“Nós queríamos democracia”, diz Meneguelli

Em comemoração aos 30 anos da CUT, o primeiro presidente da Central, Jair Meneguelli, ex-presidente do Sindicato e atual presidente do Conselho Nacional do SESI, concedeu a entrevista abaixo à Tribuna Metalúrgica.

Tribuna Metalúrgica – Em 1983, na fun­dação da CUT, o Brasil ainda vivia em ditadu­ra militar. Como foi esse período e quais as dificuldades de se fundar uma Central neste clima?

Jair Meneguelli – Uma parte do movimento sindical acreditava que a criação de uma central poderia parecer uma afronta à ditadura e isso não era prudente. Também foi muito difícil preparar o I Congresso Nacional da CUT, o Conclat, porque tivemos que fazer contato com todos os sindicatos que participaram e eram milhares. Fi­camos dias inteiros no telefone, mas convidamos todos, mais de cinco mil delegados. Eles dormi­ram no pavilhão de cimento do Vera Cruz, em São Bernardo, em colchões que não tinham cinco centímetros de espessura. Não tinha cobertor e a temperatura era de 3°, à noite. Tivemos que ir às casas vizinhas pedir roupas e cobertores.

TM – Como a CUT era e o que ela se tor­nou após sua permanência à frente da enti­dade por 11 anos?

JM – Começamos do zero, em uma casinha antiga que estava só no reboco, do Sindicato dos Químicos, em Santo André. Éramos apenas eu, um assessor e uma secretária. Foi uma verdadeira peregrinação por todo o País. Foi muito difícil, mas, até hoje, a CUT é a maior central sindical de todo o País.

 TM – Como você analisa o papel da Cen­tral no envolvimento com as questões sociais e políticas, para além das questões do traba­lho?

JM – Não lutávamos apenas por melhores salários. Éramos entes políticos e queríamos

 existir. Nós queríamos democracia, o direito de ser ouvidos e de apresentar nossa pauta de reivin­dicação para as empresas, para os governadores, para o presidente da República.

TM – O que você destacaria como as prin­cipais conquistas dos trabalhadores neste período?

JM – Embora se fale muito dos estudantes no impeachment do Collor, nós – os trabalhadores – é que montávamos os palanques e mobilizáva­mos manifestações nos quatro cantos do País. Fomos às ruas e conseguimos tirar o presidente Collor do poder.

TM – Qual a sua avaliação sobre novas formas de mobilização?

JM – Eu acho correto, foi por tudo isso que lutei. Pelo direito da população se manifestar pa­cificamente. Temos mesmo que reivindicar, falta muita coisa para a população. Defendo a criação de uma comissão para levar as ideias da popula­ção aos governantes. Eles precisam se aproximar mais das ruas, do povo, das fábricas. O que não apoio de forma alguma é o vandalismo.

TM – Quais os desafios para a CUT?

JM – Retomar a pauta pelo fim do imposto sindical, ele está dividindo o movimento sindical brasileiro. Se você for ao Hospital das Clínicas, por exemplo, vai ver o sindicato das enfermei­ras, o sindicato dos radiologistas, o sindicato dos anestesistas e por aí vai. O fim do imposto sindical proporciona a unificação do movimento sindical. É algo que já acontece em vários países. Porque, se não unificarmos, o movimento sindical pode acabar.

 

Da Redação