Grande ABC tem piso salarial 10% maior que a média do País

Um dos maiores pisos do Brasil foi apurado na metalurgia. É o que mostra estudo do Dieese, divulgado ontem. Nesse setor, a média do menor vencimento, no País, é de R$ 757,92. Se comparado com os salários iniciais de outros ramos, como o segmento do vestuário (R$ 549,09), o número é 38% maior.

No Grande ABC, o menor vencimento – no setor de oficinas de pintura e funilaria – paga R$ 762. Mas isso em empresa de pequeno porte com até 50 funcionários, das bases sindicais de São Caetano e Santo André. O mínimo médio das três bases sindicais que respondem pelo setor, na região – e com seus respectivos grupos de atividade – é de R$ 822,63, quantia 9,85% maior do que no Brasil.

A economista do Diesse, Zeíra Camargo, da base do sindicato dos metalúrgicos do ABC diz que os números precisam ser analisados mediante a expressividade de setores tradicionais na região, como o das montadoras e autopeças. Ambas com representatividade elevada: piso de R$ 1.390 e R$ 1.103, respectivamente, na base de São Bernardo e Diadema. O ramo de fundição é outro com envergadura no setor, com mínimo de R$ 1.065 na mesma base, da CUT.

Tanto que 56% dos 107,3 mil trabalhadores pertencem às montadoras e autopeças, segundo Zeíra. Os ganhos médios, somados todos os salários dos metalúrgicos, é de R$ 3.700 no Grande ABC. “Esses setores são muito expressivos, têm histórico. Se fortaleceram ao longo dos anos, recebendo muitos investimentos. Também contam com profissionais mais qualificados”, frisa Zeíra.

Os valores, no entanto, variam conforme a base sindical e o grupo de atuação do ramo. Os que têm maior competitividade no mercado, tanto interno quanto externo e com menores funcionários, têm pisos mais baixos. É o caso das empresas que atuam no setor de iluminação, mecânica e prensas. Na base são-bernardense esses ganhos correspondem a R$ 994. No grupo da Força Sindical são-caetanense e andreense, os menores ganhos pisos estão na funilaria e pintura, com R$ 762.

O Diesse destacou que o setor da metalurgia é um dos que têm a maior diferença entre pisos, junto a segmentos industriais da construção civil e mobiliário, além dos alimentos.

O coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre, sustenta que a média dos pisos no setor ocorre na região devido à força das montadoras.

Ele afirma que há setores que têm poucos trabalhadores ganhando o mínimo, como na metalurgia, o que não ocorre em outros segmentos. “Se você não considerar os funcionários que ganham o piso, irá perceber que os maiores salários-mínimos são dos metalúrgicos”, diz Silvestre, ao acrescentar que a maioria dos trabalhadores do ramo recebe salários acima do menor vencimento.

Correção nos salários será menor neste ano
O bom cenário para reajustes salariais dos pisos – que em 2010 foram os maiores da série histórica – não deve acontecer neste ano. O principal vilão é o quadro econômico vigente. “Temos um cenário delicado. Primeiro porque a economia vai crescer bem menos do que no ano passado. Não é uma expansão desprezível, em torno de 4%, mas influencia. Também temos uma série de medidas macroprudenciais tomadas pelo governo para conter a inflação. O próprio aumento dos preços já implica corrosão nos salários”, reforça o coordenador do Dieese, José Silvestre. Para combater a escalada de preços, o governo usou mecanismos para encarecer o crédito, além de elevar os juros, desde dezembro.

Reflexo da necessidade de crescer menos para evitar o aumento da demanda por consumo, haverá menos geração de postos de trabalho. Silvestre destacou que junto a isso o consumo médio das famílias reduzirá, o que gera impactos negativos na composição do PIB.”Esse cenário deixa as negociações mais delicadas para o próximo semestre”, afirma.

Em 2010, 94% dos rendimentos tiveram reajuste acima do INPC
No ano passado, 93,8% dos pisos salariais tiveram ganhos reais. Isso porque ficaram acima dos índices acumulados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do IBGE. Em 2009, 92,9% dos salários foram reajustados acima desse indicador. Isso significa que, das 660 negociações de salários ou convenções coletivas ocorridas no País, 619 foram enquadradas em percentual superior a 6,47% em 2010.

O número de acordos que obtiveram apenas a correção da inflação significa 16. E apenas 3,8% dos aumentos tiveram perdas salariais ao serem corrigidas.

O setor rural foi o único a ter 100% dos acordos feitos ao longo do ano passado com ganhos reais de renda. Indústria e comércio seguem o ranking, com 94,9% e 94,7%, respectivamente. Serviços encerrou o levantamento, com 90,6% dos reajustes acima do INPC. Valores que representam correções próximas entre os segmentos, segundo o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre.

Também foi na indústria que houve o maior reajuste de renda: 34,3% acima da inflação medida pelo INPC. A principal perda de piso também foi obtida nesse setor: 8,6%.

“Esse ramo sempre foi mais pulverizado. Conta com diferenças grandes do ponto de vista econômico. No setor de TI, por exemplo, há empresas de ponta e outras menos qualificadas. Isso reflete na própria estrutura salarial, principalmente dos pisos.”

Do Diário do Grande ABC