Clipping 26 de agosto de 2021
Manchetes:
Brasil vai adotar dose extra contra Covid em setembro (Folha)
Inflação afeta todas as faixas de renda e chega a dois dígitos em quatro capitais (Estadão)
Pacheco rejeita impeachment de Moraes pedido por Bolsonaro (O Globo)
Perda global com cibercrimes deve ser de US$ 6 tri em 2021 (Valor)
Automotive Business
Brasil aumenta perdas de produção por falta de chips para 279 mil veículos
Estimativa da consultoria AFS soma paralisações e reduções do ritmo já anunciadas em 15 fábricas
A crise da falta de semicondutores que afeta fábricas de veículos no mundo todo dá mostras que, antes de melhorar, vai piorar, inclusive no Brasil. Segundo as mais recentes estimativas da Automotive Forecast Solutions (AFS), passados 45 dias desde as projeções da consultoria norte-americana publicadas em Automotive Business em julho, até 20 de agosto o volume perdido de produção aumentou em 59 mil unidades, de 220 mil para 279 mil automóveis e comerciais leves que deixam de ser produzidos por nove fabricantes desde o início do problema, no fim de fevereiro, incluindo o impacto das paralisações já anunciadas que se estendem até setembro.
Somando todas as paralisações, a AFS contabiliza o equivalente 344 dias de interrupções das linhas. O número de fábricas que tiveram a produção afetada no País pela escassez de chips passou de 14 para 15, com o anúncio da Toyota de parar por nove dias a planta de Sorocaba (SP). A montadora era das poucas que ainda não tinha paralisado a linha brasileira por falta de eletrônicos. A parada deverá custar 3,8 mil carros à fabricante, segundo calcula a AFS.
A General Motors segue sendo a fabricante que mais perdeu produção no Brasil: 172 mil unidades desde março até o horizonte visível de setembro. A maior perda, 115 mil carros, foi em Gravataí (RS) que na semana passada voltou a produzir a linha Onix hatch e sedã após cinco meses e meio de paralisação total, enquanto a fábrica de São Caetano do Sul (SP) parou em 21 de junho e está prevista para retornar esta semana, na quinta-feira, 26 de agosto, e a planta de São José dos Campos (SP) passa por reduções de turno neste e no próximo mês.
A Volkswagen, que desde junho atravessa idas e vindas e reduções da produção nas fábricas paulistas em São Bernardo do Campo e Taubaté, além do corte de um turno em São José dos Pinhais (PR), é a segunda fabricante com maior número de carros que deixaram de ser produzidos: 39,3 mil, considerando as paradas já anunciadas até agora para setembro.
A Renault subiu à terceira posição das perdas de produção com 33,8 mil carros que deixam de sair da fábrica de São José dos Pinhais (PR) em 36 dias de paralisação até 3 de setembro, quando está prevista retomada das atividades. A montadora concedeu férias coletivas em agosto e já adiou três vezes o retorno ao trabalho por causa da falta de eletrônicos.
Entre os grandes fabricantes, a Stellantis (e suas marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën) conseguiu contornar melhor o problema da falta de chips. A fabricante precisou reduzir o ritmo em todas as suas fábricas no Brasil (Betim/MG, Goiana/PE e Porto Real/RJ), reduziu um turno entre abril e agosto, mas desviou de paralisações totais e até agora perdeu a produção de 15,8 mil veículos – a quarta maior perda, mas bastante abaixo dos concorrentes, o que até agora fez a montadora liderar as vendas do mercado brasileiro com facilidade nos últimos meses.
PERDA DE QUASE 8 MILHÕES DE VEÍCULOS NO MUNDO
De acordo com o mais recente levantamento da AFS, a perda de produção no mundo todo por falta de semicondutores já esbarra nos 8 milhões de veículos leves, com números contabilizados até 20 de agosto e considerando as paradas já anunciadas nos próximos meses.
Por região, as maiores perdas são nos países da Ásia-Pacífico, que deixaram de produzir 2,97 milhões de carros por causa da escassez de chips, com China à frente, perdendo 1,66 milhão, e Japão logo atrás com 770 mil. Na América do Norte a AFS calcula perdas 2,4 milhões de unidades, 1,54 milhão nos Estados Unidos e 507 mil no México. Depois vêm 11 países da União Europeia localizados na Europa Ocidental, que juntos já perderam 1,62 milhão de automóveis, 736 mil só na Alemanha, e outros nove países do Leste Europeu ficaram sem produzir 637 mil (Turquia lidera com 201 mil).
Automotive Business
Carlos Zarlenga deixa a GM e a presidência da empresa na América do Sul
Empresa informa que executivo decidiu buscar novas oportunidades
De forma inesperada pelo mercado, Carlos Zarlenga decidiu deixar a General Motors e a presidência da empresa na América do Sul. Segundo comunicado divulgado pela GM no fim da tarde da quarta-feira, 25, o executivo quer “buscar outras oportunidades”.
O sucessor de Zarlenga não foi anunciado e não há previsão de quando isso será feito. O diretor financeiro da GM América do Sul, Roberto Martin, assume o comando da empresa na região interinamente.
Economista formado pela Universidade de Belgrano em Buenos Aires, Argentina, Zarlenga atravessou alguns dos momentos mais turbulentos da história da GM no Brasil. Apenas três anos após assumir a presidência da operação brasileira, logo no início de 2019, sob forte pressão da matriz nos Estados Unidos, anunciou que a empresa não poderia mais acumular prejuízos na região e que fábricas, empregos e investimentos estavam sob risco.
Conseguiu obter incentivos tributários do governo paulista e converteu a crise em um programa de investimento de R$ 10 bilhões até 2024, e levou adiante a renovação dos principais produtos Chevrolet vendidos na região, incluindo a linha Onix e o primeiro SUV da marca produzido em São Caetano do Sul (SP), o Tracker.
Com o início da pandemia de coronavírus a partir de março de 2020, o novo plano foi para a gaveta enquanto a GM tentava superar a crise, ainda mantendo a liderança de vendas no mercado brasileiro até o fim do ano passado.
Após anunciar a retomada dos investimentos no início de 2021, um novo golpe aconteceu com a falta generalizada de semicondutores, que provocou a paralisação das linhas de produção no Brasil (por cinco meses e meio no caso de Gravataí/RS) e a perda do primeiro lugar. Sob condições tão adversas, será difícil para qualquer executivo recolocar o balanço da companhia no azul como exigia a matriz há dois anos.
No comunicado que informa a saída de Zarlenga, o presidente da GM Internacional, Steve Kiefer, agradece a contribuição do executivo para a empresa. “Carlos tem sido uma força motriz para mudanças, não apenas em nossos negócios, mas na indústria automotiva na América do Sul. Sob sua liderança, a GM está realizando um investimento histórico para fornecer veículos globais e dar seguimento aos mais de 100 anos de sucesso da Chevrolet na região”, afirmou em nota.
O argentino Carlos Zarlenga, 47 anos, está na GM desde 2012, quando foi nomeado diretor financeiro da empresa na Coréia do Sul, e no ano seguinte assumiu o posto de chefe financeiro (CFO) na América do Sul. Em 2016 tornou-se presidente da operação no Brasil, posição que a partir de 2017 foi estendida para a presidência Mercosul e desde 2019 para nove países sul-americanos (Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai e Uruguai).
Antes de ingressar na GM, Zarlenga trabalhou por mais de 15 anos na General Electric na Europa, Ásia e Estados Unidos, onde ocupou cargos da área financeira.
Valor
Endividamento das famílias é recorde, aponta CNC
Para entidade, avanço inflacionário diminuiu poder de compra
A parcela de famílias endividadas na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), bateu recorde pelo segundo mês consecutivo em agosto. Na pesquisa, a fatia de famílias nessa situação neste mês foi de 72,9%, acima de julho (71,4%), e de agosto do ano passado (67,5%), informou ontem a confederação.
O recente avanço inflacionário diminuiu poder de compra das famílias, que agora recorrem cada vez mais ao crédito para fechar orçamento, alertou Izis Ferreira, economista da CNC. Ela não descarta que a Peic, iniciada em janeiro de 2010, continue a mostrar recordes em endividados.
Esse não foi o único recorde na pesquisa. Entre os endividados, 83,6% citaram em agosto o cartão de crédito como modalidade de dívida. Além de superior a julho (82,7%) também foi proporção recorde para essa resposta na Peic, informou ela.
No caso das famílias com ganhos mensais inferiores a dez salários mínimos, a parcela é ainda maior, de 84,3%, também recorde para essa faixa de renda. No caso dos mais pobres, a especialista notou que as famílias de menor renda são as que mais sofrem com inflação em alta e contam com poucas opções para pagar contas. Por isso, recorrem ao cartão de crédito, notou ela.
“A inflação piorou muito [em agosto]”, comentou, observando que as altas de preço abrangem desde energia até alimentos. “Esse choque inflacionário, que parecia ser rápido, agora se mostra mais persistente e difundido”, notou ela.
Esse cenário ocorre em contexto em que o mercado de trabalho não apresentou, até o momento, sinais de recuperação robusta, pontuou ela. Como ritmo de abertura de vagas é menor do que demanda por trabalho, o desemprego cresce, e não há muitas fontes de renda originadas do trabalho, que pudessem fazer com que as famílias não recorressem tanto ao crédito para fechar orçamento, explicou ela.
Ao mesmo tempo, as vagas que surgem não têm impacto expressivo na melhora da renda do trabalhador, acrescentou. “Desde o início de 2020, a massa de rendimento vem caindo no Brasil” afirmou ela. “O mercado de trabalho ainda está fragilizado”, avaliou.
Para a especialista, o cenário atual de inflação alta, e sem retomada expressiva no emprego, deve estimular novas altas de endividamento. Ao mesmo tempo, o cenário sanitário da pandemia por covid-19, com novas variantes mais transmissíveis como a delta, confere incertezas em relação a novas medidas de restrição de circulação social – que podem afetar atividades intensivas em emprego, como comércio e serviços. Por isso, ela não descarta que a Peic continue a mostrar alta na parcela de famílias endividadas.
“O crescimento dos juros pode refrear endividamento”, disse, citando a recente trajetória de alta na taxa básica de juros (Selic), pelo Banco Central (BC) que, na prática, deixa o crédito mais caro e, por consequência, menos atrativo. “Mas o fato é que, enquanto a gente não tiver mercado de trabalho se recuperando, de forma mais consistente, e inflação ceder, dificilmente teremos queda nessa proporção de famílias endividadas”, afirmou. “Não enxergamos isso [recuo na parcela] no curto prazo”, completou
Estadão
Inflação se espalha por mais produtos e já castiga famílias de todas as faixas de renda
Rico ou pobre, o brasileiro está hoje cercado de inflação por todos os lados. A alta de preços dos alimentos básicos, que vinha castigando as famílias de menor renda desde o ano passado, continua mostrando a sua cara ao longo de 2021. O preço da carne, por exemplo, passa de R$ 40 o quilo e subiu o equivalente quatro vezes à inflação geral, que acumula alta de 8,99% em 12 meses até julho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O óleo de soja, o principal vilão do custo de vida, já beira R$ 8 a garrafa, e aumentou cerca de nove vezes a inflação geral no mesmo período.
A tendência é que o aumento de preços continue. Dados do IPCA-15 de agosto, considerado uma prévia da inflação oficial do mês, divulgados nesta quarta-feira, 25, mostram que a alta acumulada em 12 meses já chega a 9,30%. Em agosto, o índice avançou 0,89%, a maior alta para o mês desde 2002, quando subiu 1%.
A diferença da inflação deste ano é que ela recebeu um componente altamente explosivo que fez a alta de preços se alastrar por toda a economia. Produtos que são considerados preços de referência, isto é, entram na formação de outros preços, como diesel, energia elétrica, por exemplo, dispararam e contaminaram os demais.
Deste grupo, o preço mais visível para o brasileiro de maior renda aparece na bomba de gasolina, com o litro vendido por até R$7. Para os mais pobres, o preço de referência é o gás de cozinha, cujo valor do botijão beira hoje R$ 100 e acumula alta de cerca de 30% em 12 meses.
“A inflação deste ano está mais ‘democrática’: atinge ricos e pobres”, resume o coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. Ele explica que enquanto carestia batia nos alimentos, os mais pobres eram os mais afetados, porque consomem mais esses itens. Enquanto isso, as famílias mais abastadas não tinham a percepção, na mesma intensidade, de que a inflação tinha disparado.
Impedido de gastar com serviços, de circular de carro e de viajar de avião por causa da pandemia, o estrato social de maior renda viu muitos preços de produtos e serviços que consumia estacionados ou até em queda por causa do isolamento social. Com isso, os ricos conseguiram poupar.
Mas o que se vê neste ano é que a pressão de preços se espalhou. A desvalorização do câmbio, que turbinou as cotações em reais do petróleo e dos combustíveis, e a crise hídrica, que afetou a geração de energia e as tarifas e reduziu a produção agrícola, fizeram a inflação tomar outro rumo.
“Agora a inflação é percebida por todos”, diz Braz. A alta do preço do arroz, prato básico que pesa no bolso do brasileiro comum, foi 39,69% em 12 meses até julho. Esse aumento praticamente se equipara ao avanço do preço da gasolina no mesmo período, de 39,65%, e é consumida pela população de maior renda..
Até produtos que foram considerados símbolos do Plano Real, responsável pela estabilização da economia brasileira a partir de julho de 1994, após um longo período de hiperinflação, entraram para a vala comum da alta de preços.
Vinte sete anos atrás, o quilo do frango inteiro custava R$ 1. Hoje sai por quase R$ 10 e já subiu 20,82% nos últimos 12 meses até julho. O iogurte, outro ícone, no passado, da estabilidade econômica e de alimento acessível aos mais pobres por conta da queda da inflação, hoje está no polo oposto. O preço do produto subiu 17,84% nos últimos 12 meses até julho, praticamente o dobro da inflação geral no período.
Valor
Bolsa Família não desestimula busca por vaga, diz Banco Mundial
Instituição, porém, propõe ajustes na chamada regra de permanência do programa
O Bolsa Família não representa um desestímulo à procura de emprego pelos seus beneficiários e pode, inclusive, passar por melhorias na regra que permite às famílias que tiveram elevação de renda continuarem por um período no programa. A avaliação é do Banco Mundial, em nota técnica divulgada ontem. A instituição, porém, propõe alguns ajustes na chamada regra de permanência, mecanismo que já existe, mas que, na visão do organismo multilateral, pode ter um alcance maior sem causar danos ao mercado de trabalho.
Segundo o Banco Mundial, mesmo com a regra de permanência, o Bolsa Família mantém um grande incentivo para as pessoas procurarem trabalhos com remuneração melhor. “O benefício do BF representa, em média, apenas um quarto da renda familiar total das famílias beneficiárias; considerando o seu baixo benefício, desde o início o programa não pretendia substituir, mas sim complementar outras fontes de renda para os pobres. Novos perfis de adultos participantes do BF em pesquisas domiciliares indicam que 70% dos adultos aptos para o trabalho no Bolsa Família já estão na força de trabalho, mas sua renda é insuficiente para tirar sua família da pobreza”, explica o documento.
A diretora da Secretaria Nacional de Renda e Cidadania do Ministério da Cidadania, Caroline Paranayba, destacou que o estudo reforça que famílias beneficiárias do programa social estão no mercado de trabalho e quebra um mito sobre isso. Ela ressalta, porém, que a maioria das pessoas está no mercado informal de trabalho, com renda baixa.
Hoje, a regra de permanência permite que as famílias continuem a receber parte dos benefícios por dois anos, mesmo com a renda por pessoa acima do máximo permitido – desde que inferior a meio salário mínimo mensal, atualmente R$ 550, e que o beneficiário tenha voluntariamente declarado.
A primeira sugestão do documento, que já considera em parte as propostas contidas para a nova versão do programa social, é garantir que a regra de permanência garanta o benefício variável, vinculado à manutenção das crianças na escola. “Dados de pesquisa indicam que a probabilidade de obter um emprego e a qualidade desse emprego aumentam com os níveis de educação, que as condicionalidades implicitamente promovem”, aponta o texto.
A nota técnica destaca que é preciso conscientizar as famílias sobre a regra de permanência (RP), que estaria sendo subutilizada. “Atualmente, muito mais famílias que poderiam se beneficiar com a RP acabam sendo excluídas do programa. [Recomenda-se] testar diferentes abordagens para o aumento da conscientização por meio de diversos canais de comunicação, inclusive, potencialmente, por meio de mensagens personalizadas que esclareçam para cada família o valor da renda auferida permitida pelo programa, estando em RP ou não”, diz o texto, que lembra que hoje a maior parte das exclusões do programa ocorre por cruzamento de dados, e não por declaração voluntária dos beneficiários que tiveram aumento de renda e poderiam seguir no RP.
O Banco Mundial também sugere um mecanismo automático para o uso da regra de permanência, com o governo informando a família a partir do momento que se detectou que ela teve aumento de renda. “Isto reduziria o alto número de cancelamentos devido à verificação cruzada”, disse.
Outra proposta é que a regra de permanência poderia retirar o benefício básico do Bolsa Família em caso de aposentadoria. Também sugere que se desvincule a RP do salário mínimo, atrelando-a ao valor do benefício do próprio bolsa e também às linhas de pobreza.
O banco sugere ainda que se busque melhorar a articulação da regra de permanência com uma estratégia de “inclusão econômica mais ampla, que deve abordar as restrições mais urgentes relacionadas à oferta de trabalho, empregabilidade e informações sobre oportunidades”. A ideia seria que esse grupo de pessoas tivesse prioridade para estas políticas voltadas ao mercado de trabalho
Estadão (coluna)
Governo evitar falar em racionamento não muda o fato de que País está sob risco de apagão
ADRIANA FERNANDES
A crise hídrica no Brasil é gravíssima e o governo precisa com urgência “dar a real” para a população sobre os riscos de racionamento de energia no País.
O Palácio do Planalto tem feito, no entanto, o contrário ao dar ordens para segurar a comunicação da crise para a população, seguindo o modus operandi no enfrentamento da pandemia da covid-19: o negacionismo do tamanho da encrenca. O governo atravanca a transparência necessária em um momento tão delicado para a economia, que combina alta de preços e risco de crise energética.
Há dois meses, o ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia, pediu, durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, a “colaboração” da população para economizar energia e água devido à crise hídrica.
Na época, termos como racionamento e racionalização compulsória de energia foram proibidos de serem utilizados no governo depois que o Estadão/Broadcast antecipou o texto de uma minuta de medida provisória (MP) que previa a adoção desse tipo de medida.
De lá para cá, a crise se alargou. Um novo pronunciamento do ministro Bento estava marcado para a próxima segunda-feira para dar um alerta contundente à população, mas a sua fala foi cancelada.
Bento convocou na quarta-feira, 25, entrevista para anunciar um programa de redução voluntária voltado para consumidores residenciais, que começa em 1.º de setembro. O governo vai dar descontos nas contas de luz de consumidores residenciais que economizarem energia elétrica.
Mas o alerta do ministro foi contido e – por que não dizer? – reprimido no estilo “o gato subiu no telhado”. Bento falou que as perspectivas de chuvas até o fim do período seco deste ano (setembro e outubro) “não são boas no momento” e informou que os meses de julho e agosto registraram a pior quantidade de águas que chegaram aos reservatórios em toda a série histórica. A pior, a pior, a pior. Deveria ter repetido várias vezes.
Faltou contundência para mostrar a realidade. O ministro chegou a dizer que as medidas não se tratavam de racionamento. Um medo danado de falar essa palavra proibida no vocabulário do presidente Jair Bolsonaro.
Em vez disso, Bento disse, inclusive, que o governo não trabalhava com a hipótese de racionamento. Entre os técnicos, a recomendação era outra: a necessidade de maior assertividade e transparência.
A situação é bastante crítica na região Sul, que está sendo atendida com a energia acumulada do Nordeste. As perspectivas de chuva não estão se concretizando. Mas a piora se deu em todos os reservatórios.
Já não era hora de falar para a população de forma mais dura, alertando o que vem por aí? Sem rodeios.
Camuflar a gravidade pode custar caro no enfrentamento da crise que se agrava a passos largos, justamente no pior momento de alta dos preços. Os juros mais altos puxados pelo Banco Central já vão esfriar o processo de retomada do crescimento da economia brasileira. A crise hídrica piora esse futuro, porque tem um impacto grande sobre a capacidade de expansão do Produto Interno Bruto (PIB).
O resultado desse processo é a corrosão da expectativa futura de novos investimentos, como alertou o economista Fabio Terra, da Universidade Federal do ABC, em reportagem do Estadão de domingo passado sobre os riscos que fizeram os indicadores do mercado financeiro piorarem drasticamente neste mês de agosto.
Formou-se uma “tempestade perfeita” com um conjunto de fatores negativos reunidos: inflação, juros elevados, dólar elevado, riscos fiscais em alta, crise entre os Poderes e cenário externo menos favorável com a desaceleração da China.
É evidente que o governo quer evitar adotar o racionamento porque teme os seus efeitos nas eleições de 2022. Por outro lado, a energia com geração a qualquer custo tem seu preço. Muito alto ao provocar um tarifaço dos preços de energia.
Evitar falar em racionamento não garante bons resultados para ninguém. Não muda a realidade: o Brasil enfrenta a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, com grave escassez nos reservatórios das principais usinas hidrelétricas e risco de apagão. Crise hidrelétrica sem rodeios.
Adriana Fernandes é repórter especial de economia em Brasília
Estadão
Oposição transfere ato do 7 de Setembro para Anhangabaú e encerra disputa pela Paulista
A organização da campanha nacional ‘Fora Bolsonaro’ decidiu na noite desta quarta-feira, 25, transferir o protesto contra o governo federal e o ato Grito dos Excluídos no feriado para o Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo. Com a decisão, os oposicionistas encerram uma disputa pelo uso da Avenida Paulista, onde está prevista uma manifestação no feriado favor do presidente Jair Bolsonaro e contra ministros do Supremo Tribunal Federal, inclusive com integrantes que defendem o fechamento da Corte.
“Achamos que não vale a pena continuar insistindo por fazer o ato na Paulista, porque aproxima o dia 7”, afirma o coordenador nacional da Frente Brasil Popular, Raimundo Bonfim, um dos organizadores das marchas contra Bolsonaro. “Nós precisávamos tomar uma decisão política: ou ficávamos nessa intenção de continuar lutando pela Paulista ou mudávamos de local.”
Bonfim ressaltou o histórico de protestos no Vale Anhangabaú na década de 1980 pela Diretas Já, da qual ele mesmo participou quando jovem. “O Vale tem uma simbologia muito forte da luta pela democracia”, disse.
Os organizadores agora devem marcar reuniões com a Prefeitura e órgãos de Segurança Pública para garantir a realização do ato sem risco de violência. Para o ato da Avenida Paulista, a favor de Bolsonaro, há convocação de caravanas de policiais militares e de apoiadores de várias regiões do País.
O comando do 11º Batalhão da Polícia Militar já havia indicado que a Avenida Paulista seria reservado a uma manifestação governista há dez dias, após a organização da campanha contra Bolsonaro comunicar que pretendia ocupar a avenida no mesmo dia. Na segunda-feira, 23, a posição da PM foi confirmada pelo governador João Doria (PSDB) em entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura.
Os manifestantes da oposição se irritaram após o governador dizer que os atos contra Bolsonaro se concentrariam no dia 12 de setembro. A coordenação da campanha ressaltou que o cancelamento dos atos contra Bolsonaro no dia 7 não foi cogitado, e que debate sobre o uso da Avenida Paulista não envolvia o protesto do dia 12.
“O dia nacional de mobilização está mantido (no dia 7), tínhamos impasse principalmente em São Paulo e em Brasília (em relação ao local do evento), onde os bolsonaristas estão convocando manifestação, mas nas outras cidades isso não existe e os protestos são organizados normalmente”, diz o coordenador Josué Rocha, do Movimento de Trabalhadores Sem-Teto (MTST). “A posição do Doria, desde o primeiro momento, foi de negativa da nossa possibilidade de manifestação.”
O Globo
Pacheco rejeita pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes apresentado por Bolsonaro
Presidente do Senado disse que não há ‘justa causa’ para o pleito
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), decidiu arquivar nesta quarta-feira o pedido de impeachment apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Pacheco seguiu parecer da Advocacia-Geral da Casa, que entendeu não haver motivos para iniciar o processo por ausência de “justa causa”.
“O Presidente do Senado Federal, no uso de suas atribuições regimentais e regulamentares, e em conformidade com o disposto no art. 52, inciso II, da Constituição da República, decide: rejeitar a denúncia formulada nos autos da Petição (SF) nº 20, de 2021-SGM, por JAIR BOLSONARO em desfavor do Ministro do Supremo Tribunal Federal ALEXANDRE DE MORAES por não estar presente a justa causa para o seu processamento. Publique-se. Arquive-se”, diz a decisão do parlamentar.
À imprensa, o presidente do Senado afirmou que, além do lado técnico e jurídico, “há também um lado político, de uma oportunidade dada para que possamos restabelecer as boas relações entre os Poderes”. Ele voltou a defender um novo encontro entre os chefes do Executivo, Legislativo e Judiciário, que foi desmarcado após a nova ofensiva do presidente da República contra o STF.
— Que possamos buscar constantemente esse consenso, identificar as divergências, mas que essas divergências sejam superáveis pelos mecanismos próprios que a Constituição nos fornece. E não é o caso, naturalmente, de um pedido de impeachment, que sem a adequação legal e sem a técnica jurídica própria deve ser rejeitado. E é o que foi feito por esta Presidência do Senado Federal — declarou Pacheco, em pronunciamento.
Também nesta quarta, o ministro do Supremo dson Fachin arquivou o pedido de Bolsonaro para derrubar o artigo do regimento interno da Corte que permite a abertura de investigações de ofício, ou seja, sem passar pela Procuradoria-Geral da República (PGR), como é o caso do inquérito das fake news.
Desde o início, o presidente do Senado sinalizou que não daria andamento ao pedido de impeachment feito por Bolsonaro, que, mesmo assim, insistiu na iniciativa contrariando até mesmo aliados que o aconselharam a desistir da ação, que intensificou ainda mais a crise entre os Poderes.
Na última sexta-feira, após Bolsonaro entregar o pedido ao Senado, Pacheco disse não ver fundamentos para um impeachment:
— Esse pedido, assim como outros, será analisado pela presidência do Senado. Obviamente vou estudar a peça. É meu papel ouvir a advocacia do Senado. Acho que esse encaminhamento técnico e jurídico deve ser feito e obedecido em respeito a todos as iniciativas que existem e ao direito de todo brasileiro de pedir. Mas eu terei muito critério nisso, e sinceramente não antevejo fundamentos técnicos, jurídicos, políticos para impeachment de ministro do Supremo, como também não antevejo para impeachment do presidente da República.
Há dois dias, Pacheco reforçou a posição, durante evento em São Paulo, dizendo que “nao antevia fundamentos fáticos e jurídicos para dar seguimento” ao pedido. Na ocasião, ele também defendeu que o impeachment “não pode ser banalizado, não pode ser mal usado, não pode ter um viés simplesmente político”.
A iniciativa de Bolsonaro provocou reações no Senado. Em resposta, o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) disse a interlocutores que, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, manteria suspensa a indicação de André Mendonça ao STF. Governistas trabalham para vencer a resistência. A ofensiva se intensificou após a aprovação da recondução de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República, ontem.
Bolsonaro não se manifestou sobre o arquivamento, mas replicou nas redes sociais um vídeo de abril em que insinua que o STF seria um “câncer”.
Estadão
Centrão se divide e ala já admite derrota de Bolsonaro em 2022
Aliado de Jair Bolsonaro no Congresso, o Centrão se dividiu para a disputa de 2022 e uma importante ala do bloco avalia que a chance de o presidente conquistar o segundo mandato está cada vez mais distante. Em conversas reservadas, o núcleo do Progressistas, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem traçado esse cenário e aposta que a eleição para o Palácio do Planalto pode até mesmo ser decidida no primeiro turno, se o presidente não mudar radicalmente o comportamento e a população não sentir no bolso uma melhoria econômica.
O diagnóstico marca uma mudança significativa na avaliação de políticos próximos do Planalto. Até então, o palpite era de que Bolsonaro voltaria a ser competitivo novamente no ano que vem com crescimento econômico e com um novo Bolsa Família, agora batizado de Auxílio Brasil.
Apoiadores do presidente também argumentavam que, com todo mundo vacinado, ninguém mais se lembraria do desastre na gestão da pandemia de covid-19. O que mudou? Com inflação, juros e desemprego em alta, a população sente os efeitos da deterioração econômica e do aumento do preço dos alimentos, do gás de cozinha, da conta de luz e da gasolina. Não se trata de uma situação vista como passageira e, além de tudo, é agravada por uma nova onda da pandemia, crise hídrica e arroubos autoritários de Bolsonaro, que investe em ameaças à democracia e em conflitos institucionais.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, diz em público o que grande parte dos dirigentes de partidos reserva para o bastidor. “Tem uma chance grande de o presidente Bolsonaro não estar no segundo turno. A gestão está ruim e mal avaliada e uma série de fatores o atrapalham”, afirmou Kassab, considerado até por adversários como hábil analista de cenários políticos.
Ao fazer o inventário de problemas, Kassab citou “a conduta do presidente na pandemia, as coisas que estão sendo apontadas na CPI da Covid, a inflação chegando no preço do feijão e a vacinação que demorou para começar”.
O PSD tem em seus quadros o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que está de saída do partido por causa das divergências da sigla comandada por Kassab com o governo. Faria vai para o Progressistas e Kassab faz articulações para filiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ao PSD. A ideia é lançá-lo à cadeira de Bolsonaro.
Presidente do Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), também vê possibilidade de Bolsonaro perder já no primeiro turno. “Se o Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) souber trabalhar, ampliar, manter a unidade da esquerda – o que é difícil por causa do Ciro (Gomes, candidato do PDT) – e caminhar para o centro, tem muita chance de ganhar a eleição no primeiro turno”, afirmou o deputado. Na eleição de 2018, o Solidariedade integrava o Centrão e apoiou a campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), mas há tempos o partido se descolou do grupo.
Até mesmo nas bancadas de legendas com assento na Esplanada de Ministérios, como o Progressistas e o PL, há deputados que admitem muitos obstáculos na campanha de Bolsonaro para 2022.
Presidente do PL no Rio, o deputado Altineu Cortês, por exemplo, disse apoiar a reeleição do presidente, mas afirmou que o governo necessita com urgência fazer mudanças importantes na seara econômica. Bolsonarista de carteirinha, Cortês argumentou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, atrapalha o governo por não ter “sensibilidade social” e deve sair do cargo.
“Precisamos de um ministro que trate da responsabilidade fiscal, mas que tenha sensibilidade social. Essa sensibilidade social, hoje, infelizmente, o ministro Paulo Guedes tem na sola do pé”, criticou.
O chefe da equipe econômica trava atualmente uma queda de braço com a articulação política do Planalto sobre o valor a ser pago pela nova versão do Bolsa Família.
“Jogo de Cintura” – Cortês destacou não ter nada pessoal contra o ministro, mas disse considerar que ele inviabiliza politicamente o governo. O dirigente do PL avaliou que falta a Guedes “jogo de cintura” nos projetos de refinanciamento das dívidas de companhias e de auxílio financeiro a microempresas.
No Progressistas já há quem considere que não vale a pena ficar com Bolsonaro. É o caso do deputado Eduardo da Fonte (PE), ex-líder do partido, ligado ao ministro Ciro Nogueira e apoiador da pré-candidatura do ex-presidente Lula. Na Bahia, Estado comandado por Rui Costa (PT), o vice-governador João Leão (Progressistas) é outro nome que rechaça uma aliança com Bolsonaro.
O deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP) afirmou que a única maneira de o chefe do Executivo ter viabilidade eleitoral em 2022 é contendo os arroubos autoritários. Para Pinato, Bolsonaro precisa ouvir o ministro da Casa Civil e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, além de cessar os ataques às instituições.
“Se (Bolsonaro) ouvir Ciro Nogueira, Arthur Lira e Pacheco, tem chance (de ser reeleito). Caso contrário, todo mundo vai usar todo mundo e, na hora H, vai ser um salve-se quem puder”, previu o deputado, ao alertar sobre possível debandada do governo.
O presidente tem feito constantes ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao questionar a credibilidade do sistema eleitoral, Bolsonaro acusa, sem provas, parte do Judiciário de ter um conluio para eleger Lula.
Em uma série de declarações contra o Supremo e o TSE, Bolsonaro tem afirmado que não haverá eleições em 2022 sem uma mudança na urna eletrônica que possibilite a impressão do voto. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso foi rejeitada por uma comissão especial da Câmara e pelo plenário da Câmara, mas o presidente continua defendendo o tema e tem convocado atos contra o Supremo para o feriado de 7 de setembro.
A PEC do voto impresso foi derrotada com ajuda de parte considerável de deputados do Centrão. O Progressistas liberou os deputados para que votassem como quisessem. Treze foram contra a medida defendida por Bolsonaro, 16 a favor e 11 se ausentaram. O PL foi além e orientou o voto contra a PEC, com a maioria dos deputados agindo para derrubar o texto.
Vice-líder do PL, o deputado Zé Vitor (MG), admitiu dificuldades no horizonte do presidente. “Não é um bom momento para ele”, afirmou. Mesmo assim, o parlamentar evitou dizer como avalia as chances de reeleição. “Estamos distante da eleição. Tudo pode acontecer”, desconversou. O deputado disse ser contra o apoio a Lula, mas não descartou avalizar um candidato alternativo ao petista e a Bolsonaro.
Flerte – O PL ocupa a Secretaria de Governo, comandada pela deputada licenciada Flávia Arruda (PL-DF). Uma ala do partido, porém, flerta com Lula. O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), por exemplo, se reuniu com o ex-presidente em abril. Embora ainda não tenha decidido em qual campanha embarcará no ano que vem, Ramos já descartou apoio a Bolsonaro.
“O problema é a inflação alta, a gasolina a R$ 7, a energia subindo, a comida subindo, o gás de cozinha a mais R$ 100, os juros em dois dígitos no longo prazo, a inflação descontrolada, desemprego e fome. A situação dele é muito difícil, não dá tempo de reverter isso”, afirmou o vice-presidente da Câmara.
Um deputado, que já foi líder do PL e conversou com a reportagem sob a condição de anonimato, afirmou que hoje a maioria da bancada apoia o governo, mas não está descartado que o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, abandone Bolsonaro em 2022.
Pesquisa XP-Ipespe divulgada na semana passada mostra as dificuldades enfrentadas pelo presidente. Lula obteve 40% das intenções de voto em uma simulação de primeiro turno, Bolsonaro marcou 24% e Ciro Gomes (PDT), 10%.
Presidente do Progressistas, o deputado André Fufuca (MA), diz em público que Bolsonaro pode recuperar a popularidade. “Acredito que o atual cenário é mutável. A tendência é que sua popularidade volte a subir e ele chegue com condições reais de disputar a reeleição”, afirmou. Nos bastidores, no entanto, Fufuca conversa com Lula.
Kassab diz que nem a melhoria no quadro econômico será suficiente para ajudar Bolsonaro. “Bolsa Família ele vai aumentar X e Lula vai falar que vai aumentar dois X. Vou acreditar no Lula”, disse o presidente do PSD.
Marcelo Ramos também descartou que a economia possa auxiliar Bolsonaro. “O presidente apostou em uma recuperação econômica que não era motivada por nenhuma ação do governo. Era uma recuperação de quem sai da inércia”, observou. “Quando a crise é muito grande, em um momento pós-crise você sempre tem um boom de crescimento. Mas ele cria tanta confusão que tudo indica que até esse boom de crescimento não vai se confirmar.”
Folha de SP (Mônica Bérgamo):
Queiroga anuncia 3ª dose da vacina contra Covid para 15 de setembro
Ministério também reduzirá o intervalo entre a primeira e a segunda dose de 12 para 8 semanas
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a terceira dose da vacina contra o coronavírus começará a ser aplicada em idosos e em imunossuprimidos a partir do dia 15 de setembro. Todos os imunossuprimidos (pessoas transplantadas, por exemplo) que já tomaram a segunda dose da vacina há 21 dias poderão receber o reforço a partir da segunda quinzena de setembro.
No caso dos idosos, eles devem ter tomado a segunda dose há mais de seis meses. A imunização extra contemplará pessoas de mais de 70 anos. Os primeiros a receber as doses serão os maiores de 80 anos.
A vacina usada para a dose de reforço será a da Pfizer. “Nos reunimos ontem com a Opas [Organização Pan-Americana de Saúde] e com o comitê técnico que assessora a imunização e tomamos a decisão”, afirmou ele à coluna. A data foi escolhida porque, até lá, toda a população acima de 18 anos no Brasil já terá sido imunizada com ao menos uma dose.
Uma outra novidade: a partir do mesmo dia 15, começará a redução do intervalo entre as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, de 12 para 8 semanas, como acontece no Reino Unido.
Queiroga diz que a decisão foi tomada diante da possibilidade de disseminação da variante delta do coronavírus no Brasil. Estudos já mostram que a primeira dose das vacinas, no caso da delta, têm eficácia reduzida e não conseguem evitar boa parte das infecções. Já com duas doses a proteção é maior. Antecipando a aplicação da segunda dose, portanto, o Brasil poderia frear as contaminações, mantendo a curva de queda no número de óbitos e de casos verificada até agora.
A decisão sobre aplicação de dose de reforço na totalidade da população só será tomada depois da conclusão de um estudo que o Ministério da Saúde está fazendo em parceria com a Universidade de Oxford e com o apoio da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. Ele deve ser finalizado em outubro.
A necessidade de doses de reforço de vacinas contra o coronavírus vem sendo discutida em âmbito mundial. Estudos mostram que a proteção das vacinas cai com o tempo, e pelo menos 14 países já decidiram aplicar a dose de reforço dos imunizantes.
O governo dos EUA anunciou na semana passada que começará a aplicar uma terceira dose da vacina contra a Covid a partir de 20 de setembro. Israel está distribuindo a terceira dose para maiores de 50 anos desde julho, enquanto o Chile começou a aplicar neste mês uma dose extra da vacina AstraZeneca nos idosos que já receberam as duas doses da Coronavac. E o Uruguai aprovou uma dose de reforço do imunizante da Pfizer para aqueles que já receberam duas injeções da Coronavac.
A medida é polêmica, já que a maioria da população mundial ainda não recebeu sequer a primeira dose. A OMS (Organização Mundial de Saúde) defende que a terceira dose só seja aplicada depois que a cobertura vacinal se ampliar no mundo todo.
A maioria das nações da África não vacinou nem 5% da população com a primeira dose. O Haiti, no Caribe, só iniciou a campanha de vacinação contra o coronavírus no mês passado.
No Brasil, o Ministério da Saúde já vinha sendo pressionado e alertado para a necessidade de uma dose de reforço. A circulação da variante delta do coronavírus, mais contagiosa, chamou a atenção de especialistas, que já veem sinais preocupantes na taxa de ocupação de UTIs e na faixa etária dos hospitalizados.
Em entrevista à Folha nesta semana, o infectologista e pesquisador da Fiocruz Julio Croda afirmou que a terceira dose em idosos “é para ontem”. Ele disse que o aumento das internações de pessoas acima de 80 anos tornava imperativo a dose de reforço, junto com os profissionais de saúde.
Valor
Maioria da população confia em urna eletrônica
Pesquisa da Futura Inteligência mostra empate técnico entre Lula e Bolsonaro
Apesar da insistente campanha contra as urnas eletrônicas promovida pelo presidente Jair Bolsonaro, de cada dez brasileiros, seis manifestam confiança no sistema. O maior contingente, de 43,6%, diz que confia totalmente no modelo. Outros 16,2% afirmam que confiam parcialmente.
Os dados foram apresentados ontem pela Futura Inteligência, que realizou pesquisa de intenção de voto e conjuntura por encomenda do banco ModalMais. Na questão sobre urnas, 2,8% manifestaram indiferença em relação ao assunto. O levantamento apurou que 23,2% desconfiam totalmente dos equipamentos; e 11,1% desconfiam parcialmente.
A pesquisa detectou também que na contenda de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal tem mais gente dando razão à corte (26,1%) do que ao presidente (20,7%). O maior grupo, porém, é o dos que não estão acompanhando o assunto: 30,8%.
Na parte eleitoral, o estudo mostra um quadro de persistente empate técnico entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro. Em cinco diferentes cenários testados há sempre uma ligeira vantagem para o petista. Num dos cenários amplos do levantamento, Lula tem 33,1% das intenções de voto contra 31,3% para Bolsonaro.
Bem atrás da dupla, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) aparece em terceiro lugar com 6,4%. O apresentador de TV José Luiz Datena (PSL) fica com 4,5%; o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), 3,6%. Outros sete nomes listados de possíveis candidatos somam 9,2%.
A Futura Inteligência ouviu 2 mil pessoas entre os dias 17 e 20 de agosto por meio de ligações telefônicas realizadas por operadores treinados. A margem de erro é de 2,2 pontos.
Em simulação de segundo turno, Lula vence Bolsonaro por 46,9% a 38,8%. Na comparação com a pesquisa do fim de julho, o petista recuou 4,4 pontos; Bolsonaro avançou 5,9. Na questão espontânea (quando o entrevistado menciona sua preferência sem ter acesso à lista de candidatos), Lula e Bolsonaro empatam em 31%.
Num sinal de petrificação desse quadro de polarização, 70,6% dos entrevistados que citaram algum nome na pesquisa espontânea afirmaram em seguida que a decisão de voto é definitiva. Bolsonaro e Lula também lideram no ranking de rejeição. No teste em que entrevistados precisam apontar nomes em que não votariam de jeito nenhum, Bolsonaro teve 45,3%; Lula, 38,3%.
Valor
Especialista alerta para risco de surgimento de uma supervariante
Sai Reddy, da Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ), o mundo precisa se preparar para o risco de uma supervariante com várias vacinas, que possivelmente terão de ser continuamente adaptadas
Uma variante emergente de coronavírus que pode escapar dos anticorpos neutralizantes e/ou ter taxas de transmissão mais altas pode surgir em breve, o que torna o uso da terceira dose de vacina ainda mais necessária já, agora. O alerta é de um professor assistente da reputada Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ), Sai Reddy, americano de 40 anos e também principal pesquisador do Laboratório de Sistemas e Imunologia Sintética em Basileia.
A EPFZ é um centro científico de reputação mundial, que contou até agora com 21 prêmios Nobel como professores incluindo Albert Einstein. Uma entrevista de Reddy ao jornal “SonntagsBlick” teve grande repercussão, com ele prevendo a chegada de uma nova “supervariante” do vírus que já matou milhões de pessoas no planeta.
Ao Valor, o pesquisador evitou mencionar a expressão, mas confirmou o risco de a pandemia entrar em nova fase preocupante. “É muito provável que surja uma nova variante e que não possamos mais contar apenas com as vacinas atuais, talvez exigindo reforço [terceira dose], semelhantes ao que já vimos em Israel e nos Estados Unidos”, afirmou.
Reddy disse que, como imunologista, acredita que existe a possibilidade de que as infecções por covid-19 possam aumentar nos primeiros meses de 2022 na Suíça, e provavelmente em outros países, por várias razões: o surgimento da variante delta, mais infecciosa; o surgimento e a propagação potencial de variantes que têm mutações na proteína spike que poderiam escapar ao efeito de certas classes de anticorpos neutralizantes (por exemplo Delta Plus ou AY3); o afrouxamento das restrições que facilitam a transmissão do vírus (por exemplo, refeições em áreas fechadas, eventos, concertos); e o mais importante, uma fração substancial de pessoas não vacinadas na Suíça, em outras partes da Europa e do mundo.
“Se as variantes beta [África do Sul] ou gama [Brasil] se tornarem mais contagiosas, ou se delta desenvolver mutações que proporcionem maior escape de anticorpos neutralizantes, então poderíamos estar falando de uma nova fase da pandemia”, disse. “Este seria o grande problema do próximo ano.” Ou seja, em 2022, na Suíça, especialmente nos primeiros meses (janeiro a março), a covid-19 pode ser ainda pior do que agora.
Para Reddy, é “por isso que temos que nos preparar com várias vacinas nos próximos anos, que podem precisar ser continuamente adaptadas às novas variantes”. “Eu encorajo todos que são elegíveis a serem vacinados e, se e quando as diretrizes de saúde pública aconselharem, a obterem também vacina de reforço”, reiterou ele a respeito da terceira dose.