Clipping 7 de junho de 2021

Manchetes

Presidente da CPF é afastado para tentar abafar crise (Folha)

CBF afasta presidente depois de denúncia de assédio sexual (Estadão)

CBF afasta Caboclo e eleva incerteza da Copa América (O Globo)

Norma do BC amplia crédito a pequenas e médias empresas (Valor)

IPESI

Indústria de fundição cresce 3% no primeiro trimestre

A indústria brasileira de fundição teve um desempenho até que bastante razoável no primeiro trimestre deste ano, na comparação com os mesmos períodos de 2018 e principalmente 2017. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Fundição (Abifa), a alta em relação aos três primeiros meses do ano passado foi de 3%. No comparativo com 2017, o crescimento foi de 9,4%.

Estes números justificam, sem dúvida, o otimismo demonstrado pela entidade na virada do ano, quando apostou firmemente no crescimento da produção e das vendas de fundidos. Para Afonso Gonzaga, presidente da Abifa, inclusive ainda é cedo para qualquer alteração da expectativa de crescimento de 7% do setor em 2019.

Deve-se esta expectativa de desempenho não só à tímida – mas de qualquer forma presente – recuperação geral da indústria brasileira, mas também a algumas boas notícias vindas de Brasília. “Estivemos em fevereiro em reunião com a equipe do secretário Marcos Cintra, titular da Secretaria da Receita Federal”, conta Gonzaga. “Na ocasião, fomos informados de que a desoneração da folha de pagamento de fato ocorrerá. Isso, associado à aprovação da Reforma da Previdência, que deve ocorrer nos próximos meses, certamente dará novo fôlego ao empresariado brasileiro, em especial à indústria de fundição e mercados correlatos”, explica o executivo.

Quanto aos volumes, a produção de fundidos entre janeiro e março deste ano totalizou 566.919 t, entre ferro fundido (453.537 t), aço (66.108 t) e metais não ferrosos (47.274 t). Nestes últimos estão contidos o cobre (5.121 t), zinco (294 t), alumínio (40.599 t) e magnésio (1.260 t).

Neste primeiro trimestre de 2019, o mercado interno consumiu 478.057 toneladas. Trata-se de 5,6% mais do que no ano passado. Já as exportações de fundidos, por sua vez, caíram 9% em peso (88.862 t) e 13,1% em valores.

SEM LÓGICA – Para a entidade, o comportamento das exportações não tem uma explicação lógica. “Da mesma forma que estão em queda num mês, no próximo podem ter uma expressiva alta, sem motivo aparente”, diz Gonzaga. De qualquer modo, as exportações têm se mantido mais ou menos constante, representando 16,5% da produção total de fundidos em 2018. Em março último, este percentual foi de 15,7%.

O presidente da Abifa esclarece que a forte crise econômica na Argentina está afetando os embarques de fundidos brasileiros apenas indiretamente, posto que o país vizinho é um grande cliente das montadoras brasileiras, mas não das fundições nacionais. Os EUA continuam sendo os principais clientes do Brasil externamente.

O Brasil, no entanto, vem perdendo posições no ranking mundial da produção de fundidos. No ranking divulgado pela revista Modern Casting em 2018, o Brasil ocupou o décimo lugar, tendo caído três posições nos últimos quatro anos. Os três primeiros lugares são hoje ocupados, pela ordem, pela China, Índia e Estados Unidos. Juntos, os três países respondem por 70% da produção mundial, totalizando 71,13 milhões de toneladas. Uma boa notícia é que, com a produção de fundidos praticamente estável, o número de colaboradores nas fundições permaneceu constante, totalizando 55.872 pessoas em março, crescimento de 0,1% em relação ao mês anterior.

Automotive Business

Associadas da Abeifa crescem o dobro do mercado em maio

Aumento de vendas foi de 13% em relação a abril, graças apenas ao crescimento dos modelos produzidos no Brasil

As vendas de veículos a Abeifa (Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores) cresceram quase o dobro da média do mercado total de automóveis e comerciais leves dm maio comparado ao mês anterior, como revela o boletim divulgado pela entidade nesta sexta-feira, 4.

No mês, foram comercializadas 6.616 unidades frente às 5.856 de abril, o que representa 13% a mais do que os números de abril. Foi bem acima do que mostram os números de emplacamento da Fenabrave, que compreende o mercado total, que teve um aumento de 7%.

Esse aumento expressivo deve-se exclusivamente ao bom desempenho das vendas dos veículos produzidos no Brasil pelas 17 associadas da Abeifa, que somaram 4.352 unidades contra 3.609 de abril, um acréscimo de 20,6%. Quando analisamos apenas os importados, as vendas ficaram estáveis: houve um aumento marginal de 0,8% – 2.264 em maio contra 2.247 em abril.

“Mesmo com a pressão do dólar e do euro e ainda o cenário de consequências nefastas da pandemia, aos poucos as nossas associadas, em geral, estão recuperando suas vendas”, explica João Henrique Oliveira, presidente da Abeifa. “Aquelas marcas que ainda não conseguiram, momentaneamente foram afetadas por falta de oferta de produtos, por conta do desabastecimento de peças e componentes. Mas entendemos que o setor consegue se recuperar porque há uma demanda reprimida.”

Na análise dos cinco primeiros meses deste ano frente ao mesmo período de 2020, houve um aumento de 48% – 27.529 contra 18.602. No entanto a comparação é distorcida pelo fato de que abril de 2020 foi desastroso para o mercado, devido ao fechamento de fábricas e concessionárias no Brasil por contas de regras de isolamento social para conter a pandemia que havia acabado de chegar ao País.

Atualmente os veículos comercializados pelas associadas da Abeifa representam apenas 2,78% das vendas de veículos produzidos no Brasil e 12,08% dos modelos importados, de acordo com o balanço do mês de maio divulgado pela entidade. A marca campeã de vendas dentro da Abeifa é a Caoa Chery, que emplacou em maio 3.186 unidades (somente 3 unidades foram importadas), seguida pela BMW, com 1.261 veículos (946 nacionais e 315 importados), e pela Volvo, com 643 carros (todos importados).

Automotive Business (artigo)

Por que a Fiat cresce enquanto as outras sofrem na pandemia

Entenda como o bom trabalho de marketing, produto e planejamento fez a marca superar a crise dos semicondutores e chegar à liderança

Por Zeca Chaves

Quanta sorte tem a Fiat, não?! No ranking dos carros mais vendidos de maio, a montadora conseguiu emplacar as 3 primeiras posições (Argo, Strada e Mobi, na ordem) e ainda liderou entre as marcas, com 23,1% do mercado, contra 16,5% da Volkswagen e 9,9% da Chevrolet.

Muita gente faz questão de lembrar que a Fiat só dominou as duas listas do mês porque a linha de montagem do Onix em Gravataí (RS) está parada desde março. A pandemia fez sumir do mercado os semicondutores usados na fabricação de componentes eletrônicos. Não fosse isso, o modelo da GM seria líder entre os carros e a Chevrolet entre as marcas, como era em dezembro de 2020, quando a crise dos microchips começou a se agravar.

Mas vou contar um segredo: essa liderança não tem a ver com sorte. Na verdade, estava quase planejada. Sabe a razão? Porque a Fiat fez a lição de casa, tanto antes da pandemia quanto depois. Afinal, a mesma escassez de semicondutores que atinge a GM afeta todas os outros fabricantes da indústria automotiva.

O que estamos vendo hoje é o resultado de um bom trabalho da montadora em três áreas distintas: marketing, produto e planejamento. Todas alinhadas com o mesmo objetivo, dentro de um plano de ação estratégico que começou a ganhar forma no ano passado.

MARKETING: NOVA IDENTIDADE

Poucos devem lembrar, mas a partir de julho de 2020 a Fiat anunciou a mudança do seu logotipo (sai o círculo vermelho, entra só a tipografia do nome), adotou um novo slogan (“A paixão move”) e mudou sua linguagem visual e de comunicação. Em paralelo, iniciou um intenso processo de renovação dentro das concessionárias: fachadas reformuladas, foco na experiência digital do cliente e treinamento da rede.

CARROS: ATRATIVOS PARA PÚBLICO E FABRICANTE

O segundo pilar foi a mudança dos produtos oferecidos ao consumidor. A Fiat fez sua história no Brasil como fabricante de modelos pequenos e baratos. Quando decidiu vender automóveis mais sofisticados, o grande público rejeitou. Foi assim com Bravo, Stilo, Marea e Linea. O Tempra quase chegou lá.

Hoje em dia já não dá mais para ganhar dinheiro apostando apenas nos carros de entrada. Lucratividade é o novo nome do jogo. Melhor vender menos, mas vender mais caro. Com isso em mente, a Fiat começou a desenhar um novo portfólio.

Lançada em julho de 2020, a nova Strada deixou de ser apenas uma picape de trabalho e virou quase automóvel de passeio, com uma boa dose de conforto e tecnologia. A Toro estreou em abril passado seguindo a mesma lógica, porém ainda mais cara. Na última semana, a Fiat apresentou o Pulse, seu SUV compacto que deve chegar em agosto. E em fevereiro de 2022 vem um novo SUV maior, feito sobre a plataforma do Pulse.

A readequação da linha incluiu também a alteração dos velhos conhecidos. A meta era reduzir custos de produção e ao mesmo tempo entregar carros mais alinhados aos desejos do cliente. O Argo Trekking encaixa-se nesse raciocínio: muito mais barato de ser lançado do que um modelo 100% novo e mais atraente para quem ainda não pode comprar um SUV.

Há também a linha S-Design de Argo e Cronos, que entrega um visual renovado e mais equipamentos com poucas modificações na produção. E todo nós sabemos que carros mais equipados significam maior margem de lucro para a empresa. Até o antes rejeitado Mobi passou pela autoanálise. Ganhou mais itens de série e perdeu a preocupação de ser o automóvel mais barato do Brasil. A resposta veio logo: ele que era o 15ª mais vendido ao final de 2020 passou a ser o terceiro do mercado.

PLANEJAMENTO: OTIMISMO NA PANDEMIA

Quando veio a fase aguda da pandemia, a partir do fim de março de 2020, que fechou fábricas e concessionárias, o desespero se instalou entre as montadoras. Será que a economia se recuperaria no meio do ano? No fim? Só em 2021?

Enquanto fabricantes reduziram seus pedidos aos fornecedores, a Fiat manteve boa parte dos planos. Otimista, a empresa acreditava que o mercado se recuperaria e viu na crise uma oportunidade. Quando a escassez de peças – e não apenas de eletrônicos – se agravou, ela decidiu que deveria fazer de tudo para não parar a produção, mesmo que isso reduzisse a lucratividade de alguns modelos.

É claro que também ajudou o fato de Argo e Mobi terem menor número de componentes eletrônicos do que o Onix – estima-se que seja metade. Por outro lado, os dois veículos da Fiat somados venderam em maio quase o triplo da linha Onix (sedã e hatch). Além disso, Strada e Toro também têm nível elevado de itens tecnológicos.

VALE ATÉ TRAZER PEÇAS DE AVIÃO

Para não interromper sua produção, a Fiat buscou alternativas em materiais e equipamentos para substituir os que estavam em falta, mandou trazer peças de avião, encontrou fornecedores em mercados de menor tradição ou em países mais distantes e pagou mais caro por alguns insumos. Valia tudo para manter a linha de montagem funcionando.

É necessário lembrar que todo esse processo foi feito sempre em conjunto com a Jeep, marca que também pertence ao Grupo Stellantis (as outras são Peugeot, Citroën e Ram). Em vez de ser concorrente, a Jeep tornou-se aliada da Fiat, de modo que sua produção e portfólio fossem o mais complementar possível.

O resultado está aí. A Fiat vem ganhando mercado com uma rapidez impressionante. Ela fechou o ano de 2019 com 13,8% de participação entre os automóveis e comerciais leves. No acumulado de janeiro a maio deste ano, ela já tem 21,4%. Abocanhar 7,6 pontos percentuais em um ano e meio é um resultado espantoso. Isso quer dizer que em pouquíssimo tempo a Fiat ganhou uma Toyota inteira, que detém 7,4% do ranking neste ano.

Por falar na marca japonesa, ela é outra montadora que fez muito bem a lição de casa na pandemia. De janeiro a maio, a Toyota conseguiu aumentar suas vendas em todos os meses deste ano. Um trabalho muito bem-feito com seus fornecedores impediu que a produção parasse e aumentou sua participação no mercado, que subiu de 6,3% em janeiro para 8,9% em maio. Porém não se compara à dimensão do resultado da Fiat. Portanto, quando alguém disser que a Fiat teve sorte, você já sabe o que responder.

Valor

Indústria discute com governo saídas à crise de energia

MME quer definir até fim do mês um plano para enfrentar a crise pelo lado da demanda industrial

Além dos esforços para garantir a oferta de energia em meio à crise hídrica, o governo começa a olhar também o lado da demanda. O Ministério de Minas e Energia (MME) quer ter em mãos, até 1º de julho, um plano estruturado que permita à indústria eletrointensiva remanejar seu consumo de energia para fora dos horários de pico. A ideia do governo é ter mais munição para aliviar o sistema nas horas em que a demanda por energia alcança o pico, afastando o risco de o país enfrentar um problema de suprimento “na ponta”, que poderia levar a blecautes.

O MME se reuniu na sexta-feira com representantes da indústria para levar um diagnóstico da situação energética e ouvir sugestões para lidar com a crise pelo lado do consumo. Segundo relatos de quem participou da reunião, não há proposta fechada. O único consenso é que qualquer iniciativa terá que ser voluntária. “O governo entende que o ideal é já ter uma solução bem delineada, não esperar chegar a uma situação indesejada para então tomar uma providência. Não seria para aplicação imediata, até porque não existe essa necessidade agora”, disse Mário Menel, presidente da Abiape, que reúne companhias eletrointensivas e que são autoprodutoras de energia.

O prazo para se chegar a uma solução é apertado, mas viável, avalia Paulo Pedrosa, presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). “Se for um sistema simplificado, é possível. Tem que ser algo bem ágil, para começar, e eventualmente modernizar para o futuro.”

A dificuldade desse plano está em convencer a indústria a reprogramar parte de seu processo produtivo, estabelecendo condições simples e uma compensação financeira que seja atrativa. O país já fez uma experiência nesse sentido, que não foi muito bem sucedida. No setor, a sensação é de que existe uma predisposição dos agentes em buscar soluções para ajudar o país a atravessar esse momento e evitar que o setor elétrico seja um gargalo para a retomada econômica.

“Temos uma recuperação internacional vigorosa, com alta dos preços de commodities, que coloca o Brasil em condições privilegiadas. Hoje temos câmbio desvalorizado e baixa taxa de juros. Não podemos ter soluço nesse crescimento”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, que também participou da reunião.

Entre especialistas do setor elétrico, a ideia de se criar um mecanismo de deslocamento da demanda para atenuar a escassez hídrica é considerada positiva. “Um programa de resposta da demanda a sinais de preços é super moderno e eficiente, é a opção de dar um sinal econômico para o consumidor deslocar seu consumo para as horas mais eficientes ou até mesmo para reduzir a demanda”, afirma Luiz Barroso, presidente da consultoria PSR.

Valor

Norma do BC amplia crédito a pequenas e médias empresas

Medida facilita o uso do fluxo de pagamentos com cartões como garantia para a obtenção de empréstimos

Credenciadoras, fintechs, fundos de investimentos e bancos tradicionais já se movimentam para ocupar o espaço que se abre na oferta de crédito para micro, pequenas e médias empresas. Uma norma do Banco Central (BC), que entra em vigor a partir de hoje, facilita o uso do fluxo de pagamentos com cartões para garantir empréstimos por lojistas. Agora, todos os valores recebidos por vendas via cartões serão inscritos em câmaras registradoras, que atestarão a existência e a unicidade desses recebíveis. Eles poderão ser oferecidos como garantia para obter crédito mais barato.

Os recebíveis de cartões já eram usados como garantia ou na antecipação oferecida pelas credenciadoras (as empresas de “maquininhas”) ou na obtenção de crédito bancário. No entanto, o registro torna esse lastro mais seguro. E dá ainda mais liberdade para os lojistas porque mitiga a chamada “trava bancária”.

Era praxe que, para conceder crédito com essa garantia, o banco exigisse que todo o fluxo de recebíveis de cartões permanecesse na conta do lojista naquela instituição. A partir da mudança, os bancos só poderão segurar o volume de recebíveis equivalente ao saldo devedor. “Vai abrir uma gama para o estabelecimento negociar com mais de um agente e ter o limite de crédito ampliado, o que deve levar a taxas melhores”, afirma o diretor de fiscalização do BC, Paulo Souza. “O que esperamos é que lojistas repassem essa economia para o consumidor.”

Nas contas do mercado, a antecipação de recebíveis movimentou R$ 290 bilhões em 2020, enquanto o chamado crédito “fumaça” – garantido pelo fluxo futuro de recebíveis de cartões – tinha saldo de R$ 45 bilhões em dezembro. As duas modalidades devem crescer, mas é a última que tem maior potencial. O “fumaça” poderia se multiplicar para cerca de R$ 300 bilhões, segundo fontes do setor.

O tamanho do mercado de cartões vai balizar as perspectivas para a oferta, afirma Pedro Coutinho, presidente da Getnet e da Abecs, associação das empresas do setor. A expectativa é que o setor movimente R$ 2,3 trilhões neste ano, dos quais cerca de R$ 1,4 trilhão no crédito. Esse volume se divide historicamente meio a meio entre pagamentos à vista e parcelados. “Com a regra, assimetrias desaparecem e a gente passa a ter um modelo único [de garantias centralizadas]. Vai haver maior competitividade”, diz Coutinho. “Nossa posição vai ser de ataque.”

Além de atuar na antecipação de recebíveis, a credenciadora do Santander planeja oferecer empréstimos, usando sua licença de sociedade de crédito direto (SCD). Com ela, pretende atender lojistas que não são clientes do banco. O Santander, por sua vez, afirma em nota que, se os clientes o autorizarem a visualizar sua agenda de recebíveis, poderá fazer a eles uma melhor oferta de crédito e de pré-pagamento. “É a avant-première do open banking”, diz Coutinho.

Não por acaso, diversos competidores estão preparando ofertas baseadas nos recebíveis para avançar no mercado de empresas. É o caso do BTG Pactual, que lançou no ano passado um banco de varejo voltado a pequenas companhias. “Quando iniciamos a operação, pelo menos nove em cada dez clientes demandavam crédito”, afirma Gabriel Motomura, que espera rápida adesão ao produto.

Outro banco digital que vê oportunidade no uso da linha é o C6 Bank. Segundo Monisi Costa, chefe da área de pessoa jurídica, a regra será “um divisor de águas” tanto para os bancos tradicionais quanto para novos entrantes. Para estes, representa o fim da “reserva de mercado” que a trava impunha.

Fintechs também estão de olho no segmento. A Gyra+, que surgiu anos atrás oferecendo crédito sem garantia a pequenos lojistas de marketplace, começará a testar uma linha garantida por recebíveis de cartões no segundo semestre, diz Rodrigo Cabernite, cofundador. De acordo com ele, a depender da posição do credor no acesso dessas garantias, é possível imaginar uma redução de 0,5 p a 1 ponto percentual nas taxas de juros cobradas das empresas.

Carlos Maggioli, sócio-fundador da startup de antecipação de recebíveis Quasar Flash, diz que a regra representará “a demolição dos spreads” dessas operações. Segundo ele, a fintech poderá trabalhar com um spread de 1,5% – bem abaixo da média de 5% cobrada atualmente pelas credenciadoras. “Não tenho mais o risco de crédito, de ser uma fraude, por exemplo”, afirma.

O coração do novo modelo são as registradoras. São elas que vão atestar a existência daqueles recebíveis, e se eles já estão comprometidos em alguma operação de crédito. Habilitaram-se a prestar o serviço a Central de Recebíveis (Cerc), criada por executivos do mercado financeiro, a TAG, dos fundadores da Stone, e a Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP). As três terão de interoperar e é a elas que bancos, credenciadoras e fundos precisarão se conectar para operar nesse segmento. “Hoje, o mercado tem pouco apetite para alavancar clientes. O limite de crédito deles dificilmente chega a três vezes o faturamento. Com os recebíveis, pode aumentar muito”, diz Fernando Fontes, sócio-fundador da Cerc.

Marcelo Maziero, também cofundador da registradora, acredita que haverá um período de adaptação, mas já vê movimentação de fundos e em cadeias de suprimento que podem usar o lastro dos recebíveis. “A registradora abre possibilidade de operações que não eram possíveis ou eram complexas, como um lojista pagar com recebíveis um fornecedor ou comprar recebíveis de outro”, diz Breno Moreira, responsável pela área de negócios e tecnologia da TAG. Joaquim Kavakama, superintendente-geral da CIP, vê a possibilidade de aumento da oferta, do surgimento de inovações e da redução de custos no crédito.

A mudança pode parecer mau negócio para os bancos tradicionais, mas não é necessariamente assim. Se ficam mais vulneráveis às investidas de concorrentes, por outro lado terão acesso a garantias mais seguras e poderão conquistar novos clientes. Houve grande resistência à ideia quando foi apresentada pelo BC, há três anos.

Hoje, o comando dos bancos já enxerga oportunidades, embora ainda se note algum apelo ao “status quo” nos escalões intermediários. Com a nova regulação, a inadimplência tende a cair. “Isso levará a taxas mais baixas e uma concessão de crédito maior”, afirma André Daré, diretor de produtos para empresas do Itaú Unibanco, em nota.

Na Rede, a aposta é oferecer ao lojista a gestão dos valores que tem a receber, inclusive os operados por concorrentes. Para a Febraban, a norma traz “inegável benefício para o consumidor”, com maior concorrência entre bancos e credenciadoras e “empoderamento” dos lojistas

Valor

Mudança tem desafios tecnológicos

A adoção da nova regra para os recebíveis de cartões é um enorme desafio tecnológico para bancos, credenciadoras e registradoras. Desde a semana passada, os mais de 400 participantes do mercado trabalhavam na conversão dos contratos de crédito atualmente vigentes para o sistema que começa a funcionar hoje.

Na prática, significa transformar essa base legada em bilhões de unidades de recebíveis. Uma unidade de recebível equivale a um dia de faturamento de um lojista em determinada maquininha com pagamentos feitos com uma determinada bandeira de cartões. Até o fechamento desta edição, a migração e os testes não haviam sido concluídos.

 Segundo o diretor de fiscalização do Banco Central (BC), Paulo Souza, o modelo foi montado para que o mercado funcione normalmente nesta segunda-feira, ainda que haja dificuldades técnicas por trás. A implantação da regra foi adiada sucessivas vezes pelo BC. Na última delas, em fevereiro, o fator determinante foi que a Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP) não estava pronta.

A empresa assinou termo de compromisso e foi multada em R$ 30 milhões. Desta vez, a CIP declarou-se apta e o BC impôs uma contingência às instituições que operam com ela, caso volte a apresentar problemas.

Folha de SP

Bolsonaro recusou vacina a 50% do valor pago por EUA e União Europeia

Pfizer, ignorada pelo governo brasileiro, ofereceu doses a US$ 10 cada uma; valor chegava a US$ 20 em outros países

O governo Jair Bolsonaro recusou vacinas da Pfizer no ano passado à metade do preço pago por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. Consideradas caras em agosto de 2020 pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, até 70 milhões de doses da Pfizer poderiam ter sido entregues a partir de dezembro por US$ 10 cada.

A vacinação antecipada teria evitado mortes e os prejuízos bilionários provocados pelo fechamento da economia. Com um PIB (Produto Interno Bruto) total de R$ 7,4 trilhões em 2020, os R$ 30 bilhões agora previstos pelo Ministério da Saúde para a vacinação brasileira correspondem a um dia e meio de um hipotético lockdown nacional —desconsiderando domingos e feriados. O valor equivale a 10% do auxílio emergencial pago em 2020 e é menos do que os R$ 44 bilhões previstos neste ano para compensar o fechamento da economia.

EUA e Reino Unido já imunizaram cerca de 40% da população com duas doses das várias vacinas adquiridas e têm economias funcionando quase livremente. Ambos pagaram cerca de US$ 20 pelas doses da Pfizer, o dobro do valor recusado pelo Brasil durante vários meses em 2020. Na União Europeia, as doses do laboratório norte-americano custaram US$ 18,60.

No Brasil, com o atraso nos contratos, as primeiras doses da Pfizer chegaram só em abril. Oito meses se passaram entre a primeira oferta e a entrega. O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), contabilizou 53 emails enviados pela Pfizer ao governo a partir de agosto cobrando resposta sobre a oferta das 70 milhões de doses.

À CPI, Pazuello qualificou a proposta da Pfizer como “agressiva”, apontou entraves em cláusulas do contrato e disse ter considerado muito elevado o preço de US$ 10 por dose —valor acatado meses depois ainda na gestão de Pazuello.Antes das doses da Pfizer, a imunização ocorria com vacinas do Butantan e da AstraZeneca, mas em quantidades baixas. A vacinação brasileira com duas doses limita-se a 11% da população.

Na economia, isso trava principalmente o setor de serviços, responsável por 70% do PIB e dos empregos. Nos serviços atuam sobretudo os mais pobres e menos escolarizados, que dependem do trabalho fora de casa para obter renda.

Sem vacina, a ocupação desses trabalhadores caiu até 20% na pandemia, aumentando a desigualdade e a pobreza extrema a níveis de 15 anos atrás. O colapso nos serviços levou a série histórica de desemprego do IBGE a um recorde: 14,7%, com 14,8 milhões de desocupados.

O Ministério da Saúde diz ter destinado R$ 30 bilhões para a contratação de mais de 660 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 —considerando no cálculo unidades que ainda não encomendou de fato. Em dólares, portanto, o país está reservando cerca de US$ 9, em média, por dose.

De um modo geral, na comparação internacional feita pela Folha com base nas informações disponíveis, o Brasil está pagando preços compatíveis com a maior parte dos países (veja gráfico abaixo). A grande vantagem a favor do Brasil se dá justamente com o imunizante da Pfizer —o primeiro a ter sido oferecido (e ignorado) ao governo Bolsonaro.

Para Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, o Brasil perdeu “uma chance de ouro de emplacar logo com a Pfizer a preços convenientes”. “A Pfizer percebeu que estaria na frente [na corrida das vacinas], mas precisaria muito do Brasil porque seria um local de aplicação imediata, uma vitrine maior do que Israel acabou sendo, com a vantagem de o SUS ser bom pagador e único no país”, diz Lotufo.

“Qualquer que fosse o preço da vacina oferecida ao Brasil, valeria a pena. Seja pelo impacto em vidas, pelas colossais perdas de uma economia fechada ou o custo de R$ 1.500 ao dia de um paciente internado em uma UTI Covid”, diz Eder Gatti, infectologista especialista em imunização.

Segundo Gatti, nos últimos anos o Ministério da Saúde deixou de realizar estudos para aferir o custo-benefício na compra de vacinas, a exemplo do que fez em 2006 para adquirir imunizantes contra o rotavírus —causador da DDA (doença diarreica aguda) e da gastroenterite aguda. Gatti diz que o Reino Unido, por exemplo, tem quase obsessão com esse tipo de cálculo.

Segundo Martin Weale, economista no King’s College, em Londres, a economia potencial com o fato de o Reino Unido ter acelerado seu programa de compra de doses e a vacinação pode ser estimada em cerca de 300 bilhões de libras (R$ 2,1 trilhões) ao ano, já descontado o gasto com todo o processo de imunização. O total leva em conta não só a perda potencial de 220 bilhões de libras (R$ 1,6 trilhão) em termos de PIB causada pelo abre e fecha da economia, mas as vidas e gastos adicionais poupados pelos sistemas de saúde e educação.

Para acelerar a vacinação, o Reino Unido pagou US$ 37 por dose da Moderna, embora tenha limitado essa compra a 17 milhões de unidades. Para Benedic Ippolito, pesquisador especializado em preços de medicamentos no American Enterprise Institute, em Washington, “o custo das vacinas é muito pequeno em relação ao potencial contrafactual [o estrago econômico causado por lockdowns]”. “É como dar de ombros e dizer: ‘OK, esse preço pode estar alto. Mas essa é uma pandemia única e podemos lidar com a questão dos valores depois’.”

Israel informou ter pago há muitos meses US$ 23,50, em média, por imunizantes da Pfizer e da Moderna e já vacinou cerca de 60% da população com duas doses. Os israelenses estimam que o investimento nas vacinas equivale às perdas potenciais de dois dias de lockdown.

Em 2021, as vendas de vacinas e medicamentos para a Covid-19 devem acrescentar receitas de US$ 70 bilhões aos laboratórios globais, segundo a consultoria norte-americana Morningstar. Especialistas consideram irrisório o valor levando em conta as perdas potenciais de uma epidemia sem controle. Normalmente, as farmacêuticas já faturam US$ 60 bilhões ao ano com vacinas.

Embora os laboratórios tenham procurado manter sob sigilo valores pagos por governos pelos imunizantes, muitos preços “vazaram” via autoridades de países compradores ou em declarações de executivos das farmacêuticas. Na União Europeia, parte dos valores foi divulgada em dezembro em um tuíte que depois foi apagado da secretária de Orçamento e Proteção ao Consumidor da Bélgica, Eva De Bleeker.

O ex-primeiro-ministro búlgaro Boiko Borisov também tornou públicos alguns preços pagos pelos 27 países do bloco, assim como o jornal espanhol La Vanguardia, que revelou contrato com o valor de US$ 18,60 por dose da vacina da Pfizer.

Nos EUA, em conferência com o Bank of America, foi o próprio CFO da Pfizer, Frank D’Amelio, quem abriu o valor de US$ 19,50 por dose cobrado dos americanos. Ele citou o preço comparando-o ao que seria o adequado “em tempos normais” —US$ 150 a US$ 175 a dose, segundo ele. Nos EUA, as farmacêuticas cobram entre US$ 17 e US$ 26 por dose de vacinas anuais contra a gripe, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças.

Questionada, a Pfizer no Brasil diz que trabalha com “abordagem de preços diferenciados” para garantir que países tenham acesso ao imunizante. A farmacêutica diz manter o mesmo posicionamento desde as primeiras negociações. “Aqueles com menor capacidade de pagar pela vacina pagarão um preço mais baixo, de acordo com os recursos de seu governo, enquanto os que podem pagar mais deverão fazê-lo”.

Entre todos os imunizantes aplicados no mundo, o da AstraZeneca, produzido no Brasil pela Fiocruz, é, de longe, o mais barato, com preços entre US$ 2,15 e US$ 4 por dose. No Brasil, o valor é de US$ 3,16. Desde o início, a AstraZeneca disse não visar lucro na fabricação e comercialização da vacina desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford.

Apesar da recusa inicial do governo Bolsonaro em relação à Pfizer, o Ministério da Saúde prevê a compra neste ano de praticamente a mesma quantidade de doses do laboratório americano e da AstraZeneca (200 milhões e 210,4 milhões, respectivamente). As quantidades e os preços adquiridos pelo Brasil foram obtidos em contratos públicos do Ministério da Saúde e declarações de autoridades na CPI da Covid. Parte dos valores também foi divulgada pelos fornecedores —como da Fiocruz— ou obtidos por meio de outros documentos da pasta.

Valor

Controle da pandemia no país exige pelo menos três vezes mais vacinados

DF e 20 Estados têm de imunizar mais de 30% para começar a deter o vírus, diz estudo

Perto de completar cinco meses, a vacinação contra a covid-19 no Brasil ainda está longe de controlar as taxas de transmissão do vírus entre a população. Hoje, dez Estados e o Distrito Federal precisam vacinar cerca de 45% ou mais de suas populações para assistir queda sustentada dos casos da doença, indica estudo do grupo de pesquisa Ação Covid-19. Em outros nove locais esse percentual ainda é superior a 30%. Como os vacinados com duas doses no país ainda são pouco mais de 10% da população, significa dizer que é preciso vacinar, pelo menos, três a quatro vezes e meia mais pessoas para começar a deter o vírus.

A pior situação é a do Paraná, onde a imunização necessária para controlar a doença chega um pico de 56,24% da população. O Estado tinha a condição mais crítica do país nos 30 dias até 19 de maio, período considerado nos cálculos. No levantamento anterior, de abril, esse posto era do Ceará (60,5%), que não aparece na apuração da vez devido à falta de regularidade no repasse dos números de infectados, o que inviabiliza os cálculos. Outros quatro Estados também não tiveram a situação aferida por esse motivo, indicando que a situação do país pode ser ainda mais grave quanto à necessidade de vacinas.

Coordenador do Ação Covid-19, o economista e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) José Paulo Guedes Pinto destaca o caso do Maranhão. Apesar do aumento na demanda mínima por vacinas, de 21,4% em abril para 22,4% em maio, o Estado continua isolado como o que menos precisa vacinar para controlar a pandemia, ainda que tenha a terceira menor cobertura vacinal do país, inferior a 8% da população segundo o consórcio de veículos de imprensa. “Isso é notável porque mostra o peso de medidas de isolamento mais rigorosas e constantes, além da importância de um programa robusto de auxílio financeiro local, inclusive ampliado para pequenos empresários”, diz.

Além do Paraná, ele cita o Rio de Janeiro como destaque negativo. O Estado viu a necessidade de vacinação mais que dobrar entre os meses de março e maio, quando chegou a 54,8%. “No caso de um Estado ‘no meio da tabela’ da vacinação, só o que explica esse desempenho é a queda brusca do isolamento social”, diz o pesquisador.

Para ele, o fato indica como o isolamento ainda é um ponto-chave do enfrentamento à pandemia no momento em que a cobertura vacinal é pequena. Pelo terceiro mês consecutivo, os pesquisadores calcularam o percentual de vacinados em cada Estado para que a taxa de transmissão do vírus (R) fique abaixo de 1. Nessa condição, um infectado não contaminaria mais de uma pessoa, o que levaria a uma queda consistente dos casos. Como o número de imunizados, por vacinação ou infecção prévia é sempre crescente, a tendência do levantamento é indicar percentuais de vacinação para controle da pandemia cada vez menores.

Na passagem de abril para maio, porém, isso ocorreu somente em 11 Estados – um deles é São Paulo, onde o índice caiu de 40,6% em abril para 35,6% em maio. Em outros seis – Rio, Roraima, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Maranhão – o controle da crise ficou mais distante: houve aumento da quantidade mínima de pessoas a serem vacinadas para sustar a circulação do vírus ante o verificado no mês anterior

Segundo Guedes Pinto, essa dinâmica acusa um “descontrole permanente” da transmissão do vírus em todo o país. “Mesmo onde verificamos queda da cobertura mínima necessária, a melhora foi quase sempre insignificante.” Em maio a cobertura vacinal mínima só recuou mais de cinco pontos percentuais em três Estados e, de forma geral, teve variações bem inferiores às registradas em abril, quando o país colhia os efeitos de medidas mais duras de isolamento impostas na esteira do pico de mortes da pandemia, em março. O caso do Tocantins é sintomático: o Estado precisava vacinar pelo menos 83,2% da população em março, número que caiu para 47,6% em abril, mas, em maio, desceu somente para 45,9%.

A desaceleração na queda da cobertura mínima necessária ou mesmo seu aumento se repete na maior parte do país, e indica recrudescimento da pandemia. “Mais do que continuidade do descontrole, os números dizem que caminhamos rápido para um novo pico de infecções e mortes”, diz a física Patrícia Magalhães, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), responsável pelo modelo matemático ao lado da estatística Pamela Chiroque-Solano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A previsão vai no mesmo sentido dos alertas semanais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Na sexta-feira, a instituição apontou tendência de aumento de casos síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em 13 Estados e o Distrito Federal. Como 96% dos casos de SRAG no Brasil hoje se devem a infecção por covid-19, fica patente a provável escalada dos casos da doença nas próximas semanas.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores do Ação Covid-19 calculam a média da taxa de transmissão do vírus (R) de cada Estado a partir dos números de infectados, recuperados e “suscetíveis” indicados por secretarias estaduais durante 30 dias. Com o indicador, é possível estimar quanto de cada população precisa estar imunizada para levá-lo a valor igual ou menor que 1. Na conta, vacinados são computados como suscetíveis, mas “pesados” pela eficácia da vacina Coronavac (50,38%), ainda a mais aplicada no país.

O Globo

CPI da Covid: ‘A responsabilização, com certeza, vai chegar ao presidente’, diz Tasso Jereissati em entrevista

Ao GLOBO, senador do PSDB e titular da comissão avalia que erros do governo tiveram Bolsonaro como ‘ordenador’, e que demora por vacinas foi ‘deliberada’

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), membro titular da CPI da Covid, considera que o presidente Jair Bolsonaro será responsabilizado ao final dos trabalhos do colegiado como o “grande chefe” de uma política desastrosa no enfrentamento à pandemia. Para o senador, todas as linhas de investigação levam ao presidente da República, entre elas o atraso na compra de vacinas. Ele considera que Bolsonaro tenta desestabilizar o país e que a situação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello com o Exército torna o retorno do general à comissão ainda mais delicado.

Já existem indícios na CPI da Covid contra o presidente Jair Bolsonaro?

Na verdade, há vários indícios em várias linhas de investigação, e todas têm uma coisa em comum, que é o Bolsonaro. O problema leva ao Bolsonaro. Se você for falar de vacina, onde parou o processo de compra, a lentidão, você vai no Pazuello, vai no outro, e acaba no Bolsonaro. Se você fala em críticas e obstáculos ao afastamento social e ao uso de máscara… Bolsonaro. Pode criticar o ministro da Saúde, mas acaba no Bolsonaro. Sobre a cloroquina, por que essa prescrição de um remédio sem comprovação científica, quem fez, quem não fez, segue a linha e acaba no Bolsonaro. E agora estamos vivendo esse problema de aglomeração, com uma ameaça, se já não uma realidade, de terceira onda. E o Ministério da Saúde praticamente imobilizado, não se pronuncia sobre essa aglomeração, se promove uma Copa América. E o que tem por trás disso? Bolsonaro. Então, todos os indícios levam ao grande chefe disso tudo, o grande chefe dessas falhas todas é sem dúvida nenhuma o Bolsonaro, cercado por maus conselheiros.

Então já é possível falar em algum tipo de responsabilização em relação ao presidente?

A responsabilização, com certeza, vai chegar ao presidente Bolsonaro. Evidentemente. Porque todas as declarações (dadas à CPI) que coincidem, em todos os aspectos, levam ao grande mentor, não como um grande mentor intelectual, mas o grande ordenador. E aconselhado por uma equipe paralela ao governo oficial, que o levou a esse negacionismo e a essa política desastrosa.

O que o senhor acha do perfil do presidente, que mesmo com a CPI funcionando, com novas evidências surgindo, mantém a direção e continua fazendo provocações aos membros da comissão?

A postura dele é provocadora. Parece-me que ele já passou do limite de fazer algum tipo de enfrentamento racional às coisas que estão sendo obtidas na CPI e passou a uma provocação não só à CPI, mas ao país inteiro. O máximo da provocação foi quando o ex-ministro Pazuello esteve na CPI e jurou perante a Deus e a Constituição Brasileira, como um militar, um general, de quem se espera uma palavra altiva e corajosa, que era a favor do afastamento e rigoroso em relação a uso de máscara. E dois dias depois ele estava fazendo em cima de um palanque, ao lado do presidente, uma manifestação justamente pelo contrário. Eu acho que o presidente hoje está claramente buscando desestabilizar o país.

Com a decisão do Exército de não punir Pazuello por participar de ato político, a reconvocação e uma eventual punição do ex-ministro fica mais delicada?

É claro que fica mais delicado. No momento em que todo o Brasil pensava, em função daqueles que conhecem a importância da hierarquia e da disciplina na vida militar, que houvesse uma manifestação muito clara do alto comando do Exército, e isso não aconteceu, isso nos deixa muito preocupados. E eu acho que o ministro Pazuello tem sido protagonista de duas crises que eu não esperava viver na minha vida: a primeira, sanitária; essa crise de mortes, casos e perdas que o Brasil sofre, o Brasil todo dia de luto. E uma que eu não esperava ver mais, que é uma crise militar; pensei que já tinha acabado na história. E o Pazuello tem sido protagonista dessas duas coisas. Para o Brasil, a melhor coisa hoje era que ele saísse de cena.

Existe um projeto que ganhou força na Câmara após esse episódio para impedir que militares da ativa ocupem cargos no governo. O senhor acha importante ter essa separação?

Diante do que tá acontecendo é importante, mas tem que ser visto com muito cuidado, tem que ser discutido com os próprios militares da ativa e aquelas lideranças mais representativas da reserva para que não se faça, e não é objetivo, nenhum tipo de movimento que não seja homogêneo com o sentimento da grande maioria das Forças Armadas brasileiras, que são instituições de Estado, precisam ser preservadas e também com a manutenção da harmonia com o Congresso e o Judiciário.

Semana que vem vai ocorrer a oitiva com o primeiro governador na CPI, e depois ainda há outros oito convocados. É possível levar essa apuração do governo federal e também ouvir os governadores ao mesmo tempo?

Eu não acho que vá ter tempo para ouvir outros governadores. O caso do Amazonas e de Manaus é muito específico. Aliás, foi em função dos acontecimentos de Manaus, da omissão e dos erros que aconteceram lá, que essa CPI foi instalada. E há uma certa coincidência nos depoimentos que de uma maneira responsabiliza também o governo do estado e o secretário de Saúde. Esse é um caso muito específico, tem que ser ouvido. Acho que os outros, no decorrer do tempo, com tantas coisas acontecendo, não serão prioridade.

Quais os principais pontos da investigação na CPI até agora, na visão do senhor?

A demora da compra de vacinas, e agora com os vídeos e documentos que estamos obtendo, sabemos que foi uma demora deliberada. Não foi, como em princípio eu achava, uma demora por negligência, por incompetência. Há também o conselho paralelo, que tinha mais força até do que os órgãos oficiais. Isso também está comprovado e é bastante irregular. Há, ainda, a questão da cloroquina, que nos leva a outro ponto, que é a tese da imunidade de rebanho. Esse pensamento não está comprovado, mas a percepção de fixação na cloroquina tem a ver com esse pensamento.

Estadão

Governo distorce reportagem e insinua que The Economist sugeriu matar Bolsonaro

Secom fez uma série de 23 postagens no Twitter distorcendo o conteúdo da matéria ‘É hora de ir embora’, cuja tradução foi publicada pelo ‘Estadão’

O governo Jair Bolsonaro distorceu neste domingo, dia 6, a reportagem de capa da revista inglesa The Economist, que trata da pandemia no Brasil, e acusou a revista de sugerir o assassinato do presidente para superar a crise. Para desqualificar a publicação, uma das de maior prestígio internacional, o Palácio do Planalto atribuiu à revista uma suposta tentativa de “interferir em nossas questões domésticas” e de fazer apologia a um golpe das Forças Armadas contra Bolsonaro.

A Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) fez uma série de 23 postagens no Twitter distorcendo o conteúdo da reportagem “É hora de ir embora”, cuja tradução foi publicada pelo Estadão. O governo não divulgou nota a respeito, apenas postou a séria de mensagens na rede social. A Secom rebateu a reportagem, cuja capa traz uma ilustração com Cristo Redentor “respirando” auxílio de um cilindro de oxigênio, o que remete a capas feitas em governos anteriores sobre o Brasil.

A Secom afirmou: “A narrativa do texto, em suma, é a seguinte: o presidente seria um ditador que estaria matando o próprio povo; seus apoiadores estariam dispostos à guerra civil e o Exército estaria disposto a intervir caso o presidente perca as próximas eleições. Segundo a tradução replicada pelo Estadão, aqui utilizada, The Economist chega a afirmar que a solução seria eliminar o presidente: ‘A prioridade mais urgente é eliminá-lo’, afirmam. Vejam bem: não falam apenas em vencer nas urnas, superar, destituir. Falam em eliminar. Estaria o artigo fazendo uma assustadora apologia ao homicídio do presidente?”.

A interpretação do governo omite o contexto da reportagem, que é uma projeção da situação atual do País, com reflexos econômicos sociais e políticos do descontrole da covid-19, e a futura disputa eleitoral de 2022. No texto, a expressão “eliminá-lo”, que encerra o artigo da Economist, vem no contexto das eleições presidenciais, sem nenhuma referência a atos violentos ou apologia a crime. A eliminação seria nas urnas. A expressão original, em inglês, é: “The most urgent priority is to vote him out” – que deixa clara a vinculação de derrotar o presidente por meio do voto.

“Em 31 de março, aniversário do golpe militar, seis potenciais adversários de Bolsonaro assinaram um manifesto dizendo que a democracia estava “ameaçada”. Salvá-la exigirá mais do que manifestos. Os políticos precisam lidar com as reformas econômicas atrasadas. Os tribunais devem aplicar medidas severas contra a corrupção. E empresas, ONGs e brasileiros comuns devem protestar em favor da Amazônia e da Constituição. Mas será difícil mudar o curso do Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A prioridade mais urgente é eliminá-lo”, afirma a revista.

Nas publicações, a Secom desqualifica a reportagem, e afirma que o artigo é insano, não tem credibilidade e nem ética. O governo também afirma que a revista repete um discurso de viés histriônico e oposicionista, e teria, segundo a interpretação governista, o objetivo de influenciar os rumos políticos do Brasil, por isso, atentaria contra a “autonomia” do País.

“Sob o disfarce de crítica ao presidente, a The Economist ataca a nação brasileira”, afirma a Secom. “Ao mesmo tempo em que acusa o presidente de ser antidemocrático, conclama o Exército a insurgir-se contra seu chefe, em apologia a golpe antidemocrático”, afirmou a Secom.

A Secom também acusa a revista de publicar absurdos próprios de “panfletarismo juvenil”, quando reproduz prognósticos científicos de que a parte da Amazônia pode estar em processo de degradação irreversível e se tornar uma savana. Dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelaram há dois dias que o desmatamento na floresta no mês passado chegou ao pior índice na série histórica, desde 2016. Foram 1.180 quilômetros quadrados de área desmatada, conforme os radares do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

O governo não detalha, em nenhum momento, dados para embasar seus argumentos e atrai para si iniciativas que não foram do presidente. Uma delas é a criação do auxílio emergencial, uma iniciativa do Congresso Nacional. A Secom também afirma que “Estados governados pela oposição incentivavam e festejavam o carnaval” no início da pandemia, omitindo que o presidente também viajou no feriado e sempre defendeu a retomada de atividades normais, contrariamente ao distanciamento social.

Em uma sequência de autoelogios sem dados, o Planalto também afirma que o governo Bolsonaro “investiu mais do que a média dos países emergentes no combate à covid”, ”preservou milhões de vida” e que o País “está entre os cinco a garantir autossuficiência na produção de vacinas e é hoje um dos países que mais vacina sua população”. O discurso se choca com a posição do Brasil em rankings internacionais, com a dificuldade de produção de vacinas em solo brasileiro – além de a demanda ser superior à oferta, ainda não há insumos que permitam autossuficiência e os laboratórios fabricantes dependem de importação.

Com 71 milhões de doses aplicadas, o Brasil está em quarto lugar no ranking total, mas é apenas o 66º na proporção de doses por 100 habitantes, que leva em conta o tamanho da população. Ao todo, o País superou a marca de 473 mil mortos pelo novo coronavírus, o segundo no mundo, estando entre os dez países com mais mortes por milhões de habitantes.

Estadão (Coluna Fausto Macedo)

Perfil ‘inautêntico’ derrubado pelo Facebook foi acessado da casa de Bolsonaro no Rio e de dentro do Planalto

A Polícia Federal identificou que, entre a rede de contas falsas derrubadas pelo Facebook em junho do ano passado, está um perfil operado de endereços ligados ao presidente Jair Bolsonaro: o Palácio do Planalto, sede oficial do governo, e a casa da família na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

A conclusão consta em relatórios produzidos durante as investigações do chamado inquérito dos atos antidemocráticos – aberto em abril do ano passado para investigar a organização de manifestações defendendo a volta da ditadura militar, intervenção das Forças Armadas e atacando instituições democráticas que marcaram as comemorações pelo Dia do Exército em diferentes cidades do País.

Uma das hipóteses de investigação tocadas pela Polícia Federal no inquérito mirou o uso de redes sociais e a identificação de contas declaradas inautênticas pelo Facebook. Os investigadores usaram como base um relatório produzido pela Atlantic Council, que faz análises independentes sobre a remoções de perfis da rede social por ‘comportamento inautêntico coordenado’.

O trabalho foi feito em etapas. Primeiro, a PF analisou o relatório e identificou 80 contas consideradas inautênticas responsáveis pela difusão de informações antidemocráticas. Na sequência, operadoras de internet foram intimadas a compartilhar os números de IP (espécie de RG atribuído a cada computador ou celular conectado à internet) dos terminais usados para operar esses perfis e os dados usados nos cadastros desses IPs, incluindo localização de acesso. A conclusão foi a de que ao menos 1.045 acessos partiram de órgãos públicos, incluindo a Presidência da República, a Câmara dos Deputados, o Senado e o Comando da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea do Exército. É justamente nesta lista que constam acessos a partir da rede de wifi do Palácio do Planalto e da casa dos Bolsonaro no Rio de Janeiro.

A Polícia Federal identificou que, nos endereços ligados a Bolsonaro, foram acessadas a conta de Instagram Bolsonaro News e o perfil pessoal no Facebook de Tércio Arnaud Thomaz, assessor do presidente apontado como integrante do chamado ‘gabinete do ódio‘, revelado pelo Estadão. Na casa de Bolsonaro, os acessos foram feitos em novembro de 2018. Já na rede da Presidência, foram mais de 100 acessos só ao perfil Bolsonaro News entre novembro de 2018 e maio de 2019.

No relatório da Atlantic Council, a Bolsonaro News é descrita como uma página que usa memes para atacar ex-aliados de Bolsonaro. “Tática do suposto Gabinete do Ódio”, afirma a consultoria. “Esse comportamento persistiu durante a campanha de 2018 e continuou depois que Bolsonaro assumiu o cargo. Muitas dessas postagens foram publicadas durante o horário de trabalho, o que pode ser uma indicação de que Tércio Arnaud Thomaz estava postando neste site – que não está oficialmente conectado à Presidência – durante o horário oficial do gabinete”, diz outro trecho do relatório.

Segundo a PF, o Facebook apontou que a derrubada das contas usou com base a seguinte tipologia estabelecida pela empresa: “operações executadas por um governo para atingir seus próprios cidadãos. Isso pode ser particularmente preocupante quando combinam técnicas enganosas com o poder de um Estado”.

Valor

Dividido, MDB busca atrair apoio a projeto de desenvolvimento

Presidente do partido articula candidato próprio à Presidência

Com o MDB dividido entre lulistas, uma minoria bolsonarista, e uma maioria de centro, o presidente nacional da sigla, deputado Baleia Rossi (SP), passou a articular uma candidatura própria do partido à sucessão presidencial. Antes de apostar em nomes, a legenda quer atrair simpatizantes com um projeto de desenvolvimento para o país, o “Ponto de equilíbrio”, documento que deve ser lançado em agosto.

“Já tive conversas com várias lideranças do partido e, majoritariamente, a vontade é por uma candidatura ao centro, de preferência, uma candidatura própria. Essa radicalização da política prejudica o país, podemos encontrar um nome mais pacificador e equilibrado”, disse Baleia ao Valor. Ele ressalvou, entretanto, que fará um processo inverso: “Primeiro, teremos um projeto para o país. Não adianta entrar em briga eleitoral sem uma proposta objetiva”, completou.

Para entrar na disputa com PDT, PSDB, DEM, e Novo, que já estão com pré-candidatos em campo, o MDB aposta no capital político: com o maior número de prefeitos, tem ampla capilaridade, além de contar com a maior bancada de senadores, três governadores, e lideranças de projeção nacional, como o relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (AL), e os ex-presidentes Michel Temer e José Sarney.

Em contrapartida, tem que frear o processo de encolhimento, iniciado em 2018, quando as urnas mandaram vários caciques da sigla para casa. Esse resultado teve desdobramentos em 2020: o partido elegeu 784 prefeitos, mantendo a liderança do “ranking” municipal, mas perdeu 260 prefeituras em relação a 2016.

O documento “Ponto de equilíbrio” está sendo elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães (FUG) como um plano de retomada do desenvolvimento econômico e social do país. Respalda-se, especialmente, em experiências bem sucedidas da gestão Michel Temer, como as ferramentas para garantir o equilíbrio fiscal, a exemplo da PEC do teto dos gastos públicos.

Informalmente chamado de “Ponte para o futuro 2”, o trabalho é coordenado pelo presidente da FUG, deputado Alceu Moreira (RS), que é pré-candidato do MDB ao governo do Rio Grande do Sul, mas com subsídios do próprio Temer, e do ex-ministro e atual secretário de Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, que representou o MDB no último pleito presidencial. Consagrou-se com o bordão “chama o Meirelles”, mas alcançou apenas 1,20% dos votos válidos.

Baleia cita entre os mais cotados internamente para encarnar a candidatura presidencial a senadora e líder da bancada feminina, Simone Tebet (MS), e o ex-presidente Temer. Simone ganhou projeção nacional e angariou apoio de filiados após concorrer à presidência do Senado. A avaliação interna é de que, apesar da derrota, ela emergiu da disputa maior do que entrou.

O nome dela já circula nas redes sociais: o movimento Vem Pra Rua lançou a enquete “Qual dupla você quer ver no comando do Brasil em 2023?” Uma das duplas testadas tem Simone na cabeça de chapa, e o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) na vice.

Com sua gestão reconhecida por estancar a derrocada econômica, Temer tem atuado nos bastidores, até mesmo, como conselheiro do presidente Jair Bolsonaro. Na última semana, reuniu-se em São Paulo com Baleia e o presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), para discutir alianças entre as duas legendas nos Estados e no plano nacional.

Apesar do projeto próprio, o MDB não deixará de interagir com as outras legendas. Neste mês, vai participar de debates públicos com DEM, PSL, Podemos, Novo. Se possível, querem atrair Ciro Gomes (PDT). “Quem quer receber apoio, tem de estar disposto a apoiar. Se não tivermos capacidade de união por vaidades pessoais, é sinal de que as lideranças do centro não estão maduras para pensar num projeto de país”, diz Baleia.

Além da árdua missão de construir uma terceira via com fôlego para romper a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Baleia tem o desafio paralelo de unir o MDB. Os diretórios estaduais do Nordeste estão inclinados desde já a caminhar com Lula. “Já anunciei que meu voto é em Lula”, diz o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira, que comanda o MDB no Ceará. O núcleo bolsonarista mais evidente está no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense. É encabeçado pelo prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, seguido pelo prefeito de Belfort Roxo, Waguinho.

Mas o presidente do diretório fluminense do MDB, o ex-ministro Leonardo Picciani, pondera que o partido tende para o centro no Rio de Janeiro, onde está fechado com o governador Cláudio Castro (PL). Reis deve integrar a chapa de Castro à reeleição como postulante ao Senado. “O MDB precisa se firmar como um partido verdadeiramente de centro. Isso está mais nítido, o partido carregou muito tempo a pecha de fisiológico, mas agora não está no governo Bolsonaro”, diz Picciani.

Ele argumenta que os dois líderes do governo, senadores Fernando Bezerra (MDB-PE), e Eduardo Gomes (MDB-TO), são indicações pessoais de Bolsonaro, e não do MDB. Picciani admite, entretanto, que o MDB tem “expertise em cenários atípicos”. Em 2002, tinha Rita Camata (MDB) como candidata a vice de José Serra (PSDB), mas, no Rio de Janeiro, o diretório estadual fechou com Lula. “Não temos dificuldade de respeitar quem pensa diferente, mas o correto para nós será encontrar uma alternativa que valorize o partido”, conclui Baleia.