Mais demolições e uma morte em São Bernardo
A Prefeitura de São Bernardo voltou a assombrar os moradores da periferia. No Jardim Scaf, uma pessoa de 86 anos morreu na última sexta-feira ao ver a demolição do bar do filho. Vários outros pontos comerciais também foram ao chão sem que a administração garantisse algo a seus proprietários. Muitos deles não sabem como farão para sustentar suas famílias.
Um homem morreu sem atendimento médico durante a demolição de vários bares que funcionavam no Jardim Scaf, perto da Avenida Galvão Bueno, em São Bernardo.
O morador João Pereira dos Santos, de 86 anos, passou mal e acabou morrendo sem atendimento ao ver a demolição do bar de seu filho. Um dia antes ele passou pelo Pronto Socorro Central, foi medicado e depois liberado.
Sua filha, Rosália, disse que ele ficou muito agitado com o barulho dos tratores.
O secretário da Habitação, Ademir Silvestre, avisou que vai derrubar todo comércio em área de risco, e comparou os proprietários das casas a traficantes de drogas e sequestradores.
“Tem muita gente que vive de fazer cativeiro em barraco”, disse ele.
Airis Alves, que teve seu bar destruído, sustenta cinco filhos, um deles deficiente visual. Adelmo Alves Liberalino perdeu seu comércio e disse que não sabe como vai sustentar as oito pessoas da famílias que ele mantém.
“A prefeitura arranca a gente daqui mas não disse em que lugar vai colocar a gente”, protestou.
Abuso de poder – O secretário da Habitação disse que os moradores da área não estão cadastrados no programa de habitação da Prefeitura.
Os moradores do Jardim Scaf estão protestando contra as demolições pois acreditam que está havendo abuso de poder por parte da Prefeitura.
Eles disseram que a notificação da Prefeitura é feita como se o morador estivesse entrando na área naquele dia, não dando nem o direito de defesa que está previsto na Constituição.
Os moradores disseram que os próprios donos da área, a família Scaf, passaram a fazer um loteamento irregular na década de 50, já que áreas de mananciais não podem ser fracionadas.
“Tem gente que comprou lote, tem gente que paga aluguel e tem também ocupações”, explicou Cícero Ferreira do Santos, que mora no local há oito anos.
Ele lembrou que naquela época a Justiça embargou o loteamento, mas as vendas continuaram assim mesmo.
Cícero disse que mais de cem famílias moram na área e que os moradores querem legalizar a situação para continuar no local. “Vamos entrar na Justiça e recorrer até onde der”, avisou ele.
Moradores do Falcão querem indenização
Moradores do Jardim Falcão realizaram ato na semana passada protestando que até agora, depois de oito anos da demolição das casas do bairro, ainda não receberam nenhuma indenização.
As casas foram demolidas em julho de 1998 durante a administração Maurício Soares, deixando desabrigadas 380 famílias. O local virou um depósito de lixo e entulhos.