Futuro da integração latino-americana depende do Brasil

A posição do Brasil é fundamental para a autonomia da América Latina em relação ao neoliberalismo e ao governo norte-americano. A reeleição do presidente Lula é questão chave para a integração da região. As afirmações são do sociólogo Emir Sader.

O capitalismo nunca foi tão forte; a correlação de forças internacionais é desfavorável para a esquerda; e os Estados Unidos continuam sendo o eixo econômico do planeta.

Mas, a esperança para um mundo melhor reside na América Latina, hoje o maior centro de resistência ao modelo neoliberal que se disseminou pelo planeta.

A análise é do sociólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Emir Sader, em conferência sobre Relações Internacionais realizada pelo PT. Seu objetivo foi alertar a militância de esquerda para a compreensão da influência internacional na conjuntura local. “Precisamos conhecer o termômetro do enfrentamento. Precisamos reconstituir a dimensão internacionalista de nossa luta”, conclamou Sader.

Resistência – Embora tenha críticas pontuais ao governo Lula (a manutenção de tropas brasileiras no Haiti, por exemplo), Sader foi categórico ao afirmar que é fundamental reeleger o atual presidente, para que o processo de resistência e integração latino-americana tenha continuidade e seja aperfeiçoado.

“O destino da América Latina, de alguma maneira, está sendo jogado no Brasil”, afirmou ele. “O retorno da dupla PSDB-PFL ao governo federal significará reimplantar no Brasil um território do presidente Bush, pró-neoliberalismo, projeto que os EUA não têm hoje no continente”, disse.

Ele acredita que o atual quadro político latino-americano reúne as bases para um novo modelo. “A América Latina é o único lugar do mundo cujo projeto de integração regional tem relativa autonomia dos EUA. Aqui, eles estão muito mais isolados”, afirmou.

Integração depende dos movimentos sociais

Sader lembrou que aqui foi o local da disseminação do neoliberalismo nos anos 90. Mas, ressaltou, que foi também na América Latina que ocorreram as primeiras grandes crises desse modelo, com a quebra das economias do México, do Brasil e da Argentina.

A chegada ao poder de governantes de esquerda ou progressistas em vários países (Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Chile e Bolívia, principalmente), na avaliação de Sader, levou a avanços importantes, como o fracasso da instalação da ALCA.

“Mas ainda temos enormes fragilidades. O Mercosul, por exemplo, não avançou e é preciso buscar maior integração na política e em outras áreas, com destaque para as comunicações – hoje dominada pela mídia que se faz porta-voz dos interesses norte-americanos”, alertou.

Tais avanços não dependem apenas dos governos, entende o professor da USP, mas da interação entre governos, forças políticas e movimentos sociais.

Progressista à frente no Peru

O primeiro turno das eleições presidenciais no Peru será neste domingo, repetindo o mesmo embate entre progressistas e conservadores que marcaram eleições em outros países da América Latina recentemente.

Ollanta Humala, de orientação progressista, é apontado nas pesquisas como garantido no segundo turno, enquanto a disputa pelo segundo lugar está entre os conservadores Lourdes Flores e Allan Garcia, ex-presidente do país. O segundo turno acontece em 9 de maio.

Estados Unidos continuam de olho

Os Estados Unidos não estão assistindo pacificamente a mobilização anti-neoliberal na América Latina. A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice (foto), incentivou recentemente “os países do mundo” a criarem uma “frente unida” contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

A idéia de Condoleezza Rice é criar a frente para desenvolver uma estratégia de isolamento de Chávez. Mais ou menos como os EUA tentam fazer com o Irã, Coréia do Norte e outros, a quem o presidente George Bush chama de “eixo do Mal”.

Dentro desta estratégia, Rice aproveitou para classificar Chávez como “um desafio para a democracia e um perigo para a região” devido a seus vínculos com o presidente de Cuba, Fidel Castro.

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