Editorial: A luta é pela vida!
A cada mês de novembro as discussões sobre a situação da população negra no Brasil ganham mais espaço nos debates, na mídia, e reacendem a importância de olhar para o assunto com a atenção necessária e urgente.
A luta dos Metalúrgicos do ABC junto à Comissão de Igualdade Racial e Combate ao Racismo é e sempre será pautada na busca incansável pela igualdade de direitos e oportunidades na sociedade em geral. Dentro deste contexto, são muitos os temas que precisam ser abordados, entre eles o desafio da equidade no mercado de trabalho, escolaridade e acesso às universidades, racismo estrutural, respeito nos estádios e à religiosidade. Contudo, infelizmente, ainda é preciso brigar pelo direito mais fundamental, o de viver.
Para que homens e mulheres negras se tornem doutores, ocupem cada vez mais cargos de chefia nas grandes empresas e cadeiras políticas, é preciso o óbvio, estar vivo. Mas um dado alarmante divulgado pelo IBGE mostra que a taxa de homicídio de negros vem aumentando no Brasil e supera, em todas as faixas etárias, a dos brancos.
Os últimos números são de 2017, e apontam que foram registradas 16 mortes a cada 100 mil habitantes no caso da população branca, mantendo-se estável quando considerada toda a série histórica, desde 2012. Já para pretos e pardos, a taxa de homicídios aumentou de 37,2 para 43,4 a cada cem mil habitantes nesse mesmo período, segundo o informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. Ou seja, em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram indivíduos negros.
Os números mostram ainda que a violência letal atinge com mais intensidade a população jovem. Quando analisado o grupo com idade entre 15 e 29 anos, a taxa de homicídios chega a 98,5 entre pretos ou pardos, contra 34 no caso dos jovens brancos.
Segundo o IBGE, jovens expostos à violência têm mais propensão a sofrer de doenças como depressão, vício e problemas de aprendizagem, além de suicídio. O informativo conclui que o cenário demanda políticas públicas direcionadas à redução da violência, mas com enfoque específico na parcela mais vulnerável dos brasileiros.
Porém, a conjuntura e o futuro que se vislumbra está muito longe disso. Com este governo de extrema direita, comandado por um presidente declaradamente racista e que tem como seu maior palanque o armamento da população, e a redução da maioridade penal, sendo apoiado em sua política de extermínio por governadores e prefeitos de diversos estados, seguiremos na total contramão do que é necessário para reduzir o genocídio da população negra.
É em momentos como este, de profundo ataques aos direitos fundamentais e de total descaso do Estado, que negros e brancos precisam estar cada vez mais conscientes do seu papel como cidadãos para lutar juntos por uma sociedade mais justa e inclusiva. É dever de todos estar alerta ao menor sinal de racismo, seja na família, na fábrica, na igreja, no campo, e ajudar, ao seu modo, a combater injustiças sociais e raciais.
Marielle Franco, presente! Amarildo Dias de Souza, presente! Kauê Ribeiro dos Santos, presente! Kauã Rozário, presente! Kauan Peixoto, presente! Jenifer Silene Gomes, presente! Ágatha Félix, presente! Ketellen Umbelino de Oliveira Gomes, presente!
Lucas, João, Maria, Antônio, Kleber, Ana, Victor, Anderson, Marcos, Mayra, Joana, Rafael, Raíssa, Vinícius, Joice, Matheus, Rogério, Eduardo, Ricardo, Pedro… e tantas outras vidas negras que se perderam sem virar notícia, Presente!