Honda avalia nova fábrica no Brasil

Com a unidade de Sumaré, no interior paulista, no limite da capacidade produtiva, a Honda começou a avaliar uma segunda fábrica de carros no Brasil e já tem mais de dez cidades como candidatas a receber o investimento.

A montadora se viu obrigada a procurar opções em outros locais porque diz não ter espaço disponível para uma grande expansão em Sumaré. Ainda não há definição sobre o assunto, mas uma série de fatores pressiona a multinacional japonesa a levar adiante o projeto.

Entre eles, a Honda precisa de mais capacidade para aproveitar um mercado que caminha para a casa de 5 milhões de carros por ano até 2020, o que equivale a um crescimento médio anual superior a 4%. Há quase um ano, a fábrica vem operando com duas horas extras na jornada de trabalho diária para fazer frente ao recorde de vendas no país. Como a linha já chegou ao máximo da capacidade, a produção da marca está limitada a 140 mil carros por ano, apenas 3% acima do recorde registrado em 2012, de 136 mil automóveis fabricados no país. O volume também é insuficiente para a ambiciosa meta da marca de vender 1 milhão de automóveis em cinco anos, ou 200 mil unidades a cada 12 meses.

Além disso, as importações, que seriam o caminho para complementar a produção local, são afetadas por políticas restritivas do governo e impedem a Honda de atingir todo seu potencial de vendas. A montadora, por exemplo, esperava emplacar 37 mil carros da nova geração do utilitário esportivo CR-V, mas cotas de importação para veículos produzidos no México – de onde vem o modelo – restringem essa quantidade em menos de 10 mil veículos.

“Precisamos crescer e, naturalmente, estamos estudando profundamente essa possibilidade [de investir em nova fábrica]”, afirma Masahiro Takedagawa, presidente da Honda na América do Sul, que, ontem, recebeu o Valor em um hotel na zona sul da capital paulista para sua primeira entrevista à imprensa após dois anos no cargo.

Em Sumaré, onde produz carros há mais de 15 anos, a fábrica da Honda ocupa apenas 10% de um terreno de 1,7 milhão de metros quadrados. Mas, a companhia diz que fica com pouco espaço para ampliação quando se inclui a área verde preservada e espaços como estacionamento e pátio de carros, além do centro tecnológico e uma nova sede administrativa, dois prédios que vão ocupar o terreno até 2014.

Economista de 57 anos e nascido em Tóquio, Takedagawa diz que se debruça sobre esse plano desde abril de 2011, quando chegou ao Brasil para assumir o comando da Honda na região. Desde então, informa, avaliou “diversos” Estados e cidades. Seguindo a discrição tradicional das organizações japonesas, ele adianta apenas que o número de locais avaliados passa de uma dezena.

Takedagawa responde tanto pela divisão de automóveis como pela área de motocicletas, um mercado no qual ele se orgulha em dizer que a Honda “criou e dominou” no Brasil – a marca responde por 80% das motos emplacadas no país. Segundo ele, ter esses dois braços tem sido importante para a subsidiária equilibrar seus resultados. Um exemplo disso foi o desempenho do ano passado: enquanto as vendas de motos caíram 19,5%, a Honda está, junto com a dupla Renault Nissan, entre as marcas que mais cresceram no mercado de automóveis e comerciais leves. O aumento dos emplacamentos foi de 45,3%, para 135 mil carros.

No momento, o grupo passa por uma profunda reorganização interna, cujo objetivo é agilizar as tomadas de decisão e melhorar a comunicação entre os departamentos, além de aproximar a Honda de uma rede de distribuição que passa a avançar ao interior do país. Nesse sentido, todas as áreas administrativas, hoje instaladas no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo, serão transferidas, no segundo semestre de 2014, para um único prédio a ser erguido no parque industrial de Sumaré. A mudança vai envolver de 400 a 500 empregados de departamentos como vendas, compras, administrativo, engenharia e desenvolvimento de produtos. Em São Paulo, ficarão apenas o braço de serviços financeiros e o departamento de vendas de motocicletas.

Para tornar a tomada de decisão mais fluida na organização, a companhia já vinha criando estruturas de administração dentro de cada uma das sucursais na América do Sul, dando a elas maior autonomia na gestão. Paralelamente, começou a desenvolver escritórios regionais em cinco cidades brasileiras – São Paulo (SP), Sumaré (SP), Recife (PE), Ananindeua (PA) e Brasília – para participar com maior proximidade do desenvolvimento das concessionárias.

 

Do Valor Econômico