Clipping 8 de julho de 2021

Manchetes

Pivô de escândalo, ex-diretor da Saúde é preso durante CPI (Folha)

Ex-diretor da Saúde é preso acusado de mentir em CPI (Estadão)

Presidente da CPI manda prender ex-diretor da Saúde (O Globo)

Materiais de construção têm melhor resultado em 10 anos (Valor)

Valor

Acúmulo de fatores freia compras de automóveis

Anfavea reduz projeções de produção e vendas em 2021

Marli Olmos

A indústria automobilística parece acreditar na continuidade do vigor do agronegócio e na expansão do comércio eletrônico no país, mas não está tão certa em relação ao consumo de automóveis. Em novas projeções para 2021, anunciadas ontem, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) elevou a expectativa de crescimento de vendas de picapes, vans e furgões de 18% para 33% e a de caminhões de 13% para 33%. No caso de automóveis, no entanto, a entidade reduziu a projeção de expansão de 15% para 12%.

A entidade que representa as montadoras atribui à escassez de semicondutores grande parte da redução da expectativa de crescimento de vendas de carros de passeio. Mas não é apenas isso que incomoda os dirigentes do setor. Crescem as preocupações em relação à pressão inflacionária e, sobretudo, à alta das taxas de juros, que tem efeito direto nos planos de financiamento, principal canal de vendas de veículos no país.

O problema da falta de semicondutores tem se agravado e ontem levou a Volkswagen a anunciar 20 dias de férias coletivas, a partir do dia 19, para um turno na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). A produção em Taubaté (SP) também vai parar por 20 dias a partir do dia 12. No início da semana, a Hyundai também voltou a suspender a produção de um turno em Piracicaba (SP). A distribuição dos semicondutores dentro das fábricas tem sido uma operação de guerra. Os veículos mais vendidos tendem a ser os privilegiados quando as peças chegam nas linhas de montagem.

Apesar de o problema provocar filas de espera por alguns modelos de carros, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, diz que é difícil saber quanto o mercado poderia ser maior este ano caso não houvesse a falta desses componentes. Ele suspeita que o crescimento não seria tão significativo. O dirigente teme que as vendas sejam afetadas também por outros fatores, como a persistência dos efeitos da crise sanitária na atividade econômica, a despeito do crescimento do PIB, e também o alto índice de desemprego. “Temos a crise na saúde, os aspectos econômicos e a falta de componentes; é difícil aferir o tamanho da demanda”, destaca.

Como os automóveis representam a maior parte das vendas de veículos, a projeção de crescimento menor nesse segmento consequentemente se reflete em projeções menos otimistas também no mercado total e produção. A Anfavea espera agora a venda de 2,32 milhões de veículos em 2021, o que representará aumento de 13% na comparação com 2020. A previsão anterior era de 15%.

A produção chegará, segundo a nova estimativa, a 2,45 milhões de unidades, expansão de 22%. A projeção anterior era de 2,52 milhões (alta de 25%). Moraes, não prevê a normalização do abastecimento de semicondutores antes do segundo semestre de 2022.

Um estudo do BCG indica que apenas no primeiro semestre 162 mil veículos deixaram de ser produzidos na América do Sul pela falta desses componentes. Segundo a consultoria, nas fábricas de todo o mundo, a perda de produção poderá chegar a volumes entre 5 milhões e 7 milhões de veículos. Isso representa em torno de 7% a 10% do mercado global.

Embora a indústria automobilística tenha fechado o semestre com números bastante positivos é preciso levar em conta que a base de comparação é pequena, pois foi na primeira metade de 2020 que o setor sentiu os piores efeitos da pandemia. O volume de licenciamentos de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus (182,5 mil) representou crescimento de 37,4% em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado. A média diária de emplacamentos, contudo, está baixa em comparação com os meses anteriores e, principalmente, com o período anterior à pandemia. Em junho, foram licenciados 8,6 mil veículos por dia, em média.

Nos dois últimos meses, a média diária estava em torno de 9 mil unidades. E antes da pandemia, em 11 mil. As vendas no mês passado ficaram bem abaixo do registrado no mesmo período antes da pandemia. Em junho de 2019, foram vendidos 223,2 mil veículos e no mesmo mês de 2018, o total chegou a 202 mil unidades.

A recuperação em mercados vizinhos, como Chile, Uruguai, Colômbia e México, fez a Anfavea elevar também a expectativa de crescimento nas exportações deste ano de 9% para 20% (389 mil veículos). O volume embarcado no mês passado somou 33,5 mil veículos, aumento de 72,6% em comparação com o mesmo mês de 2020. No semestre, a exportação de 119,5 mil unidades (alta de 67,5%) gerou receita de US$ 3,64 bilhões, expansão de 70,7% em relação à primeira metade de 2020.

Folha de SP

Falta de peças faz montadoras revisarem projeções para 2021

Estudo mostra que 3,6 milhões de veículos deixaram de ser produzidos globalmente no 1º semestre

A Anfavea (associação das montadoras) revisou para baixo as previsões de produção e vendas para o mercado nacional em 2021. O principal motivo da mudança é a falta de peças para abastecer as linhas de montagem, com destaque para a escassez global de semicondutores.

A entidade prevê agora que 2,46 milhões de veículos leves e pesados serão fabricados neste ano, uma alta de 22% sobre 2020. Há seis meses, a associação calculava que haveria um crescimento de 25%, com 2,52 milhões de unidades.

Embora a demanda esteja aquecida, os problemas nas linhas de produção resultarão em vendas abaixo do esperado. A Anfavea prevê agora que 2,32 milhões de unidades serão emplacadas neste ano, uma alta de 13% sobre 2020. Antes a expectativa era de 2,38 milhões de licenciamentos, o que representaria um crescimento de 15%.

A retração da indústria automotiva devido à falta de insumos é um fenômeno global. Segundo um estudo feito pela consultoria BCG e apresentado pela Anfavea, 3,6 milhões de veículos deixaram de ser produzidos no mundo no primeiro semestre. O cenário pode piorar neste segundo semestre, principalmente devido ao aquecimento das vendas de produtos eletrônicos no fim do ano.

Fabricantes de eletrodomésticos, computadores e smartphones competem com as montadoras e seus fornecedores na disputa pelos semicondutores. A BCG estima que até 7 milhões de veículos podem deixar de ser produzidos em 2021, e a melhora só deve vir no segundo trimestre de 2022.

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, calcula que entre 120 mil e 140 mil veículos leves e pesados tiveram a produção comprometida pela falta de semicondutores. Como o problema afeta também os importados, o impacto nas vendas é ainda maior.

Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave (associação dos distribuidores), disse nesta sexta (2) que, embora houvesse demanda, 200 mil veículos deixaram de ser entregues no primeiro semestre devido à escassez de peças.

Sem componentes, as montadoras seguem com paralisações totais ou parciais. Fábricas da General Motors, da Hyundai, da Nissan e da Volkswagen confirmaram interrupções entre os meses de maio e junho, mas todas as empresas têm sido afetadas. O resultado aparece na queda da produção. Foram montados 166,9 mil veículos leves e pesados no último mês, uma queda de 13,4% na comparação com maio, segundo a Anfavea.

As exportações também foram prejudicadas: 33,5 mil unidades foram enviadas ao exterior no último mês, uma retração de 9,4% em relação a maio. A comparação entre os primeiros semestres de 2020 e de 2021 mostra uma alta de 57,5% na fabricação. O número impressiona, mas a base comparativa é baixa: em abril do ano passado, por exemplo, somente 1.800 veículos leves e pesados foram montados.

Os estoques seguem baixos, suficientes para atender a 15 dias de vendas. As filas de espera por alguns modelos podem chegar a nove meses, como ocorre no segmento de caminhões. As montadoras que produzem veículos pesados têm feito operações de guerra para tentar atender aos pedidos. Há modelos semiprontos parados nos pátios, à espera de semicondutores que podem vir em caríssimos voos fretados.

Os esforços para atender ao agronegócio e ao setor de entregas urbanas fizeram a produção de caminhões chegar a 14,6 mil unidades em junho, melhor resultado desde fevereiro de 2014. Na comparação com maio, houve crescimento de 5,3%. As novas previsões feitas pela Anfavea consideram também os impactos positivos gerados pela alta do PIB e pelo avanço da vacinação, mas consideram também pontos negativos.

O encarecimento dos veículos gerado pela alta nos custos de produção– os reajustes do aço são os que mais têm impactado o setor– e pela desvalorização do real perante o dólar podem afetar a demanda por modelos zero-quilômetro. Isso ocorre em um momento que as montadoras buscam aumentar a rentabilidade e lançam automóveis mais caros. Os aumentos no preço dos combustíveis e a possibilidade de reajuste nas taxas de financiamento devido à elevação da taxa básica de juros também foram considerados nas contas da Anfavea.

O presidente da entidade voltou a cobrar mais atenção à indústria nacional. Moraes vê que os investimentos seguem pautados por commodities, enquanto o setor de transformação não tem recebido o devido cuidado por parte do governo federal. “Além do plano Safra, eu queria ter o Plano Indústria no Brasil”, disse o executivo durante entrevista coletiva realizada nesta quarta (7).

Automotive Business

Produção de caminhões cresce 115% no 1º semestre

Período teve 74,7 mil unidades, o melhor desde 2014, e nova projeção anual indica mais de 135 mil veículos

A produção de caminhões em junho somou 14,6 mil unidades. Foi o melhor resultado do ano, com alta de 5,3% sobre maio, e também o volume mensal mais alto desde fevereiro de 2014. Em todo o primeiro semestre foram fabricadas 74,7 mil unidades, 115,1% a mais que em igual período do ano passado. O resultado também é o melhor desde o primeiro semestre de 2014.

Os números foram divulgados na quarta-feira, 7, pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que revisou para cima as projeções do segmento de 135 mil para 156 mil veículos pesados (caminhões e ônibus somados). Se a associação estiver certa, haverá alta de 42% sobre 2020. A projeção anterior era de 135 mil unidades e crescimento de 23%. Nas projeções de produção, a Anfavea não separa os números de caminhões e ônibus, mas pelo volume alcançado no primeiro semestre dá para acreditar em 137 mil caminhões fabricados até o fim do ano. Já a projeção para veículos leves recuou para 2,32 milhões de unidades.

A associação chama a atenção para a mudança na demanda de diferentes segmentos de caminhões nos últimos seis anos. No primeiro semestre de 2015 os modelos pesados (com Capacidade Máxima de Tração, CMT, acima de 40 toneladas) ocupavam uma fatia de 25% do mercado, enquanto os semileves (com Peso Bruto Total, PBT, de 3,5 até 6 toneladas) e leves (com PBT de 6 a 10 toneladas) tinham juntos 33% do setor. Atualmente os pesados detêm 52%, enquanto a presença dos semileves e leves baixou para a 15%.

“Entre as razões para isso está o foco do cliente em aplicações no transporte que utilizam bitrens e rodotrens, implementos que exigem caminhões com maior capacidade de carga”, afirma o vice-presidente da Anfavea, Gustavo Bonini.

O executivo recorda que a presença dos pesados se ampliou não só pelo agronegócio como também pela mineração e até pelo aumento da demanda do comércio eletrônico. “Temos o hábito de atribuir ao e-commerce apenas o aumento das vendas de modelos menores, aqueles que vemos na ponta da linha, mas esse segmento demanda veículos grandes também, que fazem o transporte da indústria para os centros de distribuição”, recorda Bonini.

FALTA DE SEMICONDUTORES TAMBÉM ATINGE O SETOR

Embora com menor intensidade que nos automóveis, a falta de semicondutores prejudicou a montagem de veículos pesados no primeiro semestre. Bonini não tem uma estimativa em unidades, mas recorda que as fábricas foram obrigadas a alterar o mix de produtos e recorreram até ao transporte aéreo de componentes. “Isso nem sempre tem resolvido e acreditamos que o problema permanecerá no segundo semestre e possivelmente na primeira metade de 2022”, diz.

EXPORTAÇÃO CRESCE 123,6% NO SEMESTRE

Em junho foram exportados 1,8 mil caminhões, volume apenas 1,6% menor que o de maio. No acumulado do ano o Brasil enviou 10,7 mil unidades ao mercado externo, uma alta de 123,6% sobre o primeiro semestre do ano passado, quando a chegada da pandemia de Covid-19 causou grande impacto nas operações portuárias. Os caminhões pesados responderam por pouco menos de 50% dos embarques. Foram 5,1 mil unidades e alta de quase 90% na comparação com iguais meses de 2020.

A indústria também revisou para cima as exportações. A estimativa inicial de 20,1 mil unidades subiu para 24 mil, com crescimento de 38% sobre 2020. Nestes 24 mil veículos a Anfavea também reúne caminhões e ônibus. É possível estimar que os caminhões responderão por mais de 20 mil embarques.

MERCADO INTERNO COMPRARÁ MAIS DE 120 MIL CAMINHÕES

O mês de junho teve 11,4 mil caminhões emplacados no País, resultando em pequena queda de 1,1% em relação a maio, mas este foi o melhor junho desde 2013. E o acumulado do ano atingiu 58,7 mil unidades, mais uma vez o melhor resultado para o período desde 2014. Já a comparação com a primeira metade de 2020 indica alta de 55,1%. A Anfavea recorda que o melhor primeiro semestre para o setor foi anotado há exatos dez anos, com 83 mil caminhões emplacados. “Estamos 29% abaixo disso, o que mostra que o segmento tem espaço para crescer”, recorda Bonini.

A projeção divulgada em janeiro pela Anfavea era de 101 mil caminhões emplacados até o fim do ano, mas a demanda aquecida em todos os segmentos obrigou a entidade a elevar essa estimativa para 122 mil unidades, ou 36% a mais que o total licenciado em 2020. Os modelos pesados tiveram 30,6 mil unidades licenciadas de janeiro a junho, uma alta de 61,2% sobre iguais meses de 2020. A menor alta no período ocorreu para os caminhões médios: 4,8 mil veículos e crescimento de 37%.

ANFAVEA E GOVERNO DISCUTEM RENOVAÇÃO DE FROTA

Em entrevista coletiva on-line, outro vice-presidente da Anfavea, Marco Saltini, informou que a associação vem discutindo com o ministério da Economia a viabilidade de um programa de renovação de frota capaz de retirar de circulação caminhões muito rodados, poluentes e inseguros. “A discussão envolve vários setores: siderúrgicas, as próprias montadoras, fornecedores, sindicatos de motoristas autônomos e Confederação Nacional do Transporte”, afirma Saltini.

“É preciso que o poder público abrace essa ideia e a gente possa fazer a renovação, que trará maior produtividade no transporte. A sociedade sairá ganhando com redução de emissões e menores custos com acidentes”, recorda Marco Saltini.

“Sempre digo que o caminhoneiro não usa esses veículos porque quer, mas porque não consegue comprar outro mais novo”, afirma. Segundo o executivo, há a intenção de fazer um programa-piloto para avaliar as alternativas propostas para o governo a fim de dar consistência ao programa. Ele recorda ainda que no Brasil e em outros mercados já houve exemplos de programas que funcionaram.

Garagem 360

Carros elétricos vão representar apenas 10% das vendas em 2030

Desde os anos 1960, marcas e empresas buscam soluções para a eletrificação dos veículos. Nos últimos anos, esse processo aumentou e veículos assim começaram a ser produzidos em série e vendidos para as pessoas. Porém, eles ainda são minoria. E segundo uma projeção do Boston Consulting Group, isso continuará por algum tempo por aqui. Segundo a empresa, os carros elétricos vão representar menos de 10% das vendas em 2030 aqui no Brasil. Os híbridos também estão incluidos nisso.

Segundo a BCG, o número de automóveis cresceu nos últimos dois anos, mais ainda é pouco. No ano passado, de todos os emplacamentos realizados por aqui, os carros elétricos representaram apenas 1%. Muito longe da média global. A expectativa para o futuro também não é muito positiva. A empresa estima que essa parcela não passe de 10% em 2030.

Atualmente, o mercado automotivo brasileiro oferece um leque de opções de carros elétricos. Elas vão desde os carros menores (como o JAC iEV20) até os mais luxuosos (como o Porsche Taycan). Porém, assim como a maioria dos veículos movido à combustão, os preços ainda estão exorbitantes. O carro chinês, por exemplo, custa a partir de R$ 159.990. Ou seja, na mesma faixa de preço de SUVs mais bem equipados.

Outro motivo que pode atrapalhar é a falta de incentivos e infraestrutura necessária. Na cidade de São Paulo, por exemplo, os donos de veículos elétricos podem rodar em dias de rodízio municipal. Além disso, eles possuem 50% de desconto no pagamento do IPVA. Porém, ainda não há um plano nacional que incentive outras pessoas a comprarem um carro elétrico. Outro problema é que muitas rodovias não possuem eletropostos suficientes para recarregar as baterias. Em outras, o servição simplesmente não existe.

Enquanto o mercado brasileiro de carros elétricos caminha a passos curtos, outros paises já podem até traçar metas para o fim dos automóveis movidos à combustão. França, Inglaterra, Canadá e China já anunciaram estimativas para esse acontecimento. As marcas seguem a mesma linha.

De acordo com a mesma pesquisa do Boston Consulting Group, metade das vendas automóveis leves serão serão representadas por elétricos até 2026. Alguns números de 2020 mostram que essa meta pode até ser batida. Na Alemanha, por exemplo, a comercialização de veículos Plug-In Hybrid subiram 342%. Já a de 100% elétricos cresceram 207%. A participação dos PHEV’s aumentou também na União Europeia, Estados Unidos e China. Por fim, a empresa de consultoria diz que os carros de emissão zero representarão uma boa parte das vendas em 2035.

Estadão

Em carta a Lira, 120 associações empresariais se posicionam contra reforma do IR

Entidades cobram que o Congresso vote antes a Reforma Administrativa, com as discussões sobre os tributos sejam feitas de forma mais aprofundada

Movimento articulado por 120 entidades do setor empresarial contra o projeto do governo que altera o Imposto de Renda enviou uma carta ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), alertando para os impactos negativos da proposta e cobrando alterações no texto. As associações pedem que o Congresso vote primeiro a reforma administrativa, que mexe nas regras para contratar, promover e demitir os servidores públicos, antes do texto que prevê a taxação na distribuição de lucros e dividendos.

O setor produtivo pede na carta mais prazo e espaço para discussão transparente com a criação de uma comissão especial para discutir um projeto que traga “uma solução equilibrada, com impacto neutro sobre a arrecadação e, capaz de garantir crescimento com emprego e justiça social”.

Entre os signatários estão a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e inúmeras entidades do setor de serviços, incluindo a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel) e Associação Nacional de Jornais (ANJ).

A proposta entregue pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, no fim do mês passado, fixa em 20% a taxação de lucros e dividendos e extingue Juros sobre Capital Próprio, uma outra forma de remunerar os acionistas. O texto também prevê reduzir a alíquota do IRPJ para 12% em 2022 e 10% em 2023. Hoje, é de 15% e há cobrança de 10% sobre o lucro que exceder R$ 20 mil, que não seria alterada.

Os empresários não acreditam nos números do ministro de que não haverá aumento da carga tributária. Na carta, eles argumentam que a alíquota total sobre as empresas, de 34% (incluindo o IRPJ mais CSLL) subiria para 43,2%, com a adição da tributação sobre os dividendos. Segundo as entidades, o Brasil já figura entre “os países do mundo que mais tributam o consumo de bens e serviços, o emprego formal e o lucro dos empreendimentos”.

Ao presidente Lira, eles alertam que não é recomendável que uma proposta tão complexa, extensa e impactante tramite apressadamente, sob risco de serem cometidos graves erros, de difícil reparação futura. Lira já sinalizou que quer votar o projeto rapidamente e até admitiu a possibilidade que a votação ocorresse antes do recesso parlamentar das férias de julho.

Essa posição do presidente deixou em estado de alerta os empresários que resolveram se unir. Um grande evento de debates está sendo organizado para o próximo dia 18. “O Brasil não pode ter pressa para fazer algo que pode prejudicar o seu futuro”, diz a carta. As entidades alertam que o País sofrerá com menos crescimento econômico, empregos e aumento de preços.

A carta foi disparada também por meio eletrônico para as lideranças da Câmara, onde o projeto tramita há cerca de 10 dias com a relatoria do deputado Celso Sabino (PSDB-SP). A articulação do setor empresarial na carta aponta dificuldades adicionais para aprovação da proposta. A grita maior é que haverá forte elevação da carga tributária sobre os investimentos no país.

Um dos principais alvos das críticas é o fim da isenção que existe hoje para lucros e dividendos com a fixação de uma alíquota de 20%. Os empresários alegam que há extenso rol de medidas negativas incluídas no projeto que “desestimulam a atração do investimento produtivo e no mercado de capitais e desfavorecem o empreendedorismo e a geração de empregos”.

O documento contém uma lista de 68 artigos no projeto com problemas. As entidades apontam também para o risco de aumento da burocracia, da complexidade e da insegurança jurídica. No ofício, são feitas diversas considerações sobre problemas identificados, com o impacto direto em pequenas empresas, profissionais liberais, financiamentos setoriais e organização empresarial.

As entidades citam que as dificuldades trazidas pela medida estão em linha com as duras críticas de três ex-secretários da Receita Federal: Everardo Maciel, Marcos Cintra e Jorge Rachid. Everardo é um dos conselheiros técnicos dessa articulação. Foi na sua gestão à frente da Receita que foi dada a isenção aos lucros e dividendos. Colunista do Estadão, Everardo é um dos mais ácidos críticos do texto.

Os empresários dizem que é consenso a necessidade de maior justiça fiscal, começando pela correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, mas não é aceitável o limite do desconto simplificado para a classe média (em R$ 40 mil anuais), onerando substancialmente sua renda. “O valor de R$ 13,5 bilhões para a correção não deveria vir de aumento de impostos e sim, prioritariamente, da redução dos gastos públicos”, diz.

O ponto que os empresários querem convencer os parlamentares a não votar o projeto é o de que, se de um lado a proposta, traz algum alívio para os assalariados, de outro ameaça seus empregos, a geração de novas vagas de trabalho e ainda tende a aumentar o custo dos bens e serviços que a população consome.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) divulgou uma carta pública em separado pedindo que o projeto não seja aprovado. Ela cobra que o governo e o Congresso priorizem a reforma administrativa para a redução do tamanho do Estado para afastar a necessidade de aumento da carga tributária dos contribuintes.

No manifesto de repúdio ao projeto, a entidade sobe o tom e diz que não é o momento apropriado para a discussão de uma reforma tributária diante da fragilidade da situação econômica vivenciada pelos contribuintes, agravada pelo cenário de pandemia.

Para o presidente do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados, Gustavo Brigagão, sócio da Brigagão, Duque Estrada Advogados, o projeto não deveria nem mesmo ser colocado em votação. Ele vem trabalhando nessa mobilização. Na sua avaliação, o projeto de Paulo Guedes gera resultados “diametralmente opostos àqueles que se esperam de um governo que se diz liberal e avesso ao populismo”.

Folha de SP

Metade dos trabalhadores por conta própria tinha renda inferior a R$ 1 mil antes da pandemia, diz estudo

Parcela correspondia a 48% dos profissionais autônomos no terceiro trimestre de 2019

A renda de praticamente metade dos trabalhadores que atuavam por conta própria no Brasil não ultrapassava R$ 1 mil por mês no terceiro trimestre de 2019, período pré-pandemia. A conclusão integra estudo divulgado nesta quarta-feira (7) com base em microdados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No terceiro trimestre de 2019, período da análise, o país somava 24,3 milhões de trabalhadores por conta própria em áreas urbanas —o número desconsidera domicílios rurais. Do total, a parcela de 48% (em torno de 11,7 milhões) recebia até R$ 1 mil por mês. O salário mínimo à época era de R$ 998.

O levantamento foi realizado por pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e da Reafro (Rede Brasil Afroempreendedor) em parceria com o projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo. A fundação é ligada ao PT (Partido dos Trabalhadores).

O sociólogo João Carlos Nogueira, pesquisador do Observatório UFSC/Reafro, afirma que o trabalho por conta própria representa muitas vezes uma saída para profissionais com dificuldades de inserção no mercado. Em razão da escassez de vagas e da necessidade de renda, essas pessoas abrem um negócio próprio por necessidade, diz Nogueira. O salário, entretanto, tende a ficar em patamar baixo. “Há um desajuste no rendimento”, diz o pesquisador, que também é coordenador-executivo da Reafro.

Segundo Nogueira, o estudo analisa dados do terceiro trimestre de 2019 porque eram os mais recentes à disposição quando o levantamento começou a ser desenhado. As estatísticas integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE.

Conforme os números divulgados nesta quarta-feira, apenas 7% dos profissionais que exerciam o trabalho por conta própria como ocupação principal recebiam acima de R$ 4.000 por mês no terceiro trimestre de 2019.

A maior parte dos autônomos atuava de maneira informal, sem CNPJ. Essa fatia era de 77% no país. Os outros 23% possuíam o registro. Entre as regiões, a informalidade era mais acentuada no Norte (90%) e no Nordeste (87%).

No recorte por raça e cor, os negros constituíam a maioria dos trabalhadores nessa categoria: 54%. Os homens representavam 63% do total. Segundo o estudo, a parcela de mulheres (37%) só não era maior porque o emprego doméstico, quase inteiramente feminino, não entra no cálculo do trabalho por conta própria.

O levantamento ainda cruza microdados de renda com o perfil dos trabalhadores. Segundo o estudo, atividades por conta própria com rendimento de até R$ 1 mil estavam relacionadas principalmente a profissionais negros. Eles respondiam por 65% dos autônomos na construção civil, 61% nos serviços de alojamento e alimentação e 57% no comércio.

Brancos eram maioria em serviços sociais, de educação e saúde (67%) e atividades de informação, comunicação, financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (64%). A pesquisa afirma que, à medida que a renda cresce, o trabalho por conta própria tem aumento na participação de brancos e homens.

No terceiro trimestre de 2019, autônomos com rendimento acima de R$ 4.000 eram predominantemente formais (59%). Enquanto isso, postos com renda inferior a R$ 500 por mês eram quase todos informais (95%).

Em 2019, antes da pandemia, o mercado de trabalho ainda buscava se recuperar dos prejuízos da recessão de 2015 e 2016. Com a chegada da Covid-19, que provocou demissões em setores diversos a partir de 2020, a tendência é de que a ocupação por conta própria volte a aumentar no Brasil, projeta Nogueira.

“É um grupo que tende a crescer por necessidade, já que o país tem quase 15 milhões de desempregados”, aponta. “O crescimento do trabalho por conta própria pode até trazer uma sensação de melhora, mas não é necessariamente isso”, acrescenta.

Segundo dados da Pnad Contínua mais recente, divulgada pelo IBGE no último dia 30, o Brasil fechou o trimestre móvel de fevereiro a abril de 2021 com 24,04 milhões de profissionais autônomos. O número ainda está abaixo do pré-pandemia, mas indica avanço de 2,8% (mais 661 mil) ante igual trimestre de 2019. Ou seja, a modalidade por conta própria sinaliza retomada durante a crise sanitária.

Folha de SP

Defesa e comandantes reagem a fala de Aziz na CPI e dizem que Forças Armadas não aceitarão ‘ataque leviano’

Presidente da CPI disse que há muitos anos o Brasil ‘não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo’

O ministro da Defesa, Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas divulgaram uma nota em que repudiam declarações feitas pelo presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), na sessão desta quarta-feira (7) da comissão. Aziz afirmou que há muitos anos o Brasil “não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”.

Na nota, compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, Braga Netto e os comandantes afirmam que o senador, em sua fala, desrespeitou as Forças Armadas e generalizou esquemas de corrupção.

 “Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável”, dizem os militares no comunicado. Eles afirmam ainda que as instituições militares no país são fator “essencial de estabilidade” e pautam-se pela observância da lei e pelo equilíbrio. “As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”, concluem.

Nesta quarta, a CPI ouviu o depoimento do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Ele foi exonerado pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) na semana passada, após denúncia de pedido de propina revelada pela Folha.

A sessão terminou após Aziz determinar a prisão de Dias. Segundo o senador, o depoente mentiu em diversos pontos de sua fala. Durante a sessão, Aziz fez comentários que irritaram o alto comando militar do país.

Ao responder uma pergunta do senador, Dias disse que foi sargento da Aeronáutica. Aziz então disse que “os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia”. “Olha, eu vou dizer uma coisa: as Forças Armadas, os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia. Porque fazia muito tempo, fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do Governo. Fazia muitos anos”, disse.

“Aliás, eu não tenho nem notícia disso na época da exceção que houve no Brasil, porque o [ex-presidente da ditadura João] Figueiredo morreu pobre, porque o [também ex-presidente militar Ernesto] Geisel morreu pobre, porque a gente conhecia… E eu estava, naquele momento, do outro lado, contra eles. Uma coisa de que a gente não os acusava era de corrupção, mas, agora, Força Aérea Brasileira, coronel Guerra, coronel Elcio, general Pazuello e haja envolvimento de militares”, afirmou.

Aziz fez referência a militares que ocuparam postos no governo Bolsonaro e que estão no alvo da CPI. Eduardo Pazuello foi ministro da Saúde e Elcio Franco, secretário-executivo da pasta.

Após a reação da Defesa, Aziz disse que sua fala não generalizou o comportamento dos militares e afirmou que eles não podem intimidar o Congresso. Ele classificou a resposta da Defesa de “desproporcional”. “A minha fala foi pontual, não foi generaliza. E vou afirmar aqui o que eu disse na CPI novamente. Pode fazer 50 notas contra mim, só não me intimidem. Porque quando estão me intimidando, estão intimidando essa casa [Senado] aqui”.

“O que eu disse é pontual, que há muito tempo membros das Forças Armadas e alguns reformados… não se falava um A das Forças Armadas. E, hoje, um ex-sargento da aeronáutica foi depor e foi preso porque mentiu. Foi ele quem pediu US$ 1dólar por vacina”, declarou, citando as acusações feitas contra Dias —ele nega ter pedido vantagem indevida.

A manifestação das Forças Armadas também provocou reações de senadores da oposição e do governo durante sessão desta quarta. Randolfe Rodrigues (REDE-AP), vice-presidente da CPI, criticou o texto e defendeu Aziz. “Quero acreditar que essa manifestação foi um breve excesso, porque, se for diferente, é um caminho muito ruim para a ordem democrática.”

Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo, afirmou que a nota divulgada pela Defesa teve a intenção de defender a Constituição. “Fazer declarações, apresentar adjetivos, conclusões apressadas, aligeiradas, isso, sim, atropelou a Constituição Federal. E é em nome dela, é em nome dela que as Forças Armadas estão se posicionando”, argumentou.

Pressionado a se manifestar, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tentou amenizar a situação e garantiu que o Senado respeita as Forças Armadas. “Quero aqui, em nome do Senado Federal, render o meu mais profundo respeito às Forças Armadas – ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica –, cuja previsão constitucional haverá de ser sempre observada por todos nós e tenho absoluta convicção de que é aquilo que todos os senadores e todas as senadoras, inclusive o senador Omar Aziz, pensam em relação às Forças Armadas.”

O comunicado do Ministério da Defesa ocorre em meio a um debate sobre o risco da politização das forças de segurança e do próprio Exército. Um dos episódios que gerou mais receio entre especialistas ocorreu no início de junho, quando o Exército decidiu arquivar e não punir Pazuello mesmo após ele ter participado de um ato político ao lado do presidente. O regulamento militar veda a participação de militares da ativa em manifestações político-partidárias.

Confira a íntegra da nota da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas:

O Ministro de Estado da Defesa e os Comandantes da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira repudiam veementemente as declarações do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Omar Aziz, no dia 07 de julho de 2021, desrespeitando as Forças Armadas e generalizando esquemas de corrupção.

Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável.

A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições pertencentes ao povo brasileiro e que gozam de elevada credibilidade junto à nossa sociedade conquistada ao longo dos séculos.

Por fim, as Forças Armadas do Brasil, ciosas de se constituírem fator essencial da estabilidade do País, pautam-se pela fiel observância da Lei e, acima de tudo, pelo equilíbrio, ponderação e comprometidas, desde o início da pandemia Covid-19, em preservar e salvar vidas.

As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro.

Walter Souza Braga Netto – Ministro de Estado da Defesa

Almir Garnier Santos – Comandante da Marinha

Gen Ex Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – Comandante do Exército

Ten. Brig. Ar Carlos de Almeida Baptista Junior – Comandante da Aeronáutica

O Globo

MPF: gestão de Pazuello na Saúde foi ‘gravemente ineficiente e dolosamente desleal’

Procuradoria aponta que objeções do governo a vacina da Pfizer ‘não se sustentavam’

O Ministério Público Federal (MPF) afirma que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello retardou de forma deliberada o contrato com a Pfizer para fornecimento de vacinas contra a Covid-19 e aponta que as objeções feitas pelo governo federal às cláusulas contratuais não tinham nenhum respaldo “fático e/ou jurídico”.

As acusações constam de ação de improbidade administrativa ajuizada na semana passada contra Pazuello por uma equipe de oito procuradores da Procuradoria da República no Distrito Federal. O GLOBO teve acesso a detalhes do caso.

A ação lista uma série de irregularidades na gestão do ex-ministro, classificada de “gravemente ineficiente e dolosamente desleal (imoral e antiética)”. Para o MPF, as ações de Pazuello “não se pautaram pelos melhores parâmetros técnico-científicos, mas tiveram, como norte, outras opiniões, orientações e influências — internas e externas ao governo federal”. É a primeira vez que o MPF faz uma análise jurídica sobre o caso da Pfizer, também objeto da CPI da Covid.

Valor

Lula venceria Bolsonaro por 54% a 33% no segundo turno

Pesquisa Genial/Quaest aponta que, na primeira etapa, petista teria 43% das intenções de voto, à frente do presidente, com 28%, e do ex-ministro Ciro Gomes, que registrou 10% das preferências

A 15 meses da eleição ao Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 43% das intenções de voto, à frente do presidente Jair Bolsonaro, com 28%, e do exministro Ciro Gomes (PDT), que tem 10%. É o que aponta a pesquisa divulgada ontem pela Quaest Consultoria e Pesquisa e pelo banco Genial Investimentos. No segundo turno, Lula ganharia de Bolsonaro por 54% a 33%.

O resultado reflete a baixa popularidade da atual gestão. O governo Bolsonaro é avaliado negativamente por 44% dos eleitores, enquanto 26% o avaliam positivamente e 28% o consideram regular. A pesquisa entrevistou 1,5 mil pessoas, presencialmente, entre os dias 1º e 4 de julho. A margem de erro é de três pontos percentuais.

O levantamento simulou cinco cenários eleitorais para 2022, todos com Lula, Bolsonaro e Ciro, que variaram muito pouco, no máximo dois pontos percentuais, dependendo de quem é o quarto adversário. O governador de São Paulo João Doria (PSDB) registrou 7%; o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) teve 6%; o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) ficou com 4%; e o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (DEM) e o senador Tasso Jereissati (PSDB) receberam 3% das preferências, cada. Na pesquisa espontânea, Lula aparece com 21% contra 18% de Bolsonaro. Ciro tem 1% das menções.

Numa pergunta que buscou avaliar o potencial da terceira via, 41% responderam que preferem que Lula vença, 24% afirmaram querer Bolsonaro, e 31% disseram não preferir “nem Bolsonaro, nem Lula”. No quesito chance de votos, Lula foi o único com potencial acima do limiar de mais de 50%, necessários para a vitória: 36% disseram que “com certeza votariam” nele e 20% que “poderiam votar”. Com 36% de eleitores convictos, o petista teria um piso que praticamente asseguraria hoje sua ida ao segundo turno.

O potencial de Bolsonaro e Ciro coloca os dois num empate técnico, respectivamente com 37% e 38%: 22% afirmam que “com certeza votariam” no presidente e 15% que “poderiam votar”, enquanto apenas 5% dizem que “com certeza votariam” no pedetista mas 33% afirmam que “poderiam votar” no ex-ministro. A menor taxa de rejeição é a de Lula, com 42%, distante da de Ciro (58%) e de Bolsonaro (61%). A dos demais variou entre 62% e 71%. No segundo turno, Lula derrotaria Bolsonaro por 54% a 33%.

A pesquisa simulou ainda cenários em que Bolsonaro duela com outros seis adversários. O presidente também perde para Ciro (44% a 36%) e empata com Doria (38% a 38%), Mandetta (37% a 36%) e Leite (38% a 33%). Bolsonaro só venceria Pacheco (39% a 31%) e Tasso (40% a 31%), fora da margem de erro.

Dos 33% que votariam em Bolsonaro, num segundo turno contra Lula, uma minoria de 9% (ou 27% do total dos apoiadores do presidente) baseia sua escolha no desempenho administrativo do atual mandatário. A ampla maioria apoiaria sua reeleição por causa do sentimento antiesquerdista: 73% justificam a opção porque o presidente é contra Lula, o PT ou o “comunismo”.

Para o cientista político e professor da UFMG Felipe Nunes, fundador da Quaest, o resultado mostra que há espaço para a terceira via pois o voto em Bolsonaro está baseado essencialmente na negação do esquerdismo e não no mérito de gestor. Sendo assim, diz, o surgimento de um candidato antipetista poderia fazer Bolsonaro derreter.

Em sua visão, é por isso que Ciro tem atacado tanto o ex-presidente. “É o que os outros pré-candidatos deveriam estar fazendo. A terceira via não entendeu ainda que é isso que toma voto de Bolsonaro. Não tem que ficar neutra. Para mim, não há nada resolvido. A polarização não será necessariamente entre Bolsonaro e Lula”, diz.

A estratégia de Ciro, porém, teria limites. “O problema é que o cara que tem mais chance de ser essa terceira via hoje não cumpre todos os requisitos. Ciro pode ser anti-Lula e antipetista, mas não é antiesquerdista”, analisa.

De acordo com a pesquisa, cerca de um terço do eleitorado (34%) considera o governo Bolsonaro péssimo e 10% o acham ruim – total negativo de 44%. Apenas 8% apontaram a administração como ótima e 18% a avaliam como boa. No grupo intermediário, 15% disseram que o governo é “regular positivo” e 13% “regular negativo”. Entre os evangélicos, Bolsonaro tem agora uma avaliação de governo mais negativa (36%) que positiva (32%), embora dentro da margem de erro.

Poder 360

Lula abre sua maior vantagem contra Bolsonaro, diz PoderData

No 1º turno, petista tem 43% contra 29% do atual presidente; no 2º turno, vantagem é de 23 pontos

Pesquisa PoderData realizada nesta semana (5-7.jul.2021) mostra que o ex-presidente Lula (PT) abriu sua maior vantagem contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma possível disputa nas eleições de 2022. O petista concentra agora 43% das intenções de voto, contra 29% do atual comandante do Planalto. No levantamento realizado 1 mês antes, os 2 políticos estavam empatados dentro da margem de erro, que é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Tinham 31% e 33% dos votos, respectivamente.

Esta é a 1º rodada do PoderData feita sem os pré-candidatos Luciano Huck e João Amoêdo (Novo), que no mês anterior à pesquisa declararam que não participariam das eleições presidenciais. Apesar da disparada de Lula, os resultados mostram que Bolsonaro segue estável (varia só na margem de erro) com apoio na redondeza de ⅓ do eleitorado.

Para que um candidato vença no 1º turno é necessário ter mais da metade dos votos válidos, isto é, superar a soma de todos seus adversários. Os resultados desta rodada mostram que Lula tem 43% das intenções. Os outros, somados, marcam 44%. Considerando a margem de erro, Lula poderia ganhar no 1º turno se as eleições fossem hoje. O 1º turno do pleito está marcado para 2 de outubro de 2022. Os cenários testados agora devem ser tomados como uma radiografia do momento.

DISPUTA DE 2º TURNO

No 2º turno, Lula ficaria 23 pontos à frente de Bolsonaro, vencendo-o por 55% a 32%. Essa também é a maior vantagem já registrada pelo petista nas simulações feitas pelo PoderData, pelo menos desde setembro de 2020. Em uma disputa com o governador João Doria, Lula teria 34 pontos de vantagem. Com Ciro, 33 pontos. Já Bolsonaro perderia para ambos os candidatos, mas com uma diferença percentual menor. Leia os números abaixo:

Esta pesquisa foi realizada no período de 5 a 7 de julho de 2021 pelo PoderData, a divisão de estudos estatísticos do Poder360. A divulgação do levantamento é feita em parceria editorial com o Grupo Bandeirantes. Foram 2.500 entrevistas em 421 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Para chegar a 2.500 entrevistas que preencham proporcionalmente (conforme aparecem na sociedade) os grupos por sexo, idade, renda, escolaridade e localização geográfica, o PoderData faz dezenas de milhares de telefonemas. Muitas vezes, mais de 100 mil ligações até que sejam encontrados os entrevistados que representem de forma fiel o conjunto da população.

DESTAQUES DEMOGRÁFICOS

O gráfico a seguir estratifica o voto de cada entrevistado sobre o 1º turno das eleições presidenciais. O Poder360 destaca:

sexo – Lula tem 48% dos votos entre as mulheres e 38% entre os homens; Bolsonaro tem 23% entre mulheres e 35% entre os homens;

idade – Lula tem 55% entre os mais jovens (de 16 a 24 anos). Bolsonaro marca 11% no grupo;

região – Lula tem 59% no Nordeste, enquanto Bolsonaro, 19%; no Centro-Oeste, o atual presidente marca 40%, contra 29% do petista.

PESQUISAS MAIS FREQUENTES

O PoderData é a única empresa de pesquisas no Brasil que vai a campo a cada 15 dias desde abril de 2020. Tem coletado um minucioso acervo de dados sobre como o brasileiro está reagindo à pandemia de coronavírus. Num ambiente em que a política vive em tempo real por causa da força da internet e das redes sociais, a conjuntura muda com muita velocidade. No passado, na era analógica, já era recomendado fazer pesquisas com frequência para analisar a aprovação ou desaprovação de algum governo. Agora, no século 21, passou a ser vital a repetição regular de estudos de opinião.

Valor (análise)

Prisão azeda acordo

Comissão de Orçamento assopra e a de inquérito, morde

Maria Cristina Fernandes

A cena foi anotada por um interlocutor que o visitou no Palácio do Planalto. No meio da manhã, um garçom entra com uma bandeja com pães franceses cortados ao meio e leite condensado, à parte, para ser despejado a gosto. Concluiu não apenas que não se trata de um hábito para as câmeras como teve a certeza de que o presidente Jair Bolsonaro não mudou. Continuou a ser o mesmo cadete dos hábitos gastronômicos, do vezo da insubordinação e do gosto por bicos cultivados no Exército.

A sobrevivência deste Bolsonaro mostra um presidente em busca de uma porta de saída que o preserve. Foi isso que fez como capitão quando, condenado por unanimidade pelo Conselho de Justificação do Exército, reverteu o revés no Superior Tribunal Militar com novos laudos sobre croquis com os quais planejara explodir uma adutora. Foi isso também que fez, na manhã de ontem, quando foi tomar café da manhã, sem leite condensado, com o ex-presidente José Sarney, oráculo dos grandes acordos da República.

O dia que começou com o aconselhamento da ponderação terminou com a prisão de um pivô da CPI da Covid e uma nota açodada e ameaçadora do ministro da Defesa e dos três comandantes militares. A detenção do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias mostrou que a busca de uma saída que acomode as tensões nunca pode deixar de contar com o imponderável.

Da hora que saiu da casa de Sarney até a hora em que se reuniu com os comandantes, Bolsonaro migrou da busca de um acordo para tocar fogo nos militares que, mais uma vez, se deixaram levar pelos arroubos do capitão. A nota que repetiu, com o Senado, o desastre do gesto ameaçador ao Supremo no julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dias havia sido demitido pelo governo para preservar o líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). A CPI esperava tirar dele declarações incriminadoras contra a dobradinha entre os militares e Barros. Ao fracasso do intento, somou-se o áudio do representante da Davati e cabo da PM, Luiz Paulo Dominguetti, revelado pela jornalista Daniela Lima, da CNN, desmentindo a versão de Dias sobre o encontro em que se tratou de propina na venda da vacina da Covaxin.

Por mais breve e controversa que tenha sido, a prisão esticou a corda. Dentro do próprio grupo de senadores de oposição questionou-se a falta de isonomia com outros depoentes que faltaram com a verdade na comissão. Decidiu-se, porém, em nome da unidade, preservar o apoio ao senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente do colegiado.

Os embates em torno do fato, porém, descalibram o morde-assopra do cerco e da acomodação que pautam Executivo e Congresso. O dia começou no sopro. Quando Bolsonaro deixou a casa de Sarney, a Comissão Mista de Orçamento do Congresso se reuniu para sacramentar um acordo. A CMO elegeu a senadora Rose de Freitas (MDB-ES) como presidente, e os deputados Juscelino Filho (DEM-MA) e Hugo Leal (PSD-MG) como relatores, respectivamente, da Lei de Diretrizes Orçamentárias e do Orçamento-Geral da União. Um pacto, costurado da noite da terça para a quarta, retirara a postulação do senador Angelo Coronel (PSD-BA) à presidência, designando-lhe a sub-relatoria de infraestrutura da comissão.

O acordo coincidiu com uma reaproximação entre o governo e senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). As relações haviam ficado estremecidas depois da constatação, pelo Palácio do Planalto, de que a inundação inédita do Senado por emendas parlamentares não redundou numa maioria favorável ao governo na CPI.

Como parte das emendas negociadas pelo relator são transferidas diretamente para as prefeituras não fica o registro do parlamentar que direcionou o recurso. Difícil cravar quanto falta para ser executado este ano, mas a queixa geral dos senadores é que os deputados tomaram a dianteira na fila.

No acordo da CMO pressupõe-se que Alcolumbre, que perdera ingerência sobre a negociação de emendas para a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PLDF), retome as atribuições com as quais seu sucessor, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), não se envolve diretamente.

A composição da CMO sugeria que o Senado, hoje a Casa mais complicada para o presidente, teria um apelo de pacificação. No ano passado foram executados R$ 35 bilhões em emendas, sendo R$ 19 bi destinados a emendas de relator, que não deixam rastros. Quando se sabe que o censo foi postergado por custar R$ 2 bilhões, dá para se ter uma ideia do quanto o Congresso tomou o governo de assalto.

O acordo da CMO demonstrava que, acossado pela CPI, pelas manifestações e pelas pesquisas, o presidente resolvera entregar o que lhe resta de governo para o Congresso, acenando para uma reforma ministerial no segundo semestre. A relação, porém, está longe de ser quitada. O rolo da CPI só o comprova.

O áudio que resultou na prisão só alimenta as expectativas em relação a outros indícios do gênero. Tome-se, por exemplo, a gravação do deputado Luís Miranda (DEM-DF) da conversa com Bolsonaro. Apesar de o deputado ter revelado a menção a Ricardo Barros, consta que dois outros caciques, um do DEM do Senado, outro do PP da Câmara, foram mencionados no gabinete presidencial como parte da trinca que comanda os negócios da Saúde. Se o acordo da CMO sinaliza pacificação entre os grupos, a prisão de Dias aumentará a tensão entre os senadores da CPI e o deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Não é só o Congresso que resiste à acomodação. Basta ver o indiciamento do senador Renan Calheiros (MDB-AL) pela PF. O ato não apenas esbarra na decisão do Supremo contra o indiciamento pela polícia de autoridades com foro especial como não cumpre sua função de ameaçar o Congresso. Com o desmonte promovido nos últimos anos, sob os auspícios do governo, na legislação anticorrupção (mudança na lei da improbidade, fim da prisão em segunda instância e desbaratamento das forças-tarefa do Ministério Público) o rugido saiu rouco.

Como a Terra gira e a Lusitana roda, o mesmo Congresso que apoiou o desmonte do lavajatismo procedeu a uma rara prisão de depoente que negou um encontro. A força da gravidade favorece a acomodação, mas se Congresso tomasse gosto poderia até chegar àquele que nega o direito à vida. Só assim Bolsonaro receberia a lição que o Exército se negou a dar em seu capitão há quase 40 anos. A insubordinação cresceu junto com a ambição. Só o Exército se apequenou.

Maria Cristina Fernandes é jornalista do Valor. Escreve às quintas-feiras

Folha de SP

Quem derruba presidente não é o Congresso, é povo na rua, diz Temer à Folha

Ex-presidente pede semipresidencialismo como saída para sistema ‘roto e esfarrapado’

Um impeachment de Jair Bolsonaro só seria viável com povo na rua, pois o Congresso não derruba ninguém sozinho. A opinião é do antecessor do presidente, Michel Temer (MDB), que chegou ao cargo na esteira do impedimento de Dilma Rousseff (PT), em 2016.

Para ele, que nega a acusação feita pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha de que teria tramado a queda da ex-chefe, impeachment causa “trauma institucional”.

Aos 80 anos, Temer está mais ativo do que nunca em seu escritório de advocacia no Itaim-Bibi, bairro nobre paulistano. Recebe clientes e políticos, e trabalha naquilo que considera saída para a entropia política brasileira: o semipresidencialismo.

Modelo análogo ao francês e ao português, nele o presidente divide poderes com o primeiro-ministro, não sendo uma proverbial “rainha da Inglaterra” a dar palpites. Temer diz que só “aguentou aqueles dois anos e meio” porque aplicou uma versão da fórmula ao fazer com que o Congresso indicasse ministros.

A ideia vem sendo conversada com ministros do Supremo e líderes de partidos da dita terceira via, conceito que Temer vê com reservas. Ele sugere a ideia de que o próximo presidente precisa ser alguém com experiência, mas rejeita concorrer: “Já fiz de tudo”.

Dois anos após ter sido preso por quatro dias no escopo da Lava Jato, o ex-presidente tem se livrado da maioria das acusações, mas nega clima de impunidade. “Combate à improbidade está prevista no sistema normativo”, disse. O ex-presidente também negou que tenha aberto as portas para a ocupação militar do governo, a partir da influência de generais na Esplanada. E criticou a ida do general Eduardo Pazuello ao Ministério da Saúde.

Qual vantagem há no semipresidencialismo?

Você dá atribuições ao presidente, mas só tem governo, com primeiro-ministro indicado por ele, se tiver maioria parlamentar. Mas tem de ser semi, não parlamentarismo puro, porque o brasileiro quer eleger o presidente, quer o ver com poder. Já falou tanto em reduzir o número de partidos. Por lei, você não consegue. Nesse sistema, você tem um grupo de situação, outro da oposição. Conceitualmente, são partidos. Depois do golpe de 1964, você tinha o MDB e a Arena, lá tinha partido. Hoje você tem siglas, você vê a minha (o MDB).

Você dá responsabilidade ao Legislativo. Hoje o sujeito se reelege pedindo verbas. Se ele for governo, vai dizer que governou bem. Evita o trauma institucional do impeachment, eu passei por isso. E pegou moda. O presidencialismo brasileiro está roto e esfarrapado. Se o governo cair, no semipresidencialismo, isso ocorre com naturalidade, como em Portugal e na França. Nós temos 33 anos de Constituição, e já tivemos dois impeachments.

O sr. está trabalhando numa proposta, não?

Isso começou no meu governo, conversando com o ministro Gilmar Mendes, que era presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Discutimos sobre a ideia de mudar o sistema de governo, em face da experiência que eu tive, inclusive, por ter trazido o Congresso para governar comigo. Foi o que me sustentou, eu aguentei aqueles dois anos e meio com apoio do Congresso. Formatamos um projeto e agora ele está sendo rediscutido. Eu até me surpreendi quando o ministro Luís Roberto Barroso [atual presidente do TSE] disse ser a favor.

Sempre que há crise, fala-se nessas alternativas. Isso passa? Não é casuísmo?

Não sei se passa, mas saímos dos problemas menores e desagradáveis, e vamos para o grande tema. Seria bom inclusive para o presidente, se ele adotasse a ideia. Eu propunha que devia ser para 2026, porque quem foi eleito agora o foi sob um regime jurídico que permite reeleição. Mas não sei, nessa situação dramática que existe hoje, não sei se não seria o caso de aprovar agora para vigorar logo em 2022.

O sr. já falou com Bolsonaro sobre isso?

Não. Eu não falo com ele há uns seis ou sete meses. Disseram que eu era um conselheiro, mas não, eu só conversei ocasionalmente, como no caso da explosão do porto de Beirute [quando Temer, de origem libanesa, liderou uma delegação com ajuda humanitária brasileira].

Como o sr. vê o atual estágio da crise, com CPI, protestos?

Ela é preocupante, mas não deve tirar nosso otimismo. Acho que estamos num sistema pautado pela Constituição que permite o controle das autoridades. Você tem uma acusação, você investiga. Para o meu paladar, você tem de investigar com tranquilidade, cumprindo ritos. Nos últimos tempos, toda vez que vai investigar, cria-se um alarde tão grande que foge dos parâmetros constitucionais.

A crise não vem do fato de o presidente ter feito inicialmente a opção de ignorar o Congresso e, depois, partir para o conflito institucional?

Acho que ele compreendeu rapidamente que sem Congresso não se governa. Essa ideia de dizer que você pode ter só a melhor parcela, isso para o presidente não vale. Tome o caso do centrão, que as pessoas criticam. Se você não quer o apoio do centrão, tem de dizer que não quer o voto dessa gente quando for enviar uma lei, votar uma medida provisória. Ele começa perdendo 120, 130 votos. Você tem de governar com o que tem. Quem chegou lá não foi por centelha divina, foi por voto popular. Segundo ponto: agredir instituições é péssimo e inconstitucional.

E a volta dos protestos de rua, ainda que muito confinados à esquerda? Ele derrete em pesquisas. Seu ex- ministro Gilberto Kassab disse uma hora o impeachment poderia ser inevitável, o sr. concorda?

Agora, quem derruba presidente não é o Congresso, é o povo nas ruas. Povo nas ruas sensibiliza o Congresso, que acaba acolhendo a manifestação da rua. Veja, eu tive aquelas tais denúncias, não aprovaram porque não tinha povo na rua. Não tinha um cidadão na frente do Congresso [houve protestos contra Temer, mas de intensidade reduzida].

Mas veja, se a coisa crescer demais… no presente momento, é mais um esquema eleitoral, não uma consciência coletiva como em 2016, que havia começado em 2013. Eu vi pesquisas mostrando uma divisão da população sobre impeachment. Mas enfim, levar adiante um impeachment pode causar distúrbio. O processo de impeachment não é jurisdicional, é político. De conveniência e oportunidade. Se aquilo chegar ao Senado e a Casa considerar que há o risco de um conflito civil, como o processo é político, por mais que as provas sejam robustas, talvez o melhor seja esperar as eleições.

O sr. não apoia a ideia então?

Eu não acho útil, com toda a franqueza. Se formos cronometrar, vai levar oito, nove meses, chegando nas eleições. Vale a pena? Convenhamos, o pessoal que apoia o presidente é tão ou mais ativo do que do PT. É o cenário [da invasão por apoiadores inconformados com a derrota de Donald Trump do] Capitólio. Taí. E lá é a maior nação democrática do mundo. Não sei se não é melhor ser retirado pela via eleitoral. Não quero entrar no mérito se deve ou não haver, é uma análise de consequência. Acho que vai ser tumultuado até as eleições, mas a aproximação delas vai descomprimir o cenário. Seja pelo Lula, seja pela terceira via.

Como o sr. avalia os nomes da terceira via?

Eu conversei com vários candidatos, são todos em princípio viáveis. O problema é que para isso é ter uma candidatura única. Se você tem seis nomes e os seis querem ser candidatos? O eleitor precisa ter uma opção. É preciso alguém com razoável experiência nas questões políticas. Não dá para personalizar.

E o Lula? Ele sai de vitórias jurídicas, mas o antipetismo é uma grande força.

Tanto que se espalha por aí que o melhor candidato para o Bolsonaro é o Lula e vice-versa, uma obviedade.

Falando em vitórias judiciais, o sr. também colheu as suas do ano passado para cá.

Sim, foram três absolvições diretas, acho que tem uns dois casos menores para resolver. Foram absolvições no quadrilhão do MDB, o caso dos portos e a gravação daquele rapaz (o empresário Joesley Batista).

Que parou o seu governo.

Vou te contar, no dia da gravação, eu tinha falado com o Rodrigo Maia [então presidente da Câmara] e tínhamos 326 votos para a reforma da Previdência. Íamos colocar para votar em duas semanas. Eu ia completar o ciclo de reformas.

A partir daí, só se defendeu.

Sim. Eu fui firme, tinha gente pregando minha renúncia, e fui até o fim. Veja a gravidade, absolvição sumária significa que o juiz olhou oito páginas da denúncia e mandou arquivar. Estamos limpando agora toda a área, com rapidez.

Desde sua prisão em 2017, houve uma inflexão na Operação Lava Jato. Hoje, ela foi extinta, e os tribunais superiores adotaram uma postura dita mais legalista. Não se passa a imagem de impunidade?

Não. Acho impróprio dizer que quem não cuida mais da Lava Jato, pessoas físicas, significa que acabou o combate à corrupção. Combate à improbidade está prevista no sistema normativo.

Sergio Moro encarnava isso. Ele ainda é relevante?

Ele tem simpatizantes, não sei se o suficiente para uma candidatura.

O fato de o ministro André Mendonça ser o cão de guarda de Bolsonaro não é ruim para sua candidatura ao Supremo?

Eu tenho a melhor impressão dele, trabalhou no meu governo. E veja, o Lula nomeou três ministros e veja o que aconteceu no mensalão [quando eles votaram por condenar a cúpula petista].

Como o sr. avalia a questão do voto impresso e do distritão?

Quanto ao voto, não vejo necessidade de mudar. Sobre distritão, lá atrás eu até apoiava, mas isso atrapalha os partidos. Mas eu acho que no final não vão mexer em nada.

Como o sr. vê o papel dos militares hoje? Eles bancaram Bolsonaro no segundo turno e foram fiadores na transição, entraram no governo e acabaram no Pazuello.

Seria natural alguém como o Bolsonaro levar muitos militares. O que não se pode é entregar o governo todo. Os militares são preparados, me deram um auxílio extraordinário. No meu governo pedi ajuda às Forças Armadas para apoiar as polícias na varredura de presídios. No outro ano, houve só uma ou duas rebeliões.

Mas são tarefas afeitas aos fardados. Já o Ministério da Saúde…

Pronto, eu ia dizer isso. Cada um no seu quadrado. Você vê, o Pazuello fez um belo trabalho acolhendo venezuelanos. Agora, tirar de lá para ir a um lugar que não é bem a função dele…

Os militares voltaram a ter preponderância política no seu governo. O general Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) tinha muita influência, o general Joaquim Silva e Luna assumiu a Defesa. Isso não soltou as amarras para que se empolgassem com Bolsonaro?

Eu tinha apoio das Forças. Quando levei o Etchegoyen, precisava alguém da área. Quando criei a pasta da Segurança, eu chamei o Raul Jungmann (então na Defesa e que assumiu o novo ministério), concordamos em que se deixasse o Luna, que era o secretário-executivo da Defesa, e o trabalho seria mantido. E o Luna era da reserva. Não acho que foi o momento de entrada dos militares na política.

E o episódio do tuíte do general Eduardo Villas-Boâs [que ameaçou o Supremo antes de votar um habeas corpus que impediria a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva]?

Ele fez aquilo em caráter pessoal. Mas as pessoas interpretaram daquele jeito [como ameaça].

Para bom entendedor…

Meia palavra basta, eu sei.

Havia uma insatisfação grande com o PT, relatada pelo próprio Villas-Bôas.

Havia sim. O comandante talvez tenha expressado a angústia do Exército.

Se o Lula ganhar, os militares voltam quietinhos para o quartel?

Acho que sim. São obedientes à Constituição e ninguém quer repetir 1964.

O fantasma de um golpe é bom para os dois lados.

Não acredito em golpe.

PANDEMIA

Folha de SP

Vacinação, testes e isolamento são necessários para conter variante delta, dizem especialistas

País tem 17 casos da cepa confirmados em 6 estados; cidade de São Paulo registrou 1º infectado

Especialistas afirmam que intensificação da vacinação, melhora da testagem para identificar casos de Covid-19 e isolamento social são necessários para frear o avanço da variante delta do coronavírus, que, segundo estudos, tem uma transmissão mais rápida. O médico sanitarista e professor de saúde pública da USP Gonzalo Vecina Neto aponta a intensificação da testagem nos aeroportos para impedir a entrada de infectados como medida que já deveria ter sido adotada no país.

O mesmo deve ser feito para todos que apresentarem sintomas da doença e para aqueles que tiveram contato com eles há pelo menos três dias. Além de testar, é preciso fazer o sequenciamento para saber o tipo de vírus e isolar os casos positivos. “O jeito mais tradicional na saúde pública de conter uma doença infectocontagiosa é o isolamento social. Nós não isolamos. Você identifica quem está com a doença e não deixa sair. Alguns países adotaram essa estratégia, seja como uma sanfona, no vaivém, ou radicalmente”, diz Neto.

A outra forma de prevenir mais casos da cepa identificada originalmente na Índia é a vacinação. “Tem duas possibilidades: aumentar o número de dose 1 e manter a 2 para noventa dias ou diminuir a D1 e adiantar a D2 para que mais pessoas estejam imunizadas. A lógica é a mesma. Dependendo do tipo de comportamento do vírus, como a D1 já dá algum tipo de proteção contra casos graves de Covid, talvez a estratégia adequada seja aumentá-la.”

“Quanto mais se acelerar a vacinação, melhor será. Temos que aumentar muito a cobertura e com mais rapidez. Uma forma seria expandir os horários de atendimento e vacinar aos domingos para que cada vez mais tenha gente com a primeira dose”, diz o epidemiologista Paulo Lotufo, professor titular de clínica médica da USP.

Contra o avanço da delta, o governo de São Paulo estuda antecipar a aplicação da segunda dose da vacina contra a Covid-19. A ideia é reduzir de 90 para 60 dias o intervalo entre as doses dos imunizantes da AstraZeneca e Pfizer.

Questionado sobre o estado de São Paulo, Neto discorda de qualquer tipo de flexibilização de medidas contra a Covid-19. “Nem em sonho! Manteria do jeito que está com possibilidade de fechar se houver avanço da variante. As mortes estão caindo, mas de um patamar muito elevado”, afirma.

Nesta quarta, o governador João Doria (PSDB) anunciou a ampliação do funcionamento do comércio em São Paulo a partir desta sexta (9). Os estabelecimentos poderão funcionar com até 60% da capacidade e até as 23h. Além disso, as aulas presenciais no ensino superior poderão ser retomadas a partir de 2 de agosto, sem a limitação anterior de atendimento a 35% dos alunos, nas escolas particulares e públicas.

São Paulo, a cidade mais populosa do país, já vive a ameaça do espalhamento da variante delta, primeiramente identificada na Índia em outubro de 2020. Pelo menos 30 pessoas que tiveram contato com a esposa do paulistano de 45 anos, primeiro caso confirmado na cidade de infecção pela cepa, estão sendo monitoradas. Há indícios de que a infecção tenha ocorrido por transmissão comunitária, quando a infecção acontece entre pessoas que não viajaram.

Em entrevista coletiva nesta quarta (7), o coordenador do Centro de Contingência do Covid-19, Paulo Menezes, disse que a variante delta é motivo para que a população mantenha as normas sanitárias, porque o comportamento da cepa ainda é desconhecido.

“Nós sabemos que na Europa e em Israel essa variante tem provocado um aumento no número de casos, inclusive com uma pequena redução na efetividade das vacinas utilizadas nos países, mas eu diria que aqui ainda precisamos de mais tempo e informação, até porque essa variante delta concorre com outra que já enfrentamos desde o início do ano, que é a gama (P.1). Talvez não seja observado aqui o mesmo efeito e a mesma evolução observados nesses outros países”, disse Menezes.

Segundo o Ministério da Saúde, há 16 casos da variante delta identificados e notificados no Brasil, sendo 6 no navio que esteve na costa do Maranhão, 3 no Rio de Janeiro, 1 em Minas Gerais, 3 no Paraná, 2 em Goiás e 1 em São Paulo. Até o momento, entre esses casos, dois óbitos foram confirmados entre pessoas que foram infectadas com a variante, no Maranhão e no Paraná.

Nesta quarta, a Secretaria de Saúde do Paraná confirmou o quarto caso e a segunda morte no estado —ocorrida no dia 17 de maio— pela variante delta. Não há confirmação de transmissão comunitária, mas há uma investigação epidemiológica e laboratorial com 235 amostras enviadas à Fiocruz para sequenciamento genômico.

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro afirma que as vigilâncias municipais, com apoio da vigilância estadual, estão realizando a investigação epidemiológica para esclarecer as circunstâncias da infecção e se as transmissões foram autóctones.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, os contatos diretos e indiretos relacionados ao caso confirmado no estado foram monitorados. A pasta ampliou as ações de vigilância genômica do coronavírus e realiza amostragem de casos em diferentes municípios para investigação laboratorial.

Goiás mantém a rotina de monitoramento e rastreio dos contatos para identificação de casos suspeitos e de possíveis casos secundários da variante. No Maranhão, segundo a secretaria de Saúde, os casos de infecção pela variante delta ficaram restritos ao navio MV Shandong, da ZHI. Ainda assim, a rede estadual de saúde mantém a investigação dos casos confirmados. No momento, prevalece no estado a variante gama.

Marcia Castro, cientista, professora de demografia da Faculdade de Saúde Pública de Harvard e membro do Observatório Covid-19 BR, acredita que a pressão do governo federal dificulta que os estados retrocedam nas flexibilizações, porque os números de casos, óbitos e internações por Covid-19 estão em queda. Ela defende que é preciso melhorar a vigilância e a testagem.

“Em São Paulo, por exemplo, você pega toda a rede de laboratórios privados, os públicos e os de universidades. Por que o governo não estimula uma rede, pega todos os testes que estão sendo feitos e faz um sequenciamento disso? É uma forma muito melhor do que 250 amostras, pois você sabe onde a delta está aparecendo”, explica Castro.

Para a especialista, os agentes comunitários de saúde podem ter uma ação mais ativa na identificação de pessoas infectadas. Outro ponto que ela cita é a distribuição de máscaras de boa qualidade para todos os motoristas de ônibus. “Isso deveria ter sido feito desde o ano passado. Se realmente a delta se espalhar, vão esperar o sistema de saúde colapsar de novo para poder fechar”, completa.

“Nós temos uma flexibilização geral que não é embasada nos dados. Neste momento, especialmente com os casos de delta pouco numerosos, o que fazer? Aprofundar a vigilância genômica —São Paulo até faz, mas não em todos os locais— e ao encontrar os casos, quarentenar, atender adequadamente as pessoas, rastrear contatos, isolar os infectados, tomar medidas de enfrentamento real caso a caso, com o esforço dos serviços de saúde”, afirma Fernando Rosado Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica BR-MCTI e professor do mestrado em virologia da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS).

Para o pesquisador, os gestores públicos devem pensar em políticas de vacinação mais rápidas e em implementar a segunda dose assim que possível, dentro do limite das vacinas.

Folha de SP

Contra variante delta, SP estuda antecipar aplicação de 2ª dose de vacina

Centro de Contingência irá discutir diminuição do intervalo de aplicação de 90 para 60 dias para os imunizantes da Pfizer e AstraZeneca

O Centro de Contingência de São Paulo estuda antecipar a aplicação da segunda dose da vacina contra a Covid-19 para tentar conter o avanço da variante delta no estado. Os integrantes do centro avaliam a possibilidade de reduzir de 90 para 60 dias o intervalo entre as doses dos imunizantes da AstraZeneca e Pfizer para garantir a imunidade completa em quem já teve a primeira aplicação.

No entanto, há divergências sobre a alteração, já que a mudança pode adiar o início da vacinação de faixas etárias mais jovens. Nesta quarta (7), o governador João Doria (PSDB) anunciou que a compra de 4 milhões de doses adicionais da Coronavac, diretamente com o laboratório chinês Sinovac, vai permitir a antecipação da vacinação em São Paulo. Não foi informado como será essa antecipação, se será por faixa etária ou para adiantar a aplicação da segunda dose.

Uma reunião foi marcada para esta quinta (8) para decidir o tema. Na segunda (5), a Prefeitura de São Paulo confirmou o primeiro caso de um morador da cidade com a nova variante. Segundo a gestão municipal, há indícios de que o homem tenha sido infectado por transmissão comunitária.

O governo teme que a presença da variante delta, que se espalha muito mais rapidamente, possa aumentar novamente o número de casos graves de Covid-19 no estado. Por isso, a proposta de antecipar a aplicação da segunda dose, já que garantiria a imunização completa a pessoas de faixas etárias mais elevadas ou com maior risco para a doença. “Pela sua velocidade, pela rápida disseminação, é provável que a variante delta seja a de maior predominância no mundo. Ela é muito preocupante”, disse Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.

Ele defendeu que se deve considerar a possibilidade de antecipação da segunda dose. “Embora as vacinas possam não responder bem à variante, o fato de ter a imunidade completa ajuda substancialmente. É uma medida que tem que ser considerada e é correta.”

A disponibilização das vacinas por parte do Ministério da Saúde e a demora na imunização das demais faixas etárias são os fatores de resistência à medida. Segundo Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde de São Paulo, a antecipação depende do envio de novos doses dos imunizantes dessas duas marcas.

“Precisamos ter mais doses dessas vacinas para que esse intervalo reduzido possa ser estabelecido. Sem esse alento, sem a liberação do Ministério da Saúde, por mais que essa decisão aconteça [de antecipar a segunda aplicação], haverá entraves operacionais”, disse o secretário.

Doria também anunciou que o Instituto Butantan irá antecipar em um mês a entrega de 100 milhões doses da Coronavac ao Ministério da Saúde. O contrato previa a entrega até 30 de setembro, mas o governador afirmou que elas estarão disponíveis até 31 de agosto.

O Butantan já entrou 53 milhões doses e enviará mais 10 milhões na próxima semana. Ainda segundo Doria, no dia 14 de julho está prevista a chegada de mais 12 mil litros de insumo para a produção de 20 milhões de doses. “Até 31 de agosto vamos cumprir integralmente o compromisso previsto inicialmente para o fim de setembro. Há senso de urgência para salvar vidas”, disse o governador.

Valor

País registra a menor média de mortes desde março

A média móvel de mortes nos últimos sete dias foi de 1.481 por dia – o primeiro registro abaixo de 1,5 mil desde 7 de março

O Brasil registrou ontem à noite, num prazo de 24 horas, 1.595 mortes por covid-19, apontou o levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de Saúde do país. Com isso, o total de óbitos provocados pelo novo coronavírus subiu para 528.611. A média móvel de mortes nos últimos sete dias foi de 1.481 por dia – o primeiro registro abaixo de 1,5 mil desde 7 de março -, um recuo de 21% em relação aos casos registrados em 14 dias.

De acordo com o balanço fechado às 20h, foram registrados 54.156 novos casos da doença de ontem pra hoje, elevando o total de infectados por covid-19 para 18.908.962. A média móvel de casos nos últimos sete dias foi de 49.971 por dia, uma queda de 35% em relação aos casos registrados em 14 dias.

Folha de SP

Butantan completará entrega de 100 mi de doses de Coronavac um mês antes do previsto, diz Doria

Imunizantes estarão disponíveis para o Plano Nacional de Imunização até 31 de agosto, diz Doria

O governador João Doria (PSDB) disse nesta quarta (7) que o Instituto Butantan irá antecipar em um mês a entrega de doses de Coronavac para completar as 100 milhões encomendadas pelo Ministério da Saúde. O contrato previa a entrega até 30 de setembro, mas Doria afirmou que as doses estarão disponíveis até 31 de agosto.

O Butantan já entregou 53 milhões de doses e enviará mais 10 milhões na próxima semana. Ainda segundo Doria, no dia 14 de julho está prevista a chegada de mais 12 mil litros de insumo para a produção de 20 milhões de doses da Coronavac. “Até 31 de agosto vamos cumprir integralmente o compromisso previsto inicialmente para o fim de setembro. Há senso de urgência para salvar vidas”, disse o governador.

Doria também anunciou ter comprado 4 milhões de doses adicionais da Coronavac, diretamente com o laboratório chinês Sinovac. Destas, 2,7 milhões chegam nesta quarta-feira a São Paulo e até o dia 26 de julho o estado deverá receber o restante.

Segundo o governador, a compra adicional vai permitir a antecipação da vacinação em São Paulo. Não foi informado como será a antecipação do calendário de imunização. “Com isso, vamos antecipar o calendário de vacinação em São Paulo, sem interferir no contrato do Butantan com o Ministério da Saúde”, explicou.

Valor

Oferta de vacinas contra covid deve aumentar

Possível nova doação de doses dos EUA se soma a início dos testes de vacina nacional contra covid

O cenário de oferta de vacinas contra covid-19 teve ontem três boas notícias. Uma delas, indicações de que o governo dos EUA fará uma nova doação de doses ao Brasil; outra, o início de testes de uma vacina nacional que não dependerá de insumos importados; e por fim, a importação de um lote de vacinas que deve acelerar mais uma vez o cronograma de imunização no Estado de São Paulo.

A possível nova doação dos EUA deve ser anunciada nos próximos 15 dias. Pessoas que participam das negociações dizem que os imunizantes serão da Janssen, de aplicação única, ou da Pfizer, que demanda duas doses. Se for confirmada, essa será a segunda doação direta de vacinas feita pelo governo americano aos brasileiros. Em junho, a Casa Branca anunciou o envio de 3 milhões de doses da Janssen, que já chegaram ao Brasil e começaram a ser aplicadas.

Em outra frente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou ontem o início da vacinação de voluntários para os testes clínicos da Butanvac, imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. A Anvisa informou que a decisão foi tomada após reunião entre a equipe técnica da agência e o Instituto Butantan.

O protocolo clínico da Butanvac já havia sido aprovado pela Anvisa no dia 9 de junho, mas ainda havia informações pendentes. De acordo com o Butantan, a etapa A (há ainda as etapas B e C) da fase 1 da pesquisa será realizada com 418 voluntários no Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto e terá início próximos dias. O imunizante terá produção 100% nacional, sem necessidade de importação de matéria-prima.

Ontem, o governo de São Paulo anunciou a compra de 4 milhões de doses da Coronavac para acelerar a campanha de imunização contra a covid-19 no Estado. A expectativa era que 2,7 milhões de ampolas vindas da China chegariam ontem mesmo. O restante, 1,3 milhão, é esperado para até 26 de julho. Com essa quantidade extra de imunizantes, um novo calendário deve ser apresentado nos próximos dias. O uso dessas vacinas será dedicado ao Estado de São Paulo, exclusivamente.

Folha de SP (análise)

Ex-diretor apresenta versão inverossímil, mas CPI extrapola ao mandar prendê-lo sem prova de mentira

Aziz e Renan atribuem ações enérgicas à tragédia de 500 mil mortes, mas rompantes teatrais e sem lastro cabal podem corroer credibilidade da comissão

Por Ranier Bragon

O ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias apresentou nesta quarta-feira (7) à CPI da Covid uma versão recheada de lacunas sobre a estranhíssima história das negociações mambembes entre autointitulados mercadores de vacina e o governo Jair Bolsonaro, em fevereiro e março deste ano.

Apesar do caráter inverossímil de seu relato, em especial sobre a casualidade do jantar em que teria havido o pedido de propina de US$ 1 por dose da AstraZeneca, história revelada em entrevista do policial militar Luiz Paulo Dominghetti à Folha, não houve prova inequívoca de mentira que justificasse a prisão do ex-diretor.

Áudios colhidos no celular do PM —ele teve o aparelho apreendido pela CPI no dia do seu depoimento— foram veiculados durante a sessão como a prova de que o ex-diretor do ministério estava mentindo aos senadores.

Nessas mensagens, divulgadas pela CNN Brasil, Dominghetti diz a um interlocutor, no dia 23 de fevereiro, que o negócio das vendas da vacina para o governo brasileiro estava para ser fechado e que seria assinado por Dias, com quem teria marcado um encontro dois dias depois.

Ou seja, o dia do jantar no restaurante Vasto, em Brasília. Ocasião em que Dominghetti, conforme relatou à repórter Constança Rezende, da Folha, ouviu de Dias o pedido de propina de US$ 1 por cada uma das 400 milhões de doses de AstraZeneca cuja venda afirmava intermediar.

Os áudios são um indicativo forte de que o ex-diretor não disse exatamente a verdade à CPI. Em seu depoimento nesta quarta, afirmou aos senadores que estava em um inocente chope com um amigo, em um final de tarde de Brasília, ocasião em que apareceu repentinamente um ex-assessor seu, o coronel da reserva Marcelo Blanco, trazendo consigo Dominghetti.

Durante o próprio decorrer do depoimento, Dias modulou a versão. Em um primeiro momento, dizia que Blanco talvez saberia que ele estivesse no restaurante. Mais pro final, já cravava que o ex-assessor sabia, que ele o havia avisado por telefone.

Tudo muito estranho, mas, objetivamente, não uma prova cabal de mentira. Assim como no relato desta quarta na CPI, há muitas lacunas e contradições por parte de vários outros personagens dessa história, do governo e de fora dele, inclusive de Dominghetti.

Mandar prender “pelo Brasil”, como bradou Omar Aziz (PSD-AM), o presidente da CPI, ou por que a paciência se esgotou, como disse Humberto Costa (PT-PE), é dar combustível aos críticos e à claque governista, segundo quem a CPI não passa de um palanque para desgastar um governo que fez de tudo para combater a pandemia e evitar mortes —esta, sim, uma mentira comprovada por uma profusão de robustas provas.

O auto de prisão lavrado pela comissão relatada por Renan Calheiros (MDB-AL) traz justificativas de uma precariedade assustadora. “O depoente informa que não sabe quem tentaram [sic] exonerá-lo” e “o depoente não explica quem viabilizou sua permanência no cargo, após sucessivas trocas de ministros” são as duas primeiras “evidências” de falta com a verdade listadas no documento.

Mais adiante, toma-se como verdade absoluta o depoimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF), segundo quem Dias participou de pressão não republicana para que o governo fechasse contrato para compra da vacina indiana Covaxin.

Achar que alguém está mentindo é bem diferente do que provar que alguém está mentindo. E a CPI não provou. Roberto Ferreira Dias foi preso nesta quarta-feira, no Senado Federal, porque se encaixou no perfil de alguém que parece estar mentindo, além de não ter quatro estrelas do Exército para lhe dar respaldo.

Da mesma forma que senadores afirmam que a CPI da Covid trata sobre uma situação que já resultou em mais de 500 mil mortes, ou seja, que não pode ser espaço para brincadeiras, é ruim que instrumentos usados para tentar apurar a verdade e as responsabilidades se amparem em achismos ou brados à “Brasil acima de tudo”.

Enquanto ainda não estava preso nesta quarta-feira, Dias tentou passar a imagem de um servidor impoluto, movido apenas pela vontade de ajudar o país a ter vacinas. Sua função, porém, e ele próprio reconheceu isso, não era a de negociar vacina com quem quer que seja, muito menos em situações de informalidade e com reverendos, PMs e afins que afirmavam ter milhões e milhões de doses que quase nenhuma parte do mundo ainda tinha.

Servidor experiente e calejado, como tentou se vender, Dias se imiscuiu nessas negociações clandestinas por mais de um mês, em fevereiro e março deste ano, é o que indicam mensagens que vieram a público entre ele e envolvidos, e entre Dominghetti e outros citados, incluindo Blanco.

O coronel da reserva foi para o ministério na leva de fardados que lá se aboletaram junto com o general da ativa Eduardo Pazuello e sob o discurso de colocar ordem na casa —sendo que o que se viu até agora é que, se de fato colocaram alguma coisa lá, não foi necessariamente ordem.

A CPI foi criada sob o descrédito de muita gente, inclusive do governo, que afirmava que dali não sairia nada. Como comprovado pela história por diversas vezes, ninguém tem condição de dizer o que sairá ou deixará de sair de uma CPI.

A atual já produziu resultados e tem um bom percurso ainda pela frente, muita gente para ouvir, muitos documentos a analisar. Se deixar de lado o espetáculo e se concentrar em fatos, tem potencial para produzir muito mais.