Da indignação à transformação

Grito dos Excluídos reforça participação popular como elemento essencial para as mudanças no Brasil

Representantes do movimento social, da
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil,
Movimento sem Terra e Central Única dos Trabalhadores, entre
outras entidades, começam a organizar a 12ª
edição do Grito dos Excluídos,
atividade nacional que neste ano traz como tema o poder da
mudança, com o slogan Brasil: na força
da  indignação, sementes de
transformação.

Realizado sempre no 7 de Setembro, o Grito lembra que a
independência do País ainda não
resultou numa nação livre e
igualitária. “As atividades estão
compostas por protestos, caminhadas, celebrações,
gestos simbólicos, blocos em desfiles oficiais e tantas
outras que nos últimos anos têm envolvido mais de
1,5 milhão de pessoas em todas as regiões do
Brasil”, aponta Luciane Udovic, secretária
continental da manifestação.

As principais concentrações são Belo
Horizonte, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e São Paulo, em
especial a cidade de Aparecida (SP), na qual o Grito já
chegou a reunir 120 mil participantes.

Força da ação –
Para Luciane, embora a esperança tenha vencido o medo, com a
eleição de Lula em 2002, ainda há
muito por que gritar. “Precisamos continuar a denunciar todas
as formas de exclusão e as causas que levam o nosso povo a
viver em condições de vida
precárias”, avalia, destacando a necessidade de
mudanças na política econômica.

Ela lembra ainda que, justamente por se tratar de ano eleitoral, em que
chovem promessas, é preciso mostrar a força da
ação neste 2006. “É preciso
continuar arregaçando as mangas para construir o Brasil que
queremos. Vamos fazer desta semana da Pátria uma semana de
cidadania e protagonismo popular, exigindo um basta à
corrupção e à impunidade”,
reforça.

Soberania e fortalecimento popular

Em artigo para a agência de notícias Adital, Frei
Betto também lembra que o que torna especial o Grito deste
ano é a proximidade das eleições, com
a chance de renovação do Congresso Nacional e a
recondução de parlamentares que se destacaram
pela ética e coerência política.

“Porém não se trata apenas de dar
continuidade ao governo Lula, cuja política externa
realçou a soberania brasileira, assim como as
políticas socioeconômicas reduziram a
inflação e, com efeito, o preço dos
alimentos, e aumentaram o valor do salário
mínimo, o número de empregos com carteira
assinada e promovem distribuição de renda aos
mais pobres através do Bolsa 
Família”, ressalva.

Para ele, “a questão de fundo é
fortalecer os movimentos sociais. Daí a
pertinência do tema do Grito. Não  basta
mobilizar-se pelas eleições; é preciso
lançar sementes de
transformação”, relata.

Frei Betto lembra que para operar mudanças estruturais
são necessárias organização
e mobilização da sociedade civil “tanto
para pressionar o governo e os donos do  dinheiro quanto para
ocupar instâncias de poder”.