1964: democracia e golpe militar

Temos feito nesta coluna uma reflexão sobre o processo histórico de construção da cidadania no Brasil, visto como base do regime democrático. É sob esse ângulo que queremos analisar a crise política dos anos 60 e cujo desfecho foi o golpe militar.

Os conflitos e disputas políticas que marcaram o governo João Goulart mobilizaram amplos setores da sociedade, desde a crise criada com a resistência dos setores conservadores à sua posse, que só foi resolvida através de um “acordo” entre as elites, com a adoção do parlamentarismo.

Seu governo foi marcado por uma progressiva radicalização das lutas políticas. As forças populares e de esquerda pressionavam o governo por reformas de base, apontadas como solução para os graves problemas do País. Os setores conservadores e reacionários da sociedade viam em toda essa movimentação a ameaça comunista, velho jargão para justificar sua tradição golpista.

A radicalização da luta política culminou com a realização de grandes comícios, em março de 1964, em defesa das reformas de base e com a assinatura, pelo presidente, do decreto de expropriação das terras à margem das rodovias e ferrovias federais para implantar a reforma agrária.

A iniciativa desencadeou a reação da direita que organizou as “Marchas da Família com Deus e pela Liberdade”. A revolta de marinheiros e fuzileiros navais, no Rio, foi a gota dágua.

O golpe que estava planejado para abril foi antecipado para o dia 31 de março. Não houve reação popular e o apelo de dirigentes sindicais por uma greve geral em oposição ao golpe não foi ouvido. Os fatos e o desfecho da crise política revelam, além da fragilidade dos movimentos populares, a incipiente consolidação da democracia neste breve período de dezoito anos (1946 -1964).

As organizações civis existentes não eram fortes e representativas para refrear o curso da radicalização. Não souberam usar os espaços institucionais e encontrar solução negociada para os conflitos. Mais grave do que isso, tanto para a esquerda quanto para a direita, a democracia não era um fim a ser perseguido, mas apenas um recurso descartável.

Departamento de Formação