Após a crise, setor da construção civil bate recorde de geração de empregos

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na semana passada, apontam para geração elevada de empregos nos três setores, com serviços (52,3 mil) à frente, seguido pela indústria (50,1 mil) e comércio (46,1 mil)

O setor de construção civil, principal empregador de mão de obra no ano, acabou, em boa parte, servindo para manter constante a participação dos trabalhadores que ganham entre R$ 697 e R$ 930 no bolo salarial. Antes da crise, em outubro, esta faixa equivalia a 20,18% do total de vagas criadas, caindo, em fevereiro, a 16,71%. Em setembro, quando o setor gerou saldo líquido de 32.667 mil vagas, a participação desta faixa salarial bateu em 19,07%, praticamente recuperando a participação que tinha antes da deterioração econômica.

Segundo Fábio Romão, economista da LCA Consultores, a construção civil “sentiu o choque nos dois últimos meses do ano passado”, recuperando, a partir de janeiro de 2009, os investimentos e, consequentemente, as contratações. “O setor deve bater recorde de postos de trabalho gerados, superando os 197,9 mil criados no ano passado”, avalia Romão, que projeta 210 mil empregos ao todo neste ano – apenas até setembro, o saldo foi de 184,2 mil.

Para Vitor Cunha, engenheiro de obras, a demanda por pedreiros e serventes extrapola a oferta, o que rebaixa as exigências. “Não podemos pedir muita experiência. Há muita obra e está faltando trabalhador”, afirma. Contratados em fevereiro, Odinei da Conceição Silva e Antônio Oliveira trabalham pela primeira vez na construção civil. Para Silva, é o primeiro emprego. Oliveira, mais velho, já foi limpador de vidros, mas percebe melhores condições na nova função. “Como servente aprendo muito. Tem muita obra acontecendo ao mesmo tempo, o que deixa a gente à vontade para trabalhar e pensar no futuro”, diz Oliveira. Segundo Cunha, o salário de servente varia entre R$ 740 e R$ 780, cerca de R$ 100 menos que o de pedreiro.

O aquecimento do mercado de trabalho ocorre em todos os setores, após recuperação parcial no pós-crise, quando a indústria ainda permanecia em compasso de espera. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na semana passada, apontam para geração elevada de empregos nos três setores, com serviços (52,3 mil) à frente, seguido pela indústria (50,1 mil) e comércio (46,1 mil), descontados os efeitos sazonais. Assim, a atividade econômica, antes concentrada no setor de serviços e no comércio, passou a equilibrar investimentos e contratações também na indústria no terceiro trimestre. O crescimento disseminado indica taxas mais elevadas em 2010, quando o PIB deve se expandir em 5%.

“Os dados de outubro mostram que estamos em outro estágio. As empresas, de todos os setores, já têm consciência que a demanda interna é firme e, com isso, aceleram a contratação”, afirma Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. Segundo ele, a recuperação da indústria deve ser comemorada, mas, ao mesmo tempo, relativizada. “Foi o setor que mais demitiu na crise e o que mais demorou para voltar. Então, é bom que esteja forte, mas tem muito ainda para crescer”, explica o economista. Para ele, a recuperação da indústria aumentará a participação dos salários mais altos no mercado de trabalho.

“Como foram os setores de serviços e comércio que seguraram o emprego nos tempos de baixa, enquanto a indústria demitia, é natural que os salários mais baixos tenham ganhado mais expressão no mercado de trabalho”, afirma Leite, para quem “esse fenômeno já está sendo revertido” nos últimos meses do ano.

Entre janeiro e outubro, o setor de serviços apresentou saldo de 436,6 mil novas vagas ocupadas, enquanto o comércio ficou próximo a 170 mil. Segundo Ariadne Vitoriano, economista da Tendências Consultoria, o principal sustentáculo dos dois setores foi a manutenção da renda em níveis elevados. De acordo com ela, a massa salarial cresceu 4,4% entre janeiro e setembro deste ano sobre igual período do ano passado. Ao mesmo tempo, avalia a economista, os cortes na indústria não foram capazes de alterar a rota de elevação da renda. “A data-base de muitas categorias ocorreu antes da explosão da crise, no último trimestre do ano passado, então os salários passaram intactos, ainda que a ocupação tivesse caído”, raciocina. No setor de serviços, diz Ariadne, “a crise foi quase imperceptível nos setores de serviços e comércio.”

Segundo Giselle Olive, selecionadora da rede Habib’s, o ano foi de contratações recordes. Nos primeiros nove meses, foram mais de 3.100 admitidos e, até o fim do ano, mais 2 mil devem ser contratados. O salário varia em torno do piso da categoria (R$ 733) e, segundo Giselle, não há mudança no perfil de escolaridade. “Continuamos com as mesmas exigências, apenas contratamos mais.”

Do Valor Econômico