Inovar-Auto é ameaçado pela União Europeia

Na semana passada, a União Europeia (UE) acionou a Organiza­ção Mundial do Comércio, a OMC, para impedir que o Brasil prossiga com a política de incentivos à indústria, o que compromete diretamente os investimentos impulsiona­dos pelo novo Regime Auto­motivo, o Inovar-Auto.

A UE acusa a política bra­sileira de ser protecionista e discriminatória, o que foi veementemente rechaçado pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Daniel Godinho.

“O Brasil acredita que os regimes [comerciais] são com­patíveis com regras multila­terais, e estamos confiantes em relação ao resultado do questionamento da União Europeia na OMC”, declarou Godinho.

O secretário-geral do Sin­dicato, Wagner Santana, o Wagnão (foto), criticou a decisão da UE e analisou os reais motivos do bloco eco­nômico acionar o organismo internacional contra o Brasil neste momento.

Tribuna Metalúrgica – A União Europeia alega que as regras do Inovar-Auto estão fora dos padrões que a OMC estabelece para o comércio mundial. Isso é verdade?

Wagnão – Não. A elabo­ração do Inovar-Auto teve todo o cuidado para não ser, ao contrário do que foi dito à OMC, uma medida protecio­nista de reserva de mercado, mas sim uma medida de in­centivo à produção nacional. Esse era o grande debate em relação ao Inovar-Auto e o programa se resume nisso, que é incentivar empresas a produzirem no Brasil.

TM – Por que a União Euro­peia é contra a política indus­trial do Brasil?

Wagnão – Os países desen­volvidos que sempre detive­ram os meios de produção e de fabricação de produtos de alto valor agregado não gostam do fato de terem que seguir regras. O Brasil é visto como

uma reserva de mercado para esses países como plataforma de exportação. Tanto que hoje a grande guerra da produção industrial, aquilo que é novo, como a criação de softwares ou de hardwares, está prote­gida e não permitem que as tecnologias sejam transferidas para outros países tidos como meros consumidores de celu­lar, de tablets, computadores e sistemas. Esses sistemas de controle da produção e do conhecimento não admitem que outros países tenham condições de se desenvolver.

Por isso, não é surpresa que eles tomassem uma atitude como essa na OMC, não há ne­nhuma novidade nesse aspecto.

TM – Por que a UE está toman­do está atitude agora, sendo que grande parte das monta­doras com matrizes na Europa já direcionaram investimentos para o Brasil? Estão tomando uma atitude atrasada?

Wagnão – São duas ques­tões que estão colocadas. Primeiro as matrizes nunca foram favoráveis ao Inovar­-Auto. Toda multinacional re­jeita qualquer tipo de controle que possa determinar onde ela irá produzir e o que irá produ­zir. Pode ser em Cingapura ou na China – e não importa se o país é comunista ou não. Para as empresas, se puderem ter lucros eles irão para lá.

Para nossa sorte, o merca­do brasileiro é um dos maio­res mercados de automóveis do mundo e as montadoras se viram obrigadas a seguirem as regras. O mercado brasileiro é extremamente promissor.

TM – E qual é a segunda razão para essa atitude da União Europeia?

Wagnão – A segunda ques­tão é justificada por conta do processo eleitoral. O bloco econômico europeu esperou a definição das eleições, quan­do haviam dois projetos em disputa. O do governo que foi reeleito e que criou o Inovar­-Auto, portanto estabelece essas políticas de desenvolvimento da produção nacional e o outro, derrotado nas urnas, que de­fende que o mercado estabeleça o jogo da economia. Eles acre­ditavam na possibilidade deste último vencer e aí não precisa­riam entrar na OMC porque a política governamental seria de esvaziamento do novo Regime Automotivo e de inversão des­sas políticas de fortalecimento da produção nacional.

TM – E o papel do Sindicato neste processo?

Wagnão – Cumprimos bem o nosso papel, que foi esclarecer a categoria sobre o que estava em jogo nesta disputa e garan­timos a produção aqui. E não é apenas isso. Não queremos só produzir, mas criar conhe­cimento por meio das áreas de engenharia, planejamento de produção e dos meios de produção.

Não queremos apenas uti­lizar uma máquina para fazer uma peça, queremos construir essa máquina. Queremos for­mular e desenvolver projetos não só de carros, mas de todos os setores de ponta da econo­mia. O Inovar-Auto é um des­tes setores e vamos continuar lutando pelo desenvolvimento nacional como forma de ge­rar sempre mais e melhores empregos.

Da Redação