Carro 1.0 tem menor participação nas vendas em dezesseis anos
Desde que foram criados, em 1990, os veículos com motor 1 litro, mais conhecidos como 1.0, ampliaram seu espaço no mercado brasileiro até dominarem por completo as vendas, com fatia sempre acima dos 50% no mercado interno. Mas a entrada de novos concorrentes na faixa dos compactos, principalmente importados, a mudança no mix de oferta das fabricantes, bem como o crescimento da economia brasileira atrelado às restrições para financiamento estão, finalmente, mudando este cenário.
A participação dos carros com motores 1 litro nas vendas de veículos no Brasil começou relativamente modesta: em 1990 representaram 10% do total, quando só existia o Uno Mille. Mas puxados por menor tributação e consequentemente preço final mais convidativo cinco anos depois já eram 42,8% das vendas de automóveis 0 KM. O pico foi registrado em 2001, quando abocanharam nada menos de 71% das vendas de acordo com dados da Anfavea.
Dez anos depois, este 2011, entretanto, este domínio decaiu. Mesmo com manutenção de benefício tributário – os 1.0 recolhem a menor alíquota de IPI para veículos no País, 7% –, a fatia de mercado destes modelos alcançou em agosto participação de somente 44,5%, a menor desde 1995, 42,8% como média anual. Fenômeno semelhante só se viu nos últimos três meses de 2008, na crise financeira internacional, mas os 1.0 fecharam aquele ano bem à frente.
De acordo com Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, não necessariamente todos os automóveis 1.0 estão perdendo espaço nas vendas. Em seu entendimento os veículos de entrada com preço até R$ 30 mil equipados com esta motorização ainda mantém evolução nas vendas em compasso com o mercado.
O executivo afirma que a queda está concentrada justamente nos modelos chamados de populares premium, com mais equipamentos e preços na faixa de R$ 30 mil a R$ 40 mil – quando outras opções com motores de maior cilindrada surgem em grande quantidade.
Fato é que desde dezembro de 2010 os automóveis com motores de 1 a 2 litros viraram o jogo e assumiram a liderança nas vendas, com participação de 50,7%, deixando os 1.0 para trás, com 48%. Nos oito meses seguintes os 1 litro, além de não retomarem a ponta, perderam mercado seguidamente. Em janeiro responderam por 46,2%, caíram para 45,5% em março e chegaram ao ponto mais baixo, por enquanto, em agosto. Na média anual têm 46% ante 52,4% dos 1 a 2 litros e 1,6% dos acima de 2 litros.
Não por coincidência a baixa nos ex-populares deu-se a partir das medidas de restrição de crédito do Banco Central. Além de exigência de maior entrada, os bancos que atuam no segmento automotivo passaram também a agir de forma mais restritiva e, com isso, muitas fichas de consumidores da classe C, com menores garantias – justamente aqueles que pretendem adquirir um 0 KM 1.0 básico – deixaram de ser aprovadas, reduzindo ainda mais o volume de consumidores nesta faixa de mercado.
De acordo com fonte ouvida pela Agência AutoData os bancos não aprovam mais, por exemplo, fichas de consumidores que não possuam carteira de motorista: este é claro indicativo de que o financiamento do veículo é para um terceiro, mesmo que da família, o que, no entendimento destas instituições, aumenta a chance de inadimplência.
Da Autodata