Comprar carro usado ou zero está cada vez mais difícil
Enquanto a inflação, o dólar alto e a falta de peças ajudam a encarecer os automóveis novos, consumidor comum também vê os preços de usados e seminovos dispararem por conta da queda na oferta
Inflação, crises energética e política, desemprego, alta dos juros, real desvalorizado ante ao dólar e falta de componentes importados que ajudam a interromper a produção estão afastando o cidadão comum, com salário médio de R$ 2 mil por mês, da compra de um carro zero-quilômetro, simples, sem qualquer acessório, que, atualmente, custa em torno de R$ 50 mil. Quem pensa no seminovo ou no usado, também, pode se deparar com o preço mais salgado do que esperava.
O processo de avanço nos custos retroalimenta-se. Com menos carros novos nos pátios das montadoras e das revendedoras, a demanda se desloca para seminovos ou usados devido à espera maior para a entrega por conta da falta de peças. Então, os preços sobem e os prazos de financiamento diminuem. Segundo especialistas, há muito tempo, não existe mais o carro popular na praça, com preços entre R$ 25 mil e R$ 30 mil.
Para se ter uma ideia do impacto no bolso do trabalhador, segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da ANFAVEA, nos últimos 12 meses encerrados em julho, o preço dos carros novos subiu 8,3%. Nos seminovos, a alta chegou a 17,4%. Entre 2011 e 2017, último dado disponível, os preços dos veículos usados subiram, em média, 20% ao ano. Entre os vilões do alto custo para as montadoras estão os dispositivos importados que, com a pandemia, tiveram a produção reduzida.
Os semicondutores — chips ou cristais de silício, usados em circuitos eletrônicos —, tiveram alta de 45%, no acumulado em 12 meses até julho. Os altos preços de carros novos também foram influenciados por outros produtos, como resinas e elastômeros, com avanço, no mesmo período, de 109,8%, siderurgia (de 84,5%, principalmente o aço), plástico (de 43,3%) e borracha (de 16,9%). Assim, comprar um automóvel novo, hoje, está bem mais difícil para a classe média.
Do Correio Braziliense