Renault prepara novos produtos para o Brasil
Após passar por uma intensa reforma que ampliou a capacidade de produção de 220 mil para 320 mil carros por ano e consumiu investimento de R$ 500 milhões, a fábrica de veículos de passageiros da Renault em São José dos Pinhais (PR) está pronta para produzir não só mais do mesmo (Sandero, Logan e Duster), mas também plataformas novas, como fica claro ao ver algumas áreas ainda paralisadas da planta, que ficou parada para obras por dois meses, de 8 de dezembro a 7 de fevereiro. “Quando planejamos a ampliação, claro que também pensamos no futuro”, diz Olivier Murguet, presidente da empresa no Brasil. Ele não confirma nem nega a chegada de novos modelos ao País, mas admite a necessidade de lançar produtos para alcançar a meta da Renault de atingir participação nas vendas totais de 8% no mercado brasileiro até 2016.
As áreas da soldagem de carrocerias que estão paradas na fábrica paranaense fornecem algumas pistas do que pode ser feito. Com ferramentas que emergem do chão de acordo com a necessidade, nessas áreas podem ser soldadas até quatro modelos diferentes baseados em duas plataformas, tanto da Renault como da sócia Nissan. No momento, sem usar essas ferramentas, apenas uma plataforma é produzida em São José dos Pinhais, sobre a qual são montados Sandero, Duster e Logan. Portanto, existe capacidade já projetada para fazer mais do que isso.
Murguet diz apenas “talvez” sobre a chegada do novo Sandero, já à venda na Europa, mas o modelo pode entrar em linha antes do fim do ano. Até lá, a Renault vai pagar o preço de ter ficado parada por dois meses, perdendo cerca de um ponto porcentual de participação de mercado, que chegou a 6,6% em 2012, e perdendo em fevereiro para a Hyundai o quinto lugar no ranking das marcas mais vendidas do País. “Cumprimos uma importante etapa para garantir o nosso crescimento aqui e este ano o desafio é fazer em 10 meses o que faríamos em 12”, avalia.
Para este ano, Murguet admite que não estão previstos lançamentos de produtos novos, mas versões dos modelos já existentes, principalmente do Duster, que embora tenha perdido muito terreno nos últimos meses, “está rapidamente retomando as vendas”, diz o executivo. Para ele, a falta de grandes novidades tem dois lados: “É ruim porque perdemos exposição, mas é bom porque assim evitamos o desce-e-sobe que acontece quando lançamos algo novo, que provoca queda nas vendas do modelo que está saindo para entrada de outro, que demora a embalar”, explica.
Para compensar a falta de produtos novos e a queda da produção no começo de 2013, Murguet diz que a estratégia é intensificar o treinamento comercial da rede e continuar a ampliação do número de concessionárias no País, que deve aumentar dos atuais 235 para 275 pontos. Além disso, também é esperado o crescimento contínuo das vendas do Clio remodelado, que começaram no fim do ano passado e devem representar cerca de 0,5 ponto porcentual do market share da Renault no Brasil.
Investimentos
Já foi gasto mais da metade do atual plano de investimento da Renault no Brasil, de R$ 1,5 bilhão de 2010 a 2015. Desse montante, R$ 500 milhões foram aplicados na expansão da fábrica de veículos de passageiros, outros R$ 250 milhões foram investidos no lançamento do novo utilitário Master (leia aqui). O resto será aplicado na gama de produtos, além de obras de infraestrutura do Complexo Airton Senna e na ampliação da fábrica de motores, cuja capacidade até 2015 crescerá de 400 mil para 500 mil unidades/ano, 40% destinadas à exportação.
Murguet admite que esteja em discussão o futuro da fábrica de veículos comerciais, com capacidade atual para produzir 60 mil unidades/ano. Além de produzir o utilitário Renault Master, atualmente a planta é dividida com a sócia Nissan, que faz lá a picape Frontier e os monovolumes Livina e Gran Livina. Com a construção da nova fábrica da Nissan em Resende (RJ), mais espaço para modelos Renault poderá ser aberto em São José dos Pinhais.
O Brasil é atualmente o segundo maior mercado da Renault no mundo, atrás somente da França, por isso ganhou importância na estratégia de internacionalização da marca – que salvou o resultado financeiro da empresa em 2012, ano em que pela primeira vez metade das vendas mundiais do grupo foram fora da Europa, reduzindo assim os efeitos do encolhimento dos mercado europeus em recessão, como na Espanha, onde as vendas da Renault caíram de 180 mil em 2007 para 80 mil no ano passado, mesmo sem perda de market share, destacou Murguet.
“Existe uma clara transferência de vendas para os países emergentes e já estou vendo a Rússia no meu retrovisor”, diz o executivo sobre o país, que no ano passado tornou-se o terceiro maior mercado mundial da Renault, deixando a Alemanha na quarta posição. Depois, em quinto, está a vizinha Argentina, onde a marca vendeu mais de 100 mil veículos em 2012 – muitos deles vindos da fábrica brasileira, que exporta para lá 30% do que é produzido. Outro mercado em crescimento acelerado é a Índia, que no ano passado já consumiu mais de 50 mil Renault. Agora o foco de expansão é a China, aproveitando a parceria da sócia Nissan com a Dongfeng para produzir modelos da marca francesa.
Murguet diz que a Renault sempre considera novas oportunidades no mercado brasileiro, mas a aposta continua a ser nos altos volumes, a começar por modelos hatches e sedãs compactos de até R$ 30 mil. “É o que vende, o que paga a conta”, resume. Ele justifica a estratégia lembrando do monovolume Scénic, o primeiro a ser produzido pela empresa no Brasil, que em seu melhor ano vendeu 30 mil unidades, enquanto hoje o Sandero sozinho vende cerca de 100 mil/ano e o Duster, 50 mil. Portanto, novos produtos podem vir, mas nada que venda menos de 30 mil/ano.
Do Automotive Business