Importação de carros preocupa indústria do aço

O setor siderúrgico brasileiro está enfrentando um novo concorrente vindo do exterior, além do aço: a crescente importação indireta do insumo, por exemplo, em veículos montados. Apesar de o Instituto Aço Brasil (IABr) estimar que o volume total de aço trazido do exterior deve recuar cerca de 42%, para 3,4 milhões de toneladas este ano, a expectativa é que as importações indiretas continuem crescendo ou, pelo menos, repitam o desempenho do ano passado.
 
O câmbio é um fator de estímulo, mas o descolamento entre o volume importado direta e indiretamente deve-se, segundo o IABr, às compras especulativas de aço no mercado internacional ocorridas ao longo do ano passado, quando o quadro era de elevação dos preços do minério de ferro e carvão. Os estoques de aço aumentaram em função dessas compras, mas as importações do insumo voltaram a cair nos primeiros meses de 2011.
 
Na distribuição, os estoques de aço estão crescendo, ainda que a importação do insumo não seja mais a causa desse movimento. Segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), dados preliminares do mês de maio apontam que os estoques de aço plano nas mãos dos distribuidores corresponderam a 3,8 meses de vendas, acima dos 3,5 meses de vendas registrados em abril e os 3,1 meses de vendas observados em março.
 
Na visão do diretor comercial da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Luiz Fernando Martinez, se as importações indiretas de aço caíssem pela metade, os estoques dos distribuidores associados ao Inda poderiam ser reduzidos em um mês.
 
A indústria automobilística é um dos maiores clientes das siderúrgicas. Nos primeiros cinco meses deste ano o saldo negativo entre importações e exportações de veículos das próprias montadoras instaladas no Brasil, como Volkswagen, Fiat, Ford, General Motors e Honda, triplicou na comparação com 2010. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as importações entre janeiro e maio superaram as exportações em 107,6 mil unidades, enquanto nos cinco primeiros meses do ano passado esse número era de 34,7 mil unidades.

Segundo dados da Anfavea, a média diária das vendas de veículos nacionais em maio caiu 6,5% na comparação com abril, passando de 11.849 unidades para 11.081 unidades, enquanto a média de veículos importados registrou avanço de 0,8%, passando de 3.372 unidades para 3.398 unidades. Na opinião do presidente da entidade, Cledorvino Belini, que também preside a Fiat no Brasil, isso é reflexo da perda de competitividade da indústria nacional.
 
A importação de veículos de fabricantes que não estão instalados no País, como Kia e BMW, também é crescente. Os dados mais recentes, até abril, da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), indicam que o número de unidades trazidas ao País nos primeiros quatro meses deste ano praticamente dobrou em relação ao mesmo período de 2010. Foram 52.074 unidades este ano ante 26.425 no mesmo período do ano passado.
 
O presidente da concorrente Usiminas, Wilson Brumer, já disse que está mais preocupado com a importação de produtos que contêm aço do que com a do insumo bruto. A percepção de Brumer é que o termo desindustrialização ainda é forte, nesse momento, mas que a indústria siderúrgica não pode perder sua importância no Produto Interno Bruto (PIB).

Da Agência Estado