Avanço das importações de bens de consumo abala a indústria local

Demanda por insumos industriais feitos no País cai e especialistas em comércio exterior veem risco de desindustrialização

O crescimento das importações de bens de consumo provoca um impacto negativo em toda a cadeia produtiva, porque reduz a demanda por insumos industriais feitos no País. Para os especialistas em comércio exterior, é um sinal de alerta para o risco de desindustrialização.

O setor de aço é um exemplo. Com o crescimento das importações de produtos feitos de aço, como carros, autopeças, eletrodomésticos, móveis, etc, as compras externas “indiretas” do setor atingiram 4,2 milhões de toneladas no ano passado.

Na outra ponta, o câmbio valorizado prejudicou as exportações desses bens, e as vendas externas “indiretas” de aço ficaram em 2,6 milhões de toneladas em 2010. Por esse cálculo, o setor registrou um déficit “indireto” de 1,5 milhão de toneladas.

O volume é significativo e chega a representar 7% do que as siderúrgicas venderam no mercado brasileiro no ano passado. Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) projeta que esse déficit indireto vai atingir 2,5 milhão de toneladas este ano.

As importações diretas de aço, em contrapartida, estão em queda. De janeiro a abril, o País importou 1,1 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos, 38% abaixo do mesmo período do ano anterior. Loureiro explica que isso é resultado da queda da produção industrial brasileira e também da redução da margem das siderúrgicas, que ofereceram descontos para competir com os importados.

Autopeças
O setor de autopeças é outro que sofre com a forte concorrência dos importados. O problema não é apenas a chegada dos carros prontos, que reduzem a demanda por peças locais, mas também é importação direta de autopeças.

Segundo o Sindipeças (entidade que representante os fabricantes instalados no Brasil), o déficit da balança comercial do setor vai chegar ao recorde de US$ 4,5 bilhões este ano. Em 2010, o saldo foi negativo em US$ 3,5 bilhões.

“O setor de autopeças é um dos casos mais impressionantes dos efeitos do câmbio, porque era superavitário”, diz Welber Barral, sócio da Barral M. Jorge Consultoria e ex-secretário de Comércio Exterior do ministério do Desenvolvimento. Em 2006, o setor registrava superávit de US$ 1,9 bilhão.

Da Agência Estado