45 anos de 1964 – Começam as reformas de base

O ano de 1964 começou com o rompimento das negociações entre o governo e as forças conservadoras no Congresso Nacional para implementar as reformas de base, reunindo reforma
agrária, educacional, fiscal, bancária e eleitoral.
Jango organizou, então, uma ofensiva política para pressionar os parlamentares com a força das ruas.
Apoiado pelos movimentos populares, que haviam atingido um grau de organização inédito na história do País, anunciou seu comparecimento a uma série de grandes comícios
nas principais cidades, a fim de mobilizar a população em favor das reformas.

Comício
O primeiro deles, o Comício das Reformas, foi realizado no dia 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro. Nele, diante de 150 mil pessoas, o presidente assinou dois decretos: um iniciando a reforma agrária, com a desapropriação de terras ociosas às margens das rodovias e açudes federais; outro encampando as refinarias particulares de petróleo.
Com o gesto, Jango iniciava a implementação das reformas de base sem a permissão do Congresso Nacional.
Esse seria o principal argumento que os militares usariam para justificar o golpe.

Reforma “na lei ou na marra”
O presidente iniciou as reformas pela agrária porque o campo configurava um dos problemas sociais mais sérios do País. A má distribuição de terras produzia efeitos negativos para todo o País.
A pobreza excluía do acesso ao mercado de bens industrializados a maior parcela da população, uma vez que cerca de 70% dos brasileiros habitavam a área rural até os anos 1950.

Pressões
Portanto, além de resolve o problema rural, restabelecendo a paz em áreas marcadas por uma crescente mobilização social, a reforma agrária seria capaz de promover a industrialização e o desenvolvimento econômico.
Por isso, os movimentos sociais decidiram pressionar o Congresso Nacional de modo firme, exigindo uma reforma agrária “na lei ou na marra”.
Foi nesse jogo de pressões que João Goulart rea-lizou o Comício das Reformas.

Marcha da Família

A tensão política aumentava ao mesmo tempo em que a economia se deteriorava com aumento da inflação.
Em 63, a inflação atingira 75% e as projeções nos primeiros meses de 64 estimavam alta de 140%. Para defender seu poder de compra, os trabalhadores realizaram 302 greves em 1963. Muitas delas, porém, visavam aumentar a participação da categoria nas decisões do governo e pressionar pelas reformas.
A direita também aumentava a pressão. Em São Paulo, as forças conservadoras responderam ao Comício das Reformas com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade (foto), reunindo cerca de 200 mil pessoas. Nas faixas, pedidos para Jango ser destituído.

Militares mobilizados para o golpe

A divisão da sociedade também chegara às Forças Armadas. Um setor era nacionalista, articulado ao movimento sindical e a setores da esquerda e apoiava abertamente importantes iniciativas progressistas como as reformas de base. O grupo contrário à política de Goulart, por outro lado, se envolvia cada vez em ações que visavam a desestabilizar o governo.
A cisão dos militares ficou clara no episódio ocorrido dia 25 de março. Contra a ordem do ministro da Marinha – adversário de Goulart -, cerca de 2.500 marinheiros se reuniram no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro para comemorar o segundo aniversário de sua agremiação.
O ministro emitiu ordem de prisão contra os organizadores do evento e enviou um destacamento de fuzileiros navais ao local da reunião.
Os fuzileiros, com permissão de seu comandante – favorável a Goulart -, em lugar de prender os marinheiros, aderiram aos revoltosos, permanecendo na sede do Sindicato dos Metalúrgicos.
Comandantes militares solicitaram a Goulart ordem para invadir o sindicato, mas o presidente negou, instalando a crise no setor.
Após várias renúncias de ministros militares, os marinheiros abandonaram o prédio. Foram em seguida presos e conduzidos a um quartel. Horas depois, contudo, foram anistiados por Goulart. Essa anistia foi muito criticada pela alta oficialidade, agravando ainda mais a crise na área militar. Amanhã: militares dão o golpe de Estado.