6. Um País de luta

Levantamento do historiador Edgar Rodrigues relaciona 369 greves no Brasil entre 1900 a 1920, excluindo período de 1917 e 1920. Apenas nesse três anos, segundo o historiador aconteceram 200 greves em São Paulo e Rio de Janeiro, mobilizando mais de 300 mil trabalhadores.

Ainda no mesmo período, segundo Rodrigues, criou-se no Brasil 99 uniões operárias, 4 alianças operárias, 70 cooperativas, 59 ligas operárias. 40 associações ou sociedades operárias, 13 clubes ou círculos de movimentos operários, 21 grupos de teatro social, 26 escolas livres, 40 sindicatos, além da realização de 110 conferências , 42 cursos culturais, 7 congressos nacionais e 12 estaduais, a formação de 26 federações e da Confederação Operária Brasileira – a COB.

Pressionada por uma nova greve em 1923, desta vez dos tecelões que ficaram parados por três meses, a Câmara dos Deputados desengavetou o projeto de criação de um Código do Trabalho. Os patrões fizeram forte oposição, não se conformavam com a idéia da jornada de 8 horas e o projeto foi suspenso novamente. Desse código, saíram apenas duas leis: uma sobre férias (1925) e outra sobre trabalho de crianças (1.927).

Vale ressaltar que a argumentação dos patrões para impedir uma lei que regulamentasse o horário de trabalho era que as 8 horas eram uma prática própria da Europa e não era bom que se adotasse no Brasil. Segundo eles, “com uma jornada de trabalho de 8 horas, o operário brasileiro se tornaria vagabundo, ocioso e preguiçoso”.

A bandeira da jornada reduzida, no entanto, continuou a figurar como a mais importante reivindicação. Vários setores a conquistaram, mas as 8 horas diárias só foram regulamentadas em 1931, já no governo de Getúlio Vargas. Do que ocorreu em Chicago até a primeira regulamentação de jornada no Brasil, se passaram quase 70 anos. Lá, cinco foram enforcados e considerados mártires. E no Brasil, quantos deram a vida?

Trabalhar menos, viver melhor foram as palavras de ordem que reanimaram a mesma luta 50 anos depois, quando o novo sindicalismo estimulado pelos metalúrgicos do ABC, recolocou o tema em pauta com mais ênfase e promoveu nova greve em abril de 1985. Desta vez a redução deveria ser da jornada semanal de trabalho de 48 horas (8 horas diárias em seis dias da semana) para 40 horas semanais. A conquista veio apenas em algumas fábricas, mas o movimento teve forte influência na Assembléia Constituinte, instalada de 1986 a 1988, que sacramentou a jornada de trabalho em 44 horas semanais.

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