Dia da Consciência Negra – “Precisamos ocupar as ruas”
Afirmação é de Claudio Teixeira, o Zuza, da Comissão de Combate ao Racismo dos Metalúrgicos do ABC. "Temos que pressionar os governantes para colocar em prática nossos direitos", disse.
“Temos que pressionar os governantes para eles se moverem”, diz Zuza
Na véspera do Dia da Consciência Negra, Cláudio Teixeira, o Zuza, da Comissão de Igualdade Racial dos Metalúrgicos do ABC e coordenador do CSE na Ford, defendeu que o movimento negro passe a ocupar as ruas na defesa de seus direitos. “Não basta ter curso obrigatório sobre a História da África nas escolas, como determina a Lei 10.639”, afirmou. “Temos que erguer nossa voz e exigir o que é nosso, pressionar os governantes para ações mais efetivas”, destacou Zuza. Acompanhe entrevista com Zuza.
Tribuna Metalúrgica – O que comemorar no Dia da Consciência Negra?
Zuza – Apesar de toda a luta, não avançamos muito, como na questão da Lei 10.639. Onde estão acontecendo estas aulas de história da África no Estado de São Paulo?
TM – O racismo à brasileira é difícil de ser combatido?
Zuza – Muito difícil mesmo porque é um racismo cordial e isto atrapalha bastante. Temos que buscar a igualdade racial para reverter o quadro de desemprego, formação técnica e acadêmica do povo negro brasileiro.
TM – Como fazer?
Zuza – O movimento negro precisa ser mais unitário e discutir uma pauta mínima para uma luta uniforme.
TM – O que você sugere?
Zuza – Intensificar nossa participação em movimentos de rua. Não dá para ficar só tendo instrumentos como cursos e tudo mais, e ficar falando para nós mesmos. Se não fizermos pressão nos governantes, eles não se movem.
A pressão é nas ruas, exigindo efetivamente mais educação, saúde e igualdade de oportunidades. Rua, rua, batucada e rua!
TM – Como avaliar as políticas públicas implantadas desde o início do governo Lula na questão racial? Zuza – Se não fossem elas, nós não teríamos nem estas mínimas conquistas que existem hoje…
TM- Inclusive o Dia da Consciência Negra…
Zuza – Aí é mais sério. Não vejo qualquer associação comercial querendo mudar feriado. Mas todo ano, na época em que comemoramos o Dia da Consciência Negra, alguém quer mudar a data, afirmando que feriado prejudica o comércio.
Ninguém propõe coisas diferentes como chamariz para a data, como um dia do comércio negro que resgate a cultura do nosso povo, sem desculpas de que isso dá prejuízo ao comércio.
TM – O que você acha do sistema de cotas?
Zuza – Ele não vai permanecer eternamente. É um começo importante para uma parcela da população que sempre foi excluída do ponto de vista econômico e da formação educacional também.
A partir do momento que você tem o Prouni e a política de cotas, aumenta o número de negros nas universidades. Quando estes jovens estiverem formados, nós teremos outro momento de debate político sobre a questão racial e teremos que achar outros instrumentos de acesso às universidades que não sejam as cotas.
Só 5% das escolas cumprem a Lei de ensino da cultura afro
Ontem, durante o encerramento do Curso de Cultura Afro-Brasileira e Africana promovido pela Comissão de Igualdade Racial do Sindicato, o coordenador da Comissão, Daniel Calazans, lembrou que ainda há muitos desafios para que a Lei 10.639/03, que obriga o ensino da cultura afro-brasileira e africana nas escolas, seja uma realidade.
“A lei tem dez anos, mas apenas 5% das escolas brasileiras adotaram em seus currículos o ensino da cultura africana”, lembrou Calazans.
Segundo ele, a iniciativa do Sindicato, deliberada no 7º Congresso da categoria, é vitoriosa por trazer à tona este debate. “Há um abismo a ser transportado, mas estamos construindo essa ponte”, disse. “Esse curso foi o nosso quilombo de resistência”, concluiu Calazans.
Resistência
O curso foi ministrado em dez módulos com encontros mensais, que abordaram temáticas como o preconceito, o papel do movimento negro na história do Brasil e sua resistência social, dentre outros.
Treze participantes da iniciativa receberam certificados ontem de forma simbólica. Para os demais será entregue posteriormente.
Confira a galeria de fotos aqui.
Anote aí
O Dia da Consciência Negra será marcado por uma série de atividades na região. O Encontro da Diversidade Cultural no ABC acontecerá dias 21, 22 e 23 de novembro no Sesc Santo André e Campus UFABC, em São Bernardo. Toda a sociedade poderá participar de diálogos sobre a diversidade cultural, cidadania e direitos. Confira a programação.
Dia da Consciência Negra
Pelo menos 1.047 municípios já decretaram feriado para o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Comemorado em 20 de novembro, a data faz referência à morte do líder Zumbi dos Palmares, símbolo da luta pela liberdade e valorização do povo afro-brasileiro.
Da Redação