Tempo de procura por trabalho cai para 9 meses em 2010

Prazo é o mais baixo da década, segundo levantamento do Dieese na Região Metropolitana de São Paulo

Há uma década, passar da condição de desempregado para a de trabalhador formal levava em média um ano. Agora, esse prazo é de nove meses, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Região Metropolitana de São Paulo. Entre janeiro e abril, quem estava fora do mercado de trabalho teve de consumir 36 semanas em busca de uma vaga. Em 2001 eram 47, e em 2004 chegou a 54 semanas – o período mais longo.

Para o economista do Dieese, Sérgio Mendonça, esses indicadores mostram, “sem dúvida”, que as condições do mercado estão melhorando. Mas ele ressalta que o tempo consumido pelos desempregados à procura de vaga não deve continuar caindo, por mais que as condições de emprego sejam favoráveis.

Uma das barreiras é a falta de qualificação da mão de obra. “Tem uma parcela da população que vai permanecer desempregada por muito tempo, mesmo num ciclo de alto crescimento, por causa da baixa escolaridade”, diz Mendonça.

Qualificação. Ao voltar para a sala de aula no início deste ano, o mestre de obras José Xavier, de 57 anos, deixou de fazer parte do grupo que está condenado a ficar anos fora do mercado formal para integrar a parcela da população que conseguiu emprego em poucos meses. Ele estava desde setembro de 2009 sem carteira assinada. Já havia passado por essa situação de 1997 a 2004, quando arcou com as despesas da família fazendo bicos na construção civil e pequenas reformas. “Tive de encarar a moda do subcontrato e me tornei prestador de serviços das empresas. Trabalhava só quando tinha obra.”

Dessa vez, ele diz que os “bicos” não apareceram. “Eu procurava e não achava nada”, lembra. “O jeito foi fazer uma reciclagem, porque vi que estavam chamando gente com menos experiência do que eu, mas com uma formação melhor.” Depois de 22 anos trabalhando como mestre de obras, Xavier se matriculou num curso de preparação para se tornar um mestre de obras. Antes mesmo de concluir as aulas, já estava empregado.

O tempo só não foi menor porque ele tentou exaustivamente negociar salário. Mas não teve jeito. A renda caiu de R$ 5,5 mil para R$ 4 mil, entre o emprego antigo, onde ficou até setembro, e o atual. Na última sexta-feira, Xavier trabalhou das 7h às 21h para fazer uma concretagem. “E nem tem do que reclamar, né?”

Assim como o mestre de obras, o assistente administrativo Orlando Lorite Cobo Junior, de 19 anos, também não teve dificuldades para se manter no mercado de trabalho, no qual havia entrado recentemente. Entre o primeiro emprego de carteira assinada e o segundo, ele ficou menos de um mês desempregado. Passou de ajudante de uma oficina de funilaria para atendente no Hospital Santa Casa da Misericórdia em São Paulo. “Estou fazendo um curso técnico em contabilidade porque quero me aposentar nesse emprego.”

Crise
Os números do Dieese para os primeiros quatro meses de 2010 são os mais baixos da última década. O que impressiona é que, na comparação com 2009, ano da crise, o tempo despendido na procura de trabalho não é diferente. No ano passado, a média dos quatro primeiros meses era de 36 semanas, como no mesmo período deste ano.

Mendonça, do Dieese, diz que essa semelhança demonstra que as pessoas não pressionaram o mercado de trabalho. “Nos anos anteriores, se construiu um colchão de renda e emprego que permitiu uma estratégia defensiva das famílias em 2009”, diz.

Segundo ele, outro fator que pode ter contribuído com essa queda no ano passado é o fato de mais da metade das pessoas no Brasil conseguirem emprego por meio de contatos pessoais, como amigos e familiares. “Mesmo em crise, essa rede funciona e se mantém.”

Da redação com O Estado de S. Paulo