50 anos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: construindo um Brasil justo e democrático

Para o presidente do Sindicato, Sérgio Nobre, as homenagens pelo aniversário de 50 anos são para a categoria, autores da historia de luta e conquistas da entidade

Nesta terça-feira, 12 de maio, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC completa 50 anos e quero homenagear os milhares de homens e mulheres que escreveram uma parte importante da história da classe trabalhadora brasileira. São rostos anônimos que enfrentaram os tanques da ditadura, que saíram às portas de fábricas, às ruas, praças e estádios para exigir liberdade, justiça e melhores condições de vida.

Nas greves de 1978, os trabalhadores do ABC escreveram com seus próprios corpos a palavra democracia no Paço Municipal de São Bernardo; praça que junto com o Estádio de Vila Euclides viraram palcos das lutas da
categoria.

Como não lembrar as assembléias com mais de 100 mil trabalhadores, o Fundo de Greve que recebeu a solidariedade do País inteiro, a passeata de mulheres no 1º de Maio de 1980 contra a prisão arbitrária de seus maridos, dirigente sindicais que exerciam um direito de livre manifestação; os nomes criativos com os quais foram batizadas as greves: Braços Cruzados, Máquinas Paradas, Operação Tartaruga, Vaca Brava, Greve Pipoca, Cachorro Louco, Mula Sem Cabeça, Greve Abelha e muitas outras. Como não lembrar do do Hoje Não Tô Bom, frase que geralmente abria as cartas do João Ferrador, personagem símbolo dos metalúrgicos.

Ainda perseveramos o Tô Vendo uma Esperança, tantas vezes repetida pela Graúna, personagem de Henfil que, com seus personagens, colaborou com a organização de nossas lutas.

Todo esse processo rico e combativo formou uma consciência e dela um contingente enorme de militantes e lideranças que hoje estão nas universidades, nas ONGs, nos movimentos populares e nas várias esferas do poder público. São personagens que comandam cidades, estados e o próprio País e que têm nas demandas populares a sua causa.

As homenagens por esses 50 anos se estendem também aos trabalhadores e trabalhadoras que dia-a-dia produzem riquezas e se diferenciam pela solidariedade adquirida nas mobilizações contra as injustiças e na defesa de seus direitos. 

Há que se destacar a coragem da categoria que não se intimidou em enfrentar as mudanças proposta pelo neoliberalismo, que nos anos 90 tinha o objetivo declarado de desregulamentar a economia para permitir a livre ação das forças de mercado. O novo ideário defendia igualmente a desregulamentação do mercado de trabalho e, para chegar a esse objetivo, buscava enfraquecer os sindicatos e criminalizar o movimento social. Os metalúrgicos do ABC estão entre as forças que se colocaram na vanguarda da resistência a esse processo de desmonte.

São dessa época os comentários de que o ABC se transformaria na Detroit brasileira, uma região desindustrializada e com graves problemas sociais.

Foi com muita competência que articulamos um fórum tripartite envolvendo a sociedade civil (trabalhadores e empresários) e o Estado na busca de soluções. Trata-se da experiência da Câmara Setorial da Indústria Automotiva que rompeu a tradição de uma política industrial definida apenas pelo Estado ou construída nos seus bastidores por empresários.

Essa experiência democratizou o exercício da política, recuperou a produção, manteve empregos, aumentou salários e elevou a arrecadação de impostos.

Temos muito orgulho das lutas que fizemos e de tudo o que conquistamos. Porém, estamos longe ainda do Brasil que sonhamos para nossos filhos.
Completar o processo de implantação da democracia no Brasil é a maior ambição do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Para nós, no entanto, democracia não pode ser entendida como apenas o direito ao voto.  Vai além. É também o direito de se organizar sindicalmente no local de trabalho. Isso significa opinar e participar das decisões que afetam a vida do trabalhador em temas como condições de trabalho, emprego, produção, salário, formação profissional, escolaridade e, porque não, da própria gestão das empresas. Democracia, para nós, também significa igualdade econômica. Não haverá democracia no Brasil enquanto milhares de pessoas passarem fome, não tiverem acesso a educação, saúde, saneamento básico, transporte e moradia.

Todos os países que alcançaram democracia, melhor distribuição de renda e justiça têm em comum um movimento sindical forte.

A CUT, central a qual temos a honra de sermos filiados, nasceu com o objetivo de mudar a estrutura sindical brasileira. Pouco avançamos nesse terreno. Perdura ainda o famigerado imposto sindical que, aliado ao monopolio de representação, serve somente para manter sindicatos sem nenhuma representatividade. A pulverização de entidades no Brasil é absurda. Existem mais de 14 mil entidades sindicais no País, a maioria sem nenhum poder de mobilização e de compreensão do seu papel nos dias de hoje.

Essa estrutura, herança do fascismo de Mussolini, não pode continuar a existir sob pena de não conseguir responder as novas demandas que o mundo globalizado apresenta à classe trabalhadora.  Foi o que ocorreu agora, com a enxurrada de demissões provocadas pela crise internacional.

Apesar do País vir de um período de cinco anos consecutivos de  crescimento do PIB, recordes de produção e faturamento, as empresas se sentiram a vontade para demitir arbitrariamente sem considerar a violência que é tirar o único bem do trabalhador, que é o seu emprego. 

Não foi por acaso que as poucas resistências ao desemprego vieram de sindicatos que não se acomodaram a essa estrutura, não vivem de imposto sindical e construíram representatividade junto à sua categoria.

Nossa missão histórica não estará cumprida enquanto essa estrutura estiver em pé, tampouco será completada a democracia que sonhamos.
Parabéns a todos que escreveram essa história e aos que ainda a constroem.

De Sérgio Nobre, 44, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC