Deixar as Montadoras por último foi a marca da Campanha

Fechar em primeiro lugar acordos com a maior parte dos grupos patronais e depois com as montadoras é a marca desta Campanha Salarial dos metalúrgicos da CUT na opinião de Sérgio Nobre, presidente do Sindicato. Em entrevista para a Tribuna Metalúrgica ele faz um balanço das mobilizações da categoria neste ano.

Por que fechar acordo com os grupos  em primeiro lugar foi o mais importante da Campanha Salarial?
Pelo valor simbólico. O acordo acabou com a ideia que o Sindicato prioriza mais  os trabalhadores nas montadoras. Essa afirmação nunca foi verdadeira e isto ficou provado agora, quando a categoria firmou quase todos os acordos em conjunto, e bons acordos, com base no G 3 antes das Montadoras.

Quer dizer que influenciou os demais…
Foram os 9% que fechamos com os grupos que serviram de referência aos  acordos que vieram depois e com o que fechamos com as montadoras. Mais que isso, os 9% serviram e vão servir de referência para todo o Brasil.

Dê um exemplo.
Os metalúrgicos de Pernambuco estavam prontos para aprovar uma proposta com 7% de reajuste quando fechamos com os gruopos. Com base em nosso acordo, eles conseguiram reabrir as negociações e conquistaram os mesmos 9%. Foi o melhor que alcançaram em toda sua história, segundo relatos dos próprios dirigentes pernambucanos.

Essa tese serve para outras categorias?
Tenho a mais absoluta certeza que os 9% também influenciarão outras campanhas salariais deste segundo semestre. É só lembrar que a média de aumento real que mais apareceu nas campanhas do primeiro semestre do ano foi 1,5%, segundo pesquisa do Dieese.

Diante da produção, nossa categoria esperava esse índice?
Temos de destacar e valorizar o nosso aumento real, pois é a primeira vez que os metalúrgicos do ABC conquistam um índice de aumento real maior que o índice de inflação. Este fato relaciona-se com o expressivo crescimento do País com inflação baixa, uma situação raramente vivida por nós.

O que mais contribuiu para a conquista?
A mobilização da categoria é fundamental em qualquer negociação. Desde o início, os Comitês Sindicais, as Comissões de Fábrica, os SURs e a militância colocaram a Campanha Salarial no chão de fábrica e criaram um ambiente favorável às negociações. Para um bom acordo não adianta só a produção em alta. A campanha tem de juntar também a mobilização da base.

Apesar desses elementos, por que você sempre frisa que a Campanha foi difícil?
Como temos a maior média salarial da categoria no Brasil, o impacto do reajuste em nossos vencimentos é expressivo, muito maior que em um salário menor. Daí a dificuldade que as bancadas patronais colocam para chegar a números conforme nossa expectativa.

Existe também a rotatividade, não é?
Exatamente. Aqui a rotatividade é reduzida porque nossa organização no local de trabalho garante o nível de emprego. É comum um jovem entrar numa fábrica pelo Senai e só sair aposentado. Já em outras bases, com uma organização menor, o trabalhador recebe o reajuste agora e pouco depois é demitido, trocado por outro com salário menor. Esse é um mecanismo perverso de achatamento da massa salarial. Nesse caso, mesmo que seja bom, o índice de reajuste é anulado.

Tivemos outra Campanha onde o G 10 ficou fora?
Esse grupo é historicamente um problema. Não é surpresa a dificuldade que nos cria. Agora temos de concentrar todos os nossos esforços em conseguir uma proposta e nos solidarizar, principalmente, com os companheiros no interior do Estado onde se concentra a maior parte das fábricas do setor.

 

Da redação