Mujica afirma que se opõe a maconha e aborto, mas prefere legalizá-los

O presidente do Uruguai, José Mujica, disse hoje (16) que se opõe ao consumo de maconha e à prática do aborto, mas que prefere legalizá-los para que não cresçam “nas sombras” e causem mais prejuízos à população. “A maconha é uma praga, mas o narcotráfico é muito pior”, disse o líder à Agência EFE, em referência a seu projeto de lei para legalizar o consumo e a venda de cannabis, cedendo o controle do setor ao Estado.

“Nunca fumei maconha porque sou de outra época e não defendo nenhuma dependência”, afirmou o líder em sua casa, uma chácara nos arredores de Montevidéu que transformou em residência presidencial quando chegou ao poder em 2010.

No entanto, para Mujica, o narcotráfico é “mais problema” do que o consumo de maconha ou de outras drogas porque “tende a multiplicar” o grau de violência na sociedade “e é uma doença que corrói por baixo”.

“Propusemos a hipótese de regular o mercado da maconha como uma tentativa para arrebatá-lo dos narcotraficantes”, justificou.

Além disso, segundo Mujica, a legalização permitirá tratar os consumidores problemáticos. “Porque se continuarem clandestinos ou escondidos, não poderemos fazer nada por eles.”

O presidente uruguaio destacou que a humanidade reprime há 100 anos o consumo de drogas e não propõe nenhuma alternativa. “Os fatos demonstram que estamos fracassando”, assinalou. “É preciso ter a audácia de pensar novas variáveis porque o consumo nas sombras é muito pior”, opinou.

Um projeto de lei apresentado no ano passado e que é analisado no Parlamento autoriza o Estado a assumir o controle e a regulação de atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição de cannabis e seus derivados.

Segundo números da Junta Nacional de Drogas, 20% dos uruguaios entre 15 e 65 anos de idade consumiram maconha alguma vez em sua vida e 8,3% a consumiram no último ano.

Sobre o aborto, Mujica disse que ocorre algo parecido. “Contra esse fenômeno estamos todos, mas por impedimentos sociais, problemas econômicos ou outros abortos continuam sendo realizado nas sombras.”

No ano passado, o Parlamento uruguaio descriminalizou a interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação sempre que sejam respeitados certos procedimentos regulados pelo Estado.

A paciente deve passar por uma comissão técnica que a informa sobre seus riscos e inclusive sobre a possibilidade de não interromper sua gravidez e encaminhar a criança à adoção.

Depois, tem cinco dias para refletir e, se ratificar sua vontade, será submetida ao aborto farmacológico, seguindo os critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em janeiro deste ano, primeiro mês da aplicação efetiva da lei, foram realizadas 200 interrupções de gravidezes no Uruguai.

Apesar de ser proibido por lei até ano passado, no país ocorrem mais de 30 mil abortos anuais, segundo números oficiais, embora a realidade possa dobrar esse número de acordo com organizações não governamentais.

“A legalização tira o problema da sombra e nos permite tentar incidir para que a mulher volte trás em sua decisão”, argumentou Mujica.

De acordo com o presidente, a ideia primária é tentar ajudar a mulher e eventualmente convencê-la de evitar o aborto. “Muitas vezes há um problema de falta de meios, solidão, falta de informação ou preconceitos familiares”, acrescentou o líder, que espera que a legalização do aborto ajude a salvar vidas.

A menos de duas semanas de sua visita à Espanha, na qual se reunirá com o rei Juan Carlos, Mujica, convidou empresas espanholas a investir em seu país como uma forma de entrar no Mercosul.

“Vou à Espanha mais que nada como um regozijo, pela afinidade entre os dois países”, concluiu o ex-guerrilheiro que passou 14 anos na prisão, a maioria durante a ditadura (1973-1985). Na segunda-feira (20), Mujica completa 78 anos.

 

Da Rede Brasil Atual