Municípios oferecem pacotes de isenções fiscais para ter fábrica chinesa Foxconn
A confirmação de que a Foxconn, maior exportadora da China, vai produzir no Brasil a segunda geração do tablet da Apple, o iPad 2, abriu uma guerra entre municípios pelo investimento bilionário, de acordo com reportagem de Lino Rodrigues publicada na edição deste domingo do Jornal O Globo (íntegra na edição digital, somente para assinantes). Maior fabricante de eletrônicos do planeta, a taiwanesa Foxconn acenou com um desembolso de até US$ 12 bilhões. Pelo menos duas cidades da região de Campinas saíram à caça desse dinheiro: Jundiaí, a cerca de 60 quilômetros de São Paulo, e a vizinha Indaiatuba. Ambas já abrigam unidades da multinacional. Ao contrário de Indaiatuba, que confirma ter apresentado um pacote de isenções, Jundiaí negocia em silêncio.
Conhecida por não isentar de tributos empresas que se estabelecem no município, a Prefeitura de Jundiaí negocia em segredo um pacote de benefícios para trazer a nova linha de produção da Apple para a cidade. Na semana passada, em uma nova reunião com representantes da Foxconn, o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Ari Castro Nunes Filho, admitiu que o “namoro” com os chineses começou há pelo menos um ano e meio. O encontro, segundo fontes que acompanharam a reunião, também serviu para a prefeitura pedir que os chineses abrissem o conteúdo das outras propostas, para que pudesse igualar ou melhorar os benefícios para garantir os investimentos no município.
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Já o prefeito de Indaiatuba, Reinaldo Nogueira (PDT), disse que, uma semana antes do anúncio do investimento pela presidente Dilma Rousseff, na recente viagem que fez à China, enviou uma proposta com todos os incentivos (dez anos de isenção de ISS, liberação de taxas de licenciamento) para a direção da empresa chinesa, mas ainda não obteve resposta. Segundo ele, em 2004, a empresa havia procurado a prefeitura para saber os benefícios que teria caso implantasse uma unidade na cidade. Anos depois, a empresa instalou uma fábrica para celulares que, hoje, emprega 800 funcionários.
– Temos condições de abrigar essa nova fábrica. Não oferecemos terrenos, mas podemos conversar para isentar os investimentos de impostos – disse o prefeito.
Sorocaba, que abriga uma pequena linha de produção de cartuchos para impressoras HP, também foi procurada pelos representantes da empresa no ano passado. Na época, os executivos da empresa foram recebidos pelo prefeito Vitor Lippi (PSDB). Não se identificaram inicialmente como representantes da Foxconn, mas receberam todas as informações sobre a cidade. Sorocaba, que será sede de uma nova unidade da montadora japonesa Toyota, prepara-se para aprovar na Câmara um projeto do Executivo com a nova lei de incentivos fiscais para beneficiar empresas com grandes investimentos a fazer, como é o caso da Foxconn.
Correndo por fora nessa guerra por incentivos, o empresário Eike Batista disse na semana passada ao GLOBO que, apesar do favoritismo de São Paulo, não desistiu de trazer a fábrica da Foxconn para o Rio de Janeiro. A ideia é instalar a fábrica de iPad no complexo industrial do Porto do Açu, localizado em São João da Barra, no Norte fluminense. O governador Sérgio Cabral teria pedido a Eike que usasse sua influência com os chineses para trazer o empreendimento para o Estado. Procurado, o Grupo EBX reafirmou o interesse por considerar o setor importante, “inclusive para fabricantes da Apple”.
Procurada, a Foxconn informou que não vai se manifestar até ser definida a localização da nova fábrica. Na nota com dados institucionais, a empresa afirma que tem cerca de 4.300 pessoas “representando o nome Foxconn no Brasil, e a tendência é de que esse número cresça 30% até o fim do ano”. Se a precisão se confirmar, serão contratos para a nova fábrica cerca de 1.300 pessoas.
Do O Globo