Emprego é um direito humano
Esse foi o recado do ato ecumênico de ontem, com os companheiros na Volks, em protesto às demissões anunciadas pela montadora. “Deus está do lado dos trabalhadores”, disse o padre Júlio Lancelotti. Para o padre Sante Collina, da Paróquia Jesus de Nazaré, o momento é de fraternidade. Já o pastor David, da Igreja Batista da Comunidade de Deus, afirmou que os pais estão na linha de frente do sustento da família.
Em ato ecumênico realizado ontem no pátio da Volks para protestar contra o plano de demissões da empresa, o padre Júlio Lancelotti comparou os trabalhadores a Davi, que em passagem da Bíblia vence o gigante Golias.
“Vocês são pequenos, mas são muitos e essa força é irresistível”, comentou padre Júlio, lembrando que pela palavra da Igreja Católica o trabalho se sobrepõe ao capital.
“Deus está do lado dos trabalhadores, do lado daqueles que buscam Justiça, que defendem a dignidade da vida”, disse.
Padre Júlio afirmou que os poderosos querem demitir e não contratar, comentando que na capital o prefeito Kassab (PFL) vetou lei que empregaria um terço dos 12 mil moradores de rua.
“O emprego é um direito humano. Tenham coragem e resistam. E façam da união o melhor da vida para lutar por emprego e dignidade”, disse.
Para incentivar os trabalhadores, padre Júlio alertou que dia 20 de novembro, data marcada pela Volks para iniciar as demissões, é o Dia da Consciência Negra, dia de Zumbi.
“Zumbi foi um lutador e devemos ter a mesma força dos quilombolas”, concluiu.
Unir as mãos – No ato ecumênico, padre Sante Collina, da Paróquia Jesus de Nazaré, lembrou que há 26 anos a fábrica Anchieta empregava 45 mil metalúrgicos.
Ele disse que o momento deve despertar o conceito de fraternidade. “É hora de partilhar, porque assim ninguém passa fome. Se tenho dois, um pode estar na mesa do outro”, ensinou.
O pastor David, da Igreja Batista da Comunidade de Deus, afirmou que os pais estão na linha de frente do sustento da família e agora, diante da possibilidade de perder o emprego, também perdem a possibilidade da construção de seus sonhos.
“A ameaça da globalização não é maior que a capacidade de continuarmos lutando pelo futuro e sonhos dos nossos filhos”, disse o pastor David.
Ele pediu que, no Dia dos Pais, os trabalhadores se unam e continuem a lutar.
No final, o presidente do Sindicato, José Lopez Feijóo, achou estranho a Volks dar férias coletivas aos 3.500 trabalhadores da linha do Gol a partir do dia 28, justamente num momento em que o mercado interno cresce.
“Vamos ficar atentos, pois pode haver surpresa”, avisou Feijóo, alertando que a qualquer momento os trabalhadores podem ser chamados para uma luta mais dura. “Temos de estar preparados para o enfrentamento”, finalizou.