30 anos do novo sindicalismo: Uma greve por valores e pela consciência

O principal resultado da greve de 12 de maio de 1978 na Scania não foi o aumento de salário, mas a construção de uma consciência dos valores de classe. Essa é a opinião do presidente Lula sobre o movimento.

“Sou resultado do que vocês representaram”

Num discurso entremeado
de recordações e
passagens com personagens
daquela época, o presidente
Lula afirmou que a greve
dos trabalhadores na Scania
de 12 de maio de 1978 foi
“o tiro de misericórdia que
destruiu todos os impecilhos
para a volta da democracia
no Brasil”.

Segundo ele, o grande
ganho daquela greve, que
depois se estendeu a outras
montadoras, “não foi do
ponto de vista do aumento
do salário mas, sim, do
ponto de vista da moral, da
consciência”.

Respondendo àqueles
que acreditam que sua
eleição à presidência foi o
ponto culminante daquela
luta iniciada há 30 anos, Lula
afirmou que ele é resultado
daquilo que cada trabalhador
representou no momento.
“Devo minha formação ética
e a política de pés no chão à
maturidade que essa categoria
me impôs”, acrescentou.

Ato – O presidente participou
do ato em comemoração aos
30 anos da greve na noite de
segunda-feira, na Sede do
Sindicato. A atividade foi
aberta com a exibição de
Linha de Montagem, documentário
de Renato Tapajós,
sobre as greves de 79 e 80.

No palco, o presidente
tinha ao seu lado ex-companheiros
de diretoria, dirigentes
do Sindicato e políticos,
os ministros Luiz Marinho
(Previdência), Marta Suplicy
(Turismo) e Franklyn Martins
(Secretaria da Comunicação)
e uma platéia de cerca
de mil pessoas.

Num breve retrospecto,
o presidente do Sindicato,
José Lopez Feijóo, afirmou
que a greve levou os trabalhadores
à cena, não como
coadjuvantes, mas como
sujeitos da história. “Quantas
coisas fomos capazes
de construir depois daquela
luta, como o PT a CUT, a
eleição e reeleição de um
operário à presidente. Se
mais nada tivesse sido feito,
só isso já representaria uma
significado fantástico”, conclui
Feijóo.

O Sindicato 30 anos depois

Ao comentar uma das
heranças da greve de 12 de
maio, o diretor do Sindicato
Sérgio Nobre, salientou que
esses 30 anos não devem ser
vistos com muito saudosismo,
mas são os valores que
eles despertaram, como solidariedade
e o companheirismo,
que devem nortear a
ação dos sindicalistas. Sérgio
Nobre assumirá a presidência
do Sindicato em julho.

O que esses 30 anos
apontam para a próxima
gestão do Sindicato?

A luta mudou de patamar
porque temos outras
condições de negociar. Os
conflitos existem, mas se
resolvem em outros palcos,
como na mesa de negociação,
e não somente pela
força das greves, como era
antes.

E o que ficou de mais
importante do período?

São os princípios de
classe, os vínculos de solidariedade,
lealdade e companheirismo.
A ousadia e
a combatividade dos companheiros
de 78 colocaram
a categoria na vanguarda
da luta sindical. Salário e
condições de trabalho são
hoje uma luta permanente.
Ser ousado hoje é querer
o trabalhador com educação
superior, olhar para ele
como sujeito integral que,
se conseguiu avanços na
fábrica, mora num bairro
que muitas vezes carece de
serviços essenciais. Ousar é
estar ligado em todas as demandas
dos trabalhadores e
lutar por elas.

Qual é a principal
conquista de 78?

Foi avançar na consolidação
da democracia política,
apesar de estarmos longe
da democracia econômica.

Cineasta planeja outro filme

Linha de Montagem,
reexibido na noite de segunda-feira, não só arrancou
saudades e emoções
da platéia, como do seu
diretor, Renato Tapajós.

“Foi extremamente
emocionante porque a estréia
do filme foi justamente
aqui (no salão da sede).
Tinha gente pendurada pra
todo lado e muitas não conseguiam
entrar”, recorda
ele, que planeja um novo
filme sobre a luta dos trabalhadores.

Linha de montagem
é um dos retratos cinematográficos
mais completos
das greves de 79 e 80. Tapajós
lembra que, depois de
pronto, entregou o filme à
censura (durante o regime
milita