20 anos do MST: Sem MST não haveria reforma agrária

“Centenas de propriedades rurais serão invadidas de uma vez só no início de novembro, em protesto contra a morosidade do governo em aplicar a reforma agrária.”

A frase acima abria uma reportagem do Jornal do Brasil em 8 de outubro de 1985, um ano depois da fundação do MST. Às vésperas de completar 20 anos, o movimento conquistou uma projeção interna-cional jamais sonhada pelos agricultores que testemunharam seu nascimento num congresso, realizado na cidade paranaense de Cascavel, entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1984.

“Estamos orgulhosos de completar 20 anos. Por termos sobrevivido a tantos ataques da imprensa, das elites e dos latifundiários”, disse João Pedro Stédile, fundador e um dos principais coordenadores do MST.

O Movimento foi uma das grandes novidades surgidas no cenário político brasileiro e, se houve alguma medida pró-reforma agrária no País nesses 20 anos, deve-se em grande parte ao movimento. “Existirmos já é uma vitória. Mais de 500 mil famílias conquistaram a terra, têm trabalho, dignidade, consciência”, argumenta Stédile.

>> Balanço

O MST atua em 23 Estados, com ações que envolvem 1,5 milhão de pessoas, segundo balanço do movimento. Em boletim que está sendo distribuído em todo o País, o MST conclui que, ”em números, podemos confirmar que a reforma agrária dá certo”.

O movimento contabiliza 350 mil famílias assentadas, 400 associações de produção, 49 cooperativas agropecuárias, 32 cooperativas de prestação de serviços, três co-operativas de crédito e 96 pequenas e médias agroindústrias. Nas escolas públicas dos assentamentos do MST, 160 mil crianças estudam da 1ª à 4ª série, com ”pedagogia específica para as escolas do campo”.

>> Fim da trégua

O governo federal já foi informado da retomada das ocupações a partir de maio, caso o programa de reforma agrária não deslanche. O presidente Lula prometeu assentar 430 mil famílias até o fim do mandato. Só assentou 36 mil no ano passado. Semana passada, Miguel Rossetto, ministro da Reforma Agrária, alertou o governo que se a verba prevista para a pasta não aumentar, não será possível cumprir a meta prometida pelo presidente.