1. O Estado contra os trabalhadores
No segundo dia da greve dos operários norte-americanos começou a repressão policial. O movimento era coordenado pela Federação de Agrupamento do Comércio e da União de Trabalhadores dos Estados Unidos e concentrava-se na cidade de Chicago. Calcula-se que perto de 200 mil trabalhadores participavam.
No terceiro dia da greve, vários trabalhadores foram assassinados pela polícia em frente à fábrica Mac Cardick. A guerra estava declarada. No dia 4 de maio, a polícia explodiu uma bomba matando 80 trabalhadores (muitos deles crianças e mulheres) e um policial. Os líderes operários foram presos e, no dia 11 de novembro de 1887, cinco deles foram enforcados na prisão de Spiers. Alguns anos mais tarde foram declarados inocentes.
Em meados dos anos 90, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC negociava uma pauta de reivindicações com fábrica importante de São Bernardo. A negociação era diretamente com o presidente da empresa que, em determinado momento, disse o seguinte:
– É muito mais fácil e barato pra mim mudar a minha fábrica para outro estado que atender essas reivindicações. Lá, a folha de pagamento será 30% do que é aqui em São Bernardo, os trabalhadores tomam café em casa, vêm de bicicleta ou a pé, não preciso pagar transporte e ainda por cima ele chega com o corpo aquecido e toca a linha a partir do primeiro minuto do início da jornada.
A fábrica mudou-se mesmo. Cerca de 1.200 trabalhadores perderam o emprego e a nova fábrica foi construída em outro Estado, financiada com recursos públicos, com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Ante a exploração da mão de obra através das precaríssimas condições de trabalho e salários extremamente baixos como no início da industrialização, a classe dominante desenvolveu nova forma de exploração: a chantagem.
A resposta dos trabalhadores à chamada “guerra fiscal” (como caracteriza-se o exemplo da fábrica que foi embora) veio mais tarde, no final dos anos 90, com o chamado “festival de greves”. A luta foi desencadeada em fábricas do setor automotivo em várias cidades brasileiras e a reivindicação continua sendo um contrato de trabalho único em todo o setor no País.
Tudo que os trabalhadores construíram a partir de sua organização, a civilidade que impuseram nas relações de trabalho através de muitos anos de luta, a legislação, a proteção social e as garantias de jornada e de salário foram colocadas em risco. Desta vez, não pela força bruta, mas sim por uma democracia falseada pela classe dominante. Em março de 2000, depois de uma paralisação dos trabalhadores, a Volkswagen ameaçou fechar a fábrica de motores em São Carlos ante conceder condições de trabalho e salarial semelhantes às que existem nas fábricas de São Bernardo e de Taubaté. O argumento da empresa: “o risco de aumentar o custo de produção e de perder a competitividade da fábrica”.
O jornal operário La Bataglia descreveu assim as condições de vida dos trabalhadores paulistas em 1907:
Nenhum conforto tem o proletário nesta rica e famosa capital. Os bairros em que mais se concentram, por serem os com maior número de fábricas, são o Brás e o Bom Retiro. As casas são imundas, as ruas na quase totalidade não são calçadas. Falta água para as mínimas necessidades, faltam luz e esgotos. O mesmo se dá na Lapa, na Água Branca, no Ipiranga e em São Caetano.
Numa outra edição, o La Bataglia noticiava que numa fábrica de fósforos de São Paulo havia mais de 100 crianças de 7 a 12 anos de idade. Assistimos ontem a entrada de cerca de 60 pequenos, às 19 horas, na sua fábrica, na Móoca. Essas crianças entrando àquela hora, saem às 6 horas.
Trabalham pois, 11 horas a fio, em serviço noturno, apenas com um descanso de 20 minutos à meia noite. O pior é que se queixam de que são espancadas pelo mestre. Muitos mostraram esquimoses nos braços e nas costas. Alguns apresentam mesmo ferimentos produzidos com um manivela. Há u