Fala Wagnão: Não é normal

Foto: Adonis Guerra

O primeiro passo para que possamos combater toda forma de preconceito e de produção da desigualdade é a tomada de consciência. É a partir do saber onde estou e olhar para o nosso passado é que podemos definir o que queremos para o nosso futuro, individual e coletivamente.

Enfrentar uma realidade, que é construída com base em uma política econômica que gera desigualdades, é o caminho para que tenhamos uma sociedade melhor, com mais tranquilidade para nossos filhos.

As características da sociedade atual têm origem na escravidão. Em 1871, antes da assinatura da Lei Áurea, foi promulgada a Lei do Ventre Livre. Essas crianças libertas eram filhos e filhas de pessoas escravizadas e, como eram livres, para o senhor do escravo aquelas crianças eram só um custo e eram jogadas na rua depois de certa idade. Como não eram consideradas gente, a sociedade predominantemente branca se acostumou que é normal ter crianças na rua.

Homens brancos estuprarem índias e negras não era estupro, era normal e natural. Por isso, a sociedade aceita e tem enorme tolerância a crianças em situação de rua, estupro e violência contra as mulheres. Também achavam natural a venda de escravos e o comércio de gente, era normal há 130 anos uma pessoa ser propriedade da outra.

As formas de exploração mudaram. Hoje o patrão não precisa mais pagar o escravo a vista, agora vai pagar picadinho, mês a mês, e cobrar do trabalhador um monte de obrigação. E vai querer pagar o menos possível. Essa é a concepção da patrãozada, que defende reforma Trabalhista, terceirização, Carteira Verde e Amarela. 

Compreender isso é um passo extremamente importante para que façamos as defesas corretas das políticas que tentam combater as desigualdades que parcela da população, só pela sua cor, sofre.

Hoje ouvimos falar em meritocracia, “a pessoa mereceu, ela estudou”, mas essa pessoa não parte da mesma condição que outra no acesso à educação de qualidade, não precisou começar a trabalhar com 7, 8 anos de idade, estudou, terminou a universidade, se colocou em um posto de trabalho adequado a sua formação.

Não é meritocracia ter condições mais vantajosas do que a maioria de nós. Essa elite faz questão de que a realidade continue assim. Por isso, um dos pilares desse governo fascista é acabar com a educação pública de qualidade. 

Combater as desigualdades não é obrigação única dos companheiros e companheiras, negros e negras, é de todos nós. Essa é uma das nossas principais tarefas, ajudar a conscientizar a sociedade para que o mundo mude na direção da igualdade e do respeito.