20 anos da CUT: Ministro da ditadura dá vexame
Na noite de 28 de agosto de 1983, o apresentador Cid Moreira abriu o Fantástico, da Rede Globo, anunciando de forma seca para 70 milhões de brasileiros que um grupo de sindicalistas se reunira naquele dia em São Bernardo e anunciara a fundação da Central Única dos Trabalhadores. A nova entidade, prosseguia ele, pretendia unificar as lutas dos trabalhadores de todo o Brasil.
Terminada a fala, imediatamente entrou no ar o ministro do Trabalho da ditadura, Murilo Macedo, e desmentiu a TV Globo. Mais: ga-rantiu que o encontro acontecido em São Bernardo não passava de uma farsa sem futuro pois a CUT jamais representaria ninguém nem conquistaria nada. Disse também que o governo nunca iria permitir seu funcionamento e previu o fracasso da Central, aconselhando os trabalhadores não a acompanharem.
>> 20 anos de conquista
Por uma coincidência, Murilo Macedo faleceu, em completo esquecimento, na terça-feira da semana passada. Dois dias depois, mais de mil trabalhadores lotaram o Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo, para comemorar, no mesmo local em que foi fundada, os 20 anos de conquistas da maior, mais forte e mais combativa central sindical da história do País.
Contrariando a previsão do ministro da ditadura, a CUT não só se firmou como escreveu uma trajetória de conquistas como a maior central sindical do Brasil, da América Latina e a 5ª do mundo, com 3.353 sindicatos filiados representando 22 milhões de trabalhadores, sendo 7.425.925 associados.
A CUT teve papel preponderante na derrubada do regime que Mu-rilo Macedo serviu além de contribuir decisivamente para a eleição de um de seus fundadores naquele 28 de agosto de 1983, Luiz Inácio Lula da Silva, como presidente do Brasil. Ele, aliás, foi o principal orador do ato de sexta-feira que teve outro significado histórico: pela primeira vez, um presidente da República compareceu ao aniversário de uma central sindical no País.