Na última reunião do ano, Copom volta a aumentar taxa de juros
Primeiro governo Dilma termina com 11,75%, um ponto acima do final da gestão Lula e a maior taxa em três anos. Sindicalistas criticam decisão, que para eles só beneficia rentistas e especuladores
Na reunião final de 2014 e também a última do primeiro governo Dilma, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a aumentar a taxa básica de juros (Selic). A alta foi de 0,50 ponto percentual, para 11,75% ao ano – o BC vinha optando por aumentos mais moderados, de 0,25. Com isso, os juros ficam em patamar superior ao do final da gestão Lula, que passou o mandato com taxa de 10,75%. Os 11,75% representam a maior taxa desde setembro de 2011 (12%).
A aposta em uma nova elevação da taxa, a segunda seguida, já era esperada. A dúvida estava em qual seria a magnitude. Parte dos analistas defendia um aperto maior, com a justificativa de que a inflação segue pressionando a economia. Outros chamam a atenção para a atividade econômica já fraca.
A decisão foi unânime e sem viés. No comunicado divulgado ao final da reunião, o Copom diz que decidiu “intensificar” o ajuste da taxa. E sinaliza com altas mais moderadas. “Considerando os efeitos cumulativos e defasados da política monetária, o Comitê avalia que o esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia.”
No primeiro governo Lula (2003-2006), a taxa básica foi de 22,5% para 11,25%. No segundo mandato (2007-2010), fechou em 10,75%. Com Dilma, começou subindo para 11,25%, foi a 12,5% e iniciou um ciclo de baixas, até chegar ao menor nível histórico: 7,25%. Permaneceu assim durante três reuniões, para então retomar as altas. O recorde é de março de 1999 (governo FHC), quando a Selic chegou a 45%.
Dirigentes sindicais criticaram a decisão. “Mais uma vez, o Banco Central cedeu à chantagem insaciável dos rentistas e especuladores do mercado financeiro, os únicos que ganham, e muito, com esse segundo aumento consecutivo da Selic”, afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro. “Essa nova elevação vai travar ainda mais o ritmo de crescimento econômico, na contramão do desenvolvimento com mais empregos e distribuição de renda.” Para ele, trata-se de um “remédio amargo” e prejudicial para a economia, “pois vai frear a expansão do crédito, o fortalecimento da produção e do consumo e a geração de empregos, no momento em que o país necessita de estímulos para crescer”.
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, afirmou que o governo “dá um presentão de Natal aos especuladores”, em um momento de atividade econômica estagnada. “É bom ressaltar que o remédio do arrocho, em dose muito forte, pode intoxicar a economia e colocá-la na UTI. O aperto sinaliza para a economia desacelerar, mas ela já está parada.”
Ele também citou o futuro ministro Joaquim Levy. “Para arrepio dos que defendem o desenvolvimento econômico sustentado com crescimento e geração de mais e melhores empregos, o governo que ainda não iniciou acaba de anunciar um ministro da Fazenda que promete reforçar o aperto monetário com austeridade fiscal, mantendo o câmbio flexível.” E disse temer que Levy, mais o próximo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, revejam a política de valorização do salário mínimo. “Em vez de recuperar a economia, essa guinada pode levar o País à recessão e ao desemprego.”
Da Rede Brasil Atual