Usimatic: uma história de mutilações

“Se todos os companheiros que sofreram algum acidente na Usimatic fossem até o Sindicato, iria formar uma fila na porta”.

O desabafo é do operador de máquinas M, de 20 anos, que não quis se identificar, e que também sofreu um acidente na empresa.

Ele ficou revoltado ao ler na Tribuna a história do operador João Roque Correia Neto, que teve os dedos esmagados numa calandra e foi totalmente abandonado pela fábrica.

Como João, M também entrou na Usimatic por uma agência e após o acidente ficou jogado entre as duas empresas por mais de seis meses sem receber nada pois o INSS estava em greve.

Só em dezembro, vários meses após o acidente, recebeu os 15 dias  da firma e perto de R$ 500,00 do INSS. Nem o seguro desemprego ele ainda teve tempo de pegar.    

“Sofri, sofri mesmo”, recorda M, que só conseguiu um novo emprego no final do ano passado. Como havia casado três dias antes do acidente acontecer, em agosto sua situação ficou insuportável e M. foi fazer bicos mesmo com as sequelas do acidente.

Acidente – M operava uma dobradeira CNC na Usimatic. No dia do acidente percebeu que mexia com uma peça pequena, mas não podia reclamar.

A máquina beliscava muito e acabou rasgando um de seus dedos até o osso. Sem dinheiro, teve que passar por vários postos de saúde até conseguir os remédios para aliviar a dor. “O dedo estava inchado e a dor era insuportável”, conta.

Quando foi procurar seus direitos na Usimatic, M. foi encaminhado para a agência.

Lá, disseram que o problema era com a Usimatic. “Fiquei assim: acidentado e jogado de um lado para o outro. Eles nem ligaram para mim”.

O companheiro só conseguiu pegar suas roupas no começo deste ano. “Levei meu avental ainda manchado de sangue, que uso quando o que tenho está sujo. Não me deram nada. Só boa sorte e acabou”, afirma M, revoltado. O Sindicato abriu inquérito criminal contra a empresa.