e de uma queda menos acentuada prevista entre abril e junho. “As surpresas positivas no primeiro trimestre foram muito legítimas, e vieram do ‘core’ [núcleo] tradicional do PIB, como comércio, transportes e indústria. O crescimento subjacente está mais forte.”

Para ele, a resiliência maior da economia segue sendo observada no segundo trimestre, quando o PIB deve ficar estável, ou mostrar leve retração, de até -0,5%. “O fluxo de dados de atividade não parou de surpreender para cima”, diz ele, mencionando a retomada mais rápida da mobilidade em abril, a geração de vagas no mercado formal e a confiança de empresários e consumidores.

Secemski, do Barclays, avalia que a volta do auxílio no segundo trimestre e a possível extensão do benefício no terceiro trimestre podem amortecer o impacto na demanda do desemprego ainda em ascensão, em meio a novas rodadas de restrições à mobilidade. O cronograma de vacinação segue com atrasos, nota ele, o que prejudica a recuperação do mercado de trabalho.

“As pesquisas de confiança recentes sugerem recuperação ao longo do segundo trimestre e prolongamento do momento mais positivo, apesar da expectativa de impacto negativo do agravamento da pandemia sobre os serviços em abril”, afirmaram os economistas Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, do J.P Morgan. Após a divulgação dos dados do primeiro trimestre, o banco aumentou a projeção para o crescimento no ano de 4,1% a 4,9%.

Segundo a equipe econômica para Brasil do Bank of America (BofA), que elevou a estimativa para a expansão do PIB em 2021 de 3,4% para 5,2%, a tendência é que a recuperação continue no segundo trimestre, à medida que as restrições à mobilidade sejam reduzidas. Indicadores antecedentes apontam que a atividade ganhou força em abril, avalia o time de economistas chefiado por David Beker.

O Goldman Sachs também passou a apostar em crescimento superior a 5%, elevando a estimativa de 4,6% para 5,5%, “após levar em consideração o número do primeiro trimestre, as revisões de trimestres anteriores e o sinal dos indicadores antecedentes e coincidentes da atividade”.

Vários indicadores públicos e proprietários confirmaram resiliência maior da pandemia ao longo do segundo trimestre, de acordo com o Bradesco, que destaca números ligados ao setor formal da economia, como a arrecadação de impostos, os dados do crédito, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e de seguro-desemprego. O banco agora projeta crescimento de 4,8% para este ano, ante 3,3% anteriormente.

Folha de SP (artigo)

V de vigor ou vulnerabilidade?

Recuperação da economia, por um lado, foi vigorosa; por outro, vulnerável

Nelson Barbosa

A economia brasileira cresceu 1,2% no primeiro trimestre, dissipando o risco de recessão técnica em 2021. Falo do número com ajuste sazonal divulgado pelo IBGE. Na comparação com o mesmo período de 2021 o crescimento foi parecido, de 1%. Prefiro analisar este último número porque estimativas com ajuste sazonal podem variar muito à medida em que novas observações são acrescentadas ao PIB, mas isso é coisa de estatístico. Passemos às interpretações econômicas.

De um lado, a recuperação do PIB foi vigorosa! Na comparação com o primeiro trimestre de 2020 a agropecuária cresceu 5,2% e a indústria 3%, um desempenho muito bom considerando que a pandemia atingiu o Brasil somente no final de março do ano passado.

Houve forte crescimento do investimento, de 17%, puxado por compra de máquinas e equipamentos e gastos com tecnologia de informação, para empresas e famílias se adequarem à realidade pós-pandemia. O comércio cresceu 3,5%, provavelmente puxado pela expansão de compras pela internet e serviços de entrega para os mais ricos.

Do outro lado, a recuperação do PIB foi vulnerável! Na comparação com o mesmo período de 2020, houve queda de 0,8% nos serviços, provavelmente devido ao arrocho fiscal e aos efeitos da segunda onda da Covid sobre a prestação de serviços pessoais nas cidades.

Apesar da queda do juro e do boom nos preços de imóveis, a construção civil registrou a quinta contração seguida, com queda de 0,9% em relação ao início de 2020. A situação tende a se estabilizar no restante do ano, mas não haverá recuperação sustentável sem aumento substancial da construção civil.

O fim abrupto do auxílio emergencial e o aumento da inflação contribuíram para derrubar o consumo das famílias em 1,7%, a quinta queda consecutiva neste tipo de comparação. E no setor público, o hiper arrocho fiscal derrubou o consumo do governo (gasto com educação, saúde e atividades afins) em 4,9%, a décima queda consecutiva para “quebrar o piso” da vida de milhões de pessoas.

Qual é o diagnóstico final? Como tudo em economia, você lerá várias interpretações na imprensa, do ufanismo governista ao catastrofismo oposicionista. Dado que o cenário de 2021 ainda é muito incerto para o Brasil, prefiro ficar no muro.

O resultado do PIB foi muito melhor do que se esperava há alguns meses e isso é ótimo. Crescimento ajuda a diminuir tensão social e facilita o equacionamento da situação fiscal, mesmo que a política fiscal não tenha contribuído para o crescimento.

Porém, não há como ignorar que a recuperação econômica está bem desigual, entre setores, entre regiões e, sobretudo, entre ricos e pobres. A queda do consumo das famílias é preocupante, mas isso pode ser atenuado com o auxílio emergencial, que voltou a ser pago a partir de abril.

O quadro atual me lembrou aquela frase atribuída a Medici durante a ditadura militar e milagre econômico dos anos 1970: “a economia vai bem, mas o povo vai mal”. Traduzindo para hoje, não sei se nossa recuperação é em “V” de vigor ou vulnerabilidade, mas com certeza ela tem um “D” de desigual.

Para que o crescimento do PIB se sustente e beneficie mais pessoas será preciso reforçar a transferência de renda às famílias mais vulneráveis, bem como garantir que a elevação de PIB gere empregos na quantidade necessária para reduzir o desemprego. O governo tem instrumentos para fazer isso, mas por enquanto nossa equipe de ideologia econômica se recusa a ler corretamente a mensagem do PIB. Para a recuperação ser efetiva, ela deve ser para todos.

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research

Folha de SP (coluna)

PIB foi muito bem, mas povo miúdo ainda vai mal

Indicador cresceu muito além do esperado por quem faz estimativas, os povos dos mercados

O PIB cresceu muito além do esperado por quem faz estimativas, os povos dos mercados. O povo mais miúdo em geral não deve ter visto onde esteve esse crescimento, se por mais não fosse porque há menos gente trabalhando agora do que no ano passado e porque a inflação comeu renda de quem tem algum rendimento do trabalho, dos pobres em particular, que gastam mais em comida.

No entanto, houve avanço em trabalho e renda, com algum progresso no emprego formal e das pessoas com mais qualificação, o que por ora resultou mais em aumento de poupança dos remediados e mais ricos (ou menos pobres).

No entanto, o PIB cresceu bem e essa despiora deve ter efeitos mais espalhados mais adiante, caso não sobrevenham uma piora do desastre da epidemia e um apagão. De notável, confirmou-se que as empresas conseguiram se adaptar com mais eficácia às restrições aos negócios impostos pela Covid.

Caso a atividade fique estagnada, trimestre ante trimestre, até o final do ano, a economia ao final de 2021 terá crescido mais de 4,6%. Sem catástrofe na epidemia ou no fornecimento de eletricidade, é bem provável que o PIB chegue a crescer 5%. Voltaria assim ao nível de 2019, zerando as perdas.

Onde está esse crescimento, então?

No investimento em máquinas, equipamentos, softwares ou construção e na forte reposição de estoques da indústria, por exemplo (parte dessa alta de investimento é ficção estatística, mas passemos).

O consumo das famílias caiu em relação ao trimestre anterior (final de 2020) e o consumo do governo também (basicamente, o setor público pagou menos salário a gente da administração, de saúde e da educação). Em parte, o consumo das famílias caiu por causa da seca de auxílio emergencial no primeiro trimestre deste ano e uma ainda persistente precaução (para quem tem dinheiro).

Outro problema muito sério é o setor de serviços, um grande empregador, dos mais pobres em particular (bico em geral é “serviço”). Não volta inteiro enquanto a peste da Covid estiver disseminada.

Comércio de rua, restaurantes, bares, salões de beleza, academias, entretenimento estão em situação deprimida ou desesperadora por causa de restrições legais ou voluntárias de movimentos. A circulação das pessoas pelas cidades ainda é limitada, o que também limita o emprego do ambulante, para dar um exemplo simples, e prejudica as lojas.

Esse PIB melhor não refresca nada? Ao contrário. A capacidade produtiva aumentou um tanto e, além do efeito mais imediato na renda, vai dar musculatura à economia no médio prazo. A taxa de poupança está em níveis recordes, um resultado excepcional em boa parte devido às restrições de consumo de ricos e remediados. Há aí gordura para ser queimada se e quando a atividade econômica voltar a alguma normalidade (com gastos em entretenimento, restaurante, turismo).

Há indícios de que pode não haver tombo no segundo trimestre, prejudicado pelos horrores da chamada “segunda onda” da epidemia. Abril foi ruim, mas há sinais de que a recuperação de maio foi forte. A confiança de empresários e consumidores aumentou. O crédito, o total de empréstimos bancários, aumenta. Emprego e renda vão mal, mas despioram e tendem a despiorar um pouco mais com o avanço da vacinação, um progresso assassino de lerdo, mas que terá efeitos visíveis no segundo semestre.

Houve ainda o pagamento do caraminguá da segunda rodada de auxílio emergencial. As economias grandes ou ricas recuperam-se rapidamente, o que mantém elevado o preço de exportações brasileiras e os ganhos de renda dos setores beneficiados (commodities). A taxa de poupança, ressalte-se, é grande.

Qual o risco maior e imediato? Jair Bolsonaro, seu desgoverno, a sabotagem do controle da epidemia e o risco de grossa e politizada negligência na administração do problema do fornecimento de eletricidade.

Estadão (artigo)

Revisão positiva para o PIB é um efeito matemático chamado ‘herança estatística’

Estaria o brasileiro sentindo no seu dia a dia a economia avançando nesse ritmo?

Fábio Alves

Depois do desempenho surpreendentemente positivo no primeiro trimestre, é cada vez maior o número de analistas que passou a projetar um crescimento de 5,0% ou mais do PIB em 2021. Mas estaria o brasileiro sentindo no seu dia a dia a economia avançando nesse ritmo?

O consenso das estimativas dos analistas para o desempenho do PIB neste ano vem melhorando nas últimas semanas, conforme a pesquisa Focus, do Banco Central. No fim de 2020, essa estimativa era de crescimento de 3,32% para 2021. No mais recente boletim Focus, essa projeção já subiu para 3,96%.

Não à toa, aumentaram as previsões apontando para expansão mais forte do PIB neste ano. Os bancos Itaú e Fibra estimam alta de 5,0%. O Goldman Sachs prevê crescimento de 5,5%. E o Bank of America, avanço de 5,2%.

Segundo o IBGE, o PIB cresceu 1,2% no primeiro trimestre ante o último trimestre de 2020, superando o consenso das projeções dos analistas, de alta de 0,70%. Até há pouco tempo, os economistas esperavam uma contração da economia entre janeiro e março em razão, entre outros fatores, do fim do auxílio emergencial. Mas a atividade mostrou resiliência maior do que o imaginado. Além disso, a segunda onda da pandemia teve um impacto menor na economia do que em 2020.

Mais do que uma melhora substancial, de fato, no fôlego da atividade econômica resultante de um mercado de trabalho aquecido e de um dinamismo em vários setores da economia, a revisão das projeções para 2021 reflete, em grande parte, um efeito matemático, o chamado carrego ou herança estatística, que é um impulso deixado de um ano para outro.

Isso porque, no Brasil, o PIB é calculado levando-se em conta a média dos quatro trimestres de um ano em relação à média dos trimestres do ano anterior. Toda vez que ocorre um resultado muito positivo no primeiro trimestre do ano, diante do efeito-base, mesmo que o PIB fique parado nos trimestres restantes, a média do ano será mais alta. E vice-versa, quando há uma contração.

A queda de 4,10% do PIB em 2020 já havia deixado uma herança estatística de 3,60% para 2021. Isso significa que o consenso das estimativas de PIB neste ano na mais recente pesquisa Focus corresponde a um crescimento pouco acima de zero.

“A percepção é, realmente, de que a economia está se recuperando, mas, em termos de sensação da população nas ruas, não haverá diferença entre um crescimento entre 3,0% e 3,5% que todo mundo esperava na virada do ano para uma expansão de 5,0% em 2021 de algumas projeções agora”, diz Luiz Felipe Laudari, diretor de investimentos da Mauá Capital. “É um efeito mais matemático do que, de fato, um crescimento mais acelerado.”

Segundo ele, a taxa de desemprego de 14,7% no trimestre até março, se ajustada para a PEA (população economicamente ativa) histórica, com base na taxa de participação histórica, seria, na realidade, de 21%. “É possível imaginar a economia ganhando tanta tração com essa taxa elevada de desemprego?”, argumenta. “Sem falar na grande quantidade de empresas fechando em razão da pandemia, ou seja, a percepção das pessoas é de uma economia bem mais frágil do que estamos vendo nos números.”

Para Laudari, a massa salarial real vai se recuperar de forma mais lenta. Além disso, ele observa que é comum, após grandes crises, haver aumento de produtividade na economia. “As empresas descobrem que podem produzir a mesma quantidade que produziam antes da crise com menos mão de obra e com isso, na prática, a taxa de desemprego termina o período de recuperação acima do que estava antes da crise”, argumenta.

Todavia, mesmo que a sensação da população seja a de que a economia está rodando a um ritmo bem menor do que um crescimento de 5,0%, um resultado dessa magnitude, mesmo que por efeito estatístico, pode ter ainda um impacto positivo: o de melhorar a confiança dos agentes econômicos, incentivando as decisões de investimentos de empresários e de gastos de consumidores.

O outro lado da moeda de uma herança estatística impulsionando o PIB de 2021 é que, no ano que vem, o cálculo será afetado justamente por uma base maior, daí vários economistas reduziram suas previsões do crescimento para 2022.

Fábio Alves é colunista do Broadcast Estadão

O Globo

Copa América: Estados escolhidos estão abaixo da média nacional de vacinação; confira situação de cada um

Taxa de ocupação dos leitos de UTI está acima dos 80% de acordo com secretarias estaduais de saúde

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, nesta terça, quatro sedes da Copa América 2021: Brasília, Mato Grosso, Goiás e Rio de Janeiro, que deve receber a final. A confirmação ocorreu apesar do posicionamento contrário da comunidade científica e do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), que manifestaram preocupação com os riscos que a realização de um evento deste porte implica. Como todo o país, estes estados enfrentam dificuldades para conter a pandemia de Covid-19.

Em comum entre estas sub-sedes, altos índices de ocupação dos leitos para Covid e a baixa imunização de suas populações. Por outro lado, quase todas apresentam queda nas médias de caso e de óbitos por Covid. É justamente esta tendência de queda que os especialistas veem ameaçada com a realização da Copa América.

Todos os quatro estados apontam queda na média móvel de óbitos em relação à de 14 dias atrás. A maior foi registrada no Rio de Janeiro: 27% de acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa que monitoram a situação da Covid no Brasil, do qual O GLOBO faz parte.

Já na média de óbitos, dois estados apresentaram alta e dois, queda. O Rio de Janeiro tem a redução mais significativa: 33%. O Mato Grosso, por outro lado, é o caso mais preocupante, com crescimento de 17% na comparação com a marca de duas semanas atrás.Em relação a leitos de UTI, o patamar é alto. Nenhum dos estados possui menos que 80% de ocupação. Brasília é onde ela é menor, com 80,1%. No Mato Grosso, ela chega a 91,12%.

Mas o índice mais preocupante de todos é o de vacinação. As quatro sub-sedes encontram-se abaixo da média do país, de 21,82%. No ranking nacional, Brasília aparece em sétimo lugar. Até o momento, 21,39% de sua população recebeu pelo menos a primeira dose do imunizante. Goiás vem em 12º, com 20,39% de vacinados.

Três posições depois está o Rio de Janeiro. Com 19,46% de seus habitantes imunizados, o estado está em 15º. Das sedes da Copa América, o Mato Grosso é o que apresenta o pior desempenho nesta corrida. Com 17,5%, é a 20º dentre as 27 unidades federativas. Confira, abaixo, a situação de cada estado. Os dados são do consórcio de imprensa e das secretarias estaduais de saúde:

Rio de Janeiro

Casos nas últimas 24h – 3.939

Óbitos nas últimas 24h – 256

Média de casos – 2.972 (-33%)

Média de óbitos – 167 (-27%)

Ocupação de leitos de UTI – 82,8%

Ocupação de leitos de enfermaria – 59,3%

Vacinação – 19,46% (15º no ranking nacional)

Mato Grosso

Casos nas últimas 24h – 1.858

Óbitos nas últimas 24h – 38

Média de casos – 1.679 (17%)

Média de óbitos – 35 (-6%)

Ocupação de leitos de UTI – 91,12%

Ocupação de leitos de enfermaria – 44%

Vacinação – 17,5% (20º no ranking nacional)

Brasília

Casos nas últimas 24h – 836

Óbitos nas últimas 24h – 22

Média de casos – 936 (9%)

Média de óbitos – 25 (-2%)

Ocupação de leitos de UTI – 80,1%

Ocupação de leitos de enfermaria – 75,97%

Vacinação – 17,5% (7º no ranking nacional)

Goiás

Casos nas últimas 24h – 3.338

Óbitos nas últimas 24h – 64

Média de casos – 2.007 (-8%)

Média de óbitos – 62 (-18%)

Ocupação de leitos de UTI – 87,48%

Ocupação de leitos de enfermaria – 52,80%

Vacinação – 20,39% (12º no ranking nacional)

Folha de SP

Na CPI da Covid, Nise Yamaguchi acerta sobre protozoários e vírus e cita informações falsas sobre lockdown e mortalidade

Defensora de remédio sem eficácia comprovada, médica prestou depoimento à comissão; veja checagem

AGÊNCIA LUPA

A médica Nise Yamaguchi prestou depoimento à CPI da Covid no Senado nesta terça-feira (1º) na condição de convidada —por isso, não corria o risco de punição por não falar a verdade. Logo na fala de abertura da médica, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) sugeriu o encerramento do depoimento para que Yamaguchi fosse convocada como testemunha, mas foi mantida sua participação na condição de convidada.

Ao longo do depoimento, a médica defendeu o “tratamento precoce” com cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19 e esquivou-se de responder sobre posicionamentos feitos no ano passado sobre imunidade de rebanho e vacinação. Também negou fazer parte de um gabinete paralelo de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a condução da pandemia.

Já foram ouvidos pela CPI o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, e os ex-ministros da Saúde Eduardo Pazuello, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, além do atual ministro, Marcelo Queiroga. O ex-chanceler Ernesto Araújo também prestou depoimento, entre outros.

A Lupa verificou algumas das declarações de Nise Yamaguchi. A reportagem contatou a assessoria de imprensa da médica a respeito das checagens e irá atualizar essa reportagem assim que tiver respostas. Veja, abaixo, a checagem.

“Os protozoários são organismos celulares, e os vírus são organismos que têm um conteúdo de DNA ou RNA”

Nise Yamaguchi, em depoimento na CPI

VERDADEIRO

Embora tenha usado termos mais simples do que os do senador Otto Alencar (PSD-BA), responsável pelo questionamento sobre o que seriam protozoários e vírus, que levou a essa resposta, a definição usada por Nise Yamaguchi durante o depoimento está correta.

Os protozoários são, de fato, organismos vivos formados por apenas uma célula. Eles possuem o núcleo localizado dentro de uma membrana, a carioteca, o que os torna seres mais avançados (eucariontes) do que os que têm o conteúdo genético espalhado pelo citoplasma, como as bactérias (procariontes). Entre os mais conhecidos estão Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), Plasmodium vivax (malária), Leishmania braziliensis (leishmaniose), Entamoeba histolytica (amebíase) e Giardia lamblia (giardíase).

Os vírus, por sua vez, não são considerados seres vivos. Trata-se de organismos formados basicamente por um conteúdo genético, que pode ser DNA ou RNA, e proteínas. Em alguns deles, esse conteúdo está envolvido por um envelope lipoproteico. Os vírus são parasitas celulares, ou seja, precisam invadir e usar células para se reproduzirem. Como não têm as mesmas estruturas presentes em células, o seu código genético não é corrigido quando há erros nesse processo de replicação. Com isso, é mais suscetível a mutações, que podem gerar variantes infecciosas.

“Eu nunca tive encontros privados com o presidente Bolsonaro”

FALSO

A agenda do presidente Jair Bolsonaro mostra que a médica Nise Yamaguchi teve pelo menos um encontro privado com ele. Eles se reuniram no dia 15 de maio de 2020, entre 10h45 e 10h55. A data coincide com a saída de Nelson Teich do cargo de ministro da Saúde, período em que Nise chegou a ser cotada para o posto.

Antes disso, ela já havia frequentado o gabinete presidencial, mas não sozinha. Em 6 de abril de 2020, participou de encontro ao lado de diversos ministros naquele momento: Braga Netto, Ernesto Araújo, Jorge Oliveira, Augusto Heleno e outros. No dia seguinte, 7 de abril de 2020, ela teve uma agenda de uma hora com Bolsonaro, Luiz Eduardo Ramos, então ministro-chefe da Secretaria de Governo; e o deputado Vitor Hugo (PSL-GO).

“Foi somente aquela reunião [em 6 de abril de 2020] onde eu participei desse comitê de crise e depois não houve necessidade, eles não formalizaram. Fui uma colaboradora eventual”

FALSO

Além do dia 6 de abril de 2020, Nise Yamaguchi participou de outra reunião no Palácio do Planalto no dia seguinte (7). Ela também teve uma agenda individual com o presidente Jair Bolsonaro no dia 15 de maio de 2020. Segundo reportagem da Folha de 27 de maio deste ano, documentos do Planalto entregues à CPI revelaram 24 reuniões do chamado “ministério paralelo”, e que Nise teria participado de pelo menos quatro delas.

Em uma dessas reuniões, em abril do ano passado, tratou sobre hidroxicloroquina, remédio que não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. O presidente chegou a fazer postagens sobre a médica nas redes sociais para falar sobre o medicamento.

Em maio do ano passado, Nise admitiu publicamente em entrevistas que tinha contato constante com o presidente. Em 8 de setembro de 2020, Nise Yamaguchi voltou a participar de um encontro com Bolsonaro, desta vez como parte de um grupo de médicos que apoiam o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 —eles inclusive posaram sem máscara para a foto.

“Eu não posso me vacinar, porque eu tenho uma doença autoimune [vasculite]”

FALSO

A SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia) indica exatamente o contrário: recomenda que pessoas com doenças autoimunes sejam vacinadas contra a Covid-19, ainda que pondere que o momento mais apropriado para a imunização deva ser debatido entre o paciente e seu médico. Isso inclui todas as vasculites, doença da qual diz Nise Yamaguchi ser portadora.

Durante o depoimento da médica, a SRB emitiu uma nota de esclarecimento sobre a imunização contra a Covid-19 em pacientes de doenças reumáticas, incluindo doenças autoimunes como artrite reumatoide, espondiloartrites, artrite psoriásica, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica (esclerodermia), síndrome de Sjögren primária, miopatias inflamatórias e vasculites.

De acordo com o texto, essas condições “não representam, por si só, contraindicação específica para receber qualquer vacina” contra a Covid-19. Ressalta ainda que “todas as vacinas para Covid-19 disponíveis e aprovadas atualmente no Brasil são vacinas que não contêm componentes vivos e que não transmitem a doença viral, nem alteram o material genético”. De acordo com o presidente da SRB, Ricardo Xavier, pacientes reumáticos têm potencialmente maior predisposição para apresentar “as formas mais graves da Covid-19 e precisam ser protegidos”.

“A própria Organização Mundial de Saúde não sabia se devia fazer lockdowns absolutos, lockdowns horizontais”

FALSO

Em janeiro de 2020, um mês depois dos primeiros casos da doença, o comitê de emergência da Organização Mundial de Saúde recomendou que países promovessem o distanciamento social como providência para conter a disseminação do vírus. Em abril do ano passado, a entidade produziu um documento com orientações técnicas para contenção da pandemia e destacou a eficácia de medidas como fechamentos e lockdowns em casos determinados, apesar dos potenciais perigos para a economia e para a sociedade.

Esse posicionamento não mudou desde então. Na última atualização da OMS sobre essa medida, a entidade reforça que o distanciamento físico e o lockdown podem, sim, retardar a transmissão do Sars-CoV-2. Contudo, a entidade também reconhece, desde o início da pandemia, que essas medidas podem ter um impacto negativo em indivíduos, comunidades e sociedades.

Em outubro de 2020, uma frase do médico David Nabarro, enviado especial da OMS, foi distorcida durante entrevista para a revista britânica The Spectator para dar a entender que a organização tinha mudado de opinião sobre o lockdown. Na verdade, Nabarro reconheceu os impactos econômicos e sociais negativos desse tipo de estratégia. Na mesma entrevista, porém, ele destacou que essa medida é justificada em momentos de crise, para reorganizar os sistemas de saúde e proteger os profissionais que estão na linha de frente do combate à doença. Antes disso, em março, uma fala do diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom Ghebreysus, foi tirada de contexto para sustentar uma peça de desinformação sobre o posicionamento da entidade.

“Por exemplo, no Amapá, nós temos um dos menores índices do mundo de mortalidade”

FALSO

O Amapá não tem um dos menores índices de mortalidade por Covid-19 do mundo. Segundo o Ministério da Saúde, ocorreram 1.696 mortes pela doença no estado. Considerando a população estimada pelo IBGE, 861 mil pessoas, isso significa que a taxa de mortalidade é de 1.968 mortes por milhão de habitantes. Se o Amapá fosse um país independente, teria a 15ª maior taxa de mortalidade por Covid-19 no mundo, segundo a plataforma Worldometers. A média brasileira é ligeiramente mais alta: 2.164 mortes por milhão de habitantes.

O índice de letalidade também não é extraordinariamente baixo. O estado teve 112.122 casos da doença registrados. Ou seja, 1,5% das pessoas que contraíram a doença no estado morreram. Embora seja menor do que a média brasileira (2,8%) e mundial (2%), a proporção de mortos em relação ao número de casos da doença no Amapá é maior do que em 111 países. Essa informação falsa circulou nas redes sociais em janeiro.

“Finalmente, agora, houve a admissão de que é melhor que não se trate [com hidroxicloroquina] os pacientes com doenças moderadas e graves”

FALSO

Desde junho de 2020, ou seja, há quase um ano, pesquisas sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 mostraram que esses medicamentos não tinham benefícios contra a doença. A própria OMS reconheceu, ainda em julho do ano passado, que esses fármacos não resultaram na redução da mortalidade de pacientes hospitalizados com quadros graves e suspendeu o braço de hidroxicloroquina do Estudo Solidariedade, série de pesquisas padronizadas lançada pela organização para encontrar um tratamento eficaz contra o novo coronavírus.

Em novembro de 2020, na atualização daquele mês sobre as potenciais opções terapêuticas contra o Sars-CoV-2 reunidas pela OMS, a organização avaliava que não existiam benefícios do antimalárico. A partir da análise de 31 estudos, a entidade também já falava sobre possíveis reações adversas. Antes disso, em julho de 2020, a FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos, também alertava sobre os efeitos colaterais da cloroquina e hidroxicloroquina. Em março de 2021, especialistas do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS consideraram que, por não haver evidências de eficácia, o antimalárico não seria mais prioridade de pesquisa.

“Houve um anúncio, inclusive, das universidades europeias de que nós teríamos milhões de mortes até abril do ano passado. E na época já estava utilizando nos protocolos do Ministério da Saúde, em vários serviços utilizavam na época”

FALSO

Em março de 2020, ainda começo da pandemia, pesquisadores do Imperial College London usaram fórmulas matemáticas para simular —e não prever ou anunciar— possíveis desfechos da pandemia em vários países, incluindo o Brasil, em diferentes cenários: sem intervenção, com mitigação (proteger os idosos e restringir apenas 40% dos contatos do restante da população) e com supressão (testar e isolar os casos positivos e estabelecer distanciamento social para toda a população).

No pior cenário previsto, o número de mortos no país poderia chegar a 1.152.223 milhão até o final de 2020, não só até abril do ano passado. Esse cenário, no entanto, levou em consideração a hipótese de nenhuma medida de distanciamento social —o que não aconteceu. Estados e municípios adotaram a chamada quarentena em diferentes níveis em todo o país.

Outros quatro cenários foram calculados para o Brasil: 627.047 mortes com medidas brandas de distanciamento social de toda a população, 529.779 óbitos com essas mesmas medidas e o isolamento de idosos, 206.087 com supressão tardia, isto é, lockdown somente quando o número de mortes fosse praticamente alto e, por fim, 44.212 mortes se o país adotasse testes, isolamento dos casos positivos e distanciamento de todos. De acordo com a modelagem feita pelo grupo, isso significa que a eficácia do isolamento mais amplo, e não o tratamento precoce, seria uma forma de reduzir a quantidade de mortes. Em 2020, 194.976 morreram de Covid-19 no Brasil.

A Universidade de Oxford também publicou um estudo preliminar em março de 2020 em que projetou 478 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Naquela ocasião, a simulação relacionou a composição etária da população, indicando que, quanto mais velha, mais riscos. Após analisar as taxas de disseminação e mortalidade do vírus em várias nações, os pesquisadores encontraram, no caso brasileiro, dois problemas: um percentual relativamente alto de idosos e serviços de saúde precários.

“O Sars-Cov-1 já tinha tentativas de vacinas”

VERDADEIRO

Antes da pandemia, diversas instituições de saúde pesquisavam vacinas para o Sars-Cov-1, vírus que causa a Sars (síndrome respiratória aguda grave) e é bastante similar ao Sars-Cov-2. Em 2002, depois que uma epidemia provocada por esse micro-organismo, vários laboratórios em todo o mundo começaram as pesquisas para uma vacina. Em dezembro de 2003, por exemplo, pesquisadores da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech, empresa que desenvolveu a vacina CoronaVac em parceria com o Instituto Butantan contra a Covid-19, realizou os primeiros testes de um imunizante contra o vírus.

Outro coronavírus, o Mers-Cov, responsável pela epidemia da Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio), foi identificado em 2012. Pesquisadores também se debruçaram em pesquisas para encontrar uma fórmula capaz de proteger a população desse vírus.

De acordo com um artigo de revisão publicado na revista Infectious Diseases and Therapy sobre os esforços para o desenvolvimento de vacinas para coronavírus, o desenvolvimento da vacina contra a Mers, na época, pode ter sido atrasado devido, entre outras razões, ao baixo interesse de investimento, já que a doença produziu um número de casos relativamente baixos —681 casos e 204 óbitos relatados pela OMS— e geograficamente centralizados (Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes e Jordânia).

Ao todo, a ciência conhece sete coronavírus que afetam seres humanos, incluindo o Sars-Cov-2. Essa família foi isolada pela primeira vez em 1937, e recebeu esse nome em 1965. Os outros quatro vírus da família causam apenas resfriados comuns.

O Globo (coluna)

A anarquia militar de Bolsonaro

Ela contaminou o século XX e agora é diferente, pior

ELIO GASPARI

O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu a necessidade de punição do general Eduardo Pazuello dizendo que é preciso “evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças”.

Santas palavras. A partir da Proclamação da República, em 1889, a anarquia militar empesteou a política brasileira do século XX com pelo menos 14 levantes e seis golpes. Pode-se dizer que alguns foram de direita, outros de esquerda, mas todos tinham uma essência política. Os tenentes dos anos 20 queriam uma nova República. Até mesmo os generais que, em 1969, empossaram a junta militar dos Três Patetas (expressão usada por Ernesto Geisel em conversas privadas e Ulysses Guimarães em declaração pública) agiram em nome de uma suposta defesa da ordem.

A má notícia é que hoje a anarquia militar tem um pé na delinquência civil, para dizer o mínimo. Gregório Fortunato, o “Anjo Negro” e chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas, era paisano. Fabrício Queiroz, o chevalier servant dos Bolsonaros, é um ex-policial militar. Nenhuma crise militar do século passado teve PMs, muito menos conexões com milicianos. Em 1964, o general Humberto Castello Branco disse que “não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos antidemocráticos, destinam-se a garantir os poderes constitucionais e sua coexistência”. À época, a palavra “milícia” tinha outro significado.

Não passava pela cabeça dos generais do século passado conviver com a ideia de PMs amotinados. Em 1961, quando policiais militares de São Paulo rebelaram-se, o comandante da tropa de São Paulo, general Arthur da Costa e Silva, acabou com o levante no grito e prendeu os indisciplinados.

A essência política da anarquia militar do século XX cumpria um relativo ritual hierárquico. Em 1955, o general Odylio Denys foi decisivo para que seu colega, o ministro Henrique Lott, depusesse dois presidentes numa só noite. Seis anos depois, como ministro, prendeu-o por ter defendido a posse de João Goulart.

Nessa anarquia, prevaleciam os generais silenciosos, aqueles de que ninguém lembra o nome.

Bolsonaro gosta de falar em “minhas Forças Armadas”. As tropas de chefes militares que comiam abelhas, como Floriano Peixoto, não tinham dono. Também não existiam PMs amotinadas, milicianos, nem generais da ativa em manifestações de motoqueiros paramentados. Cenas como as da ação da PM no Recife no último domingo são um aviso de que a anarquia pode vir de baixo. Os disparos de balas de borracha contra manifestantes foram uma clara provocação anárquica, porém deliberada.

Hoje esses personagens existem e são um fator relevante na desordem política e administrativa do país. A anarquia militar de Bolsonaro é nova — e pior.

O risco de “que a anarquia se instaure dentro das Forças” tornou-se visível com o general Pazuello subindo no carro de som de Bolsonaro, mas ele está aí desde 2018, quando o comandante do Exército sugeriu com seu famoso tuíte que o Supremo Tribunal Federal negasse o habeas corpus que impediria a prisão de Lula. Ele ecoava uma manifestação do comandante das tropas do Sul, general Jair Dantas Ribeiro, em 1962, forçando a realização de um plebiscito para enterrar o regime parlamentarista. João Goulart apostava na anarquia militar.