Indústria automobilística brasileira reage à crise internacional
Vendas de veículos novos e usados já se aproximam dos níveis registrados antes da crise. Redução do IPI, estabelecida pelo governo Lula, é considerada o principal motivo para melhora do mercado
Depois dos cortes nos impostos, das muitas promoções e da volta do consumidor às concessionárias, o mercado de carros no Brasil respira. As vendas de novos e usados já se aproximam dos níveis de antes da crise. Tem até fila para comprar alguns modelos. Pelo menos, esse setor está conseguindo espantar a crise, principalmente na venda de novos.
Enquanto as vendas estão aquecidas, toda a cadeia produtiva se beneficia. Mas, como muitos metalúrgicos estavam em férias coletivas, alguns modelos mais procurados de carros já começam a faltar nas concessionárias.
A empresária Patrícia Silva tem pressa para comprar o carro novo. “Depois que passar a redução do IPI em março, volta o preço normal. As pessoas vão ter um pouco mais de dificuldades”, acredita.
O desconto do IPI vale até 31 de março. É ele que tem mantido aquecidas as vendas. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o aumento foi de 15,6% nas duas primeiras semanas de fevereiro na comparação com o mesmo período de janeiro e de 7,43% em relação a fevereiro de 2008.
“A gente estava precisando de um carro mais novo, já que a família está crescendo. O carro velho, às vezes, dá problema”, comenta o vendedor Gilmário Farias Batista.
No fim do ano passado, as montadoras ampliaram as férias coletivas, cancelaram contratos temporários e deixaram de contratar trabalhadores, apreensivas por causa da crise internacional. Com isso, a atividade nas fábricas diminuiu o ritmo. O consumidor brasileiro, no entanto, foi às compras ignorando o pessimismo. Por causa da procura acima do esperado, o consumidor pode esperar até 50 dias para levar o carro.
“Ele tem uma fila de espera na linha básica e na linha de entrada. Em alguns modelos mais caros, a procura também aumentou demais. Eu já estou com falta de opcionais e cores para oferecer pronta-entrega”, afirma o gerente de uma concessionária, Márcio Chadi.
Ana Cristina trocou de concessionária quando soube que teria de ficar na fila. “Quando a gente compra o carro, a gente quer o mais rápido possível”, diz.
Essa retomada do mercado já levou algumas empresas a reverem planos. Uma fábrica de autopeças em Piracicaba, no interior de São Paulo, cancelou as férias coletivas. “Temos esperança de que ia melhorar, mas nunca teríamos imaginado que nós poderíamos chegar a esses patamares”, conta o diretor da indústria, Hans Eckert.
Outra fábrica também pensa em retomar os investimentos. No auge da crise, ela demitiu 350 funcionários.
“Em março, vai atingir da ordem de 81% do pico de setembro. Significa que nós vamos estar apenas 19% abaixo do melhor mês do ano passado, no qual a gente atendeu a uma demanda de 300 mil veículos produzidos no Brasil”, calcula o diretor de vendas da indústria, Wilson Rocha.
Nas lojas, também cresceu a procura pelos usados. “O mercado está voltando ao normal. Já existem recursos por parte dos bancos. O financiamento está voltando ao normal. Nós acreditamos que esse movimento de veículos usados tende a aumentar”, afirma o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Sérgio Reze.
O contador Haroldo da Silva comprou um carro 2008 e pagou R$ 12,5 mil a menos do que se levasse o mesmo modelo zero quilômetro. “Tem vários no estoque. Se deixarem de baixar o preço, a gente sai, vai em outra loja e compra. O que eles querem é se livrar dos usados”, diz.
Bom para quem quer carros mais potentes, como o motorista Vauderley Crispim. “Pelo preço que paguei num seminovo, eu comprei carro completo. Com esse valor, eu ia comprar um carro mil básico do básico. Para mim, não foi interessante”, comenta.
A montadora japonesa Mitsubishi confirmou que está estudando a possibilidade de aumentar a produção de sua fábrica em Goiás. Mais três modelos da marca podem passar a ser feitos no Brasil. Entre os fatores que pesam a favor, segundo a empresa, estão os elevados padrões de qualidade e a tecnologia da unidade brasileira.
Já a General Motors, que ameaça fechar as portas nos Estados Unidos, vai colocar 900 funcionários em licença remunerada no Brasil. São metalúrgicos das unidades de São Caetano, na Grande São Paulo, e da fábrica de São José dos Campos, no interior do estado. Ninguém da GM brasileira quis falar sobre o assunto.
Do G1 com informações do Bom Dia São Paulo