Consumidores respondem à pesquisa sobre trabalho decente no Salão do Automóvel

No primeiro dia do Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, diversos consumidores se interessaram em responder às perguntas da pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT) e o United Auto Workers (UAW), sindicato dos trabalhadores no setor automobilístico norte-americano. Os representantes dos trabalhadores participam do Salão Internacional do Automóvel de SP, de 24 de outubro a 4 de novembro, onde realizam uma pesquisa de opinião junto aos consumidores para saber se as condições de trabalho nas montadoras exercem alguma influência no momento da compra de um carro.
 
Durante a coletiva à imprensa, a representante do UAW no Brasil, Ginny Coughlin afirmou que esta deve ser a primeira pesquisa com tanta amplitude em torno do tema no mundo. “Nos não temos conhecimento de nenhum trabalho com este enfoque no segmento de automóveis no mundo todo. Há 20 anos foi realizada uma pesquisa semelhante nos Estados Unidos pela Universidade MaryMount, no setor têxtil, por conta de péssimas condições de trabalho neste segmento no país na época”, afirma.
 
O UAW é formado por mais 750 sindicatos que representam 390 mil trabalhadores da ativa e mais de 600 mil membros inativos nos Estados Unidos, Porto Rico e Canadá, e estabeleceu uma base no Brasil recentemente.
 
Segundo o secretário-geral e de Relações Internacionais da CNM-CUT, João Cayres, a intenção, além de estimular nos consumidores a importância de conhecer e acompanhar o processo produtivo no setor automotivo brasileiro é colocar o público do salão, que é formado, na maioria, por aficionados por carros, em contato com os trabalhadores que fazem os veículos. “Para os trabalhadores também é interessante, já que muitos deles nunca visitaram o salão antes”, afirma. Segundo ele, entre os objetivos da pesquisa está o levantamento de dados por parte da CNM/CUT e o UAW sobre a influência das condições de trabalho nas montadoras na decisão dos consumidores em escolher um modelo de carro nas concessionárias.
 
Para João Cayres, o crescimento da indústria automobilística brasileira nos últimos dez anos tem sido muito positivo para as empresas, mas para os trabalhadores os novos polos produtivos oferecem pisos salariais cada vez menores e piores condições de trabalho. “A pesquisa pode servir como um indicativo para campanhas de conscientização dos consumidores de carros sobre as condições de trabalho nas fábricas”, afirma.
 
O dirigente da CNM/CUT diz que a preocupação dos consumidores com os processos produtivos da indústria está cada vez mais aguçada, principalmente em aspectos como uso de recursos naturais, danos ao meio ambiente, responsabilidade social, trabalho infantil e trabalho escravo. “Os casos de crimes e abusos a este respeito por parte da indústria ganham cada vez mais visibilidade na imprensa, principalmente nas novas mídias na internet e em redes sociais e causam grandes reflexos para as empresas”, afirma. Segundo ele, as empresas, por seu lado, procuram cada vez mais diminuir custos de produção, aumentar os lucros e expandir suas unidades produtivas de acordo com os custos de mão de obra e recursos naturais, e isso tem reflexo direto na piora das condições de trabalho”, diz João Cayres.
 
Quarto maior mercado consumidor de veículos no mundo e sétimo maior produtor de automóveis, segundo levantamentos de 2011, o Brasil é apontado pela representante da UAW como uma das maiores referências para a indústria automobilística mundial e a realização desta pesquisa inédita reflete os rumos do setor e suas implicações nas condições de trabalho nos fábricas de carros.
 
“Não há como não considerar o Brasil no cenário futuro da indústria automobilística mundial”, diz Ginny. Para ela, esse crescimento tem reflexo direto nas condições de trabalho. Nos Estados Unidos, que é o segundo maior produtor mundial de veículos, o índice de sindicalização dos trabalhadores na indústria automobilística tem diminuído desde a década de 1950 por conta de pressões cada vez maiores das empresas. Segundo Ginny, os índices de sindicalizados era de 35% a 40% nos anos 1950 e atualmente não passa de 11%. De acordo com Cayres, o resultado da pesquisa será divulgado para a imprensa e também será apresentado em dezembro em Genebra durante encontro do IndustriAll, sindicato global criado este ano.
 
A Pesquisa
O levantamento será feito de forma voluntária por trabalhadores nas empresas Ford, Scania, Mercedes-Benz e Volkswagen durante a realização do Salão Internacional do Automóvel de SP, no Pavilhão de Exposição do Anhembi, na capital paulista. Com o lema “Por trás de toda grande empresa existe um grande trabalhador,” a realização da pesquisa faz parte de uma campanha conjunta da CNM/CUT e UAW no estande no evento.
 
As perguntas são:
 
1. É importante para você que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados?;
2. Como um consumidor de veículos você estaria interessada (o) em ter mais informações sobre as condições de trabalho dos trabalhadores (as) que fazem seu carro?;
3. Você estaria interessado em comprar um carro se soubesse que os trabalhadores que o fazem possuem condições precárias de trabalho e seus direitos desrespeitados?;
4. Você repensaria comprar um carro de determinada marca se soubesse que os trabalhadores que o fazem possuem condições precárias de trabalho e seus direitos desrespeitados?;
5. Os fabricantes de veículos fornecem um grande número de informações sobre seus automóveis. Você acredita que eles deveriam trabalhar em conjunto com os sindicatos para fornecer informações sobre os trabalhadores dessas indústrias?

Da CNM/CUT