Clipping 20 de julho de 2021

Manchetes

Bolsonaro diz que não vai sancionar fundo eleitoral (Folha)

SP quer revacinar população a partir de janeiro com Butanvac (Estadão)

Congresso pressiona, mas Bolsonaro sinaliza veto ao fundo eleitoral (O Globo)

Mercados têm dia de tensão por temor da variante Delta (Valor)


Valor

Volkswagen inicia paralisação de turno no Grande ABC por falta de peças

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as férias envolverão 1,5 mil trabalhadores

Por Marli Olmos e Folhapress

A Volkswagen iniciou hoje férias coletivas para um turno de produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) por falta de semicondutores. As operações da unidade, a maior fábrica da montadora no país, vão permanecer paradas durante 20 dias a partir desta segunda-feira (19), conforme antecipou o Valor. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as férias envolverão 1,5 mil trabalhadores. A entidade revela que é possível que outro turno da mesma fábrica entre em férias assim que a primeira turma retornar ao trabalho.

Na unidade de São Bernardo são produzidos os modelos Virtus, Saveiro, Nivus e Polo. Desde o dia 12, os trabalhadores da fábrica de Taubaté da Volkswagen também pararam para um período também de 20 dias. A montadora produz os modelos Gol e Voyage na unidade. As paralisações devem-se à falta de componentes eletrônicos necessários para a produção de automóveis.

No início de junho, a produção em Taubaté já tinha sido interrompida por cerca de dez dias. Na época, a Volkswagen também suspendeu o trabalho na fábrica de São José dos Pinhais (PR), onde são produzidas as linhas Fox e T-Cross.

A falta de peças e as sucessivas paradas nas montadoras levaram a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) a revisar para baixo as previsões de produção e vendas para o mercado nacional em 2021. A entidade prevê que 2,46 milhões de veículos leves e pesados serão fabricados neste ano, uma alta de 22% sobre 2020. Há seis meses, a associação calculava que haveria um crescimento de 25%, com 2,52 milhões de unidades.

Segundo um estudo feito pela consultoria BCG e apresentado pela Anfavea, 3,6 milhões de veículos deixaram de ser produzidos no mundo no primeiro semestre. No Brasil, a entidade calcula que a escassez de componentes já tenha impedido a produção de 100 mil a 120 mil veículos neste ano. Entre março e abril, General Motors, Volkswagen, Mercedes, Scania, Nissan, Renault, VW Caminhões e Ônibus e Toyota adotaram paralisações nas linhas de montagem por falta de peças

Valor (análise)

Muito além da falta de semicondutores

Há problemas estruturais que impedem que esse setor recupere o dinamismo que marcou a sua história

Por Marli Olmos

Já faz alguns meses que a escassez de semicondutores é o assunto mais comentado na indústria automotiva. Estudo do Boston Consulting Group (BCG) indica que pela falta desse pequeno componente eletrônico pelo menos 5 milhões de veículos deixarão de ser fabricados em todo o planeta este ano – o equivalente a mais de 6% da produção mundial em 2020.

A falta de semicondutores, cuja produção se concentra na Ásia, tem provocado sucessivas paralisações das linhas de montagem em todo o mundo. Europa e Estados Unidos já fazem planos para expandir a produção local.

Em regiões emergentes, como a América do Sul, não é tão fácil tomar a mesma decisão. Trata-se de uma indústria que exige altos investimentos. Mas, antes de pensar num salto dessa natureza, por aqui há problemas estruturais mais importantes para resolver e que impedem que esse setor recupere o dinamismo que marcou a sua história.

China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Coreia do Sul são, nessa ordem, os cinco maiores produtores de veículos. Pressionados por legislações ambientais, todos estão sintonizados para fazer com que o automóvel deixe de ser uma máquina poluente para se tornar um meio de transporte limpo. Mas essa indústria também tem parques industriais relevantes em regiões emergentes, que não estão na mesma sintonia dos países desenvolvidos em relação ao desenvolvimento e produção das novas gerações de veículos. A Índia ocupa o sexto lugar no ranking mundial de produtores. México aparece em quinto e o Brasil na nona posição, seguido pela Rússia.

O alto custo da propulsão elétrica naturalmente empurra mercados menos desenvolvidos para o fim da fila. O problema é que não está claro como será a transição do parque industrial de emergentes que estão entre os dez maiores produtores do mundo. Vão produzir que tipo de carro? Só a combustão? Até quando?

Boa parte da indústria aposta que o conhecimento no uso do etanol pode transformar o Brasil num centro de produção de carros híbridos – que têm um motor a combustão e outro elétrico. Abastecido com etanol, o híbrido pode ter papel relevante no mapa da mobilidade limpa. A Toyota produz carros híbridos que podem ser abastecidos com etanol, e há poucos dias, a Volkswagen anunciou o plano de instalar no país um centro de desenvolvimento e de exportação de tecnologia e de motores movidos a biocombustíveis.

Com alternativas como essa o Brasil até poderia estar salvo de ver seu parque automotivo minguar. Mas há ainda outros percalços nesse caminho. As fábricas de veículos no país já operavam com alta ociosidade antes da pandemia. Atraídas por um mercado que se mostrava pujante, principalmente na época dos carros populares, as montadoras ergueram novas instalações e expandiram antigas. A capacidade total beira 5 milhões de unidades por ano. Em 2021, chegaremos a menos da metade.

A última projeção do setor indica a produção de 2,45 milhões de veículos este ano, 22% mais do que em 2020. Existe, também, a pressão das matrizes das montadoras, obrigadas a investir cada vez mais na produção de veículos livres de emissões. Nesse movimento, operações não rentáveis são eliminadas.

O caso Ford ilustra essa tendência. A montadora americana tinha três fábricas no Brasil, onde produzia, principalmente, carros compactos. Até 2013, a fórmula funcionou. Mas hoje, nesse setor, vende-se apenas o que dá lucro.

O tamanho do mercado interno ainda é o que mais atrai as multinacionais. Em 2020, o Brasil ficou no sétimo lugar entre os países que mais vendem veículos no mundo. Mesmo assim, os movimentos do setor indicam que há uma perda de entusiasmo para destinar à região os mesmos volumes de investimentos que se anunciavam há cinco anos.

Os executivos se queixam com frequência dos fatores que desfavorecem os negócios no país. A Anfavea, associação que representa as montadoras, segue estudo apresentado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aponta a desvantagem do Brasil no ranking de competitividade, quando feita a comparação com países como a Coreia, que em 2019 ocupou o sexto lugar entre os maiores exportadores de veículos enquanto o Brasil ficou em 26º. Os dados referem-se ao último levantamento da Oica, organização mundial dos fabricantes de veículos.

Num comentário sobre a lentidão para expandir o plano de nacionalização de peças da companhia, o presidente da Stellantis, Antonio Filosa, destacou, em recente artigo publicado no Valor, que “a dificuldade em concluir as bases do negócio não é de natureza tecnológica ou de confiança no mercado consumidor brasileiro, mas deriva da falta de competitividade sistêmica”.

Parecem, também, cada vez mais remotas as chances de o setor automotivo dialogar com o atual governo com vistas à elaboração de políticas setoriais. Não caberiam, no cenário de hoje, os movimentos lobistas que marcaram o setor ao longo de décadas. Em inúmeras vezes, escancaradas negociações com governantes ajudaram montadoras a obter variadas vantagens – desde sutis mudanças em alíquotas de imposto para vender mais determinado modelo de carro até as famosas guerras fiscais entre Estados e municípios para decidir a localização de fábricas.

Mas o diálogo parece ter cessado quase que completamente. Durante o governo de Jair Bolsonaro não se falou mais, por exemplo, sobre um grupo de trabalho para desenvolver a eletromobilidade no país, que reunia indústria e área técnica da equipe econômica. Não há consenso também em relação à Tarifa Externa do Mercosul; tampouco em torno da própria sobrevivência do bloco, apontada pela indústria de veículos e de autopeças como o caminho para definitivamente firmar acordo comercial com a União Europeia.

Para o governo, essa indústria esperneia sempre em busca do protecionismo, uma bandeira rejeitada desde a campanha presidencial. As montadoras fazem hoje os cálculos dos carros que deixaram de produzir por falta de semicondutores. Mas se o país não for capaz de identificar sua vocação no processo de transformação global dos veículos em breve estarão fazendo as contas de quantas fábricas conseguem manter em funcionamento.

Marli Olmos é repórter especial E-mail: marli.olmos@valor.com.br

Estadão

Sem peças, montadoras priorizam carros caros

Diante da escassez global de peças e componentes, a decisão das montadoras de direcionar os poucos materiais disponíveis para a produção de automóveis mais caros inverteu a pirâmide do mercado de veículos novos no Brasil. Os carros populares, que no passado estiveram na base dos melhores anos das vendas de automóveis, hoje têm uma parcela mínima da produção da indústria. O protagonismo é dos modelos mais caros, em especial dos utilitários esportivos (os SUVs, na sigla em inglês).

De acordo com levantamento feito para o Estadão/Broadcast pela consultoria Jato Dynamics, 68% dos carros vendidos no País atualmente custam acima de R$ 70 mil, enquanto os veículos abaixo desse valor representam os demais 32%. Até três anos atrás, a situação era inversa. Os veículos com preço acima de R$ 70 mil eram 40% do mercado.

A mudança de portfólio das montadoras já vem ocorrendo há quatro anos, em parte por causa da introdução de tecnologias exigidas por regulação, que são mais caras. As fabricantes também fizeram uma reorientação. Em vez de apostar no volume, preferiram buscar o reequilíbrio financeiro com produtos voltados ao público que pode pagar por maior conforto, espaço, conectividade, segurança e eficiência dos automóveis.

A pandemia introduziu um novo elemento à equação, ao obrigar a indústria a ser ainda mais seletiva em razão da falta de peças à disposição. Conforme o estudo da Jato, feito com base nos volumes de vendas de janeiro a junho deste ano, os carros que custam menos de R$ 50 mil, os mais baratos do mercado e que se resumem a subcompactos, representam agora só 3% das vendas.

O segmento formado por carros de R$ 50 mil a R$ 70 mil também perdeu participação. Ele é ocupado por grande parte dos modelos de entrada das montadoras. Hoje, representa 29% das vendas, menos do que os 36% do ano passado.

É justamente nas duas faixas acima que estão posicionados modelos produzidos em fábricas que pararam por períodos mais prolongados desde o início da crise de abastecimento de peças, agravada nos últimos meses pela falta de componentes eletrônicos no mundo inteiro. A fábrica do Onix, da GM – em tempos normais, o modelo mais popular do Brasil -, está parada desde março.

Neste mês, foi interrompida, por alguns dias ao mesmo tempo, a produção tanto do Gol quanto do HB20 em fábricas da Volkswagen e da Hyundai, no interior paulista. A Fiat, marca líder em vendas no ano, vem alternando férias a grupos de mil trabalhadores em Betim (MG), onde são montados modelos como Uno e Argo, além do Mobi, o subcompacto que disputa com o Renault Kwid o posto de carro mais barato do Brasil.

“A falta de semicondutores está afetando o segmento de entrada porque o foco da indústria está na rentabilidade. Os preços estão, em média, muito altos”, diz o diretor de Desenvolvimento de Negócios da Jato, Milad Kalume Neto.

Valores

O preço médio dos carros vendidos no Brasil gira hoje na faixa de R$ 90 mil a R$ 95 mil. Em 2012, no auge das vendas, eles custavam em média R$ 63 mil, segundo a Bright Consulting, em valores já corrigidos pela inflação acumulada.

Modelos definidos pela Jato Dynamics como carros populares, caso de Onix, Gol, Mobi e Fox, representaram menos de 2% das vendas da indústria nos últimos três meses. Por outro lado, os SUVs, que tiveram 32% das vendas no segundo trimestre, formam, junto com as picapes (18%), metade do mercado.

Estadão

Concorrência por chips vai aumentar e montadoras precisam repensar modelo, aponta KPMG

Embora investimentos pesados estejam sendo feitos para ampliar a produção mundial de chips, a concorrência acirrada, de diferentes setores industriais, vista atualmente por esse componente pode ser apenas um aperitivo da tendência que se desenha para o futuro.

O mundo vai precisar cada vez mais de semicondutores para a transição de redes de comunicação móvel ao chamado 5G, em paralelo à digitalização da economia, acelerada durante a pandemia, e ao avanço da eletrônica nos mais diversos bens de consumo, incluindo o carro elétrico, que usa o dobro de chips.

Por ocorrer ao mesmo tempo em várias frentes, a transformação tecnológica coloca diante da indústria de veículos a necessidade de reavaliar o seu modelo de negócio. Embora consuma apenas 10% dos semicondutores vendidos no mundo, o setor vai perder US$ 100 bilhões por não poder fabricar carros em função da falta de eletrônicos, estima a consultoria KPMG.

Para Ricardo Bacellar, responsável por análises sobre a indústria na KPMG, é o momento de se considerar um passo para trás na evolução do padrão tecnológico dos veículos comercializados no Brasil, seja para reduzir a dependência dos escassos circuitos eletrônicos, seja para viabilizar produtos mais compatíveis com a renda do consumidor.

“O brasileiro tem interesse em comprar veículos, mas os produtos de entrada se descolaram nos últimos anos de sua capacidade financeira. O resultado é que esse consumidor está correndo para o mercado de carros usados”, comenta Bacellar, para quem a investida em carros mais básicos, dispensando equipamentos não obrigatórios, como centrais de multimídia e câmbio automático, reaproximaria as montadoras dos consumidores de menor renda.

É, contudo, uma ideia já descartada publicamente pela General Motors (GM). Em recente comunicado, o presidente da montadora na América do Sul, Carlos Zarlenga, assegurou que, apesar da escassez de suprimentos, a GM não vai dar foco a versões básicas do Onix, em que pese o impacto da decisão na produção.

De acordo com Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, associação que representa a indústria nacional de veículos, a “briga” com as matrizes por envio de itens como módulos, sensores e microprocessadores tornou-se uma rotina nas montadoras. “Brigamos para ter a maior fatia possível. Faz parte do dia a dia porque existe o risco de ficar com um pedaço menor do bolo.”

Automotive Business

Toyota confirma compacto híbrido flex no Brasil

CEO para a América Latina disse em entrevista que a marca vai oferecer um modelo abaixo do Corolla

CEO da Toyota para a América Latina e Caribe, Masahiro Inoue confirmou que a montadora terá no mercado brasileiro um modelo híbrido flex menor e mais barato que o Corolla e o Corolla Cross. A declaração foi feita em uma entrevista para a Folha de S.Paulo. “A Toyota, mundialmente, vai oferecer produtos eletrificados, seja híbrido, híbrido plug-in ou com célula de combustível. No Brasil teremos um carro pequeno com tecnologia híbrido flex”, disse Inoue na reportagem.

A possibilidade de a marca produzir por aqui um compacto híbrido já era comentada por fontes da indústria desde o ano passado, mas somente agora a informação foi divulgada oficialmente. Uma reportagem do site Autos Segredos revelou que esse modelo havia sido aprovado pela matriz em 2020 e que seria produzido na fábrica de Sorocaba (SP) a partir de 2024, além de garantir que será um SUV.

O texto do site garante ainda que o modelo não seria o Raize como alguns sites brasileiros afirmam, por ser muito pequeno e com construção simples, e sim um veículo baseado na plataforma TNGA-B, a mesma do Yaris e Yaris Cross europeus, para competir na faixa de mercado onde atuam hoje Chevrolet Tracker, Jeep Renegade e VW T-Cross. Existe a possibilidade até de que esse SUV siga o mesmo design do Yaris Cross.

Sobre a estratégia de eletrificação da Toyota no Brasil, o CEO da Toyota explicou na entrevista por que a marca aposta nos híbridos flex em vez de adotar o caminho dos veículos 100% elétricos, como tem feito boa parte da indústria no País.

“Há a preocupação com a recarga, questão que pode estar resolvida na Califórnia ou na cidade de Xangai. Em países como o Brasil, entretanto, ainda não é possível ter uma estrutura ampla de carregamento das baterias. Por isso a aposta no híbrido flex para o mercado brasileiro”, disse Inoue. “O Brasil adotou o etanol há 40 anos, é praticamente carbono neutro, as emissões aparecem apenas na hora de produzir o combustível. Temos que aproveitar a tecnologia que já existe no país, não adianta investir muito dinheiro para produzir baterias.”

Outro ponto de interesse da Toyota para apostar nessa tecnologia é a possibilidade de exportação para outros países. “A Índia está muito interessada nessa tecnologia, mas não tem estrutura e está tentando importar, portanto há chances para o Brasil”, afirmou Inoue na entrevista. Há um mês a Índia anunciou que adotaria a tecnologia de motores flex e que já liberou a venda de etanol nos postos de combustível do país.

Valor

Delta é preocupante, diz vice-diretor clínico do HC

Ameaça representada pela variante chega num momento em que disparam as internações por outras doenças

O risco de disseminação da variante Delta do novo coronavírus no Brasil preocupa a direção do Hospital das Clínicas de São Paulo, o maior complexo hospitalar da América Latina, num momento de queda contínua no número de casos, internações e mortes pela doença – e também num momento de afouxamento de medidas de isolamento.

 A Delta tem alta capacidade de transmissão e tem se espalhado rapidamente por países asiáticos e europeus. No entanto, há indicações de que a variante não seja tão letal. Ainda assim, põe o HC em alerta. “Estamos muito preocupados com a variante Delta. O que sabemos da experiência de outros países é que ela é mais transmissível, embora ainda não se sabia se a gravidade é maior. Temos dados que mostram que ela é tão grave quanto a Gamma [variante predominante no Brasil]”, afirma o vice-diretor clínico do HC, Edivaldo Massazo Utiyama.

Até ontem, havia cerca de cem casos da variante Delta identificados no Brasil, a maior parte, 83, no Rio de Janeiro. No Estado, já é a segunda cepa mais predominante, segundo a Secretaria de Saúde. A vacinação tem avançado no país, mas apenas pouco mais de 16% da população total foi imunizada com duas doses até agora, condição principal para que as vacinas protejam contra a Delta.

Em países como Estados Unidos e Reino Unido, com uma proporção muito maior de vacinados, as infecções dispararam e estão ocorrendo principalmente entre a população não imunizada. As internações têm aumentado, mas num grau menor.

O vice-diretor pondera que a imunização tem evoluído no Brasil; por outro lado, mais atividades têm sido liberadas pelos governos, o que fez baixar o isolamento social. Bares e restaurantes, por exemplo, têm recebido um público crescente, muitas vezes com aglomerações.

Como outros hospitais, o HC registra há semanas queda nas internações por covid19. Atualmente, recebe cerca de 70 solicitações de internações de pacientes (UTI e leitos clínicos) por dia, uma fração dos 400 pedidos diários no pico da segunda onda, entre março e abril. O hospital mantém ativo um centro de vigilância epidemiológica e um plano de contingência para responder rapidamente a um eventual aumento de demanda por leitos para covid-19.

“Conforme aumentarem o número de casos de casos vamos flexibilizando o número de leitos e recursos para atender os doentes”, observa Utiyama, lembrando também o caráter imprevisível da pandemia. “Desde o início tem sido um aprendizado diário e vamos nos adaptando conforme ganhamos conhecimento. Mas algo que pode ser válido hoje pode não ser na semana que vem. Por isso, a vigilância é tão importante”.

A ameaça potencial da variante Delta chega num momento delicado para o HC: a demanda por tratamentos não covid disparou e está maior que no período pré-pandemia. Hoje, as solicitações de internação por outras doenças estão em cerca de 150 por dia, na comparação com 120 antes do novo coronavírus. Os pedidos mais frequentes estão relacionados a neoplasias (tumores malignos ou não) e doenças crônicas.

Ao longo da pandemia, parte da população não procurou tratamento e, nos momentos mais agudos, mesmo os hospitais não tinham capacidade de atendimento. “Agora, com a diminuição das internações por covid, temos a atenção dividida com os casos não covid”, diz o vice-diretor.

A grande dificuldade num eventual aumento expressivo de internações serão recursos humanos, que se tornaram mais escassos diante do grande contingente de pessoal mobilizado para tratar doentes da pandemia e de outras enfermidades. “Os hospitais em geral estão registrando essa necessidade de pessoal para atender doentes com e sem covid-19”, diz o médico.

Por isso não é o momento de abandonar máscaras e distanciamento social, afirma Utiyama, que, no entanto, evita fazer críticas à queda nos indicadores de isolamento social. “Chega um momento em que as pessoas têm necessidade de buscar sustento porque a situação não está fácil. Mas recomendamos que usem máscara, mantenham distanciamento. Ainda não dá para ser como era antes da pandemia.

Valor

Risco de nova onda aciona sinal de alerta nos mercados

Dólar dispara e vai a R$ 5,25; Ibovespa recua para 124 mil pontos

Diante de números preocupantes de casos da variante Delta do coronavírus pelo mundo e com receio de uma possível desaceleração do crescimento global, os investidores correram ontem para a proteção do dólar e diminuíram a exposição na bolsa. Resultado: a moeda americana disparou e voltou para R$ 5,25, enquanto o Ibovespa perdeu pontualmente a marca de 124 mil pontos.

Com o modo “aversão ao risco” acionado nos mercados globais, o Ibovespa fechou em queda de 1,24%, aos 124.395 pontos, menor nível desde 27 de maio quando ficou em 124.367 pontos. Em baixa desde cedo, o índice chegou a recuar para a marca de 123.317 pontos, em um movimento agravado ainda pelo forte tombo do petróleo. O giro financeiro foi de R$ 21,333 bilhões. De um total de 84 ações do índice, apenas nove terminaram em alta, enquanto uma ficou na estabilidade e 74 perderam terreno. Vale e Petrobras caíram mais de 1%, enquanto bancos também recuaram. Itaú PN perdeu 0,58% e Bradesco PN teve queda de 1,48%.

Toda essa combinação levou o mercado a colocar nos preços uma possibilidade maior de a Selic ser elevada em 0,75 ponto em agosto, e não em 1 ponto percentual, o que gerou pressão adicional sobre o câmbio. Assim, o dólar encerrou o dia negociado a R$ 5,2501, em alta de 2,63%, após ter alcançado R$ 5,2581 na máxima. O contexto para a forte desvalorização do real e da bolsa vem, em especial, do exterior, onde os agentes começam a ver o risco de desaceleração do crescimento global – embora o ritmo de expansão da atividade ainda esteja forte. Esse temor ganhou impulso com o debate sobre os rumos da covid-19 por causa do avanço da variante Delta em diversas regiões.

Mesmo no Brasil, a disseminação dessa cepa do novo coronavírus deve ser acompanhada com cuidado e pode representar um risco para a recuperação da economia, avalia a consultoria A.C. Pastore em relatório semanal divulgado ontem. Novas restrições poderiam colocar em risco a retomada do setor de serviços, que, por causa de seu peso no PIB e no emprego, determinará a velocidade e a intensidade da recuperação da atividade no ano, segundo os economistas.

O progresso da vacinação e o abrandamento do distanciamento social ao longo do terceiro e do quarto trimestres de 2021 serão determinantes para a retomada. Apesar dos riscos, a A.C. Pastore reafirma a expectativa de um crescimento de 5,2% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano no país. Profissionais de mercado afirmam que o movimento retrata uma nova correção em preços “esticados” aliada a ajustes de expectativas sobre o ritmo da economia global. Assim, a despeito do tombo dos ativos de risco, há a leitura de que não houve uma reviravolta na tendência positiva para o crescimento ou para os mercados.

“Claramente é um movimento de aversão a risco. Acredito que é medo dessa variante Delta, em um contexto de mercado esticado por recordes sucessivos”, afirma o sócio e gestor da Garde, Marcelo Giufrida. Ainda assim, ele diz que o movimento parece mais realização do que reversão de tendência no mercado. “A princípio, acho que [o tombo do mercado] pode ser uma oportunidade de adicionar risco aos poucos.”

Para Sergio Zanini, sócio da Galapagos Capital, quando a incerteza em torno da variante Delta é adicionada ao cenário em um momento no qual os níveis dos preços dos ativos estão altos, é natural que haja uma realização nos mercados globais. “Uma chacoalhada como a de hoje [ontem] em um ambiente de nível de preços alto é natural. Estamos com um mix um pouco negativo para os mercados”, diz, ressaltando que, além de o pico da retomada econômica ter passado, já se começa a discutir entre os agentes o início do processo de redução das compras de ativos pelo Federal Reserve (Fed) e por outros bancos centrais.

Todo esse quadro de cautela, “sem dúvida, influencia o mercado brasileiro pelo fluxo global. Basta ver que o estrangeiro tem diminuído posição aqui na bolsa”, afirma o gestor de ações do ASA Investments Leonardo Morales. Em julho, até dia 15, os investidores estrangeiros retiraram R$ 3,373 bilhões do mercado secundário da B3. No acumulado de 2021, o fluxo de capital externo segue positivo, embora tenha caído a R$ 44,634 bilhões. No entanto, apesar do susto com o aumento de casos de covid-19, o gestor do ASA afirma que é, prematuro cravar o fim da aposta na reflação. “Olhando a vacinação avançando por aqui da forma como temos visto, acho que o Brasil segue bem ainda favorecido pela reabertura”, acrescenta Morales.

Para os estrategistas de mercados globais do J.P. Morgan, o “trade” de reflação deve voltar a vigorar assim que os temores em relação à variante Delta diminuírem. Eles afirmam que as surpresas inflacionárias devem persistir devido aos apoios do crescimento acima do potencial e fortes fundamentos no consumo. Assim, o banco acredita que ações cíclicas, rendimentos dos títulos públicos e ações “high beta”, que se relacionam aos temas de reflação e reabertura, devem se beneficiar desse ambiente novamente.

Em relatório, os estrategistas do J.P. comentam que o nervosismo do mercado no momento em relação à variante Delta do coronavírus é alto, “mas isso pode acabar sendo uma oportunidade para ganhos com o tema da reabertura novamente”. Diante das projeções do banco de crescimento acima do potencial no segundo semestre e além, “o consumidor desempenha um papel central”.

Folha de SP

Documentos da CPI da Covid expõem papel de Guedes no atraso das vacinas

Temor fiscal em negociação com Pfizer ajudou a retardar compra de imunizante e abriu porta da Saúde para tratativas suspeitas

Documentos da CPI da Covid expõem contradições do time do ministro Paulo Guedes (Economia) sobre a elaboração da MP (medida provisória) das vacinas. Negacionismo e preocupação com risco fiscal atrasaram a compra com a Pfizer. A CPI da Covid no Senado quer saber por que um dispositivo que facilitava a aquisição de vacinas da Pfizer e da Janssen foi eliminado da MP publicada em janeiro. Uma das minutas autorizava a União a assumir riscos e custos de eventuais efeitos adversos dos imunizantes, exigência das farmacêuticas.

Em resposta à comissão, a pasta de Guedes disse que só foi chamada a se manifestar na sanção, em março. Porém documentos mostram a participação do Ministério da Economia em debates de minutas em dezembro.

Planalto e Economia se alinharam contra exigências da farmacêutica americana. A resistência abriu a porteira da Saúde para a série de negociações suspeitas na aquisição de imunizantes. O presidente Jair Bolsonaro e Guedes temiam, além de eventuais efeitos colaterais, a ameaça de judicialização. Futuras ações poderiam aumentar o passivo financeiro da União.

A decisão do governo de cortar o artigo retardou o negócio. O contrato com a Pfizer só foi assinado em 19 de março graças a uma lei de iniciativa do Congresso que permitiu repassar o ônus ao poder público. Nesse intervalo: 1) um cabo da PM negociou com a Saúde para fornecer vacina da AstraZeneca e disse ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose; 2) a pasta cogitou comprar Coronavac pelo triplo do preço; 3) um servidor relatou pressão atípica na aquisição da indiana Covaxin. Todos os três casos foram revelados pela Folha.

A Saúde ainda contratou, nesse período, dez milhões de doses da Sputnik a cerca de US$ 12 por unidade, por meio do laboratório União Química, enquanto governadores do Nordeste compraram a mesma vacina do Fundo Russo de Investimento Direto por cerca de US$ 10.

Em nota técnica à CPI, Marcilândia Araújo, coordenadora-geral de Assuntos de Saúde e Atos Normativos do Ministério da Saúde, afirma que Ministério da Economia participou das discussões das três minutas da MP da compra das vacinas Divulgação

Em despacho enviado à CPI, o secretário-executivo adjunto da pasta comandada por Guedes, Miguel Ragone de Mattos, afirmou que “a manifestação do Ministério da Economia relativa à referida medida provisória restringiu-se à fase de sanção do projeto de lei de conversão nº 1, de 2021, no sentido de não haver na matéria tratada competência afeta”.

Parecer jurídico da Saúde recomendava a avaliação do dispositivo da responsabilidade da União pelo Ministério da Economia, “eis que a matéria insere-se dentre sua área de competência”. A análise nunca foi feita.

O documento assinado por Marcilândia Araújo, coordenadora-geral de Assuntos de Saúde e Atos Normativos do Ministério da Saúde, ainda lembrou que dispositivo equivalente já existia na Lei Geral da Copa, na qual o governo assumiu responsabilidades relacionadas ao torneio e ficou autorizado a oferecer garantias e contratar seguros.

 À Folha o Ministério da Economia afirmou que não foi chamado a emitir um parecer e admitiu, embora não tenha apresentado esta resposta quando questionado pela CPI, a participação em discussões do texto da MP. A pasta afirmou ainda que não se opôs a garantias e contratação de seguros. O posicionamento entra em choque com depoimentos do ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde) e do ex-secretário-executivo Elcio Franco.

Sob o juramento de falar a verdade, eles disseram que houve impasse entre os ministérios. Franco foi além e culpou o time de Guedes. “Aquele material [artigo da responsabilidade, garantias e seguro] foi retirado do texto dela [a minuta], por falta de consenso, como foi colocado. E foi particularmente do Ministério da Economia.” O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou então que Guedes teria de ser convocado. Franco disse se referir à equipe, não ao ministro. O senador cobrou explicações da pasta.

Fontes que acompanharam os debates sobre negociações com a Pfizer relataram à Folha a resistência da Economia. O tema foi tratado por Pazuello, Guedes e Walter Braga Netto (então na Casa Civil), entre outros ministros. Em uma reunião, ainda antes da elaboração da minuta da MP, Guedes se opunha à cláusula da Pfizer. Para ele, o assunto era privado e deveria se restringir à empresa interessada na venda e a quem aceitasse receber a dose.

Apesar de ter demonstrado oposição à compra por eventuais custos futuros à União, Guedes não apresentou uma estimativa de gastos. A argumentação foi genérica, de acordo com relatos de participantes do encontro. A conversa entre os ministros não foi conclusiva. O Ministério da Economia afirmou que não comenta reuniões de Guedes com outras autoridades. Posteriormente, a supressão do artigo pegou de surpresa técnicos da Saúde que trabalharam na elaboração da MP. Eles não foram informados do porquê da mudança.

Já técnicos da Economia afirmaram que estiveram em reuniões no Planalto sobre o tema. Contudo, negaram ter participado da construção do texto. Uma fonte afirmou que a pasta chegou a iniciar discussão interna informal sobre o artigo exigido pela Pfizer, mas o debate não prosperou porque o dispositivo teria sido removido do texto antes de qualquer demanda formal.

Em dezembro, os debates foram conduzidos pela Casa Civil. Em paralelo, mais duas MPs estavam em jogo —uma, já editada, tratava da adesão ao consórcio de compra de vacinas Covax Facility e outra, de liberação de recursos.

No dia 14 de dezembro, à noite, na porta do Alvorada, veio a público a ideia do chamado termo de consentimento informado quando Bolsonaro anunciou que editaria a medida para destravar dinheiro para imunizantes. “Eu devo assinar amanhã a MP de R$ 20 bilhões para comprar vacina. Não obrigatório, vocês vão ter que assinar termo de responsabilidade para tomar”, disse Bolsonaro a apoiadores.

No dia seguinte, o presidente e o ministro Luiz Eduardo Ramos, à época na Secretaria de Governo, tiveram encontro com o deputado Geninho Zuliani (DEM-SP). O congressista era o relator da MP do Covax Facility. Naquele dia, Zuliani disse que o presidente havia pedido a inclusão do termo de consentimento no relatório porque ele e equipe estavam preocupados com a criação de passivo financeiro.

“[Vacinados] poderão até utilizar esse dispositivo [do contrato da Pfizer] para ingressar com ações contra a União, e a gente não sabe mensurar isso e o tamanho dessa judicialização que pode comprometer lá na frente um valor muito vultuoso para a União”, disse Zuliani em entrevista à rádio Jovem Pan.

Questionado sobre o argumento, Randolfe Rodrigues criticou. “É de uma burrice atroz, é de um despreparo. Seja do Bolsonaro, seja do Guedes, a única coisa que posso dizer é que é uma ignorância atroz. Do ponto de vista humanitário, é de uma insensibilidade com o drama da pandemia naquele momento. Do ponto de vista econômico, é de uma ignorância total”, afirmou o vice-presidente da CPI. Na ocasião, Zuliani desistiu da ideia do termo de consentimento —mas o governo não.

Segundo documentos em poder da CPI, também em 15 de dezembro, surgiu a primeira minuta da MP da compra das vacinas. Nela constava o dispositivo que transferiria ao vacinado o ônus por efeitos adversos. “Entendo que tal disposição é de constitucionalidade duvidosa”, escreveu Rafael Carrazzoni Mansur, coordenador-geral de Análise Jurídica de Licitações, Contratos e Instrumentos Congêneres do Ministério da Saúde.

Em 17 de dezembro, Bolsonaro publicou a MP com a liberação de recursos. O texto é assinado pelo presidente e por Guedes. No mesmo dia, veio o ataque à farmacêutica americana: “Se você virar um jacaré, é problema seu”, disse.

No dia seguinte, a Câmara aprovou a MP do Covax Facility, sem o termo de consentimento, que também desapareceu em 23 de dezembro da minuta do texto da compra das vacinas, dando lugar ao artigo da responsabilidade da União. Essa MP foi então publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) no dia 6 de janeiro, sem termo de consentimento, sem acatar a exigência da Pfizer e sem a assinatura de Guedes.

Procurado, o Ministério da Saúde disse que o tema era da Casa Civil, que, por meio da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), afirmou que “todos os esclarecimentos solicitados pela CPI já foram devidamente encaminhados pelas pastas demandadas”.

APÓS NEGAR, ECONOMIA DIZ TER ATUADO EM MP DAS VACINAS

Depois de afirmar à CPI da Covid que não atuou na formulação da MP da vacina, o Ministério da Economia disse à Folha que participou de reuniões na fase final de elaboração do texto. Em resposta a requerimento da CPI, a pasta se limitou a dizer que apenas se manifestou no momento de sanção da medida, ressaltando que não encontrou documentação referente à formulação do projeto.

Após ofícios apresentados por outros órgãos contradizerem a alegação, a Folha enviou uma série de questionamentos à pasta, que reconheceu ter participado de agendas sobre a MP no Palácio do Planalto. “O Ministério da Economia participou de reuniões na fase final de elaboração do texto. Não é incomum áreas técnicas do Ministério da Economia serem chamadas a reuniões, mesmo que não definida ou confirmada a competência desta pasta para a assinatura de propostas”, afirmou.

Em nota, a pasta disse que participa de todas as reuniões convocadas pelo Palácio do Planalto no intuito de estar disponível a contribuir caso o assunto em questão necessite, mas não se posiciona em matéria que não está sob sua competência. O órgão ressaltou que não recebeu solicitação formal para elaborar pareceres sobre o assunto, “motivo pelo qual não foram proferidos”. A Casa Civil não respondeu por que não fez o pedido formal.

A pasta disse que a MP das vacinas era de atribuição setorial do Ministério da Saúde, não afeta à Economia e, por essa razão, não fez análise técnica ou estimativa de impacto fiscal sobre a proposta. Versão preliminar do texto trazia a assinatura do Ministério da Economia entre os órgãos responsáveis por sua edição. Em relação a esse ponto, o órgão afirma que não deu aval para a inclusão.

“Durante a construção de medidas provisórias pode haver sugestão de assinatura por várias pastas, até que se defina quais delas estão efetivamente ligadas ao assunto. A inclusão da assinatura do Ministério da Economia em qualquer minuta elaborada não contou com a anuência do Ministério da Economia, pois se trata de questão setorial do Ministério da Saúde”, disse.

Sobre os debates, a pasta afirma que efetivamente houve participação de seus servidores em reuniões de caráter técnico. “No caso específico das reuniões em questão, não houve por parte da SOF (Secretaria de Orçamento Federal), nem do secretário-executivo adjunto, sugestão de inclusão ou exclusão do artigo 5º da Medida Provisória. As opiniões eventualmente emitidas pelos técnicos da secretaria presentes nas reuniões citadas se referiram apenas às necessidades de estimativas de impacto orçamentário, conforme exigido pela legislação vigente, no caso de eventual responsabilização da União”, disse.

Especificamente em relação ao artigo que previa a responsabilização da União por eventuais efeitos adversos, o ministério informou que fez “apenas discussão de questões relacionadas ao tema e ao texto da proposta, sem fechamento de questão”. “O Ministério da Economia não se posicionou contrariamente, tendo sido apenas discutidas nas reuniões questões relacionadas ao tema e ao texto da proposta”, afirmou. Segundo a pasta, mesmo não sendo coautor da MP, Guedes determinou que as equipes técnicas deveriam colaborar, se demandadas, mas não deu orientação para que se posicionassem contrariamente ao artigo.

Folha de SP

Bolsonaro admite derrota do voto impresso na Câmara e cogita não disputar reeleição em 2022

Presidente reconhece pela 1ª vez possível revés em discussão de PEC no Legislativo após semana de falas golpistas

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (19) acreditar que a PEC do voto impresso não será aprovada pela Câmara e disse cogitar não participar das eleições do ano que vem se mantido o sistema atual de urnas eletrônicas.

As falas ocorrem uma semana após escalada golpista nas declarações do mandatário, que também indicou em ocasiões anteriores que pretende disputar um segundo mandato. “Eu não acredito mais que passe na Câmara o voto impresso, tá? A gente faz o possível. Vamos ver como é que fica aí”, disse Bolsonaro na noite desta segunda, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. A declaração foi transmitida por um site bolsonarista.

Bolsonaro defende a adoção de um sistema de voto impresso nas eleições de 2022, sob o argumento de que as urnas eletrônicas seriam passíveis de fraude. Ele nunca apresentou provas para embasar a acusação.​ A bandeira levantada pelo chefe do Executivo é rechaçada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e por diversos líderes partidários. De acordo com críticos, o discurso bolsonarista de que as urnas não seriam seguras pode abrir brecha para que Bolsonaro conteste o resultado das eleições, caso não seja reeleito.

Tramita na Câmara dos Deputados uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que estabelece a impressão em papel de comprovante do voto dado na urna eletrônica. O texto atualmente enfrenta forte resistência numa comissão especial na Câmara. Relator da PEC, o deputado bolsonarista Filipe Barros (PSL-PR) pediu mais tempo para reformular seu parecer e, supostamente, contemplar sugestões de deputados contrários a seu relatório.

Mesmo que avance nessa comissão, para aprovar uma PEC são necessários ao menos 308 votos na Câmara e 49 no Senado, em votação em dois turnos. Para valer para as eleições de 2022, a proposta teria que ser promulgada até o início de outubro.Ou seja, as chances de a proposta prosperar para o próximo pleito eram consideradas remotas mesmo antes da fala de Bolsonaro admitindo a provável derrota.

Mais cedo nesta segunda, Bolsonaro cogitou que pode não participar das eleições do ano que vem. “Eu entrego a faixa para qualquer um, se eu disputar a eleição, né? Se eu disputar, eu entrego a faixa para qualquer um. Uma eleição limpa”, disse Bolsonaro. “Agora, participar de uma eleição com essa urna eletrônica… Alguns falam: ‘Ah, o Bolsonaro foi reeleito tantas vezes com o voto eletrônico’.”

O presidente também voltou à carga com novas acusações sem provas sobre a urna eletrônica. Ele declarou que a ausência da modalidade do voto impresso —chamado por ele de eleição auditável— configuraria uma fraude (as urnas eletrônicos já são auditáveis).

“As mesmas pessoas que tiraram o [ex-presidente] Lula da cadeia e [o] tornaram elegível vão contar os votos dentro do TSE de forma secreta. As mesmas pessoas”, disse Bolsonaro a apoiadores. “O pessoal diz que eu estou ofendendo o ministro [e presidente do TSE, Luís Roberto] Barroso. Não estou ofendendo, estou mostrando a realidade.”

Pesquisas de opinião indicam favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022, enquanto apontam piora na popularidade de Bolsonaro, que se vê ainda pressionado pela CPI da Covid no Senado e por protestos de rua contra seu governo. Nas últimas semanas, o presidente da República disparou ameaças contra o processo eleitoral brasileiro e insultou Barroso, a quem chamou de imbecil e idiota.

Em 8 de julho, declarou: “Eleições no ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”. No dia seguinte, Bolsonaro também sugeriu que só passaria a faixa presidencial para um sucessor no sistema do voto impresso. “Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma [atual], corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, disse.

Dias depois, após reunião com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, Bolsonaro baixou o tom, contemporizou e tentou justificar sua ameaça. “O não tem eleição é porque vai ser algo fraudado, eleição existe quando as coisas são sérias”, disse.

Apesar de Bolsonaro ter sugerido nesta segunda que pode não disputar o pleito de 2022, ele mesmo já deu declarações indicando que vai se apresentar. Ainda em 2019, ele fazia manifestações nesse sentido. “Meu muito obrigado a quem votou e a quem não votou em mim também. Lá na frente todos votarão, tenho certeza disso”, disse Bolsonaro em 20 de junho de 2019, em Eldorado (SP).

Mais recentemente, Bolsonaro também fez falas sobre a intenção de concorrer de novo à Presidência. Em 7 de julho, afirmou que pode não aceitar o resultado. “Eles vão arranjar problemas para o ano que vem. Se este método continuar aí, sem, inclusive, a contagem pública, eles vão ter problemas. Porque algum lado pode não aceitar o resultado. Este algum lado, obviamente, é o nosso lado, pode não aceitar o resultado”, disse em entrevista à rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul.​

Valor

Bolsonaro sinaliza com veto a fundo eleitoral de R$ 5,7bi

Presidente disse que valor é ‘astronômico’ e poderia ter outro uso

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que não sancionará o fundo eleitoral que passou de R$ 1,8 bilhão a R$ 5,7 bilhões na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada na semana passada pelo Congresso. Em seguida, foi menos taxativo, dizendo que “a tendência” é vetar o novo Fundão. Em entrevista à TV Brasil, Bolsonaro classificou o valor como “astronômico” e afirmou que o dinheiro poderia ser melhor aplicado em obras dos ministérios da Infraestrutura ou do Desenvolvimento Regional.

A indicação de veto ocorre em um momento de baixa popularidade do presidente, que vem sofrendo pressões nas redes sociais para barrar o fundo bilionário. “O valor é astronômico. Mais R$ 6 bilhões para se fazer campanha eleitoral. Imagina na mão do ministro Tarcísio [de Freitas, da Infraestrutura] o que poderia ser feito com esse dinheiro”, afirmou.

Bolsonaro disse que, com essa verba, seria possível concluir o asfaltamento da rodovia que liga Porto Velho a Manaus, “um anseio da população do Amazonas”. “Eu até sugeri isso aí. Nós poderíamos recapear uma parte considerável da malha rodoviária do Brasil, com esse dinheiro na mão do Tarcísio.”

Ainda de acordo com o presidente, “se esse recurso vai na mão do ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional”, será possível concluir as obras de água para o Nordeste. “Então, é uma cifra enorme que no meu entender está sendo desperdiçada, caso seja sancionada. Posso dizer a você que não será sancionada”, afirmou. “Afinal de contas, eu tenho que conviver em harmonia com o Legislativo. E nem tudo o que eu apresento ao Legislativo é aprovado. E nem tudo o que o Legislativo aprova, vindo deles, eu tenho obrigação de aceitar do lado de cá. Mas a tendência nossa é não sancionar isso daí em respeito ao trabalhador, ao contribuinte brasileiro.”

Horas antes, o vice-presidente Hamilton Mourão havia dito que o fundo aprovado pelo Congresso está “exagerado”. E, também citando a obras, comentou que, se fosse ele o presidente, vetaria esse dispositivo da LDO. “Eu acho que está exagerado. Está um valor exagerado. […]. Aí você tem uma gordura de uns R$ 3 bilhões que poderiam ser melhor empregados”, disse Mourão. “Hoje você usa muito a rede social. Então, o modelo de propaganda eleitoral, de você se fazer conhecido perante a população mudou. E também você busca financiamento por meio do ‘crowdfunding’. Quem vai apoiar, não está proibido o financiamento privado, é que ele tem valores limites.”

 Provocado a dizer sua posição, Mourão disse: “Eu vetaria”. O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteado ontem relator da ação impetrada por parlamentares para anular a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e barrar o aumento bilionário no fundo eleitoral.

O pedido de liminar, contudo, será analisado pela ministra Rosa Weber, que exerce interinamente a presidência do Supremo na segunda metade do recesso de julho. Como o relator original está em férias, ela é a responsável pelas decisões mais urgentes durante este período.

Uma eventual liminar poderia aliviar a pressão que o presidente Jair Bolsonaro vem sofrendo para vetar o dispositivo. A aprovação contou com votos da maior parte da base de apoio do governo, como o do próprio filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O mandado de segurança é assinado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e pelos deputados Adriana Ventura (Novo-SP), Daniel Coelho (Cidadania-PE), Felipe Rigoni (PSB-ES), Tabata Amaral (Sem Partido-SP), Tiago Mitraud (Novo-MG) e Vinicius Poit (Novo-SP).

Segundo eles, o massivo reajuste no fundão foi inserido na votação em desacordo com a lei, pois não atendeu “a um prazo razoável de deliberação quanto a uma mudança tão impactante”. Além disso, alegam que “as minorias parlamentares não foram ouvidas”.

O Globo

PSDB pode abrir mão de candidatura à presidência em nome de unidade do centro, diz Bruno Araújo

Presidente do PSDB disse que tucanos estão abertos a negociar com outro candidato; Para Araújo, ainda não há condições políticas no país para um impeachment

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, disse em entrevista ao GLOBO que o PSDB ainda pode apoiar outro candidato à presidência da República em nome da unidade do centro. Questionado se sua sigla pode abrir mão da candidatura própria, afirmou que “ninguém pode querer apoio sem ter disposição de apoiar” e que os tucanos estão abertos a negociar “até o último momento das convenções”.

Por outro lado, Araújo aposta que as prévias, marcadas para novembro, podem ajudar a impulsionar o PSDB na disputa por uma terceira via contra a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Mesmo com a alta da reprovação de Bolsonaro em meio à CPI da Covid e denúncias de corrupção, Araújo afirma que ainda não vê condições políticas no país para um impeachment. Para Araújo, faltam a perda de apoio no Congresso e manifestações amplas nas ruas com mais diversidade política e ideológica.

As pesquisas mostram Lula e Bolsonaro em vantagem ampla. A construção de uma candidatura de centro alternativa a polarização é ainda viável?

As pesquisas envolvem um grau de complexidade maior. Elas mostram que há uma maior parte do eleitorado brasileiro que prefere não votar nem em um, nem em outro. A maior parte dos candidatos de centro nunca foi às urnas numa eleição nacional. O ex-presidente Lula termina tendo ganhos indiretos com o crescente aumento da rejeição do presidente Bolsonaro. E nessa construção que temos um conjunto de oito ou nove partidos que dialogam sobre alternativas. E o PSDB tomou uma decisão histórica este ano. Vai promover o maior e mais democrático processo de escolha de um candidato a presidente nas prévias, o que dará legitimidade a esse candidato.

O foco do centro deve ser buscar a vaga do Lula ou do Bolsonaro num eventual segundo turno?

Aparentemente, a maior viabilidade está em ocupar a vaga que está hoje com o presidente Bolsonaro. Se isso acontecer, acho que esse candidato tende a ser o próximo presidente.

Existe alguma chance de o PSDB, apesar das prévias, abrir mão da candidatura a presidente?

Ninguém pode querer um apoio sem ter disposição de apoiar. O PSDB está aberto até o último momento nas convenções de construir essa unidade no campo distante da polarização entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula.

O governador de São Paulo João Doria enfrenta rejeição interna no PSDB. Como é possível reverter esse cenário, caso ele vença as prévias?

Acho que a primeira etapa é a disputa interna. O fato é que quem sair vencedor dessas prévias nacionais, num processo amplo, rodando o país, vai sair com um importante ativo e força política para construir um processo de negociação com esse campo das forças políticas.

O governador Eduardo Leite revelou recentemente que é homossexual. Um candidato gay pode enfrentar resistência?

Primeiro, o governador Eduardo Leite ganhou ainda mais o nosso respeito. Acho que o atributo de uma relação franca com a sociedade entrega credibilidade e confiança. Acho que o Brasil tem maturidade de compreender que o mais importante é entender aquela pessoa que passa segurança para fazer as entregas que a sociedade precisa, para gerar empregos e reduzir as desigualdades do país.

O senhor defendeu a pré-candidatura do senador Tasso Jereissati nas prévias. No entanto, ele não tem feito agendas. A pré-candidatura dele é pra valer?

Cada um tem um estilo. Tenho notícias de que o senador Tasso está tendo conversas constantes dentro do partido. Tasso reúne um conceito e um ativo importante no PSDB e à medida que o tempo passar a gente vai ter clareza de quem vai se consolidar como pré-candidato.

Quando chegar a data das prévias, pode haver um rearranjo, com candidatos abrindo mão?

Eu acho que é possível e pode até haver até o surgimento de mais nomes. Tudo é possível nesse espaço que nós temos até as prévias.

O senhor criticou o almoço do Fernando Henrique com o Lula que aconteceu em maio. Existe algum compromisso do ex-presidente de não repetir movimentos nesse sentido?

Claro que do ponto de vista político não ajuda um candidato do PSDB. Mas Fernando Henrique Cardoso é um ativo da história brasileira, é um sociólogo, um intelectual e que compreendeu como poucos respeitar e preservar a instituição da Presidência e de um ex-presidente da República. Ninguém no PSDB pode, nem tem o direito, de tutelar a vida política, pessoal e ideológica, intelectual, acadêmica de Fernando Henrique Cardoso. Ele sempre terá ao nosso respeito. Essa posição do presidente Fernando Henrique é de cunho absolutamente pessoal. Ela não representa o partido, mas representa algo com autoridade que a vida lhe deu.

O ex-presidente Fernando Henrique declarou que num segundo turno votaria no Lula contra o Bolsonaro. O PSDB apoiaria Lula nessa circunstância?

O PSDB tem a convicção de que nós vamos fazer o processo de escolha mais democrático da história de um partido na América Latina, que esse candidato vai reunir condições políticas e de viabilidade para construir uma aliança no campo fora dos polos que estão estabelecidos hoje, vai ao segundo turno e vai vencer a eleição para presidência da República.

O PSDB apoiou o impeachment de Dilma Roussef. Não pode ser cobrado como incoerente se não apoiar o impedimento de Bolsonaro?

Impeachment envolve falta de apoio no Congresso, que o presidente ainda tem. Envolve povo na rua, o que é uma limitação por conta da pandemia. Quando digo povo, falo em diversidade política ideológica. Não é só um lado, uma posição. Claro que o presidente flerta de forma rotineira com desrespeito às relações com as instituições de Estado. E estamos vigilantes a isso. Mas os ingredientes necessários para formar essa receita ainda não estão postos à mesa.

As ameaças à democracia de Bolsonaro são mais graves que as pedaladas da Dilma?

No caso da Dilma, o PSDB identificou todos os ingredientes que eu disse: crime de responsabilidade, falta de apoio no Congresso e povo na rua. Impeachment não se inventa. Mas uma coisa é tentativa. Tentativa tem um grau de seriedade e tem a devida reação. Outra coisa são fatos concretos e sem os elementos que eu disse anteriormente. O PSDB não só discorda e hoje faz oposição a tudo isso. Mas institucionalmente, o PSDB não participou de atos por impeachment. Pode ser em algum momento que haja uma compreensão nesse sentido. Mas não há até aqui.

Qual a posição do PSDB sobre o voto impresso?

Em 2014, o PSDB foi ao Tribunal Superior Eleitoral e perguntou se podia fazer uma auditoria. Foi respondido sim. O PSDB, na época, pagou para uma empresa, que fez uma auditoria e sugeriu melhorias no processo de segurança. Essas melhorias foram adotadas. Então, objetivamente, o PSDB foi atendido. Em segundo lugar, todo processo de segurança é importante e deve ser discutido. Agora, não faz bem à democracia iniciar a discussão com a afirmação de que as eleições anteriores foram roubadas. Então, a premissa da discussão está equivocada. O voto impresso não deve vir por causa das afirmações do presidente da República de que as eleições foram fraudadas. Tem que começar com um reconhecimento de que o processo de eleição, inclusive que nós perdemos, foram limpos.

O senhor tem feito esforços para evitar a saída do Geraldo Alckmin do PSDB?

Há sólida relação entre a instituição partidária e a liderança do governador Geraldo Alckmin. A nossa aposta é que essa relação seja maior do que toda e qualquer divergência pontual que o governador possa ter nesse momento em São Paulo e que isso possa caminhar com ele até o último momento da sua vida pública.