Cidades brasileiras já se aproximam de nível ´norueguês´ de desemprego

Com a queda acentuada do desemprego, falta mão de obra e trabalhadores trocam o serviço doméstico para trabalhar no comércio

No embalo da forte demanda interna, que puxa a economia, regiões mais prósperas estão alcançando os níveis de desemprego mais baixos já registrados no País. A taxa de desemprego na região metropolitana de Porto Alegre em outubro caiu para 3,7%, comparável com padrões noruegueses, um dos mais baixos do mundo. Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo também se destacam pelos índices reduzidos, segundo dados do IBGE.

Os indicadores excepcionais levantam questionamentos sobre a sustentação do desempenho e não escondem que o Brasil precisa avançar muito para se aproximar da realidade de países mais desenvolvidos. A queda do número de desocupados, embora positiva para o País, traz um problema: a falta de mão de obra disponível no mercado de trabalho.

Em Belo Horizonte e Porto Alegre, já há redução de pessoas ocupadas em trabalhos domésticos, atraídas para outros setores que remuneram melhor ou dão mais status social. “Quando cai a taxa de desemprego, há menos trabalhadores livres e dispostos a assumirem esses postos”, afirma Eduardo Schneider, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômico (Dieese). “Uma hipótese é que o setor comercial esteja absorvendo muita mão de obra proveniente do serviço doméstico”, diz.

Na outra ponta, muitas empresas sofrem para preencher vagas que exigem alto grau de qualificação. A dificuldade é chamada de “problema bom”, por Ladimir Carvalho, diretor executivo da Alterdata Software, que desenvolve sistemas de computador. “Há regiões em que avisamos: parem de vender, porque não temos como atender”, afirma o diretor executivo sobre a dificuldade de encontrar profissionais qualificados e disponíveis no mercado.

De acordo com Carvalho, o problema é mais grave na região metropolitana de Porto Alegre, que registra o menor nível de desemprego, mas também se estende às outras capitais do Sudeste. “Em 97, tínhamos um problema de mão de obra no Nordeste, porque as pessoas eram menos qualificadas. Hoje, o quadro mudou: no Sul e no Sudeste, a concorrência por bons profissionais aumentou”, conta o empresário, que mantém 60 vagas continuamente abertas há no mínimo dois anos.

Outro entrave persistente no mercado de trabalho é o baixo nível da educação básica, o que obriga as empresas a se preparem para oferecer cursos de capacitação. “Até aula de português temos de oferecer”, lamenta Carvalho. “As pessoas estão vindo com uma redação muito ruim e, como o atendimento muitas vezes é feito por chat, não podemos deixá-los passar uma imagem negativa da empresa”, comenta.

Cautela
Apesar do cenário positivo previsto, não há garantias de que as taxas de desemprego permanecerão baixas nos próximos anos.

“Essas taxas são sustentáveis por, pelo menos, um ou dois anos. Mas no longo prazo já fica um pouco mais complicado de prever”, diz Carlos Henrique Corseuil, economista do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).

Na avaliação de Corseuil, a estratégia do governo de contar com a melhora da renda da parcela mais pobre da população para aquecer a demanda interna serve como motor para aumentar a produção e diminuir o desemprego, mas apenas por algum tempo.

“Os setores de serviços, comércio e construção civil têm tido um papel muito importante na redução das taxas, mas o ideal é que esse movimento fosse puxado pela indústria e outros setores mais competitivos internacionalmente. Isso daria uma segurança maior: além do mercado interno, você também pode exportar e se beneficiar da demanda externa”, diz.

As taxas de desemprego próximas a de países nórdicos não devem ser motivo de otimismo exagerado, alerta a especialista em emprego da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Janine Berg, lembrando que aproximadamente 50% da população economicamente ativa está atuando na informalidade.
“Ainda há uma massa muito grande de pessoas trabalhando na informalidade”, diz ao destacar a precariedade de algumas atividades. “Flanelinha não é um trabalho produtivo para o País; é uma perda de mão de obra”, avalia ela.

De acordo com a especialista, atualmente, seis de cada sete trabalhadores nessa situação não contribuem para a Previdência. “Para o País se desenvolver, tem de trazer um número significativo dessas pessoas para empregos assalariados formais”, afirma.

Da Agência Estado