O Confinamento (Parte 4 – Final)
Os exemplos de ações da sociedade contra o confinamento vão se multiplicando e apontando o rumo para uma sociedade mais aberta, mais livre. A possibilidade de mais facilmente administrar o tempo, principalmente na distribuição mais racional entre trabalho, descanso e lazer parece fantástica, mas é preciso cuidado.
Transição problemática – Na atividade industrial o processo de transição do confinamento para novas formas tem se dado a partir da precarização das relações de emprego, deteriorando ainda mais as condições de trabalho, eliminando as poucas conquistas e garantias trabalhistas e enfraquecendo a organização sindical.
Apesar disso, se mantém uma conjuntura de enorme desequilíbrio de poder nas relações capital/trabalho, um sistema legal que não atende as novas demandas e com uma crescente utilização de inovações tecnológicas e gerenciais que permitem produzir mais com menos trabalho.
Por fim, um crescente aporte de mão de obra às regiões industriais, com baixa educação e qualificação, não encontra outros meios de se inserir no mercado de trabalho senão na informalidade ou em empregos formais, mas muito precários.
Riscos aumentam – Em um sistema capitalista consumista, trabalhar para viver é coisa do passado. Agora, trabalha-se para consumir e, mesmo numa perspectiva de maior liberdade e autonomia sobre o nosso tempo, o trabalho passa a ser uma atividade sem limites.
Novos desejos de consumo são criados a cada segundo e a felicidade está na realização desses desejos, ainda que isso importe em trabalhar mais do que suportamos.
Consequência direta da insegurança e do medo diante de um novo modelo, já são visíveis os reflexos dessa nova organização social na forma de estresse, aumento da competição e do individualismo em detrimento da solidariedade, distúrbios na esfera psicosocial que superam em muito as doenças tradicionais.
Precauções e cuidados – Antes de nos lançarmos nesse desafio é preciso garantir algumas questões como pressupostos mínimos necessários ao nosso sucesso. Entre eles podemos citar uma nova forma de organização política menos sujeita ao poder do capital, liberdade e autonomia de organização social e sindical, redução dos desníveis sociais no acesso à educação, moradia, transporte, saúde e previdência. E, principalmente, um Estado que cumpra seu papel na distribuição da riqueza, na socialização do desenvolvimento e na valorização da vida.
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente