“O sonho do trabalhador é deixar de ser terceirizado”, diz Rafael
Foto: Adonis Guerra
O presidente do Sindicato, Rafael Marques, participou de um debate promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo e a Confederação Nacional da Indústria, a CNI, sobre Terceirização e mercado de trabalho, ontem, em São Paulo, e afirmou que as relações de trabalho não interferem na competitividade do País.
“O debate é importante porque o Brasil competitivo é algo que desejamos e temos trabalhado em vários fóruns, inclusive na formação da política industrial brasileira que está em vigência, onde avançou mais na questão automotiva com o Inovar-Auto, e o setor de petróleo e gás”, explicou.
Para o presidente, o mundo inteiro olha para o mercado interno do Brasil como uma grande oportunidade de investimentos.
“O Brasil pode alcançar o estágio de competitividade adequado para a economia crescer, com geração de emprego e inserção global, em um mundo cada vez mais competitivo e agressivo em busca de novos mercados”, afirmou.
“As relações de trabalho estão totalmente vinculadas a esse cenário, mas temos muitas dúvidas sobre eficiência da terceirização, como está sendo proposta, principalmente, para a atividade-fim”, completou.
Segundo ele, a terceirização em atividades intermediárias é responsável pela redução de salário em 28% na média e o índice de acidentes de trabalho ocorre com muito mais frequência.
“As mortes no ABC, nos últimos dez anos, quase todas foram de trabalhadores terceirizados. Um exemplo disso ocorreu em uma grande montadora, que contratou trabalho de manutenção em uma subestação no final de semana e a manutenção chamou uma especializada. Por um erro de coordenação de serviço, o resultado foi a morte de trabalhador terceirizado”, lamentou.
O presidente destacou ainda a altíssima rotatividade no trabalho, 65% nas empresas terceirizadas, o que acarreta, em parte, nos aumentos do seguro-desemprego.
“Essa radiografia por conta dos indicadores de acidentes de trabalho, jornada mais extensa, com tendência a ser, na média, três a quatro horas a mais; tempo de duração no emprego é menor, menos da metade, com média de cinco a seis anos para os primários e para os terceirizados esse tempo não chega a três anos”, ressaltou.
“Isso permite dizer que houve precarização nas empresas terceirizadas”, denunciou o presidente dos Metalúrgicos do ABC.
Rafael também questionou a eficiência da terceirização na redução de custos da indústria.
“Na comparação da agência de trabalho do ministério norte-americano, com 34 países, em termos de custo hora da produção do trabalhador industrial, somos o 28º país, com a alta do dólar, passamos para o 32º lugar em custo laboral na indústria, o custo de produção industrial”.
“A terceirização com esse fluxo de competitividade deixa dúvidas sobre sua eficácia, estamos dando um tiro errado. Por isso, não vejo o projeto – PL 4330, agora no Senado como Projeto de Lei da Câmara, PLC 30 – no ponto do equilíbrio necessário”, avaliou.
“Se o projeto for votado como foi na Câmara, será um péssimo exemplo para o País porque é um setor votando um projeto deixando um baita ressentimento em outro setor da sociedade”, sentenciou.
Rafael citou o exemplo das negociações do Sindicato com a Ford, que desterceirizou o setor de logística e está ganhando em 20% em eficiência.
“O sonho do trabalhador é deixar de ser terceirizado”, concluiu o presidente.
Projeto da precarização tramita no Senado
Após ser aprovado pela Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 4330 tramita agora no Senado com o nome de Projeto de Lei da Câmara 30.
Antes de ser votado pelos senadores, o PLC 30 deverá passar pelas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania; de Assuntos Econômicos; de Direitos Humanos e Legislação Participativa; e de Assuntos Sociais.
Os deputados federais aprovaram em abril o PL 4330 em regime de urgência, sem passar por análise das comissões.
O projeto permite a terceirização de todas as atividades de uma empresa e precariza as relações de trabalho.
Vote na enquete do Senado contra o PL: http://goo.gl/QHvwPR. Até ontem, o site registrava 46.101 votos contra a terceirização e 7.587 a favor.
Da Redação.