1° de Maio é muito mais que feriado e festa. É um dia de luta
Foto: Rossana Lana / SMABC
1° de Maio é muito mais do que um feriado nacional. É importante lembrar que a data tem origem política nas lutas e conquistas da classe trabalhadora por seus direitos ao longo da história. Foi após uma greve geral nos Estados Unidos, em 1883, que a morte de um grupo de operários que lutavam pela redução da jornada de trabalho, em Chicago, deu início ao que viria se tornar marco para toda a classe trabalhadora. Três anos depois, em Paris, operários de vários países reunidos na 2ª Internacional de Trabalhadores decretaram o 1° de Maio como Dia Internacional do Trabalhador.
Todos os anos, ao celebrarmos o 1° de Maio, devemos homenagear e reverenciar a memória daqueles que, de forma corajosa e pioneira, foram às ruas e até morreram para abrir caminhos em defensa dos nossos direitos. O tempo passa, o homem e os meios de produção evoluem, mas a luta dos trabalhadores prossegue e aumenta na mesma intensidade e importância que a globalização exige a busca de novos direitos.
Quase 130 anos após o chamado de “massacre de Chicago”, boa parte dos trabalhadores no Brasil e de outros países ainda precisa lutar por direitos básicos, como carteira assinada, 13° salário, FGTS – enfrentamos o horror do “trabalho escravo em pleno século 21. Enquanto essas e outras lutas tiverem de ser travadas o 1° de Maio não poderá ser apenas um feriado, um dia só de de festa e comemoração.
Neste ano, o 1° de Maio do Grande ABC no Paço Municipal de São Bernardo do Campo tem como tema central a Defesa do Emprego e da Produção Nacional. O protagonismo dos Metalúrgicos do ABC nessa luta vem desde 2009, quando diante da crise financeira internacional, a categoria foi à luta, às ruas e liderou uma frente de trabalho e convocou e reuniu os demais atores da sociedade – empresários, centrais sindicais, federações de empresas e poder público nas diferentes esferas – para debater e elaborar propostas que garantissem emprego e produção de qualidade, com relações modernas de trabalho no País.
Os metalúrgicos do ABC, aliados a outras categorias como Químicos, Bancários, Petroleiros, Eletricitários, têm ocupado as ruas e as mesas de debates e decisões para levar as reivindicações da classe trabalhadora – redução da taxa selic, redução do spread, fim da cobrança de imposto de renda sobre a PLR (Participação nos Lucros e Resultados), combate à importação predatória que põe em risco empregos e produção nacional, e em defesa de uma indústria com mais tecnologia e relações de trabalho mais modernas.
Todas essas bandeiras exigem união da categoria e entre as categorias, porque o País precisa ser produtor de bens industriais e não apenas montador, se quiser realmente estar entre as primeiras economias do mundo.
O protagonismo social da classe trabalhadora, conquistado com muita união e organização, foi reconhecido no governo Lula. Hoje, os trabalhadores fazem parte dos principais fóruns de decisões do governo federal. São consultados e ouvidos e suas propostas têm valor. Isso é motivo de comemoração, mas também sinaliza o quanto nossa luta cresceu e tornou-se ainda maior do que no passado, porque exige que apresentemos mais propostas e soluções.
É certo que desde o primeiro governo Lula, o Brasil registra um crescimento sem precedentes. Vivemos hoje um momento de quase pleno emprego, uma conquista muito importante após a classe trabalhadora amargar desemprego em massa durante os governos neolibeirais.
Mas se queremos consolidar e ampliar essa e outras conquistas sociais recentes precisamos defender a existência de uma indústria moderna, pois todo país que conseguiu avançar no social, construiu um sistema público bom de educação e uma previdência pública tem uma indústria inovadora como centro. Uma nação só é forte economicamente se tiver uma indústria forte. E uma indústria só é forte se os trabalhadores forem bem remunerados e qualificados, com constante inovação tecnológica.
Esses temas são cruciais para o movimento sindical e para um desenvolvimento econômico sustentável, com democracia, e relações modernas de trabalho no Brasil. Hoje, essas relações, infelizmente, ainda são muito selvagens.
Por isso, os metalúrgicos do ABC querem ver expandido para todo o País o seu modelo bem sucedido de relação capital-trabalho. Estamos também à frente dessa luta com o nosso projeto de Acordo Coletivo Especial (ACE), que tem o apoio do governo federal e está prestes a ser encaminhado ao Congresso Nacional. É consenso que a maneira mais moderna de se resolver os problemas que surgem na relação entre trabalhador e empresa é a negociação direta, por meio da convenção coletiva, e o acordo coletivo, para resolver questões específicas no local de trabalho. Mais uma luta encaminhada e em vias de ser vencida.
Infelizmente, o passado recente nos afastou do real significado político que deu origem ao 1° de Maio. O ABC e seus trabalhadores, sempre na vanguarda, resgataramu esse sentido e hoje têm orgulho de lotar o Paço Municipal de São Bernardo do Campo para festejar o Dia do Trabalhador sem nunca esquecer que a nossa luta é grande e sempre continua. Todos os dias.
Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC