Indústria ajuda a baixar taxa de desemprego

Após mostrar perda de fôlego em quase todos os meses do ano, o emprego industrial surpreendeu ao dar sinais de força em setembro. As contratações nas fábricas superaram o crescimento dos outros quatro setores pesquisados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em conjunto com a Fundação Seade, na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) em sete regiões metropolitanas.

O nível de ocupação na indústria avançou 2,5% entre agosto e setembro nas sete regiões metropolitanas analisadas, com a geração de 73 mil postos de trabalho, mais do que no comércio, serviços e construção civil. Em igual período do ano passado, o emprego industrial havia recuado 0,9%. As contratações ajudaram a baixar a taxa de desemprego de 10,9% para 10,6% nas regiões abrangidas pela pesquisa. Ainda é cedo, porém, para falar em inversão de tendência, dizem analistas das duas entidades e da indústria. Tendo em vista informações sobre estoques, atividade e expectativas dos empresários, tudo indica que setembro será um mês fora da curva quanto ao emprego neste fim de ano.

A economista Patrícia Lino Costa, do Dieese, destacou que a indústria contratou mais nas regiões metropolitanas onde o emprego no setor tem peso maior – São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre – o que pode sinalizar um ajuste após um ano de fraca geração de emprego, “em que pese as informações da CNI [Confederação Nacional da Indústria] sobre estoques altos”. Entre as 26 categorias analisadas no setor de transformação pela Sondagem da CNI de setembro, os estoques ficaram acima do planejado em 18 deles.

Para analistas do setor, o dado de setembro pode ser pontual e não há perspectiva de recuperação do emprego industrial, que deve acompanhar o desempenho ruim da produção nas fábricas e a desaceleração da atividade econômica. “Dificilmente podemos pensar em retomada”, avalia o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza.

Segundo Souza, agosto e setembro são meses em que geralmente as encomendas à indústria aumentam, mas, como o setor acumula estoques acima do desejado, “é difícil imaginar que ele vai começar a contratar”. “Esse dado do Dieese traz um alento, mas tudo aponta para uma retração do emprego industrial em setembro olhando para a Pimes [Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário]”, projeta. Após longo período de estagnação, o nível de ocupação nas fábricas cresceu 0,4% em agosto frente ao mês anterior segundo essa pesquisa do IBGE.

A indústria está com estoques excessivos num momento em que a demanda está cedendo, o que traz perspectivas ainda mais desfavoráveis às contratações no setor, afirma Thovan Tucakov, da LCA Consultores, olhando para a queda de 0,4% no volume de vendas do comércio em agosto sobre o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. “Essa volta do emprego industrial em setembro pode ter relação com a contratação de mão de obra temporária típica do fim do ano, mas esse desempenho não deve continuar. A expectativa, pelo contrário, é que a indústria continue desacelerando”, diz.

Tucakov espera que a produção industrial cresça só 1,4% em 2011, após o salto de 10,5% em 2010. Para Souza, do Iedi, se o setor avançar 2% neste ano, “já é um resultado positivo”.

Do Valor Econômico