Por Campanhas Salariais que olhem o futuro
Foto: Raquel Camargo / SMABC
Sérgio Nobre, presidente do Sindicato, conversou com a Tribuna sobre o ambiente das negociações da Campanha Salarial deste ano.
Ele defendeu acordos com maior tempo de duração – os atuais valem por um ou dois anos –, que possam conciliar salários e direitos dos metalúrgicos com as estratégias de investimento das fábricas e também proteger os trabalhadores dos efeitos de uma crise econômica mundial de maior duração.
Como você acredita que será a campanha?
Nosso desafio é fazer acordos olhando para o futuro. Isso significa continuar como referência positiva em termos de salários e de direitos sociais. Mantê-los superiores à realidade brasileira sem que isso prejudique a vinda de novos investimentos nas fábricas.
As PLRs nas montadoras daqui devem superar os R$ 10 mil neste ano. Na Fiat, em Minas, não passarão dos R$ 4,5 mil. Nossos salários são 44% maiores, em média, que dos demais metalúrgicos brasileiros. Então, o desafio é manter esse padrão sem prejudicar a vinda de novos investimentos e conciliar as conquistas com a competitividade das fábricas.
Junto a isso temos agora a concorrência chinesa…
Os chineses estão chegando e suas fábricas serão unidades de montagem e não fábricas de produtos nacionais. Quer dizer que vão empregar pouca gente, com salários menores que os nossos pisos. Os preços dos veículos são parecidos com os daqui por estratégia de vendas. Na verdade, eles custam muito menos. Só não são vendidos mais baratos agora para não criarem a imagem de um carro sem qualidade. Os chineses podem praticar estes preços porque os operários trabalham em regime de super exploração, com extensas jornadas, salários baixíssimos e sem direito a qualquer organização sindical para defender seus direitos.Acredito, inclusive, que em breve os preços dos carros cairão. Tudo isso coloca um novo padrão de concorrência com o qual temos de lidar na negociação dos acordos coletivos.
Como superar essas dificuldades?
O ABC deve continuar forte na produção de veículos e também atrair investimentos para desenvolver alta tecnologia. É necessário qualificar ainda mais a mão de obra. É assim que poderemos conciliar nossos direitos com o futuro da região. Não podemos manter um padrão salarial elevado apenas montando carros; precisamos, também, desenvolver novos modelos. De 50 mil trabalhadores na matriz da Volks que visitei recentemente na Alemanha, 35 mil estão em setores de engenharia e administrativo. Trata-se de mão de obra qualificada para o desenvolvimento de tecnologia e gestão. Defendo modelos semelhantes para as fábricas do ABC.
Mais isso não demora muito tempo?
É verdade. E precisamos atrair investimentos agora. Por isto defendemos acordos coletivos com longo prazo de validade. Assim, as empresas podem prever seu futuro e fica mais fácil planejarem. Essa folga nos libera para discutir a produção, tanto aqui, diretamente com as fábricas, como na política industrial do governo federal.
Como a política industrial pode contribuir com a ação que você propõe?
Para assegurar o futuro é necessário atuarmos em três frentes. Uma são os fóruns nacionais, onde se discute a indústria brasileira.
Neste aspecto o governo não destacará uma região ou o ABC. Trata-se da defesa da indústria nacional. Outra frente é juntar o poder público local, trabalhadores e empresas para discutir como atrair investimentos para o ABC.
Por fim, disputar investimentos diretamente nas matrizes das multinacionais, porque eles são decididos no país de origem, dentro de uma estratégia mundial das empresas.
Daí a importância dos nossos comitês mundiais e nacionais de trabalhadores.
Em que medida a crise econômica mundial interfere na campanha?
A crise é outro fator que nos leva a pensar na importância de acordos de longo prazo. Recentemente, numa reunião do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que essa crise não atingirá o Brasil como em 2008, mas atingirá de alguma forma. Por isso, um acordo de longo prazo pode nos proteger dos desdobramentos da crise.
Da Redação